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terça-feira, 4 de março de 2025

Exagero e pretensão transformam “Nosferatu” em versão live action de “Hotel Transylvania”

Outros filmes do diretor Eggers sofrem do mesmo defeito: são desnecessariamente obscuros, modorrentos e pretensiosos

- por André Lux, crítico-spam

Fazia tempo que não via um filme tão chato e equivocado como esta releitura de “Nosferatu” dirigida pelo cineasta Robert Eggers, que vem se especializando no gênero terror e virou queridinho da crítica. Porém, o único filme dele que me agradou foi “O Farol”. Os outros sofrem do mesmo defeito deste: são desnecessariamente obscuros, modorrentos e pretensiosos.

Como todo mundo já sabe, o “Nosferatu” original é um filme mudo dirigido por Murnau em 1922. Na verdade, era para ser uma adaptação de “Dracula”, de Bram Stoker, mas quando os realizadores não conseguiram os direitos da obra, simplesmente mudaram o nome dos personagens e algumas situações, o que gerou um processo movido pela viúva do escritor e na quase destruição total da película (felizmente algumas cópias sobreviveram). A mesma história foi novamente adaptada por Werner Herzog em 1979, com Klaus Kinski no papel título.

Agora é a vez de Eggers fazer a releitura do original e, rapaz, ele falhou feio desta vez. Ele erra em alguns elementos que deveriam ser primordiais para o sucesso da empreitada. A começar pela fotografia que, embora tenha vários planos bonitos, é escura ao ponto de simplesmente ser impossível ver o que se passa na tela grande parte do tempo. Uma coisa é ser sombrio e contrastado, outra é ser um completo breu. O cineasta também abusa de movimentos de câmera repetitivos que saem do nada e chegam a lugar nenhum, em uma tentativa “artística” de gerar medo.

O roteiro também não traz nada de novo ao gênero, ou seja, quem já leu o livro ou viu as inúmeras adaptações cinematográficas de “Drácula” vai ficar entediado e até irritado por causa da edição modorrenta do filme. O personagem feminino principal não tem qualquer nuance ou arco. Ela já começa o filme totalmente histérica e não tem para onde ir, o que obriga a atriz Lily-Rose Depp a gritar, espumar e rolar pelo chão de forma cada vez mais ridícula e descontrolada, ao ponto de gerar risos na plateia. Perto dela, a menina de “O Exorcista” parece calma.

Nem mesmo o coitado do Willem Dafoe escapa da canastrice geral, fazendo o caçador de vampiros que deveria ser o Van Helsing do original, e também se perde numa atuação caricata na qual ainda tem que proferir ataques contra a ciência em favor de um misticismo tosco, algo muito inadequado para os dias de terraplanismo em que vivemos.

Mas a âncora que afunda de vez o filme é personagem título, em uma caracterização ridícula feita por Bill Skarsgard, com direito a bigodão estilo Leôncio do Pica-Pau, cujo sotaque extremamente carregado me fez lembrar do Drácula da animação “Hotel Transylvania”, do Adam Sandler. 

Para piorar, o diretor parece que ficou com vergonha do seu Nosferatu e o deixa escondido a maior parte do filme, chegando a desfocá-lo em primeiro plano, algo que consegue apenas gerar irritação pois dá a impressão que a projeção está fora de foco!

Nosferatu e Drácula do Adam Sandler: separrrrrrradossssss no nasssssscimentooooooo

A trilha musical de um tal de Robin Carolan é fraca e repleta de clichês do gênero terror. Basta comparar com a música sensacional composta por Wojciech Kilar para o “Drácula” de Francis Ford Coppola. Por sinal, é impossível não comparar “Nosferatu” com a exuberante obra de Coppola e o novo perde feio, mas muito feio, em todos os quesitos.

Enfim, uma grande perda de tempo que não merece os elogios que vem recebendo por aí. Novamente estão julgando um filme pelo que ele deveria ser e também pela pretensão de quem o dirigiu e não pela obra em si que, diga-se de passagem, é uma bela porcaria.

Cotação: *

“Solaris” é uma ficção científica que reflete sobre a natureza humana

Assim como reflete um dos personagens sobre o enigmático planeta, o filme apresenta apenas escolhas, cabendo ao espectador fazer a sua 

- por André Lux, crítico-spam 

 Há pelo menos uma cena antológica em "Solaris" de Steven Soderbergh: ao falar sobre a descoberta do estranho planeta que dá nome ao filme com seu amigo psiquiatra Chris Kelvin (George Clooney), o cientista Gibarian descreve: "Ao observarmos Solaris, ele reagia como se soubesse que estava sendo observado". Ao mesmo tempo em que essa fala é proferida, observamos a bela Rheya (Natascha McElhone) desfilando sedutoramente na tela, reagindo ao olhar penetrante de Kelvin. Essa cena primorosamente dirigida e editada é a chave para a compreensão do filme como um todo, especialmente a sua conclusão.

Baseado no livro do escritor polonês Stanislaw Lem, "Solaris" narra a história de um grupo de cientistas a bordo de uma estação espacial em órbita de um planeta que parece ter vida própria e estranhos poderes, capaz de materializar sonhos e desejos dos tripulantes levando todos à beira da loucura. Para tentar solucionar o enigma, é enviado ao local o psiquiatra Kelvin, que passa também a sofrer com as aparições de sua falecida esposa cuja morte o deixou traumatizado.

Essa trama já havia sido adaptada para os cinemas em 1972 pelo pretensioso cineasta russo Andrei Tarkovsky. Embora a nova versão também tenha um ritmo lento e bastante cerebral, as semelhanças entre as duas versões acabam aí. No primeiro filme predominava um clima árido desprovido de emoção e sobravam discussões filosóficas enigmáticas e enfadonhas, bem como intermináveis sequências que nada acrescentavam à trama (como um passeio de carro pelas ruas de Moscou que durava longos minutos!). Tudo isso prejudicava a narrativa e alienava o espectador, de tal forma que transforma a conclusão do filme em algo praticamente indecifrável.

Já Soderbergh, também autor do roteiro da nova versão, preferiu investir em um clima mais humano dando ênfase ao relacionamento do casal central, cujos encontros e desencontros são apresentados por meio de uma narrativa brilhante e convincente, na qual presente, passado e futuro se misturam e se fundem sem nunca perder o fio da meada. É louvável o grau de maturidade que o diretor tem ao analisar a relação do casal, fato que parece incomodar algumas pessoas (prova disso é a ridícula polêmica levantada em relação à nudez de Clooney em uma cena casual).

Ao contrário da verborrágica e indecifrável fita de Tarkovsky, as questões levantadas pelo autor do livro - muitas delas relativas à própria natureza do ser humano - ficam perfeitamente claras na nova versão e, portanto, relevantes tanto para a trama do filme quanto para o espectador mais atento. É nesses momentos que "Solaris" chega perto de tornar-se uma obra-prima da ficção científica.

