MONSTRUOSAMENTE RIDÍCULO
Gorila verde com cara de "bebê Johnson" é a estrela do primeiro (e, torçamos, último) pretenso filme-de-arte baseado em quadrinhos
- por André Lux, crítico-spam
Tudo o que tem sido dito sobre "HULK" é, infelizmente, verdade. O filme é realmente um horror. Chega a ser monstruosamente ridículo em praticamente todos os seus intermináveis 138 minutos de duração! É inacreditável que a Universal tenha gasto 120 milhões de dólares para produzir essa que é, de longe, a pior adaptação de um personagem de quadrinhos, indefensável em todos os aspectos, mesmo para os admiradores mais fanáticos (perto disso até mesmo o fraquinho "HOMEM-ARANHA" vira uma obra-prima). Uma total abominação que, tudo indica, pretendia ser o primeiro "filme de arte" baseado num comic book. Tomara que seja o último...
Essa pretensão "artística" fica evidente na tentativa de aprofundar os personagens inserindo alguns subtextos psicológicos e nuances pseudo-filosóficos que poderiam até ser louváveis, caso tudo não fosse destruído pela direção totalmente inadequada e, pior, pretensiosa-até-a-última-gota do chinês Ang Lee (o mesmo dos superestimados "RAZÃO E SENSIBILIDADE" e "O TIGRE E O DRAGÃO" e que só acertou em "BROKEBACK MOUNTAIN"). E é exatamente aí que reside o maior erro do filme: ele se leva a sério do começo ao fim, parece até novela mexicana. Não há um momento de humor sequer, exceto aqueles involuntários que fazem a gente rir e sempre nos momentos errados. Mesmo defeito, diga-se de passagem, do filme anterior de Lee no qual guerreiros "ninja" trocavam diálogos risíveis sobre o sentido da vida antes de sairem voando e andando em paredes.
Falando nisso, existem três seqüências em "HULK" que já merecem entrar de cara para a antologia das cenas mais ridículas da história do cinema: a luta do gigante verde contra três cães-monstros (incluindo aí um hilariante "poodle do inferno"), o vilão loiro (Josh Lucas) todo engessado dando choques no pobre Bruce Banner e, obviamente, toda a seqüência na qual o pai do monstro (Nick Nolte, que só pode ter atuado em estupor alcoólico) grita e baba, culminando com ele mordendo alucinadamente um fio de alta tensão!
E, por falar no papai Banner, toda a trama envolvendo a história do cientista louco que injeta em si mesmo suas experiências, passando os resultados para o seu filho, é inútil e redundante. Poderia ter sido eliminada sem maiores prejuízos. Ao menos deixaria o filme mais curto e menos tedioso, livrando-nos da penosa experiência de sermos obrigados a ouvir diálogos pretensamente profundos que soam incrivelmente rasos e fora de lugar, já que são calcados em psicologia de almanaque. Que besteira é aquela sobre "memórias reprimidas"? Trata-se de um filme sobre um homem que fica nervoso e vira um monstro verde, pelo amor de deus!
Mas nada pode salvar um filme que traz como principal chamariz uma criatura tão lamentavelmente criada como o "HULK" em questão. Os efeitos não são ruins, pelo contrário. O problema é mesmo o design do monstro, que ficou parecendo um gorila verde com cara de bebê-Jonhson. Pior, Hulk é oco, sem vida. Seus ataques não têm peso (tudo é filmado em velocidade acelerada, o que impede que se criem relações de escala), suas motivações não existem, seus gritos histéricos são patéticos. Com um material como esse em mãos, nem mesmo os melhores técnicos em computação gráfica podem salvá-lo do desastre. O fracasso da figura do monstro é tão evidente que nem mesmo os brinquedos derivados do filme seguem o design do Hulk visto nas telas!
E se não bastasse tudo isso, escolheram para fazer o papel de Bruce Banner um sujeito com talento limitado e carisma zero (Eric Bana). Nem mesmo sua relação com Betty Ross provoca qualquer tipo de emoção, primeiro porque o casal já inicia o filme em fase de separação (não trocam nem mesmo um carinho que seja durante toda a projeção!) e, segundo, por causa da magreza excessiva de Jenniffer Connelly que parece ter optado definitivamente pelo visual "mulher-palito", típico de modelos de passarelas. Continua bonita e talentosa (embora aqui atue no piloto automático), mas não tem mais o mesmo charme e exuberância que mostrou em filmes como "O PREÇO DA TRAIÇÃO" ou mesmo "ROCKETEER". Ou seja: a química entre o casal é inexistente, não há qualquer erotismo ou mesmo romance e, por causa disso, não convence nem um pouco quando usam a moça para tentar acalmar o Hulk e todo o pretenso "drama" que decorre disso.
Como era de se esperar a trilha musical do amador Danny Elfman (que ao menos tem a desculpa de ter substituído na última hora o compositor Mychael Danna, cuja partitura original foi rejeitada) também atrapalha, principalmente quando insere solos de instrumentos étnicos (como um duduk e percussão africana) ou vocalizações de estilo oriental que destoam completamente tanto da proposta do projeto quanto do que se vê na tela.
Sinceramente, daria pra ficar falando dos aspectos negativos do filme por horas. Por isso, para encurtar, basta dizer que ele é tão ruim, mas tão ruim, que chega a ser até engraçado. Quem quiser ver para tirar sarro do que vê na tela, "HULK" do Ang Lee é a escolha certa. Um filme que, sem dúvida, já figura entre os maiores clássicos do cinema-trash-involuntário, ao lado de preciosidades como "PLAN 9 FROM OUTER SPACE", de Ed Wood, e "CIDADE DOS SONHOS", de David Lynch. Ou seja: é um filme que como aventura dá sono e como drama só provoca o riso.
Interessante, todavia, é notar que alguns críticos tentam nos convencer que o novo filme do chinês é uma "obra-prima" da sétima arte! Duvido muito que se "HULK" tivesse sido dirigido por um Peter Jackson (de "O SENHOR DOS ANÉIS") ou mesmo pelos irmãos Wachowsky ("MATRIX") e tivesse resultado exatamente igual ao filme de Ang Lee, esses senhores o estariam louvando tanto... Mais uma prova de que certos cineastas possuem prestígio inatacável, não importando a qualidade real de seus filmes. É ver para crer.
Cotação: Abaixo de zero
3 comentários:
Oi André, beleza?
Vc já viu o Hulk II? Vale a pena assistir a esse e compará-lo com o 1º. Na verdade adoraria que vc fizesse isso.
Abraço
Até hoje lembro a primeira vez que li esse texto, no E-pipoca. Nunca enqueci a parte do "poodle do inferno", hahahaha! Definitivamente um dos piores filme sque já tive o desprazer de assistir até o momento.
Pô, André, você congelou o Hulk com essa cotação hahahahah
Verdadeiramente, uma propaganda de 138 minutos sobre o Bubbaloo kiwi!
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