sexta-feira, 26 de junho de 2015

Filmes: "Divertida Mente"

ESTUDO SOBRE A DEPRESSÃO

Animação da Pixar comprova que pode existir vida inteligente mesmo dentro da indústria cultural estadunidense

- por André Lux, crítico-spam

“Divertida Mente” é provavelmente a obra-prima da Pixar. O mais interessante é que a nova animação do estúdio parecia, pelos trailers, um tremendo erro. Afinal, que história era aquela de representar as emoções humanas com personagens cômicos em uma sala de controle?

O filme, porém, é uma grata surpresa, muito criativo, bonito, bem dirigido (pelo mesmo sujeito que fez “Monstros S.A.” em parceria com o diretor de "UP: Altas Aventuras"), engraçado e ainda por cima educativo. 

Pais inteligentes e antenados em psicologia certamente vão encontrar nele mil maneiras de usar os personagens Alegria, Tristeza, Raiva, Nojo e Medo de maneira positiva na educação dos filhos (claro que sempre deixando claro pra eles que somos nós que estamos no controle das emoções e não contrário!).

O mais interessante é que “Divertida Mente” acaba sendo um estudo da Depressão, doença silenciosa que vitima milhares de pessoas e que é muito difícil de diagnosticar e tratar. Quando a menina Riley perde a Alegria e a Tristeza, que são sugadas para fora da sala de controle, passa a apresentar alguns dos clássicos sinais de Depressão: irritabilidade, desânimo, ansiedade, apatia, entre outros.

O filme retrata com perfeição também o perigo que é uma pessoa tomar decisões importantes com esse quadro e dominada pela Raiva ou pelo Medo, além das graves consequências que isso pode causar não só para ela, mas também para todos que estão em volta – especialmente os familiares.

 Claro que tudo isso não vai fazer muita diferença para quem não está minimamente ligado no assunto. Mas para o resto dos mortais o filme funciona mesmo assim graças a um roteiro muito bem escrito, repleto de tiradas cômicas na hora certa, comentários ácidos sobre a eterna “guerra dos sexos”, exploração das criaturas terríveis que habitam o subconsciente e dos sonhos e delírios que habitam a mente das crianças. É particularmente tocante o destino do Bing Bong, o amigo imaginário da pequena Riley, que é uma mistura de elefante, gato e algodão doce.

Embalado por uma trilha musical deliciosa composta pelo esforçado Michael Giacchino (o tema principal é simplesmente contagiante), “Divertida Mente” comprova que pode existir vida inteligente mesmo dentro da indústria cultural estadunidense. Imperdível!

Cotação: * * * * *





terça-feira, 23 de junho de 2015

Adeus, James Horner...


Compositor James Horner morre em acidente aéreo


O avião do compositor James Horner, famoso pelas trilhas de "Titanic", "Krull", "Jornada nas Estrelas 2", "Coração Valente", entre centenas de outras, caiu hoje a tarde, em Los Angeles.

As autoridades informaram que uma pessoa morreu no acidente. Apesar de ainda não ter sido oficialmente confirmado, Horner provavelmente estava pilotando o avião.


Uma notícia muito, muito triste. Horner foi um dos compositores de música de cinema que mais me emocionaram, especialmente em minha juventude.

Abaixo, deixo para vocês ouvirem um trecho da trilha de "Krull", minha favorita dele.



Abaixo, a faixa Elora Danan de "Willow", uma de suas melhores trilhas.


 "Lendas da Paixão", uma de suas mais belas trilhas:

 

Música de encerramento de "Cocoon", uma de minhas favoritas...

sábado, 13 de junho de 2015

Filmes: "Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros"

PARA BRUCUTUS

Novo filme da franquia "Jurassic Park" consegue ser pior que o segundo e transforma o primeiro numa obra-prima!

- por André Lux, crítico-spam

A trupe responsável pela franquia Jurassic Park nos cinemas fez algo que parecia impossível: um quarto filme que é ainda pior que todos os outros três! Leia aqui minha análise deles.

Não estava esperando nada desse “Jurassic World” e confesso que até fiquei um pouco animado depois de ler tantas críticas positivas por aí. Mas à medida que a projeção avançava e as besteiras foram se amontoando, vi que tinha caído numa cilada.

Esse novo filme consegue ser pior que o segundo, “O Mundo Perdido”, e transforma o primeiro numa obra-prima - o que, convenhamos, não é nada fácil! Em horas como essa a gente lembra que, mesmo no seu pior momento, Steven Spielberg (que aqui atua só como produtor executivo) é alguém que realmente entende de cinema e, por isso, capaz de produzir ao menos uma ou outra cena antológica até mesmo em seus filmes mais medíocres.

Já esse novo filme é tão mal feito tecnicamente que parece mais antigo que os originais! A direção é inexistente, os efeitos são fracos, a edição pavorosa (chegam a repetir três vezes uma mesma tomada geral do parque logo no começo do filme, praticamente em seguida) e os atores péssimos, principalmente as duas crianças. O único que livra a cara é o galãzinho Chris Pratt, que esteve tão mal no fraquíssimo "Guardiões da Galáxia", mas aqui até que convence como herói de ação.

Mas o que impressiona mesmo é a ruindade do roteiro, mais cheio de buracos e falta de lógica que os dois primeiros somados e  parece uma colcha de retalhos do que existiu de pior neles. Ou seja, tem uma trama ridícula, excesso de pieguice e nenhum suspense. É praticamente uma refilmagem do primeiro filme, ainda que citem explicitamente os acontecimentos dele e insistam que se trata de um novo parque, embora na mesma ilha.

Só que o novo parque tem falhas de segurança tão grandes e ridículas que governo algum autorizaria sua construção, tipo uns carrinhos em forma de bola que andam no meio dos dinossauros e são pilotados pelos visitantes, que podem inclusive ignorar uma ordem de voltar! 

Em outra cena abismal, os guardas do parque entram dentro da jaula do novo super dinossauro só para olhar marcas que podiam ver de dentro da sala de controle e, claro, causam a fuga dele. Aí os guardas do parque vão enfrentar o monstro com umas armas que dão apenas uns fracos choques elétricos, quando já havia sido estabelecido que eles tinham acesso a armas de tranquilizantes totalmente eficazes, que são usadas depois na invasão dos pterodáctilos!