Pena que o filme caia um pouco quando surgem em cena os atores coadjuvantes Jeremy Davies (como Snow) e Viola Davis (comandante Gordon), pois ambos são muito fracos e destoam do restante. O visual do planeta também deixa a desejar (ficou parecendo uma bexiga cor-de-rosa que brilha no escuro) e perde feio se comparado ao do filme de Tarkovsky, que era muito mais enigmático e perturbador. 

Muitos reclamam também da conclusão do novo filme, que realmente difere da do livro e da primeira versão, mas a verdade é que ela em nada afeta o resultado final. Apenas demonstra que Soderbergh não teve medo de apresentar sua própria versão do que o planeta buscava - fato deixado em aberto na obra original.

Quem procura algo mais no cinema do que simples diversão e entretenimento descerebrado deve assistir ''Solaris'', uma ficção científica que não procura dar respostas ou soluções fáceis e certamente vai exigir um maior grau de maturidade e atenção da plateia. Assim como reflete um dos personagens sobre a natureza do enigmático planeta, o filme apresenta apenas escolhas, cabendo ao espectador fazer a sua. 

Cotação: ****

“A Substância” falha ao não criticar o capitalismo

 

 Nada faz sentido neste filme grotesco que acaba sendo um desserviço à causa feminista que pretende defender

- por André Lux, crítico-spam

“A Substância” é mais um daqueles filmes ruins que por motivos misteriosos vira queridinho da crítica e ganha prêmios nos festivais da indústria cultural.

Sim, eu entendi a MENSAGEM do filme de criticar a ganância dos executivos dessa mesma indústria cultural, que desprezam as mulheres depois que chegam à maturidade em sua ânsia por lucrar em cima dos corpos perfeitos das jovenzinhas. Essa lógica é concentrada num personagem extremamente caricato vivido por Dennis Quaid.

Mas mensagens não garantem a qualidade de uma obra de arte, por mais bem intencionada que seja. E aqui essa pretensão de criticar a ditadura da beleza é rasa como uma poça de água já que, em momento algum, toca na real causa dela: o capitalismo.

Criticar essa realidade sem enfiar o dedo na ferida do modo de produção capitalista, que busca o lucro acima de tudo e de todos, não faz sentido. Por isso “A Substância” vira apenas uma colcha de retalhos de clichês de filmes de terror “gore”, apelando a todo momento para lente grande angular, efeitos especiais nojentos, sangue e vísceras, virando uma espécie de “A Mosca” encontra “O Enigma de Outro Mundo” – dois excelentes filmes do gênero.

Demi Moore virando A Coisa

Sobra para a coitada da Demi Moore ficar o tempo todo fazendo caras e bocas, enquanto tem seu corpo cada vez mais coberto com maquiagem grotesca ao ponto de virar um monstro no fim do filme. Por sinal, a conclusão é simplesmente ridícula, digna de risos, ainda mais porque é levada a sério. Faria sentido se, no fim, descobríssemos que tudo não passou de um pesadelo ou delírio da protagonista, mas como isso não acontece não dá pra acreditar que aquela figura monstruosa não provoque reações de nojo nas pessoas, que inclusive a aplaudem.

O roteiro é cheio de furos e não explica nem mesmo como funciona a tal substância, quem está por trás dela e sequer como é comprada. A atriz que faz a jovem Demi Moore é sofrível e aparece o tempo todo hiper-sexualizada para atrair atenção, fazendo justamente aquilo que o filme dizia criticar. E se ela era uma versão jovem da protagonista, como é que ninguém a reconhecia?

Enfim, nada faz sentido neste filme grotesco que no fim das contas acaba sendo um desserviço à causa feminista que pretende defender. O mais triste foi ver Demi Moore perdendo o Oscar de melhor atriz justamente para uma atriz jovenzinha, confirmando aquilo que o filme critica, mas reforçando que essa lógica nunca vai mudar enquanto o capitalismo existir.

Cotação: *

segunda-feira, 3 de março de 2025

“Alien Romulus” é um Alien para a geração tik-tok

 

A pílula mais amarga do filme é a insistência do Ridley Scott em inserir na trama as besteiras que inventou para os ridículos “Prometheus” e “Alien Covenant”

- por André Lux,  crítico-spam temente ao Alien

Quem segue meu canal sabe que sou grande apreciador da franquia Alien, especialmente do primeiro que considero um dos mais aterrorizantes filmes de terror já feitos. Gosto até do polêmico “Alien 3” e dos crossovers entre Alien e Predador. Mas parei por aí.

A partir de “Alien: A Ressureição” a franquia oficial desandou e piorou muito quando o próprio Ridley Scott, cineasta que dirigiu o primeiro Alien, voltou a explorar este universo e nos brindou com “Prometheus” e “Alien Covenant”, de longe dois dos filmes mais ridículos já produzidos por um grande estúdio.

Surge então “Alien Romulus” que prometeu trazer a franquia de volta aos trilhos. Ledo engano. Embora tenha sido dirigido por um cineasta competente, Fed Alvarez, o roteiro é um verdadeiro queijo suíço, repleto de furos e besteiras que acabam comprometendo o esforço técnico investido no filme.

Já começa a história com a bendita companhia achando o Alien do primeiro filme encapsulado num casulo em meio aos destroços da Nostromo. Mas como isso é possível se a nave foi destruída por nada menos do que três explosões nucleares e o próprio monstro foi ejetado pela Ripley a milhares de quilômetros do local da explosão? E por que diabos iriam vasculhar o espaço atrás do Alien se já sabiam da transmissão que vinha do planeta onde existem centenas de ovos?

O mais triste é que, já que resolveram trazer a criatura original, podiam ter feito algo bem melhor e coerente mostrando o caos e a destruição causada por ela na estação espacial. Mas, não, ao invés disso inventam uma trama sem pé nem cabeça onde um bando de adolescentes idiotas resolve sair do planeta onde são obrigados a trabalhar praticamente como escravos e ir buscar suprimentos na tal estação espacial que tem o nome de Romulus/Remus.

A partir daí as perguntas começam a pipocar no cérebro de qualquer um que tenha mais do que dois neurônios funcionais: por que a companhia abandonaria a estação, na qual investiram milhões em busca de domar o “organismo perfeito”, na órbita do planeta onde ela operava? Por que jogaram no lixo um androide em perfeito estado que tem acesso às dependências da empresa? Como os jovens poderiam sair do planeta usando uma nave da própria companhia sem qualquer tipo de represália? E por aí vai...

Tudo isso seria desculpável se o filme ao menos seguisse a lógica criada pela própria franquia, todavia, como foi feito para tentar prender a atenção dos jovens espectadores acostumados a ver vídeos de 2 minutos no Tik Tok, apelam para uma edição frenética e desmiolada na qual o tempo de duração da impregnação de um personagem pelo facehugger até o surgimento do monstro em sua forma final é de 5 minutos.

