SEM HIPOCRISIA
É um bom filme, interessante, bem humorado, bem interpretado e isento de lições de moral hipócritas ou psicologismos baratos
- por André Lux, crítico-spam
É bem melhor do que eu esperava esse filme baseado no livro "O Doce Veneno do Escorpião", escrito pela garota de programa Bruna Surfistinha, codinome de Raquel Pacheco, que hoje virou celebridade e vive com ex-cliente.
O diretor estreante Marcos Baldini consegue disfarçar bem a escassez de recursos técnicos com uma boa direção de atores e ausência de moralismos baratos que seriam fatais para quem almeja contar as história de uma prostituta - tema que ainda é tratado com grande hipocrisia e falso moralismo pela maioria das pessoas, infelizmente.
A boa sacada do roteiro é não tentar "desvendar" os motivos que levaram Raquel a se prostituir, embora ele mostre sua vida anterior, com a família e na escola, mas sem didatismo ou excesso de clichês. Pelo contrário, apesar de um pouco secos e distantes, seus pais (adotivos) parecem gostar genuinamente dela, o que de cara já neutraliza aquele irritante clichê de filmes sobre prostitutas: de que são todas crianças mal amadas ou abusadas em casa. Bruna/Raquel passa pela sua cota de abusos e humilhações, mas nada que justifique tamanha guinada na vida tranquila e boa que levava com sua família.
A verdade é que muitas meninas viram mulheres de programa porque querem (por inúmeros motivos que não cabe aqui citar) e muitas delas se dão bem nessa vida - o que o filme mostra de maneira bem realista. O que torna "Bruna Surfistinha" interessante é que ela, mesmo depois que casou e ficou famosa, não renega sua origem e faz questão de mostrar que fazia tudo aquilo por que queria e que também gozava em vários de seus programas.
Deborah Secco, por incrível que pareça, surpreende numa atuação despojada e corajosa, inclusive em cenas ousadas que certamente vão chocar os puritanos (como na que faz "chuva dourada" em um de seus clientes) e muita nudez. A atriz mergulha de cabeça naquele universo e não deixa a peteca cair em nenhum momento - nem quando Bruna/Raquel fica viciada em cocaína e aí faz de sua vida um inferno.
Interessante também é que o filme serve como um ótimo estudo dos motivos que levam os homens a procurarem as profissionais do sexo e, felizmente, mostra-os como pessoas normais e não como degenerados nojentos como gostam de pintar os falsos moralistas (mostre-me um homem que nunca transou ou ao menos teve fantasias ardentes com uma prostituta e eu te mostrarei um mentiroso).
Nisso o filme é bem fiel ao livro, pois em momento algum faz julgamentos morais dos clientes de Bruna/Raquel e mostra inclusive casais liberais que procuram a garota para satisfazerem juntos as suas fantasias sexuais.
"Bruna Surfistinha" é um bom filme, interessante, bem humorado, bem interpretado, com uma boa trilha musical e, felizmente, isento de lições de moral hipócritas ou psicologismos baratos. O que, convenhamos, não é pouco nos dias de hoje!
Cotação: * * * 1/2
7 comentários:
Demorou pra sair um post sobre este tema aqui no Tudo em Cima!
Eu não me faço de rogado e digo logo de cara: sou usuário assíduo do meretrício, defendo abertamente a profissão e se bobear todas as pessoas que eu conheço sabem disso. Concordo plenamente que a maioria das garotas está ali sim porque quer e gosta (eu sempre pergunto), vamos parar com esse estigma das "coitadinhas" - embora existam sim as exploradas e maltratadas, não estou negando.
Muito dessa exploração vem do fato da profissão não ser legalizada como deve. As profissas deviam ter férias, décimo terceiro e sobretudo assistência a saúde, como qualquer outro(a) profissional regularizado tem.
Quanto ao filme, gostei um pouco menos que vc, pq diferente de você eu vi alguns tiques moralistas que tentam pintá-la como "vítima", principalmente no primeiro ato. O melhor do filme está no miolo, a partir do sucesso na Love Story até o auge no blog. Destaque para a cena no salão de beleza. Mas o livro é melhor.
Escrevi uma resenha no Orkut, depois reposto ela aqui...
Em tempo: recomendo para todos A Bela da Tarde (1967) e principalmente Nunca aos Domingos (1960), este último um verdadeiro ode ao meretrício, com final impagável.