"Fiquem calmos, eu trouxe minha arma que dá choques"
Esse novo dino, por sinal, age além de qualquer lógica. Ele ser super inteligente (para um dinossauro), vá lá. Agora, disfarçar sua energia térmica só para não ser captado pelo sistema de segurança ou arrancar o seu implante localizador obrigaria que ele tivesse conhecimento técnico do funcionamento do parque! Pedir que eu desligue o cérebro para curtir um filme, eu até aceito. Mas querer arrancar ele da minha cabeça para colocar um monte de esterco no lugar, aí não dá! 

E que história é aquela de tentar transformar os Velociraptors em armas para o exército, igual queria a bendita "companhia" de "Alien"? Se não bastasse isso, ainda viram bonzinhos no final e defendem seu "treinador"! É sério, não estou inventando!

Finalmente o que você sempre sonhou ver: Velociraptors amigos!
Todas essas falhas, idiotices e absurdos até poderiam ser ignoradas se o filme ao menos fosse bem feito e causasse o mínimo de suspense e tensão (coisa que o terceiro da série até conseguiu). Mas não chega nem perto disso. É tedioso, repetitivo, sem qualquer ritmo e só tem personagens que agem de maneira burra e irritante, fatores que implodem qualquer tentativa de criar terror. Chegam ao cúmulo de copiar plano a plano uma cena de "Avatar" (os meninos pulando na cachoeira) e "Aliens" (aquela dos soldados sendo mortos e seus visores apagando um a um).

Nem a trilha musical do esforçado Michael Giacchino chega a ser memorável e ele é obrigado a apelar a toda hora para o tema original composto por John Williams para o primeiro filme na tentativa de criar ao menos alguma sensação de nostalgia, mas sem sucesso, pois essa música é majestosa demais para as mixarias que vemos na tela.

Todavia, "Jurassic World" está fazendo sucesso nas bilheterias, provando que o nível de exigência das pessoas está cada vez mais baixo. Enfim, nada mais natural que um bando de brucutus se delicie com um filme tosco sobre dinossauros...

Cotação: *

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Filmes: "Mad Max: Estrada da Fúria" (revisada)

NÃO CUMPRE NEM O QUE PROMETE

Novo filme da série Mad Max parece uma colcha de retalhos da perseguição do segundo com o que existiu de pior no terceiro 

- por André Lux, crítico-spam

Esse novo Mad Max é uma grande decepção. Confesso que não estava esperando muito depois de ver os trailers, que já deixavam claro que o excesso e a histeria iriam prevalecer. 
Mas mesmo assim aguardava algo um pouco melhor do que uma longa (e tediosa) sequência de perseguição que dura duas horas e, basicamente, sai do nada e chega a lugar nenhum. 

O filme tem pouca relação com os anteriores, estrelados por Mel Gibson, cujo segundo capítulo é uma obra-prima do cinema, especialmente nos quesitos edição e fotografia. 
Apesar de ter sido concebido e dirigido pelo mesmo George Miller da trilogia original, "Mad Max: Estrada da Fúria" parece uma colcha de retalhos da antológica perseguição ao caminhão tanque do segundo filme com o que existiu de pior no terceiro capítulo ("Mad Max Além da Cúpula do Trovão"), que foi estragado justamente pelo excesso de figuras caricatas e uma narrativa flácida e praticamente isenta de suspense.

O novo filme já começa mal, com Max sendo preso facilmente e passando os próximos trinta minutos de projeção sendo arrastado de um lado para o outro por um bando de moleques chatos e histéricos, dando a impressão que é um sujeito incompetente e burro - o oposto do que deveria ser.

Mas o que mata mesmo o novo filme é a falta de qualquer elemento dramático que nos ligue aos personagens e nos faça sentir algo por eles. Embora algumas cenas de perseguição sejam bacanas e bem encenadas "ao vivo" e sem muitos efeitos digitais, é tudo tão primário, caricatural e excessivamente coreografado que a gente acaba não dando a mínima para o que acontece. Não há aqui nem sombra da tensão e suspense de "Mad Max 2", que ainda se dava ao luxo de ter um humor negro afiadíssimo, inexistente aqui.

O problema nem é tanto a premissa de fazer um filme que é, basicamente, uma única e longa cena de perseguição, mas sim a falta de sutileza como que tudo é mostrado e o grande número de clichês de filmes de ação que deveriam ter sido evitados. A primeira parte da caçada, que termina durante uma tempestade de areia imensa, não chega a incomodar. Mas, depois disso, o filme vai ficando cada vez mais absurdo, já que não tem como um caminhão daquele tamanho e peso continuar correndo mais que centenas de carros potentes e então ficam inventando desculpas sem nexo para atrasar os perseguidores.


A ação dos vilões, comandados por um sujeito deformado pela radiação, chamado de Immortan Joe (feito pelo mesmo ator que foi o Toecutter no primeiro "Mad Max"), também não faz muito sentido, pois se no começo da perseguição o objetivo deles é resgatar as fugitivas, depois esquecem isso e saem atirando para matar todo mundo. Não convence o fato de tentarem imputar uma liderança místico-religiosa ao vilão frente à sua gangue, especialmente os tais moleques pintados de branco, e isso só serve para aumentar o nível geral de histeria.

Também não foi uma boa ideia colocar no papel título Tom Hardy (que surgiu no cinema como o ridículo vilão Shinzon de "Star Trek: Nemesis"), pois continua sendo um ator neutro, que fala pra dentro, grunhe toda hora e não tem o menor carisma (algo que sobrava para Gibson). 

Quem nasceu para Shinzon nunca será Mad Max...
É triste também ver um diretor como Miller, que trabalhou com monstros da música cinematográfica como Jerry Goldsmith, John Williams, Maurice Jarre e Brian May, rendendo-se ao que há de pior no gênero hoje ao chamar para compor a trilha musical um tal de Tom Holkenborg, que se auto-intitula “Junkie XL” (um nome artístico que já diz tudo!). O sujeito é um DJ ou coisa parecida que andou participando de algumas trilhas do abominável Hans Zimmer, como “Homem de Aço”, e, claro, segue a cartilha zimerística de “como compor música ensurdecedora, opressiva, quase sempre em ré menor e repleta de ostinatos simplórios e repetitivos”. Haja saco para aguentar esse lixo que está agora em tudo quanto é filme e periga estourar nossos sensíveis tímpanos!