Se não bastasse tudo isso, ainda trazem de volta um “irmão gêmeos” do androide Ash do primeiro filme num efeito de computação gráfica sofrível que desrespeita a memória do ator Ian Holm e ainda acaba com a lógica do original. Ora, naquele filme o sintético foi colocado em segredo na nave justamente para ajudar a trazer o Alien de volta à terra. Se existissem outras cópias daquele mesmo androide andando por aí nas naves da companhia, todo mundo saberia de cara que ele era um deles, não é mesmo?

Androide gêmeo de Ash destrói a lógica do primeiro filme
O gêmeo do Ash: destruindo a lógica do primeiro filme

Mas a pílula mais amarga que existe em “Alien Romulus” é a insistência do Ridley Scott, que é um dos produtores do filme, em inserir na trama as besteiras que inventou para os ridículos “Prometheus” e “Alien Covenant”, ou seja, aquela maldita gosma preta que cria Aliens do nada e os patéticos Engenheiros, que pareciam uns bebês mutantes bombados. Isso faz o filme desembocar em mais uma conclusão tosca, na qual a protagonista tem que lutar contra um híbrido entre Aliens, humanos e Engenheiros que consegue ser ainda pior que o Newborn de “Alien Ressureição”. 

Besta quadrada: é um alien? É um humano? É um engenheiro?

Ao que parece, Ridley Scott parece determinado a destruir o legado de todos os filmes bacanas que fez no passado, haja visto que também é responsável pelas bombas “Blade Runner 2049” e “Gladiador 2”. Alguém precisa parar esse homem!

Apesar de todos esses pontos negativos, “Alien Romulus” é perfeitamente passável, tem algumas sequências tensas e a parte técnica é primorosa, usando muitos efeitos práticos nas criaturas. Mas é pouco frente ao que poderia ter sido feito com o material.

Cotação: **

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

terça-feira, 28 de maio de 2024

Saga Mad Max: "Furiosa" consegue ser ainda pior que "Estrada da Fúria"

Novo filme baseado na franquia Mad Max não tem nada a ver com os filmes originais e é repleto de personagens caricatos e histéricos e cenas de ação exageradas.

   

segunda-feira, 13 de maio de 2024

"Bebe Rena" aborda o abuso masculino e serve como alerta

Série da Netflix mostra um lado do abuso que recebe pouca atenção. Conteúdo irritou mulheres misândricas que nem sequer entenderam a série. Vale a pena assistir, mas é um prato difícil de engolir.

 

quarta-feira, 15 de março de 2023

"The Last of Us" é uma grande decepção

Personagens chatos e mal desenvolvidos e falta de tensão deixam série tediosa, ao que parece bem diferente do jogo no qual foi baseada.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

“Obi-Wan Kenobi” termina de forma constrangedora

Série ridícula é mais um prego no caixão da franquia Star Wars que a Disney parece estar disposta a enterrar

- por André Lux

Termina de forma patética essa série que obviamente foi produzida sem o menor cuidado por gente que não conhece Star Wars com uma única intenção: espremer a franquia o máximo possível no menor tempo disponível.

Chega a ser constrangedor ver bons atores como Ewan McGregor, Jimmy Smiths  e Liam Neeson (numa rápida e inútil aparição) em algo tão ruim e mal feito. Se fosse só isso nem teria tanto problema, todavia essa série ainda arrebenta com a continuidade do que foi visto antes na trilogia original e nem mesmo tenta arrumar desculpas para isso. Quer dizer então que a princesa Leia teve essa emocionante aventura com o mestre Jedi Obi-Wan Kenobi e dez anos depois manda uma mensagem impessoal a alguém que “lutou ao lado de seu pai nas guerras clônicas”? Ninguém merece!

Novamente vemos um duelo entre Obi-Wan e Darth Vader que não apenas é pessimamente dirigido e coreografado, mas não tem peso algum e apresenta uma série de situações simplesmente ridículas, tais como o vilão virando as costas e saindo depois de soterrar Kenobi com um monte de rochas e depois Kenobi fazendo o mesmo quando Vader estava praticamente derrotado, inclusive com a máscara destruída (o que foi copiado descaradamente da série “Rebels”). “Ah, tudo bem, vou deixar ele aí para morrer, né?”, certamente pensou o Jedi. Claro que vai dar certo, afinal deu certo da outra vez que deixou ele queimando na lava, não é mesmo?

E que porcaria é essa tal de Reva? Não bastasse ser interpretada por uma atriz péssima, é uma personagem ridícula que age de forma totalmente incoerente e tem motivações que não fazem o menor sentido. Sem dizer que certamente é imortal, afinal foi atravessada no peito pelo sabre de luz de Darth Vader, mas continuou correndo por aí apenas com um leve desconforto. Lembrou-me do Cavaleiro Negro do hilariante “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado” o qual, depois de ter seu braço decepado pelo Rei Arthur, brada: “Não foi nada, apenas um ferimento leve!”. E como foi que ela conseguiu sair daquele planeta e viajar até Tatooine se não havia nenhuma nave naquele lugar onde foi abandonada?

O mais ridículo é ver os produtores da série tentando criar suspense e tensão com cenas de perseguição contra personagens que todo mundo sabe que NÃO VÃO MORRER! Outra besteira insuportável: Kenobi é apresentado nos primeiros episódios como alguém abatido por estresse pós-traumático e desconectado da Força, incapaz até de mexer um pequeno objeto, porém do nada ele simplesmente começa a lutar, segurar inundações e levantar pedras enormes numa boa, como se nada tivesse acontecido. Como assim?

A reação dos fãs tem sido tão negativa que tentaram salvar alguma coisa neste episódio final – chegaram até a finalmente usar os temas clássicos compostos por John Williams! Porém, é muito tarde e não tinha mesmo como arrumar o que já havia sido filmado e tudo termina de forma grotesca. “Obi-Wan Kenobi” acabe sendo apenas mais um prego no caixão da franquia Star Wars que a Disney parece estar realmente disposta a enterrar. Lamentável.

Cotação: *

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Quinto episódio de “Obi-Wan Kenoby” é o melhor até agora


Mas a série continua ruim e não tem a menor razão de existir do ponto de vista dramático

- por André Lux

Depois de quatro episódio desastrosos (o quarto não vale a pena nem comentar de tão ruim), a série “Obi-Wan Kenoby” apresenta seu melhor capítulo até agora. Não que isso seja um grande elogio, mas perto dos outros até que deu para gostar de alguns elementos.

