MAIS DO MESMO
Trilha é grandiosa e bem produzida, porém pedestre, medíocre, sem inspiração e uma colcha de retalhos dos trabalhos anteriores do compositor James Horner
- por André Lux, crítico-spam
É sempre difícil escrever sobre uma trilha sonora sem antes ter visto o filme, afinal a música foi composta para acompanhar as imagens. Todavia, as trilhas realmente boas são aquelas que mantém o interesse mesmo desconectadas das imagens. Infelizmente, esse não é o caso de “Avatar”, de James Horner, autor de centenas de trilhas, entre elas “Titanic” (pela qual ganhou o Oscar), “Aliens”, “Krull” e “Willow”. A decepção é ainda maior depois que descobrimos que ele teve quase um ano para compor a música do novo filme de James Cameron, algo que é um verdadeiro luxo na frenética realidade da indústria cultural estadunidense, onde a maioria dos compositores tem no máximo algumas semanas para finalizar o trabalho.
Também é impossível falar de James Horner sem esbarrar naquilo que é o seu defeito mais insuportável: o auto plagiarismo. Via de regra, o sujeito simplesmente coloca para tocar uma faixa ou um tema que compôs para outra trilha em sua nova obra, na maior cara de pau! Se você não acha isso estranho, então imagine se em toda trilha nova do John Williams aparecesse o tema do Darth Vader de repente, sem mais nem menos... Pois é, não estou falando aqui de estilo ou referências, mas de cópia pura e simples!
“Avatar”, assim como outras trilhas de Horner (principalmente as mais recentes), é uma verdadeira colcha de retalhos de seus trabalhos anteriores, mais especificamente “Titanic” (a melodia central é a mesma usada para acompanhar a letra “Near, far, wherever you are” da canção que compôs para Celine Dion!), o coral de “Tempo de Glória” (nas faixas “Climbing Up Iknimaya” e “Jake’s First Flight”), a flauta Sakauhachi japonesa de "Willow", as vocalizações eletrônicas de “Tróia” e as orquestrações tribais que usou em “Apocalypto”. Isso, claro, sem falar do infame “tema de quatro notas para perigo”, no qual a orquestra canta “Ta-na-na-naaaaam”, que o cidadão usa em quase todas as suas trilhas desde 1980 - era o tema do Khan em “Star Trek II”, do General Kael em “Willow” e do nazista vilão em “Círculo de Fogo”, só para citar os usos mais óbvios!
Não há um momento de brilho em “Avatar” que lembre as melhores trilhas para filmes de ficção ou fantasia de Horner (como “Krull”, "Cocoon" ou “Brainstorm”). Tudo é grandioso e bem produzido, porém pedestre, medíocre, sem inspiração. Nem mesmo as músicas de ação, como a faixa “War”, chegam a empolgar e Horner ainda piora tudo usando umas baterias eletrônicas e orquestrações pesadas que deixam tudo com jeito de cópia do abominável Hans Zimmer. Para piorar, ainda temos uma canção mela-cueca atroz, que bebe direto de “Titanic”, encerrando a trilha
Eu que acompanho a carreira de James Horner desde o começo e tenho mais de 80 trilhas dele em CD posso dizer com tranqüilidade que o compositor parece não ter mais nada a dizer. Ou perdeu a inspiração ou simplesmente cansou e agora limita-se a encher lingüiça para pegar seu cheque no final do trabalho. Só não consigo entender como um diretor como James Cameron permite que o compositor que contratou para musicar seu filme preencha as suas preciosas imagens com partituras já usadas em outros filmes.
Musicar um filme caríssimo e cheio de fantasia como “Avatar” deve ser o sonho de todo compositor de trilhas de cinema e, tenho certeza, qualquer um se esforçaria ao máximo para atingir um nível excelente de complexidade e originalidade – ouçam, por exemplo, a maravilha que Howard Shore compôs para a trilogia “O Senhor dos Anéis” ou a ótima partitura que Michael Giacchino criou para o novo "Star Trek". Já Horner foi na contramão e produziu mais do mesmo de sempre. Como eu disse antes, pode ser que a trilha de “Avatar” seja funcional junto com o filme (e duvido que vá além disso), porém como peça de música independente é uma grande e barulhenta decepção.
Cotação: * *
8 comentários:
Horner foi figura importantíssima quando eu comecei a descobrir trilhas sonoras há uns sete anos e uma nova partitura do cara sempre me desperta curiosidade. Porém, sua resenha foi bem elaborada e me deixou com o pé atrás, principalmente com essa história de bateria eletrônica.
Vou esperar o filme sair porque sempre gosto de conferir primeiro o resultado com as imagens. Além do mais, apesar de tudo ele consegue injetar novidades e mexer no "autoplágio" com resultados bem interessantes (vide as famigeradas quatro notas antecipando a primeira batalha de "Tróia").
Mais uma vez o Lux pegou pesado com o Horner. As composições dele para "Avatar" não foram tão boas quanto para "Tróia", muito menos quanto as de sua fase áurea (anos 80). Mas dão um bom caldo e funcionam bem com as imagens.
Vá lá que as quatro notas e a falta de partituras mais originais afetam sim, em parte, o resultado final. Dá pra esperar mais do Horner? Claro. Giacchino e Shore fizeram melhor? Sim, é verdade. Mas com certeza "Avatar" tem momentos muito bons e duvido que seja tão diferente assim se conferido como "peça de música independente" (sic)...