Para ser sincero, uma das únicas coisas positivas no filme é o tom feminista que guia às ações da personagem Furiosa (feita por uma apática Charlize Theron), embora seu plano de fuga seja completamente absurdo e forçado. O desenho de produção dos vilões e sua cidadela é realmente criativo, mas muito exagerado, caindo para o nível "desfile de escola de samba" que colabora para deixar tudo ainda mais caricatural. 


Não ajuda nada o fato do exagero no número de carros perseguindo o caminhão tanque, ainda mais com gente tocando tambor e um sujeito fazendo solos de guitarra que espirra fogo, um contra-senso já que o filme se passa num mundo pós-apocalíptico onde tudo é racionado ao extremo, especialmente a água e o combustível.

A fotografia de John Seale é deslumbrante e recheada de cores vivas e quentes, porém depois de um tempo acaba cansando porque o filme todo se passa num deserto e nem mesmo chegamos a ver qualquer ruína da antiga civilização.

Estranhamente, esse novo Mad Max está sendo altamente elogiado pelos críticos mundo afora, mais uma prova do delírio coletivo que de vez em quando toma conta dos profissionais da opinião que, aparentemente, também são vítimas do “efeito manada”. 

Mas, infelizmente, é muito barulho por nada pra variar e não cumpre nem o que promete.

Cotação: * *


segunda-feira, 25 de maio de 2015

Filmes: "Judge Dredd" (1995)

OS FÃS ESTÃO ERRADOS!

Primeira adaptação do Juiz Dredd para os cinemas foi massacrada na época do lançamento, mas resiste bem a uma revisão

- por André Lux, crítico-spam

O Juiz Dredd é um personagem dos quadrinhos, criado por John Wagner e Carlos Ezquerra, que já rendeu duas versões para as telas dos cinemas.

A ação das histórias do Juiz se passa num futuro distópico, após uma guerra nuclear que deixou a maior parte do planeta devastada por radiação, onde os humanos sobreviventes se aglomeram em gigantescas mega-cidades que vivem sob o julgo de um sistema penal totalitário e fascista, no qual os policiais tem poder absoluto de polícia, júri, juiz e executor. O melhor deles é justamente Dredd, o mais impiedoso e rígido, fruto de uma experiência de clonagem.


A primeira versão para os cinemas, "Judge Dredd" ("O Juiz" no Brasil), foi vivida por Sylvester Stallone, o eterno Rambo, e dirigida por um garoto de 26 anos chamado Danny Cannon, em 1995. Apesar de ter sido rejeitado pela maioria dos fãs do personagem, o filme não é ruim. Pelo contrário.

Tem efeitos especiais bacanas para a época, excelente música de Alan Silvestri (dos "De Volta Para o Futuro" e "Predador"), fotografia requintada de Adrian Biddle e um desenho de produção muito bonito, com direito às armaduras dos juízes criadas pelo famoso estilista Gianni Versace.

Canastrice e queixo de Stallone são perfeitos para Dredd
Os fãs reclamam até hoje do fato de Dredd tirar o capacete no filme, algo que jamais faz nos quadrinhos. Mas, sinceramente, isso não me incomoda simplesmente porque na trama contada pelo filme, que o mostra sendo injustamente acusado de um crime e enviado à prisão, não teria mesmo como ele ficar usando ele o tempo todo.

Confesso que não conhecia o personagem quando assisti nos cinemas, mas minha apreciação ao filme aumentou ainda mais depois que passei a acompanhar os quadrinhos, já que descobri que o roteiro faz uma salada bastante interessante das origens de Dredd com outros personagens clássicos.

Além disso, conta com um elenco de apoio muito bom, com direito a Max Von Sydow (como o Juiz Fargo), Jurgen Prochnow, Diane Lane, Joan Chen e um Armand Assante que praticamente mastiga o cenário com sua interpretação over do juiz Rico.

Armand Assante, como Rico, praticamente mastiga o filme
"Judge Dredd" também não tem medo de colocar o dedo na ferida e mostrar o quanto a "justiça" fascista daquele mundo é perigosa e absurda, ao colocar o próprio Dredd como vítima do sistema que ele até então defendia com unhas e dentes, sem questionar (algo que os próprios quadrinhos abordam raramente).

O que atrapalha o filme acaba sendo justamente a presença de Stallone, cuja canastrice até ajuda na caracterização. Apesar de ficar perfeito no uniforme (especialmente graças ao seu enorme queixo), ele ainda recebia tratamento de estrela e exigiu várias mudanças no roteiro, inclusive poder disparar aquelas frases cômicas infames que estavam na moda na época, mas que destoam completamente do personagem
. Embora nos quadrinhos exista bastante humor (negro), ele nunca vem de Dredd, que é mortalmente sério.

O grande Max Von Sydow como Fargo: coadjuvante de luxo
Mas é pouco para estragar a diversão. Esse é o tipo de filme que resiste bem a uma revisão, mesmo ficando datado em certos aspectos. Neste caso, os fãs estão errados!

Cotação: * * * 1/2

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sonho de nerd: ver "Mad Max 2" no cinema!



É impressionante como ver um filme no cinema, com a sala lotada, é uma experiência inigualável. Eu perdi a conta de quantas vezes já vi "Mad Max 2" em casa, um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. 

Mas ontem pude ver na tela grande do cinema, na maratona "Mad Max" promovida pelo Cinemark, e foi como se tivesse visto pela primeira vez na vida! 

Emocionante é pouco para descrever...


quarta-feira, 6 de maio de 2015

Filmes: "Vingadores 2: A Era de Ultron"

PROBLEMÁTICO, MAS DIVERTIDO

Filme é movimentado, divertido, tem atores adequados e sabe manipular as emoções na hora certa

- por André Lux, crítico-spam

Esse segundo filme dos "Vingadores" é quase tão legal quanto o primeiro, o que, convenhamos, é um milagre tendo em vista o excesso de personagens e a disparidade entre os heróis e seus poderes, que variam de um deus imortal portador de um martelo mágico a um simples sujeito bom no arco e flecha.