As besteiras, situações ridículas, furos no roteiro e incongruências com o que foi visto antes nos filmes continuam e são tantos que dá para escrever um livro sobre eles, mas algumas pontas soltas foram ao menos parcialmente explicadas (como o fato da Terceira Irmã saber que Anakin é Darth Vader e o mesmo ter deixado ela viva no episódio anterior). Os diálogos são menos constrangedores e algumas cenas de ação e luta parecem menos letárgicas.

Há um flashback de duelo entre Kenobi e Anakin rejuvenescidos por CGI na época das prequels que gera uma certa nostalgia positiva, por mais que estes filmes sejam sofríveis e seria melhor esquecer que existem.

Todavia, a direção de Deborah Chow continua péssima, algumas tomadas aparentam ter sido feitas sem qualquer empenho e Obi-Wan insiste em agir como um completo imbecil, muitas vezes atuando tal qual um covarde - chega ao ponto de deixar uma mensagem comprometedora contra Luke e Leia nas mãos de um notório vigarista!

Irrita também o fato de não usarem os temas clássicos de John Williams nem mesmo quando a série clama por eles, principalmente com Vader em cena! A série certamente seria bem menos sofrível se tivesse uma música melhor e que fizesse uso dos temas canônicos interpolados ao material novo. Pelo visto a Disney não quer pagar direitos autorais ao Williams, pois só isso explica uma decisão estúpia como essa.

Enfim, a série continua muito ruim e não tem a menor razão de existir do ponto de vista dramático simplesmente porque sabemos de antemão que nenhum dos personagens principais vai morrer, já que estão todos vivos e passando bem no episódio IV da trilogia original.

“Obi-Wan Kenobi” é só mais um tiro no pé que a Disney dá em relação à franquia criada por George Lucas e vai continuar agradando apenas os fãs menos exigentes, do tipo que tem orgasmo com qualquer porcaria desde que traga o título Star Wars atrelado a ela.

Cotação: **

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Episódio 3 de “Obi-Wan Kenobi” traz luta patética entre o protagonista e Darth Vader

Série péssima continua desrespeitando a mitologia da saga e consegue transformar até o icônico vilão num idiota incompetente

- por André Lux

Terminei minha análise dos episódios 1 e 2 de “Obi-Wan Kenobi” dizendo que a série poderia melhorar, mas infelizmente não vai. O terceiro é igualmente ruim, desconjuntado, desrespeitoso com o que foi visto antes nos filmes e consegue transformar até o icônico Darth Vader num idiota incompetente. Isso mesmo!

O episódio começa com Kenobi e Leia chegando a um planeta aleatório e, depois de uma série de incidentes tediosos onde o Jedi age novamente como um completo imbecil, eles são salvos por uma mulher que vai levar ambos para fora do planeta. Mas, os Inquisidores descobrem que eles estão lá e enviam sondas e o próprio Darth Vader vai atrás de Kenobi.

Isso já levanta várias questões: por que demoraram tanto para descobrir o paradeiro deles, afinal a nave onde estavam era um cargueiro e certamente tinha um plano de voo bem fácil de alcançar, certo? E por que simplesmente não pegaram a nave antes mesmo de deixar a atmosfera ou imediatamente no momento que chegou ao destino? O Império ficou sem radares e naves por acaso? Esses tipos de furos no roteiro só existem para tentar causar suspense, porém falham miseravelmente e revelam apenas incompetência e preguiça dos autores.

As cenas em que Vader aparece são as melhores, porém quando começa o inevitável confronto entre ele e Kenobi tudo fica constrangedor. A coreografia da luta é bisonha e a música é simplesmente patética, nem mesmo utilizam o tema de Vader, da Força ou qualquer outro que lembre minimamente Star Wars. Uma vergonha!

Vader domina Obi-Wan com uma facilidade que dá pena e ele só não vira churrasco porque o vilão desiste no meio da tortura e o joga longe, dando assim chance para que um personagem aleatório provoque um pequeno caos que permite o resgate do Jedi. Mas, olha, essa cena é ridícula, pois o todo-poderoso Darth Vader, que está a poucos metros do seu ex-mentor do qual sente ódio monstruoso, simplesmente fica parado olhando ele ser levado por um robô lento quando poderia facilmente atravessar o fogo, flutuar sobre, dar a volta rapidamente, apenas pegar os dois com a Força e trazê-los até ele ou simplesmente APAGAR O FOGO COM A FORÇA COMO ELE MESMO TINHA FEITO MOMENTOS ANTES!

Darth Vader: "Fale com a mão"

Claro que não fez nada disso e ficou lá parado como um pateta porque a série precisa continuar e vão obviamente fazer os dois lutar novamente mais à frente. Então, dane-se qualquer lógica ou respeito à mitologia dos personagens canônicos. O mais importante é esticar ao máximo possível a metragem da produção para gerar lucro aos acionistas da Disney.

Cotação: *1/2

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Episódios 1 e 2 de “Obi-Wan Kenobi” apontam para mais um desastre produzido pela Disney

 

É triste ver Star Wars sendo destruída por uma corporação que tem como único objetivo ganhar dinheiro sem qualquer preocupação com a qualidade

- por André Lux

A Disney parece mesmo determinada a destruir a franquia Star Wars produzindo incontáveis séries, filmes e subprodutos sem qualquer preocupação com a qualidade e até mesmo com a própria mitologia da saga.

Depois da problemática trilogia “sequel” (episódios 7, 8 e 9 da história principal), a Lucasfilm concentrou sua produção em séries para seu canal de streaming que vem variando do medíocre (“O Mandaloriano”) ao simplesmente ridículo (“O Livro de Boba Fett”).

Chega agora a mini-série “Obi-Wan Kenobi” que se passa dez anos depois dos eventos narrados no grotesco “Episódio 3: A Vingança dos Sith”, certamente o pior filme da saga. Acompanhamos agora Kenobi vivendo exilado no planeta Tatooine (lá de novo!) enquanto observa o menino Luke Skywalker e é procurado por Inquisidores do Império que caçam Jedis sobreviventes.

É uma premissa até interessante, mas os dois primeiros episódios já deixam claro que tudo será arruinado por roteiros ridículos, direções pífias, atores canhestros perdidos em personagens rasos e caricatos, efeitos especiais fracos e trilha musical genérica (crime dos crimes em se tratando de Star Wars), onde até mesmo o tema principal composto pelo mestre John Williams soa sem inspiração.

Ewan McGregor retorna ao papel de Kenobi catatônico, abatido e desprovido de motivações. Ora, uma coisa é ele estar traumatizado pelos fatos trágicos que levaram à queda de seu pupilo Anakin e pela ascensão do Império, outra é agir como alguém que parece estar morto por dentro, sem qualquer sentido de vida. Mas não foi ele quem quis ir para o planeta deserto justamente para proteger Luke a fim de um dia poder treiná-lo e restaurar a ordem Jedi? No mínimo Kenobi estaria em constante movimento, aprimorando suas habilidades Jedi para essa missão. Mas, não. O que vemos aqui é um chato de meia idade se arrastando como um zumbi pelo deserto...