Gostei muito do post, quando assisti o filme gostei da trilha, mas lendo este post mudei de idéia, acho que o filme é marcante, mas a trilha realmente é um tapa buraco, sai do cinema e não lembro da trilha.
Parabéns seu blog é muito bom...
Também acompanho James Horner desde os anos 80 e fico realmente decepcionado quando este simplesmente recicla seus temas.
Falando em questão de tempo, basta conferir a qualidade do trabalho de James Newton Howard para King Kong - e isso com pouco mais de dois meses para criação...
E falando nas famigeradas 4 notas, não se esqueçam que ela tb apareceu em Zorro e o Menino do Pijama Listrado.
Ah, mas o pior mesmo é a música triunfalista no ataque final dos animais de Pandora. Aquilo acabou com a cena !!!
Finalmente li um comentário correto!
Sou profissional da área 3D e também músico.
O filme realmente tem cenas incríveis, algo único, algo que podemos dizer o Antes e o depois do cinema digital.
MAS A MÚSICA!!!! James Horner, me chamou muito a atenção quando eu era ainda criança e estava descobrindo a música... fievel , um conto americano. Neste filme achei de extrema beleza, algo realmente interessante de se ouvir... Mas as últimas composições dele, poderia classificar como Intragável, péssimo, sem graça. Para mim COMPROMETE e muito o filme AVATAR. Que é uma pena... Com uma música mais presente, poderia TORNAR AVATAR uma lenda, assim como é o TITANIC.
Normalmente o compositor faz o filme, como é o caso por exemplo de "Era uma vez no Oeste". Que a música é tão boa, que as vezes se torna até superior ao próprio filme... mas dai falamos de uma lenda Ennio Morricone... Seria até uma ofença colocar os dois compositores na mesma frase... Me desculpe Ennio...
Que droga James Horner...
Pois faço um contraponto aos comentários até aqui. Vi o filme em 3D e achei tanto o filme como a trilha sonora simplesmente geniais. Tenho dezenas de trilhas de filmes e a de Avatar é espetacular e riquíssima em sua instrumentação. Dizer que o Horner se autoplagia não é minimizar seu talento, tampouco desmerecê-lo, muito pelo contrário. A trilha de Avatar em pouquíssimos momentos lembra a de Titanic, as vezes até remete, sem perda de identidade, ao filme 1492com trilha do Vangelis. O tema recorrente e principal de Avatar (todo filme em geral tem um tema principal e sobre ele a trilha desenvolve os demais) é belíssimo e James Horner novamente brilha nas suas variações e harmonias multinstrumentais. Ouçam o CD com a trilha do filme e avaliem com mais cuidado. Obviamente, qualquer trilha de cinema funciona melhor quando associada às imagens que a pontuam , mas sair do cinema assoviando a trilha não quer dizer que seja a melhor. Quanto ao autoplágio, vejo isso como estilo do compositor, muito normal para quem entende de música. Todos os grandes compositores têm estilos e personalidades musicais muito específicas e muito próprias. Reconhece-se Chopin em poucos acordes. Mozart pode ser reconhecido pela harmonia e instrumentação. Beethoven idem, Villa-Lobos também. Idem Edu Lobo, Djavan, Jobim e por aí vai. Nem por isso diz-se que se autoplagiam. A música forte, penetrante, que enche o cinema e valoriza soberbamente as imagens de Avatar é sem dúvida um dos pontos altíssimos e emocionantes do filme, cuja história é até fraquinha e muito explorada no cinema. Ouçam com calma o CD do filme e identifiquem os instrumentos utilizados, as vozes, as harmonias, o crescendo grandioso. Tudo perfeito e belíssimo. Dou nota mil para James Horner e para James Cameron. Este sabe como ninguém escolher as feras com quem trabalha e assim fazer da arte do cinema entretenimento espetacular e inovador. Esperemos o Oscar.
Faltou dizer no comentário anterior:
Alguém falou em Ennio Morriconi... Aí fica realmente difícil não concordar. E é covardia a comparação. Morriconi é o maior de todos, o Deus supremo do cinema e das trilhas musicais. Das melhores feitas em todos os tempos, quase todas são dele. Na minha modesta opinião, até hoje nenhuma música de filme superou a de "Era Uma Vez na América" do Sergio Leone. Emoção pura que é bom ressaltar, não concorreu nem ganhou Oscar algum.
Cesar Pinheiro.
O "OSCAR" NÃO é diploma de qualidade e nem de competência. Veja eu também gosto do James Horner, acho que em algumas músicas ele é muito profissional e até mesmo surpreendente. Mas neste do AVATAR, discordo, acho que preciso ouvir a musica novamente para talvez mudar minha opinião. Mas quanto ao Oscar, bom dai, não ouvi música mais bela e mais bem casada em um filme (do ano passado) do que a trilha sonora de UP- ALTAS AVENTURAS. Apesar do título se parecer pouco sugestivo como algo grandioso, o filme (animação) é surpreendente. Acho difícil ou uma grande injustiça se não for premiado, como já o foi. Tanto a trilha como a própria história. Pra mim o melhor filme do ano passado. Por causa da história e não por causa dos encantos do 3D de AVATAR que sim nisto este (AVATAR) é grandioso. Na música não.
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