O mérito desse sucesso continua sendo do diretor e roteirista Joss Whedon que acerta novamente em não se levar muito a sério e inserir bastante humor e cenas calmas de interação entre os personagens.


A história, todavia, faz ainda menos sentido que a do original, já que nunca fica claro, por exemplo, o que é exatamente o tal Ultron, como foi criado, quais são suas intenções e poderes e o que o vilão da Hydra (derrotado logo no começo) tem a ver com essa salada toda. 

Quase tudo parece entrar na trama de maneira forçada, principalmente uma cientista coreana e sua máquina de recriar tecido humano e os gêmeos mutantes (feitos pelos atores que foram marido e mulher no novo "Godzilla") que odeiam Tony Stark, mas não o matam quando poderiam (sei que a ação deles fazia parte de um plano maior ligado à Hydra, mas no final não fica muito claro que plano era esse e tudo é descartado sem explicações). A atração da Viúva Negra pelo dr. Banner também não convence e o personagem Visão faz muito pouco.

O filme teve problemas na pós-produção, ao ponto de chamarem o compositor Danny Elfman para reescrever a música para algumas sequências, substituindo o que já havia sido feito por Brian Tyler (que fez a música para "Homem de Ferro 3" e "Thor 2"). Mas, na prática, trocaram seis por meia dúzia, já que não dá pra notar muita diferença e a trilha acaba sendo bastante genérica, só chamando a atenção quando usa o tema dos "Vingadores" composto por Alan Silvestri para o primeiro filme.

Todavia, esses problemas todos não chegam a incomodar muito porque o filme é movimentado, divertido, tem atores adequados e sabe manipular as emoções na hora certa. Não dá pra exigir muito mais desse tipo de produto, convenhamos...

Cotação: * * *

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Filmes: "Chappie"

ROBOCOP DOS POBRES

Essa é mais uma batida história de inteligência artificial criando consciência num ser mecânico 

- por André Lux, crítico-spam

É muito ruim esse novo filme do diretor Neill Blomkamp, que chamou a atenção com o interessante "Distrito 9" e logo depois fez o fraco "Elysium". Ele certamente ficou animado com os holofotes que recebeu graças ao seu primeiro longa e resolveu fazer um filme atrás do outro para aproveitar a onda positiva. 

Mas essa estratégia vai acabar virando um tiro no pé, já que a qualidade de seus filmes vem caindo visivelmente e pode decretar um fim abrupto na carreira do sujeito.

Porque fica bem óbvio que ele concebeu esse "Chappie" ainda durante as filmagens de "Elysium", que também mostrava um futuro onde robôs agiam como policiais. Aí ele esticou esse ideia, que por sinal não é nada original, e a transformou em mais uma daquelas histórias que envolvem inteligência artificial criando consciência num ser mecânico que está entre as mais velhas do gênero ficção científica. Acaba sendo uma espécie de "Robocop dos Pobres" ou algo parecido. E é muito similar ao simpático "Short Circuit", de 1986 (chamado de "O Incrível Robô" por aqui) e sua continuação, que também mostrava o robozinho sendo manipulado por ladrões para roubar carros para eles.

Se ao menos o roteiro fosse minimamente inteligente o filme poderia até ser desfrutável, mas é simplesmente pavoroso, repleto de absurdos, falta de lógica e personagem ridículos ou simplesmente desprezíveis. Alguns diálogos são dignos das "melhores" produções trash e ao menos fazem a gente rir quando era para levar a sério. Principalmente quando saem da boca da dupla que faz os traficantes que "adotam" o robô, feita por dois componentes de um grupo de rap sul-africano chamado Die Antwoord que são tão ruins que chega a dar pena. Hugh Jackman, o "Wolverine", também dá um show de canastrice como o vilão que anda de bermuda e usa um penteado de nerd ridículo.

"Mamãe, eu quero ser nerd!"
E que empresa é aquela, que fabrica robôs policiais de última geração, mas não tem segurança nenhuma? Os caras entram e saem a hora que querem levando equipamentos secretos e fica por isso mesmo. O engenheiro vilão ameaça um dos funcionários com uma arma no meio de todo mundo e nada acontece. E assim por diante. 

O robô é até bem feito e em alguns momentos quase convence, mas tudo é destruído pelos diálogos inacreditáveis e a insistência em transformar ele numa espécie de gangster robótico cheio de jinga e malandragem.

E, como de costume, o abominável Hans Zimmer destrói o pouco que resta do filme com uma música totalmente eletrônica que é tão primária e nojenta que nos "melhores" momentos soa como alguém espancando o sintetizador com um gato no cio.

É triste que um cineasta que demonstrou tanta garra e originalidade em seu primeiro filme se perca dessa forma, afinal não é todo dia que a gente tem contato com a cultura sul-africana. Vamos torcer para que ele dê um passo para trás e conceba seus novos projetos com mais carinho e cuidado, sem pressa. E sem Zimmer, por favor... 

Cotação: *

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Filmes: "Relatos Selvagens"

PORRADA NA CLASSE MÉDIA

Filme é retrato brutal da mentalidade daquele extrato social que sonha que "um dia vai chegar lá"

- por André Lux, crítico-spam

É impressionante a vitalidade do cinema argentino, sempre pronto a nos surpreender com uma nova produção inusitada e original que quase sempre entretém, mas também faz pensar.

É o caso desse notável "Relatos Selvagens", que é um retrato brutal do que se pode chamar de "mentalidade de classe média", aquele extrato social que acha que vive espremido entre os podres de ricos e os pobres, enquanto sonha que "um dia vai chegar lá" sem perceber que, de fato, está a dez mil passos dos primeiros e a míseros dez dos segundos.

Escrito e dirigido por Damián Szifron, o filme é uma comédia de humor muito negro, que não tem medo de dar uma bela porrada nos classe-medianos e de expor seus maiores defeitos e também o seu retumbante falso moralismo. 
Dividido em seis episódios sem relação um com o outro, "Relatos Selvagens" coloca em cena situações limites que evidenciam algumas das características mais patéticas, violentas, assustadoras ou simplesmente podres das pessoas ditas comuns. Não dá para comentar a fundo os episódios sem estragar as surpresas de cada um deles, mas basta dizer que abordam questões corriqueiras na vida de qualquer um dos autoproclamados "cidadãos de bem" que, pelo jeito, são comuns em qualquer grande metrópole do mundo. Ou seja: os "coxinhas" estão por todos os lados!