Se não bastasse isso, o personagem age de forma incoerente com o que foi mostrado antes, tomando decisões burras, se expondo desnecessariamente ou simplesmente apanhando de vilões que ele deveria derrotar com um simples aceno de mão. Chega a irritar a estupidez dos roteiros que ainda por cima são repletos de furos e batem de frente com o que foi apresentado nos filmes. Enfiaram até a coitada da princesa Leia no enredo como uma criança de 10 anos irritante e mimada.

Pode ser que melhore? Pode, mas sinceramente eu duvido. É realmente triste ver uma franquia tão bacana e amada como Star Wars sendo literalmente destruída em pedaços por uma corporação que tem como único objetivo ganhar dinheiro tirando leite de pedra sem qualquer preocupação real pela qualidade dos produtos.

Cotação (Episódios 1 e 2): *1/2

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Chato e desconjuntado, “Mães Paralelas” ao menos tem mensagem contra o fascismo

 A única cena que passa alguma emoção é a derradeira, uma denúncia dos horrores da guerra civil espanhola contra o fascista general Franco

- por André Lux

“Mães Paralelas” é mais um filme chato, desconjuntado e modorrento do cineasta Pedro Almodóvar, queridinho da crítica especializada e de cinéfilos pomposos, que faz tempo não produz nada que realmente tenha a qualidade de alguns de seus trabalhos antigos.

A única cena interessante e que passa alguma emoção é a derradeira, uma denúncia dos horrores da guerra civil espanhola contra o fascista general Franco, porém é tão desconectada do resto do filme que praticamente passa em branco.

Sobra então assistir uma trama tola e arrastada sobre duas mães que dão à luz no mesmo dia e se envolvem de forma nada convincente enquanto um mistério acontece envolvendo os bebês delas. Mas o suspense é muito mal construído e quando vem a revelação do que realmente aconteceu não tem qualquer impacto. A trilha musical é exagerada e às vezes descamba para o terror sem a menor lógica.

O elenco é fraco, com Penélope Cruz novamente tentando em vão parecer uma mulher linda e exuberante, enquanto a atriz que faz a outra mãe é simplesmente pavorosa. Ao menos nem todos os homens no filme são apresentados como estupradores abusivos: Arturo é apenas um adúltero que tenta forçar a protagonista a abortar, o que é um avanço no caso de Almodóvar, não é mesmo? As mulheres, porém, são retratadas como descontroladas, possessivas e sofredoras como sempre.

A mensagem contra o fascismo é sempre bem-vinda, mesmo sendo tão frouxa e mal amarrada. Por causa disso “Mães Paralelas” ganha uma estrela a mais. Claro que ninguém em sã consciência pode falar mal de Almodóvar caso contrário será xingado e cancelado. Ainda bem que eu nunca tive essa tal de sã consciência...

Cotação: * *

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

“Matrix Resurrections”: Wachowski trola os fãs e dá um tiro no pé da franquia

Boas ideias são desperdiçadas em roteiro fraco e precariedade técnica, algo que entra em conflito gritante com a trilogia original

- por André Lux

Expectativa é tudo quando se trata de apreciar um novo filme que pretende dar continuidade a uma franquia bem sucedida. Foi assim com Star Wars. É assim com Star Trek. E não poderia deixar de ser com Matrix. Ou seja, é praticamente impossível para qualquer apreciador assistir ao novo produto sem trazer consigo a bagagem de tudo que veio antes.

O primeiro filme data de um longínquo 1999 e revolucionou a sétima arte em termos de novas tecnologias de filmagem, efeitos especiais e incorporação de diversos aspectos da cultura pop e filosóficos em uma única obra. Visto hoje, o “Matrix” original continua impressionante, porém seu impacto jamais será o mesmo para quem o assiste pela primeira vez agora, haja visto as centenas de imitações que vieram na sua esteira. Os efeitos e truques de filmagens que na época eram inovadores, hoje parecem meros clichês.

Até mesmo as duas continuações, “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions”, falharam em impressionar e muita gente simplesmente não gostou porque os realizadores, os irmãos Wachowski, subverteram as expectativas e fecharam a trilogia de forma bem diferente do que se esperava do clichê da “jornada do herói”. Eu fui um dos poucos que realmente sacaram as intenções dos dois filmes e gosto deles até hoje, mesmo reconhecendo seus defeitos (leia aqui minha análise da trilogia).

Chega agora, 20 anos depois de “Revolutions”, a quarta parte da franquia, intitulada “Matrix Resurrections”. A grande pergunta sobre o filme é: por que foi feito? E a resposta está no próprio longa, em uma das várias tiradas sarcásticas que os roteiristas inventaram para rir de si mesmos: porque a Warner Brothers, detentora dos direitos, iria dar sequência à franquia com ou sem a participação de seus criadores, que hoje são duas mulheres transexuais Lana e Lily Wachowski (antes Larry e Andy), embora somente Lana aceitou participar da produção de “Resurrections”.

Já que foi forçada a fazer a nova sequência contra sua vontade, a cineasta optou por sabotar seu próprio filme. Embora “Revolutions” tenha fechado a trilogia original sem deixar muitas pontas soltas para uma continuação, obviamente o universo de Matrix poderia ser explorado de inúmeras formas, mas Lana optou pelo caminho mais fácil: fazer uma espécie de reboot do primeiro filme ao mesmo tempo que dá sequência aos eventos do último, algo que está na moda hoje em Hollywood e quase sempre resulta em fracasso junto aos fãs.

“Resurrections” é uma colcha de retalhos que mistura boas ideias, nostalgia e soluções simplistas. Mas são as duas últimas que predominam e as (poucas) premissas interessantes são desperdiçadas e não chegam a lugar algum. A melhor coisa acaba sendo o primeiro ato, quando Neo, novamente preso à Matrix, começa a perceber que algo está errado quando é obrigado a fazer uma continuação da série de videogames de sucesso chamado, bem... Matrix. E aí Wachowski aproveita para alfinetar a lógica corporativa que quer tirar leite de pedra dessas franquias, ao mesmo tempo que ironiza a falta de entendimento do público médio sobre os reais significados de Matrix.

É uma pena que tudo isso seja esquecido a partir do segundo ato que vira uma mera releitura do que já foi visto (inclusive com várias inserções de cenas dos filmes anteriores), com os personagens repetindo o que já foi feito, só que sem a menor vibração, suspense ou emoção. Keanu Reeves nunca foi um bom ator, mas aqui está catatônico, sussurrando seus diálogos como se estivesse... prestes... a... ter... um... ataque... de... cólica... intestinal. O resto do elenco é fraco e parece saído de uma série para adolescentes da Netflix. No terceiro ato alguns diálogos mais profundos melhoram a experiência, mas ainda é muito pouco perto do que já foi mostrado antes.