Bruna Surfistinha (2011)
Podem jogar pedra, mas sou daqueles que simpatizaram abertamente com o livro O Doce Veneno do Escorpião, apesar de reconhecer seus defeitos. A transposição da história biográfica de Raquel Pacheco para a tela grande obteve resultados medianos. Pena que as adaptações e acréscimos ao que foi posto no livro intervieram de modo claudicante, impedindo o filme de alcançar vôos mais altos.
Nos prós, temos a nudez frequente da estonteante Deborah Secco, dona de um par de seios fenomenal. A cafetina Larissa é vivia com habilidade por Drica Moraes e a atriz que faz a GP acusada de roubo também é boa. Porém, os demais coadjuvantes são rasos e com frequencia surgem de modo invasivo para dar vez a trechos falso-moralistas no filme, caso do irmão de Raquel e do desnecessário cliente fixo bom samaritano vivido pelo medíocre Cássio Gabus Mendes, praticamente uma encarnação de "príncipe encatando" que compromete bastante o resultado final e poderia ser limado do roteiro sem prejuízos.
O segundo ato do filme é de longe o melhor, quando Bruna já está no apogeu da fase na Love Story e logo depois na sacada visionária do blog. É aí que o ofício é tratado com naturalidade pelo filme e a edição caprichada (vide os letreiros no prédio) funciona de modo eficaz. Pena que o roteiro insista demais em transformar Bruna numa espécie de Madalena arrependida, algo que sem dúvidas foi colocado ali como uma espécie de punição para o "desvio" de uma garota de classe média alta que virou puta e tem orgulho disso.
Ora, pipocas, a melhor coisa do livro é justamente o fato de Raquel ter chutado o balde e mandado a família à merda para buscar independência com o que ela gostava de fazer. São vários trechos incômodos nesse sentido, obrigando Deborah a ficar com cara de coitada boa parte da projeção para que espectadores puritanos não se incomodem com seus próprios recalques. Deste modo, qualquer dondoca que assistir na tela algo que ela não tem ousadia pra fazer pode pensar o seguinte: "ela viveu sua plenitude sexual e teve prazer, mas em compensação sofreu pra caralho". Chegaram ao cúmulo de transformar o Vintão - uma das passagens mais bem-humoradas do livro - numa espécie de purgatório para as estripulias eróticas da personagem! Bem feito, não é mesmo? Quem mandou querer virar puta espontaneamente, tendo uma família riquinha daquelas?
A sensação de falso-moralismo também aparece quando o filme retrata a classe meretrícia como desunida (o que não é bem verdade), tanto nas brigas no início de sua estadia na Love Story quanto nas intrigas com a colega no auge do sucesso, momentos em que "Bruna Surfistinha" vira uma espécie de Showgirls tecnicamente inferior. Em compensação, a cena no salão de beleza é memorável e a do "suborno" ao guarda, hilária. Botando na balança, o estreante Marcus Baldini fez uma obra razoável, mas que poderia ser uma experiência tão divertida (e didática) quanto o livro caso não insistisse tanto em pintar Bruna como uma coitadinha vitimizada. Faltou ousadia.
NOTA: * * *
Também sou cliente de GPs (garotas de programa). Ou melhor, fui, até o dia em que me apaixonei por uma delas. Conheço razoavelmente esse mundo.
Ainda não vi o filme, não li o livro e nem conheço a história da Bruna, mas se teve a aprovação do blogueiro confio que valha a pena assistir.
Ricardo.
Eu era fã de ponochanchadas e de comédias eróticas. Alguém já viu Os Paqueras ou Ainda Agarro esta Vizinha? Pena que esses filmes caíram em desgraça, principalmente por causa do filme pornô .
Revi ontem em DVD e o filme subiu um pouco no meu conceito. Reparei mais na qualidade bastante homogênea do elenco que faz os personagens secundários, bem como na edição caprichada (ênfase na passagem do Vintão e nas inserções de comentários da Internet no transcorrer do segundo ato).
Fabiula Nascimento está sensacional! Também o personagem de Cassio Gabus Mendes me irritou bem menos que na primeira conferida e notei que as cenas deletadas (contidas nos extras do DVD e na versão pirata que circulou por aí) foram corretamente deixadas de lado na sala de edição, por serem exageradas ou quebrarem o ritmo de algumas passagens.
Ainda tem lá seus momentos "madalena arrependida" que destoam do atrevimento da proposta geral do filme, mas o resultado é mais que satisfatório. Enfim, palmas para o estreante Marcus Baldidni e a coragem de Deborah Secco em topar essa empreitada.
Já fiz programas com prostitutas e gostei do filme. Déborah Secco se entregou de corpo e alma ao personagem e teve uma gramde atuação.
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