O mantra dos coxinhas: "Sou contra 
a corrupção... dos outros, é claro"
Temos ali a propina e a corrupção nossa de cada dia que só gera indignação quando são os outros que as cometem, o desejo de vingança e retaliação que cega e destrói, a alienação política gerando atos de revolta inúteis e autodestrutíveis, a traição como forma de manter relações motivadas por aparências e a incapacidade de lidar com problemas psicológicos de maneira responsável e que joga sempre nos outros a culpa.

Tudo isso vem embrulhado num pacote cinematográfico requintado, com direção e diálogos primorosos, atores excelentes, edição perfeita e, como já disse, um humor negro afiadíssimo e brutal, que chega a chocar em alguns momentos, principalmente nos episódios da briga entre os motoristas e do casamento.

Engraçado é ler as críticas por aí exaltando o filme, mas sem nunca mencionar os ácidos comentários sociais sobre a mentalidade mesquinha e a hipocrisia da chamada classe média. Sinal de que a ironia e o humor finos estão cada vez mais ininteligíveis para a grande maioria das pessoas, infelizmente...

Cotação: * * * * *

segunda-feira, 30 de março de 2015

Filmes: "Cinderela" (2015)

À PROVA DE CRÍTICAS

Sucesso do filme mostra que esse tipo de conto de fadas machista ainda faz a cabeça de muita gente


- por André Lux, crítico-spam


É impossível analisar um filme como "Cinderela" objetivamente, afinal trata-se de uma das histórias mais manjadas de todos os tempos. 


Além disso, já deu origem a incontáveis adaptações, começando pelo desenho clássico de 1950 e passando por dezenas de releituras para os cinemas e vídeo.

O que se pode dizer com certeza é que esse conto de fadas é um dos maiores responsáveis por "envenenar" a mente das crianças, principalmente as mulheres, com valores machistas e patriarcais, que incentivam as mulheres a serem eternamente passivas, submissas e sempre à espera de um "príncipe encantado" lindo e, claro, rico que será a fonte de toda a felicidade e conforto para elas.

Nesse sentido, a nova versão com atores de carne e osso não faz muito para mudar esse quadro, embora o diretor Kenneth Branagh se esforce para deixar a protagonista mais ativa e menos submissa. Mas é muito pouco, ainda mais depois da enxurrada de filmes e animações atuais que buscam colocar a mulher como dona do próprio nariz e lutando pela felicidade sem precisar se apoiar em um homem para isso (vide "Frozen", "Malévola", "Valente", entre outros).

A seu favor, o novo "Cinderela" tem um belíssimo desenho de produção feito pelo mestre Dante Ferreti. A trilha musical de Patrick Doyle, colaborador habitual de Branagh desde "Henrique V", é bonita e funciona bem com as imagens. Mas quem rouba a cena é Cate Blanchet, como a Madrasta, que além de ser belíssima, consegue colocar um peso na personagem nunca visto antes.

O mesmo não se pode dizer da moça que faz o papel título, uma certa Lily James, insonsa e sem qualquer carisma. Não chega a ser má atriz, mas não convence nem um pouco no quesito sedução, o que deixa o filme capenga, especialmente quando o príncipe, feito pelo rapaz que foi o Robb Stark em "Game of Thrones", tem que cair de amores por ela. Mais verossímil seria ele se apaixonar pela maravilhosa Madrasta...

Sou obrigado a dizer que erraram em não incluir canções no filme - e isso vindo de alguém que não suporta musicais! Nem mesmo a fada madrinha (feita pela horrível Helena Bonham Carter usando uns ridículos dentes postiços) canta a famosa "Bibidi-Bobi-Boo". Certamente algumas canções teriam deixado tudo mais mágico e ligeiro. 

Porque a trama é tão previsível e conhecida que acaba sendo meio tedioso acompanhar tudo, ainda mais levado tão a sério como nesta versão. Estranhei ao descobrir que o filme tem apenas 105 minutos, pois tive a impressão que é bem mais longo, o que é sempre um mau sinal.

Mas esse é um daqueles filmes à prova de crítica, afinal está fazendo enorme sucesso, principalmente entre seu público alvo: as mulheres. Na sessão que participei, elas gritavam, vaiavam e aplaudiam muito. Sinais de que esse tipo de conto de fadas machista ainda faz a cabeça de muita gente...

Cotação: * * *

quinta-feira, 26 de março de 2015

Filmes: "Garota Exemplar"

BLEFE

Filme mente e engana o espectador para gerar surpresa e choque, o que é sempre algo imperdoável.

- por André Lux, crítico-spam

David Fincher acabou sendo o maior blefe de sua geração. Depois de um começo problemático em "Alien 3", explodiu com o sensacional "Seven" e virou a maior promessa do cinema estadunidense. 


Infelizmente, parece que se deixou levar pelo ego inflado e acabou fazendo filmes excessivos (como "Clube da Luta" e "Millenium") ou simplesmente insonsos ("O Curioso Caso de Benjamim Button", "Zodiaco", "Quarto do Pânico", "A Rede").

Mesmo assim, mantém seu prestígio junto à indústria e os críticos, ao ponto de todo mundo louvar esse "Garota Exemplar", que é baseado num romance de sucesso. Mas é, como Fincher, um blefe. 


Esse é um daqueles filmes que são vendidos como algo grandioso, cheio de mistérios e reviravoltas, mas no fundo é apenas mais um que mente e engana o espectador para gerar surpresa e choque, o que é sempre algo imperdoável.

O mistério do desaparecimento da esposa do coitado do Ben Afleck é resolvido já no meio da trama e, convenhamos, é algo completamente absurdo e sem nexo. Nem o maior psicopata do mundo se daria o trabalho de construir um esquema tão elaborado e infalível só para prejudicar uma pessoa. 


A partir daí, o filme fica ainda mais tedioso, enquanto seguimos o patético marido que só faz besteiras e o autor do plano mirabolante, que também age de maneira totalmente estúpida e incoerente com o que foi mostrado até então sobre o personagem. Mas pior mesmo é a conclusão, daquelas que fazem a gente gargalhar, de tão forçada e inverossímil.