O que mais chama a atenção, além do roteiro fraco e sem qualquer inspiração, é a precariedade técnica do filme, algo que entra em conflito gritante com a trilogia original: lutas coreografadas de modo apressado, perseguições simplórias e efeitos visuais capengas. Fica evidente que faltou dinheiro e certamente a pandemia da Covid-19 atrapalhou bastantes as filmagens. No final das contas, parece um filme feito por algum fã de Matrix.

Já vi duas vezes “Matrix Resurrections”. Na primeira algumas passagens chegaram a me deixar constrangido. Na segunda achei menos ofensivo, certamente porque já estava sem qualquer expectativa. Infelizmente não é por isso que o filme deixa de ser fraco, apenas fica mais tolerável. E novamente a gente se pergunta: por que diabos fizeram esse filme? Embora a resposta seja óbvia, fica difícil de entender porque deixaram ser realizado dessa forma, já que é uma clara trolagem contra o estúdio e os fãs que já estão enfurecidos xingando o filme nas redes sociais e nos canais de youtube. Ou seja, mais um tiro no pé - só que em “bullet time”...

Cotação: **

domingo, 24 de outubro de 2021

Novo “Duna” é um prato requintado que vai agradar quem procura ficção científica de qualidade

Filme é extremamente bem realizado, repleto de nuances e inflexões narrativas que captam a rica essência da obra original, porém com voz própria na linguagem cinematográfica

- por André Lux

Sou grande admirador da saga “Duna”, criada pelo escritor Frank Herbert a partir de 1965 e que influenciou diretamente um sem número de outros produtos começando com “Star Wars”, passando por “Matrix” e até “Game of Thrones”, a qual descobri a partir da adaptação feita por David Lynch para os cinemas em 1984. Versão essa que tinha inúmeros problemas e fracassou nas bilheterias, porém possuía também qualidades, entre elas um elenco formidável, além de desenhos de produção, figurino e de criaturas sensacionais, sem falar da música competente do grupo Toto (veja aqui minha análise das adaptações de "Duna" anteriores).

Confesso, portanto, que sempre tive grande dificuldade de aceitar outra versão de “Duna” para as telas tão ligado que sempre fui ao filme de 1984. Foi assim com a minissérie da Sci-Fi realizada no ano 2000 que embora fosse muito mais fiel à obra original, foi feita com parcos recursos financeiros e tinha um visual risível, parecendo muitas vezes desfile de escola de samba.

Chega então a última adaptação do livro gigantesco de Herbert, desta vez realizada por Dennis Villeneuve, cineasta brilhante que tem feito ótimos filmes (meu favorito é de longe “A Chegada”), um verdadeiro artista que, a exemplo do que foi Ridley Scott no passado, transforma cada fotograma em verdadeiras obras de arte. E “Duna” não é diferente. O filme é um espetáculo deslumbrante (e por isso exige ser visto ao menos uma vez nas telas dos cinemas), com fotografia e efeitos visuais de tirar o fôlego sempre acompanhadas por um senso de escala que impressiona. Os desenhos de produção e figurinos vão na direção oposta do barroco colorido do longa de Lynch, apostando em linhas retas e curvas sóbrias dignas da arquitetura contemporânea.

O mais interessante no meu caso é que não gostei muito do filme na primeira vez que assisti (no Imax). Embora tenha achado o visual sensacional, tive dificuldades em entrar na proposta da nova adaptação. Culpa disso certamente foi o meu apego ao “Duna” de 1984 e também ao extenso conhecimento do livro e suas tramas políticas complexas e intrincadas. Certamente se tivesse escrito minha análise depois dessa primeira experiência ela seria majoritariamente negativa. Mas senti que algo não estava correto e fui ver novamente no cinema. E isso fez toda a diferença!

Já sabendo o que ia encontrar, fui capaz de me distanciar da versão de Lynch e também do livro e finalmente consegui mergulhar de cabeça. Nem mesmo a música do abominável Hans Zimmer me incomodou na segunda exibição. Sim, a sua partitura para “Duna” sofre de quase todos os defeitos do resto do seu trabalho: é intrusiva, simplória, pesada, opressiva e ensurdecedora! Porém, me arrisco a dizer que mesmo assim essa provavelmente é sua melhor trilha pois, a despeito dos problemas, possui alguns momentos inspirados e até impactantes (dentro do baixo padrão Zimmer de qualidade, que fique claro).

O roteiro consegue sintetizar bem as grandes questões da obra de Herbert sem entrar em muitos detalhes e excesso de informações, fatores que deixaram o filme de 1984 incompreensível para quem não leu o livro. Apesar de enfurecer os fãs mais puristas, foi uma decisão acertada que deu leveza e permite um acompanhamento mais fácil por parte do espectador não familiarizado com o material.

Gostei muito da maneira como Villeneuve se manteve fiel à lógica do enredo original, no qual o conceito de “messias” e “escolhido” não passa de maquinações engendradas pelas Bene Gesserit para facilitar a manipulação e dominação dos povos dos mundos daquele universo, sempre ávidos por crenças religiosas em seres sobrenaturais. Esse, por sinal, foi o erro mais grotesco da versão de 1984 já que transformou Paul em um messias real com poderes mágicos, algo que arrebenta com toda a construção do livro.

Filme tem visual impressionante

Algumas escolhas prejudicam o ritmo da trama, especialmente o arco que envolve o traidor dos Atreides apresentado aqui de forma muito apressada, culminando com o ataque dos Harkonnens que parece acontecer apenas poucos dias após a chegada dos Atreides em Arrakis. O elenco é muito bom, embora alguns personagens importantes tenham pouco tempo de tela, o que afeta a composição dos atores, porém não enfraquece a narrativa principal que fica focada mais em Paul e sua mãe Jessica (aqui bem mais emotiva e insegura do que no livro).

O filme tem 2 horas e 35 minutos, mas parece menos, o que é sempre um dos melhores elogios, terminando de forma abrupta no que seria o início da segunda metade do livro e deixando um gosto de quero mais. O fato da continuação ainda não ter sido confirmada pelo estúdio aumenta ainda mais a ansiedade pois, diferente de “O Senhor dos Anéis” cujos três filmes foram filmados simultaneamente, Villeneuve rodou apenas a primeira parte.

“Duna” é um prato requintado que vai agradar em cheio quem procura ficção científica de qualidade e sabe apreciar um filme extremamente bem realizado, repleto de nuances e inflexões narrativas que captam a rica essência da obra original, principalmente as alegorias ao petróleo, ao cristianismo e islamismo e à ecologia, porém com voz própria dentro da linguagem cinematográfica.

Cotação: ****1/2

domingo, 10 de outubro de 2021

“007 Sem Tempo Para Morrer” pode ser o fim da franquia do personagem

 

Talvez seja melhor mesmo deixar James Bond morto e enterrado, junto com os valores apodrecidos que ele tão bem representa

- por André Lux

É impossível falar sobre o novo filme do 007 sem fazer uma análise histórica da franquia, portanto aqui vai (contém spoilers!).

O personagem do agente secreto britânico James Bond, codinome 007, foi criado pelo escritor Ian Fleming em 1953 e gerou a mais longa franquia do cinema com 26 filmes cujas qualidades variam bastante, do ótimo ao francamente bisonho.

O problema do 007 é que ele é extremamente datado, um verdadeiro dinossauro que foi criado na época da guerra fria entre EUA e a extinta União Soviética cujas características principais eram o machismo e, claro, a defesa irrestrita do imperialismo ocidental (afinal, é um agente do MI6 britânico). Ou seja, em linhas gerais era a encarnação perfeita do chamado “macho alfa” que detona os inimigos do capitalismo enquanto usa e descarta as mulheres a seu bel prazer.

Essa fórmula funcionou bem até mais ou menos 1985 com o último filme de Roger Moore interpretando Bond, “007 Na Mira dos Assassinos” (“A View To a Kill”), mas logo os produtores tentaram dar um upgrade no personagem em 1987 com “007 Marcado Para a Morte” que eu considero talvez o melhor filme da série, trazendo o personagem mais próximo da realidade, diminuindo sua misoginia e deixando a trama menos caricata. O ator Timothy Dalton ficou perfeito no papel, mas infelizmente fez apenas dois filmes e logo foi substituído pelo insonso Pierce Brosnan, cujas encarnações de Bond estão entre as piores da série.

Corta para 2006 e entre em cena então uma nova tentativa de revitalizar a franquia. Inspirados pelo sucesso dos filmes com Jason Bourne, personagem parecido com Bond, porém muito mais realista e mundano, os produtores contratam o feioso Daniel Craig (que lembra muito o nosso Didi Mocó de “Os Trapalhões”) para viver 007 em “Cassino Royale” e criam um ótimo filme, porém cada vez mais distante do personagem original. 

O Bond de Craig é inseguro, nervoso e altamente incompetente (o que se justifica no primeiro filme por ele estar estreando no serviço), porém essas características são levadas para todos os outros filmes, fator que irrita os fãs da série.

James Bond e Didi Mocó: trapalhões

Além disso, a trama do primeiro filme é levada para a continuação “Quantum of Solace”, algo inédito na franquia. Até aí, nada de errado. O problema é que em “Skyfall” (leia aqui minha análise) resolvem abandonar a continuidade, só para a retomarem em “Spectre” (leia aqui minha análise) inventando de forma absurda uma organização do mal capitaneada pelo vilão Blofeld que estaria por trás de todos os eventos dos filmes anteriores.

Chega então “007 Sem Tempo Para Morrer” que já se anuncia como o último filme da era Craig e o resultado não poderia ser mais decepcionante. Confesso que não esperava grande coisa depois dos fiascos de “Skyfall” e “Spectre”, porém é bem pior do poderia imaginar. O longa começa com Bond novamente aposentado (ele foi substituído por uma mulher, porém isso não tem a menor relevância na trama) vivendo um grande amor com a personagem feita pela Léa Seydoux (que ao menos está menos inexpressiva). Mas logo sofrem um atentado e Bond a abandona achando que ela a traiu.

Temos então a invasão de um laboratório secreto do qual é roubado um tipo de vírus que pode matar pessoas específicas baseado no DNA delas. Por trás do roubo está a Spectre que continua sendo comandada por Blofeld mesmo ele estando preso em segurança máxima (e o filme nunca explica de forma inteligível como faz isso). Todavia, existe um outro vilão (feito de forma caricata por Rami Malek) que busca vingança contra a Spectre e quer usar o vírus para matar Blofeld e, depois, eliminar grande parte da humanidade. Os motivos dele nunca ficam claros, mas parece que quer dar uma de Thanos, da série dos “Vingadores”.

Enfim, o roteiro é tolo, a trama não tem pé nem cabeça e é arrastada demais (o filme tem quase 3 horas de duração), a direção é burocrática, as cenas de ação, lutas e perseguições são muito fracas, as motivações dos vilões não fazem sentido e o Bond de Daniel Craig continua incompetente e burro, incapaz de se salvar sem ajuda de outros ou de perceber óbvios traidores. 

E se não bastasse tudo isso, ainda inventam uma filha para o 007, recurso que terá efeito dramático praticamente nulo para a trama e só serve para tentar sem sucesso dar mais emoção a perseguições e confrontos. E o que foi aquilo dos membros da Spectre se reunirem todos numa festa em Cuba? Mais uma estupidez do roteiro inventada só para tentar manchar novamente a reputação da ilha, como se lá fosse terra de ninguém.

Não foi boa ideia chamarem o abominável Hans Zimmer para compor a música de “Sem Tempo Para Morrer”, pois seu “estilo” é completamente errado para os filmes da franquia que sempre contaram com partituras excelentes, grande parte delas composta pelo mestre John Barry. Mas Zimmer não chega a incomodar, criando uma trilha musical banal mas funcional na qual cópia sem grande talento o que já foi estabelecido na série por Barry e David Arnold. As melhores faixas acabam sendo as que Zimmer incorpora sem maiores explicações o tema criado por Barry para “A Serviço Secreto de Sua Majestade” (de 1969), cuja canção interpretada pelo grande Louis Armstrong encerra o novo filme.

E, para fechar o desastre com chave de outro, resolveram simplesmente matar James Bond. Isso mesmo: está morto o personagem icônico do cinema que basicamente era imortal (tanto é que está vivo desde 1953 e já foi interpretado por seis atores). E nem mesmo uma morte gloriosa o coitado teve, sendo eliminado de forma idiota por causa de erros que ele mesmo comete! Um verdadeiro trapalhão esse James Bond.

Vai ser difícil para os produtores da franquia retomarem o personagem daqui para frente. Primeiro porque o mataram e segundo porque fica quase impossível manter a fleuma de James Bond viva sem ter que descaracterizar ele completamente. O que no final das contas pode ser uma boa notícia, já que realmente não existe mais lugar no mundo para esse tipo de “macho alfa” sedutor, invencível, imperialista e misógino que encantava certas pessoas no passado. Talvez seja melhor mesmo deixar James Bond morto e enterrado, junto com os valores apodrecidos que ele tão bem representa.

Cotação: **

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

"Rambo 3" mostra como os EUA financiaram o Talibã


É interessante perceber que Osama Bin Laden poderia ser um daqueles afegãos que dão uma forcinha ao Rambo...