Fincher encena e filma tudo com preguiça e sem deixar qualquer marca, culpa também da trilha musical de Trent Reznor e Atticus Ross que não serve para nada e a maioria do tempo soa mais como alguém fazendo barulinhos no teclado.

Cotação: *

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Filmes: "Sniper Americano"

DOUTRINADO PARA MATAR

Coitados como Chris Kyle são ensinados que fazem parte de elite moral e que a violência é sempre a melhor solução

- por André Lux, crítico-spam

Ninguém pode dizer que Clint Eastwood seja um diretor ruim, muito menos que nunca tenha feito um bom filme. "As Pontes de Madison" e "Os Imperdoáveis" estão aí para quem quiser tirar a prova. 

Mas também não dá para negar que suas posições políticas estejam, digamos, bastante à direita e que vários de seus filmes, inclusive como ator, são francamente fascistas - vide o horroroso "O Destemido Senhor da Guerra" e seu personagem mais famoso, o detetive "Dirty" Harry, do tipo que atira primeiro e pergunta depois.

Esse "Sniper Americano" é, infelizmente, mais uma peça de propaganda do exército estadunidense e de suas "guerras pela liberdade", leia-se invasões de países em que os EUA tem interesses geopolíticos, leia-se, petróleo. O filme conta a história supostamente verídica do maior atirador de elite dos SEALs, um certo Chris Kyle (interpretado pelo bonitão Bradley Cooper que tem cara de gaiato e não convence muito no papel, apesar de se esforçar). Oficialmente, ele matou mais de 160 pessoas durante a "guerra" do Iraque, inclusive mulheres e crianças (seus primeiros assassinatos, diga-se de passagem).

O roteiro é baseado no livro do próprio Kyle e é muito ruim, sem qualquer tipo de sutileza ou mesmo diálogos verossímeis. Tudo soa como os mais batidos clichês desse tipo de filme, desde o treinamento feito por oficiais sádicos, até a conquista da sua cara-metade num barzinho cafona. Os diálogos entre ele e sua esposa, por sinal, são completamente falsos. Tudo filmado de forma burocrática por Eastwood - nem mesmo as cenas de guerra geram qualquer tipo de suspense.

Não faz mal, pois o que importa nesse tipo de peça de propaganda é espalhar mundo a fora que os estadunidenses são mesmo uma espécie de "raça superior" (Kyle chega a dizer isso quase literalmente no início do filme) e que usar seu exército composto por jovens submetidos a intensa lavagem cerebral para invadir outros países é algo totalmente justificável e louvável até. Afinal, fora dos EUA só existem mesmo "selvagens", não é mesmo?

Muita gente que critica o filme afirma que o protagonista é um psicopata, que não sente remorso por ter matado tanta gente. Mas não acho que é assim. Na verdade, pobres coitados como Chris Kyle são doutrinados desde criança a achar que fazem mesmo parte de uma elite moral e que usar a violência em casos de conflito é sempre a melhor solução, talvez a única. 

Não é à toa que vemos seu pai ensinando-o a matar animais com um rifle quando não passava de um menino (coisa que Kyle obviamente faz com seu filho também). Na mesa do jantar, o patriarca ensina seus filhos que o mal está à espreita e que existem apenas três tipos de seres humanos no planeta: as ovelhas (os mansos), os lobos (os malvados) e os cães pastores (a turma do bem, que protege as ovelhas dos lobos). "Não quero ver filhos meus virando ovelhas e se tornarem-se lobos vou enchê-los de porrada!", grita ao esmurrar a mesa com uma cinta. 

O pequeno Chris absorve bem a lição do pai e corre se alistar no exército quando "terroristas" explodem algumas embaixadas dos EUA no estrangeiro e logo é mandado para o Iraque, acreditando que irá assim vingar os ataques do 11 de setembro e, de quebra, proteger seus entes queridos em casa. 

Não há espaço para qualquer tipo de questionamento na cabeça unidimensional de pessoas como Kyle, que graças à sua pontaria certeira recebe o apelido de "Lenda" e é tratado como herói pelos seus companheiros de armas e também pelo filme. Eastwood em momento algum da projeção levanta qualquer tipo de dilema moral em relação às mortes ou mesmo á "guerra" no Iraque que, como qualquer pessoa minimamente bem informada sabe, foi invadido sob pretextos falsos.

No final, descobrimos que o protagonista foi assassinado por um veterano de guerra ao tentar ajudá-lo. Ou seja, acabou vítima da própria loucura que ele ajudou a criar. Mas pelo menos foi enterrado com muitas honras e seu caixão foi saudado por vários transeuntes que acompanharam o cortejo fúnebre com a bandeira dos EUA tremulando em suas mãos, ao som de um solene solo de trompete. The End.

Cotação: *

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Filmes: "Cinquenta Tons de Cinza"

DEPLORÁVEL

Até quando as mulheres, inclusive muitas feministas, vão defender valores machistas e misóginos como se fossem intrínsecos às mulheres?

- por André Lux, crítico-spam

Existem duas formas de se analisar “Cinquenta Tons de Cinza”, que é baseado num livro escrito por uma mulher de 52 anos que começou como uma “fan fiction” da saga “Crepúsculo” (isso já diz praticamente tudo sobre a obra) e acabou virando febre principalmente entre mulheres acima dos 40 anos.

A primeira é encará-lo como nada mais do que um “pornô light”, daqueles onde o sexo é apenas sugerido e com pitadas de práticas pouco ortodoxas, no caso o sadomasoquismo. Nesse quesito ele é pífio e só vai excitar quem realmente tem pouca experiência sexual ou sofre de repressão aguda.

Outra forma é enxerga-lo como um retrato perfeito da sociedade machista-patriarcal que vem castrando as mulheres há séculos. Nesse sentido, o que mais impressiona nesse "Cinquenta Tons de Cinza" é aquele moralismo tosco e primário que prega que todo mundo que possui fetiches ou gosta de sexo fora dos "padrões" é um louco degenerado que obviamente sofreu abusos quando criança e agora precisa ser "salvo", de preferência por uma donzela virgem de 27 anos (hein??) que dirige um fusca 66 azul calcinha...

Ou seja, nada mais é do que o mito do príncipe encantado que precisa ser salvo de suas "perversões satânicas" para poder amar a donzela pura e casta. Pregação das mais primárias e moralistas do mundo, semelhante à tal "cura-gay" defendida por dementes mundo a fora.

O lance do sadomasoquismo que o sr. Grey diz adorar não tem nada a ver com a trama e aparece de forma totalmente forçada só para atrair pessoas sexualmente reprimidas que fantasiam com essas práticas secretamente e não tem coragem de realizar, mas no fundo querem mesmo é casar, ter um monte de filhos e morar num lindo castelo, com direito a passeio de helicópteros e cartão de crédito ilimitado. Ou alguém acredita que a casta (e aparentemente à beira do retardamento mental) Anastasia também iria se apaixonar e se entregar aos jogos de SM de um sujeito pobre e feio? 


Só isso pode justificar tamanho sucesso de uma obra tão mal escrita e pueril, com personagens ridículos e que agem sem qualquer lógica ou motivação palpável, repleta de clichês patéticos e diálogos risíveis ("Eu não faço amor, eu fodo!" e "O que são plugs anais?" fizeram eu gargalhar incontrolavelmente).

Do ponto de vista puramente cinematográfico, o filme é uma piada. Fotografado de forma abaixo do medíocre, sem qualquer erotismo e com uma trupe de atores tão ruins que chega a dar vergonha alheia, particularmente os dois protagonistas que, além de tudo, ainda são feios e completamente sem graça. É tudo tão tosco que nem vale a pena comentar mais.

O que mais entristece, todavia, é ver tantas mulheres louvando uma obra tão grotesca e deplorável como essa e morrendo de desejo por um homem abusivo que compra suas parceiras para tratá-las literalmente como escravas, só porque ele é podre de rico e bonitão. Até quando essas as mulheres, inclusive muitas que se dizem feministas, vão continuar defendendo valores absolutamente machistas e misóginos como se fossem valores intrínsecos às mulheres? 

Pelo jeito, ainda vai demorar para conseguirem se livrar desse lixo que foi enfiado em suas goelas abaixo por uma sociedade cada vez mais doente e inviável.

Cotação: ABAIXO DE ZERO

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Filmes: "O Destino de Júpiter"

FLASH GORDON 2.0

Se você não é um cínico e tem um Q.I. maior do que uma ostra em coma, certamente vai curtir o novo filme dos criadores de "Matrix"

- por André Lux, crítico-spam 

“O Destino de Júpiter” é mais um caso de delírio coletivo dos profissionais da opinião, só que às avessas, pois quase todos eles estão malhando o novo filme dos irmãos Wachowski (de “Matrix) com o argumento básico de que tem uma trama confusa e sem sentido.

Por aí a gente percebe o estado lamentável que se encontra hoje a crítica cinematográfica mundial, repleta de curiosos que não entendem absolutamente nada de cinema, muito menos da história da sétima arte, caso contrário teriam percebido de imediato que “O Destino de Júpiter” é uma divertida homenagem aos clássicos da ficção científica do passado, especialmente “Flash Gordon”.

Além disso, o filme é repleto de citações a obras como “Brazil” (com direito a uma participação especial do próprio Terry Gilliam numa das cenas mais divertidas), “Soylent Green” (aquele em que Charlton Heston descobre no final que a bolachinha verde que a população come é feita de gente!), “Duna”, "Cinderela" e, claro, ao próprio “Matrix”. De quebra, descobrimos até como são feitos aquele benditos sinais nas plantações mundo a fora e qual o verdadeiro motivo da extinção dos dinossauros!

Obviamente que não são só esses ingredientes que garantem a qualidade de um filme, mas “O Destino de Júpiter” tem muitos outros. Depois de sucessivos desastres (“Speed Racer” e “Cloud Atlas”), os Wachowski voltam a forma e criam um roteiro bastante interessante, cheio de reviravoltas e boas sacadas que, infelizmente, vai exigir do espectador um mínimo de inteligência e raciocínio lógico. Digo infelizmente porque hoje em dia o nível do Q.I. do espectador médio é o mesmo de uma ostra em coma, portanto qualquer obra que obrigue-o a pensar e tirar conclusões por conta própria vai ser imediatamente tachada de “confusa” ou “chata”.

Não estou dizendo que o filme seja uma obra prima complexa e profunda, longe disso. Tem bastante falhas por sinal, principalmente nas cenas de perseguição que acabam sendo esticadas e exageradas demais e no uso de clichês bobocas que poderiam ter sido facilmente evitados (aquela cena com as abelhas deu vergonha alheia), mas não é nada que comprometa o resultado final, até porque os cineastas não tem vergonha de deixar claro desde o começo as origens e pretensões da obra.

O bom e velho Terry em ação
Gostei muito do desenho de produção, bem bizarro e às vezes no limite do exagero, mas muito criativo e original. 

Outro destaque positivo é a música de Michael Giachinno (dos novos “Star Trek” e "Os Incríveis"), composta no idioma de mestres como John Williams, Jerry Goldsmith e John Barry sem a complexidade e genialidade deles, é verdade, porém mil anos luz à frente do som simplório que picaretas como Hans Zimmer e seus clones despejam nas telas atualmente.

Os dois protagonistas são fracos, mas não comprometam e até mesmo o canastrão do Channing Tatum segura as pontas, ainda mais num personagem que beira o ridículo: um albino mutante, mistura de homem e lobo com orelhas de elfo. Ou seja, não é para ser levado a sério mesmo!

Em tempos de cinismo exacerbado como esse em que vivemos é fácil entender porque um filme como "O Destino de Júpiter" não agrada aos críticos e acaba naufragando nas bilheterias. Mas, se você não é um desses e tem um Q.I. mais alto do que o de uma ostra em coma, certamente vai curtir esse "Flash Gordon 2.0", cheio de efeitos visuais bacanas, personagens rocambolescos e até comentários críticos ao consumismo desenfreado do capitalismo. Tem coragem?