- por André Lux, crítico-spam

“Rambo III" é sem dúvida o ponto mais baixo da trilogia com o personagem que foi apresentado no primeiro filme (o interessante “First Blood”) como um veterano da guerra do Vietnam desajustado e marginalizado pela mesma sociedade que supostamente defendeu com seu sangue, só para ser transformado em super-herói invencível no segundo capítulo, no qual vence sozinho a guerra que os EUA perderam.

Animado com o sucesso mundial daquela bomba fascista e panfletária da era Reagan, que entre outras ofensas pregava abertamente em favor da interferência direta dos EUA no assunto de países soberanos, o brucutu Sylvester Stallone resolveu ir mais além entrando no conflito que estava ocorrendo no Afeganistão, que na época havia sido invadido pela extinta União Soviética.


O filme já começa de forma risível, com Rambo lutando quase até a morte para descolar uns trocados que dá gentilmente aos monges budistas que o acolheram em seu templo. Mas a "paz" do personagem dura pouco, pois logo descobrimos que seu mentor e camarada, Coronel Trautman (Richard Crenna), foi capturado pelos malvados comunistas quando estava em missão do Tio Sam tentando levar democracia e liberdade para o pobre povo afegão.

Rambo então deixa a batina e vai para aquele país quente e repleto de barbudos mal-encarados a fim de resgatar seu colega militar e, de quebra, destruir sozinho e com um estoque aparentemente infinito de flechas explosivas o abominável exército vermelho - o qual, depois de uma sessão de tortura contra inimigos, ataca aldeias miseráveis por esporte, matando cruelmente inclusive criancinhas indefesas (na certa para comê-las no jantar).


Ficar apontando aqui todas as cenas absurdas e ridículas do filme seria perda de tempo - o ponto alto da canastrice é ver o herói cauterizando com pólvora um ferimento que atravessou seu torso!

Também é inútil enumerar todos os clichês deploráveis e preconceitos que pipocam na tela a cada cinco segundos, particularmente aqueles que nos ensinam o quanto são malvados e pervertidos os comunistas e também como são ineptos e atrasados os afegãos (no caso representando qualquer povo que use turbante) frente à superioridade moral, tecnológica e estratégica dos ocidentais. Pior que tem gente que acredita nesse tipo de ladainha racista até hoje.


O interessante, entretanto, é analisar “Rambo III” como produto de seu tempo e compará-lo com a realidade atual, depois dos ataques terroristas em território estadunidense no 11 de setembro. Se em 1988 (ano de produção do filme) o indestrutível soldado do Tio Sam ia até o Afeganistão para salvar o sofrido povo daquele país da tirania dos sanguinários soviéticos, agora o mesmo "Rambo" está lá jogando bombas e mísseis sobre aquelas pessoas, exatamente como faziam os supostos vilões vermelhos.

Só que agora com a desculpa de ser uma "guerra contra o terror" para capturar o terrorista Osama Bin Laden – que, vejam só que ironia, em “Rambo III” podia ser muito bem um daqueles rebeldes Mujahadin do Talibã financiados e armados pelos EUA que ajudam o herói a derrotar os soviéticos!

O absurdo chega a níveis gritantes quando lembramos que o "engajado" Stallone ainda fez questão de incluir a seguinte frase na conclusão da sua obra: "Esse Filme é Dedicado ao Valente Povo do Afeganistão". Como se vê, até o incorruptível Rambo tem "dois pesos e duas medidas". Seria risível se não fosse tão trágico...


Nossa única vingança é saber que o exército soviético abandonou o Afeganistão alguns meses antes do filme estrear nos cinemas, o que deixou tudo ainda mais ridículo e sem sentido ao ponto de decretar seu fracasso nas bilheterias.

Mas, para espanto geral e graças a atual política bélica e reacionária de Bush Júnior, Rambo vai voltar às telas em breve, agora para lutar contra sequestradores e ladrões de suprimentos (clique aqui para ver uma foto do deformado Sylvester Stallone durante as filmagens de "Rambo IV" e corra para o abrigo mais próximo!). Sinceramente, ninguém merece!

Depois de tudo isso alguns incautos e outros nem tanto ainda vêm me falar que o cinema e outros produtos da indústria cultural não sao usados descaradamente como máquina de propaganda imperialista. Imaginem então se fosse...

Cotação: ZERO
.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

A esquerda precisa entender a importância de Felipe Neto



Em entrevista histórica ao grupo Prerrogativas, o youtuber explica porque mudou de lado na política e como a luta contra o neofascismo precisa de jovens como ele. Confira a minha análise!

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MEMÓRIAS DE UM ALIENADO: Como deixei de ser um "papagaio de direita":http://tudo-em-cima.blogspot.com/2015/08/memorias-de-um-alienado.html 

Felipe Neto no Prerrô! - Liberdade de expressão e redes sociais 

terça-feira, 20 de abril de 2021

Interferência dos produtores dilui impacto de “A Sombra e a Escuridão”


A pior coisa é o caçador interpretado por Michael Douglas, personagem inventado para que pudessem enfiar um estadunidense na história

- por André Lux


“A Sombra e a Escuridão” tem uma premissa bastante interessante, ainda mais ao sabermos ter sido baseado em uma história real. O filme mostra a construção de uma ponte em Uganda, na África, que é ameaçada pela aparição de dois leões sanguinários que começam a matar indiscriminadamente e com requintes de crueldade, muito diferente de como agiriam em uma situação normal.

Infelizmente “A Sombra e a Escuridão” não cumpre todas as suas expectativas. A pior coisa do filme é, sem dúvida, o caçador Remington, interpretado por Michael Douglas (que é um dos produtores do filme) que aparece do nada para tentar ajudar a matar os leões. Personagem, diga-se de passagem, "inventado" pelos roteiristas para que de algum jeito pudessem enfiar um estadunidense na história. 

Mas ele não só é ridículo (sua chegada com um grupo de nativos vestindo trajes carnavalescos é digna de gargalhadas) como não tem nada a fazer, a não ser proferir falas vazias e ficar posando de "sabe tudo" o tempo todo. Essa "licença poética" com os fatos reais é justamente o que derruba a fita, já que o personagem principal, vivido com frieza por Kilmer, é enfraquecido em favor do "astro" Douglas.

Os leões verdadeiros estão empalhados
Os leões verdadeiros estão em um museu

Entretanto, o filme tem várias qualidades, a começar pela bela fotografia do mestre Vilmos Zsigmond, passando pela trilha musical extremante rica e complexa do maestro Jerry Goldsmith. “A Sombra e a Escuridão” traz ainda algumas cenas de ataques de leões das cenas mais impressionantes do cinema. É particularmente assustador o embate final entre Kilmer e um dos deles.

Pena que mais uma vez a política dos grandes estúdios tenha interferido no resultado de um filme que poderia ter se tornado um clássico do gênero, transformando-o em apenas uma diversão de qualidade, mas que resulta banal e fria.

Cotação: * * *