Cotação: * * * 1/2

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Filmes: "O Som ao Redor"

BISONHO

Como cineasta, Kleber Mendonça Filho é um ótimo crítico de cinema 

- por André Lux, crítico-spam

"O Som ao Redor" é um filme dirigido por Kleber Mendonça Filho, um sujeito que atua também como crítico de cinema e cujos textos eu acompanhei durante um certo tempo. 

Mas, como quase todos os que vivem de tecer opiniões sobre o trabalho alheio, ele não era muito chegado a ser contestado ou mesmo ter seus erros apontados pelos leitores. Por ter ousado cometer tais heresias, acabei sendo esculachado publicamente por ele em seu site, onde entre outras coisas, me rotulou de "crítico-spam", apelido que adotei carinhosamente e uso até hoje (clique aqui para saber mais detalhes dessa divertida história).

Quando soube que ele tinha dirigido um longa metragem (até então só tinha feito alguns curtas), fiquei bastante curioso para ver o resultado final, até porque a obra recebeu elogios entusiasmados e até foi indicada para a lista dos brasileiros que poderiam concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Chegaram a dizer que era melhor até que "Cidade de Deus"! Certamente ajudou essa boa vontade toda o fato de ter sido produzido de forma independente e fora do domínio mercadológico da Globo filmes, fato que gerou até uma divertida pendenga entre Kleber Mendonça e um dos arrogantes diretores da Vênus Platinada.

Sinceramente, eu devo ter visto o filme errado. Pois o que assisti foi um desfile canhestro de atores amadores incrivelmente mal dirigidos, os quais nem conseguiam pronunciar suas linhas direito ou então começavam a falar em cima do outro, deixando mais do que evidente que nem mesmo ensaiaram o suficiente (as atuações das crianças, então, são catastróficas). Alguns pareciam até estarem dopados, de tão catatônicos, especialmente o rapaz que faz o corretor de imóveis e sua namoradinha. As cenas de amor entre eles tem a mesma intensidade de uma corrida de lesmas! 

O roteiro, do próprio Kleber, não conta uma história propriamente dita, mas apenas mostra várias situações corriqueiras que envolvem moradores de um bairro de classe média de Recife que, eventualmente, se cruzam. Até aí não há nada que desabone a obra, pois vários outros filmes já tiveram esse mesmo tipo de narrativa, como "Short Cuts", de Robert Altman, com resultados excelentes. 

O problema é que aqui nada de interessante ou pertinente acontece e as conversas entre os personagens não apenas são vazias, mas forçadas e inconvincentes. O ponto alto do filme, para se ter uma ideia, é a cena em que uma dona de casa entediada se masturba em cima da máquina de lavar roupas, que vibra vigorosamente. A não ser, é claro, que você ache uma reunião de condomínio tal qual a mostrada no filme seja algo extremamente excitante. 

Se bem que a única piada do filme aconteça justamente nessa sequência, quando uma dondoca reclama do porteiro que entrega sua revista Veja fora do plástico, onde já se viu! Pena que a cena é tão mal marcada e filmada que a gozação com os leitores do pasquim nazi-fascista praticamente passa em brancas nuvens.


A única piada do filme vai te fazer rir, se ficar acordado até ela chegar...
Muitos enxergaram na obra comentários sociológicos fortes, mas aposto que foi porque leram antes o material de marketing ou então entrevistas do diretor. Porque, sinceramente, nada disso está no filme, exceto uma outra cena que pode até remeter ao eterno conflito de classes na forma das relações entre patrões e seus empregados domésticos, realidade bem característica da sociedade brasileira. 

Mas nem isso fica registrado, já que não existe maior relevância nas interações entre eles. O conflito mais marcante do filme se dá entre uma dona de casa e a empregada que queima o aparelho que emite um zumbido para espantar o cão do vizinho, daqueles que não param de latir. 

Vai ver que enxergaram esses conteúdos todos naquela cena enigmática em que três personagens estão se banhando em uma cachoeira e, de repente, começa a cair uma tinta vermelha em cima de um deles. Minha primeira reação foi achar que o rio tinha ficado menstruado. Passado o choque com o nível de amadorismo com que tal cena foi realizada e editada, tentei identificar o sentido daquilo, mas não consegui. Foi um um delírio do personagem? Um insight, talvez? Quem sabe uma premonição do futuro? Ou não? Certamente a genialidade do autor me escapou, tão acostumado que estou com filmes estadunidenses que explicam tudo à plateia...

Nem vou falar da "grande surpresa" que acontece no final e envolve o antigo "coronel" local porque é simplesmente absurda e fica ainda mais ridícula com os atores proclamando suas falas com a expressividade de uma estátua de pedra.


"Socorro! O rio ficou menstruado!"
O filme poderia ter sido salvo caso tivesse uma edição minimamente profissional. Todavia o que vemos em "O Som ao Redor" são sequências emendadas umas às outras sem qualquer ritmo ou fluidez, com várias cenas se alongando muito além da conta. Não causa estranheza saber que a edição foi feita pelo próprio Kleber, o que comprova que nunca é uma boa ideia deixar o cineasta cortar seu filme.

Os realizadores tentam dar sentido ao nome do filme enfiando um monte de barulhos do cotidiano de uma cidade grande em quase todas as cenas, porém eles não acrescentam quase nada e acabam apenas ajudando a atrapalhar ainda mais a compreensão das falas empoladas dos atores. Quem quiser ver esse recurso sendo usado com maestria e significado, recomendo algum filme do grande Jacques Tati, principalmente "Meu Tio".

No final da exibição desse tedioso e bisonho filme, confesso que fiquei até triste. Estava torcendo para que fosse realmente a obra prima que muitos profissionais da opinião estavam dizendo, afinal seria uma glória para mim ter meu apelido de "crítico-spam" associado a um cineasta de alto calibre. Mas, que nada! Nem isso consegui. 

No final das contas, como cineasta Kleber Mendonça Filho é um ótimo crítico de cinema. Pena que ele não vai poder detonar seu próprio filme, como faz com tanta veemência quando se trata da obra de outros realizadores. 

Mas certamente eu vou ganhar mais um merecido esculacho do crítico e dublê de cineasta por ousar não confessar que sua obra é genial por puro rancor. Afinal, como diz aquele velho ditado Klingon: "a vingança é um prato que se come frio"...

Cotação: *