sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Filmes: "O Som ao Redor"

BISONHO

Como cineasta, Kleber Mendonça Filho é um ótimo crítico de cinema 

- por André Lux, crítico-spam

"O Som ao Redor" é um filme dirigido por Kleber Mendonça Filho, um sujeito que atua também como crítico de cinema e cujos textos eu acompanhei durante um certo tempo. 

Mas, como quase todos os que vivem de tecer opiniões sobre o trabalho alheio, ele não era muito chegado a ser contestado ou mesmo ter seus erros apontados pelos leitores. Por ter ousado cometer tais heresias, acabei sendo esculachado publicamente por ele em seu site, onde entre outras coisas, me rotulou de "crítico-spam", apelido que adotei carinhosamente e uso até hoje (clique aqui para saber mais detalhes dessa divertida história).

Quando soube que ele tinha dirigido um longa metragem (até então só tinha feito alguns curtas), fiquei bastante curioso para ver o resultado final, até porque a obra recebeu elogios entusiasmados e até foi indicada para a lista dos brasileiros que poderiam concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Chegaram a dizer que era melhor até que "Cidade de Deus"! Certamente ajudou essa boa vontade toda o fato de ter sido produzido de forma independente e fora do domínio mercadológico da Globo filmes, fato que gerou até uma divertida pendenga entre Kleber Mendonça e um dos arrogantes diretores da Vênus Platinada.

Sinceramente, eu devo ter visto o filme errado. Pois o que assisti foi um desfile canhestro de atores amadores incrivelmente mal dirigidos, os quais nem conseguiam pronunciar suas linhas direito ou então começavam a falar em cima do outro, deixando mais do que evidente que nem mesmo ensaiaram o suficiente (as atuações das crianças, então, são catastróficas). Alguns pareciam até estarem dopados, de tão catatônicos, especialmente o rapaz que faz o corretor de imóveis e sua namoradinha. As cenas de amor entre eles tem a mesma intensidade de uma corrida de lesmas! 

O roteiro, do próprio Kleber, não conta uma história propriamente dita, mas apenas mostra várias situações corriqueiras que envolvem moradores de um bairro de classe média de Recife que, eventualmente, se cruzam. Até aí não há nada que desabone a obra, pois vários outros filmes já tiveram esse mesmo tipo de narrativa, como "Short Cuts", de Robert Altman, com resultados excelentes. 

O problema é que aqui nada de interessante ou pertinente acontece e as conversas entre os personagens não apenas são vazias, mas forçadas e inconvincentes. O ponto alto do filme, para se ter uma ideia, é a cena em que uma dona de casa entediada se masturba em cima da máquina de lavar roupas, que vibra vigorosamente. A não ser, é claro, que você ache uma reunião de condomínio tal qual a mostrada no filme seja algo extremamente excitante. 

Se bem que a única piada do filme aconteça justamente nessa sequência, quando uma dondoca reclama do porteiro que entrega sua revista Veja fora do plástico, onde já se viu! Pena que a cena é tão mal marcada e filmada que a gozação com os leitores do pasquim nazi-fascista praticamente passa em brancas nuvens.


A única piada do filme vai te fazer rir, se ficar acordado até ela chegar...
Muitos enxergaram na obra comentários sociológicos fortes, mas aposto que foi porque leram antes o material de marketing ou então entrevistas do diretor. Porque, sinceramente, nada disso está no filme, exceto uma outra cena que pode até remeter ao eterno conflito de classes na forma das relações entre patrões e seus empregados domésticos, realidade bem característica da sociedade brasileira. 

Mas nem isso fica registrado, já que não existe maior relevância nas interações entre eles. O conflito mais marcante do filme se dá entre uma dona de casa e a empregada que queima o aparelho que emite um zumbido para espantar o cão do vizinho, daqueles que não param de latir. 

Vai ver que enxergaram esses conteúdos todos naquela cena enigmática em que três personagens estão se banhando em uma cachoeira e, de repente, começa a cair uma tinta vermelha em cima de um deles. Minha primeira reação foi achar que o rio tinha ficado menstruado. Passado o choque com o nível de amadorismo com que tal cena foi realizada e editada, tentei identificar o sentido daquilo, mas não consegui. Foi um um delírio do personagem? Um insight, talvez? Quem sabe uma premonição do futuro? Ou não? Certamente a genialidade do autor me escapou, tão acostumado que estou com filmes estadunidenses que explicam tudo à plateia...

Nem vou falar da "grande surpresa" que acontece no final e envolve o antigo "coronel" local porque é simplesmente absurda e fica ainda mais ridícula com os atores proclamando suas falas com a expressividade de uma estátua de pedra.


"Socorro! O rio ficou menstruado!"
O filme poderia ter sido salvo caso tivesse uma edição minimamente profissional. Todavia o que vemos em "O Som ao Redor" são sequências emendadas umas às outras sem qualquer ritmo ou fluidez, com várias cenas se alongando muito além da conta. Não causa estranheza saber que a edição foi feita pelo próprio Kleber, o que comprova que nunca é uma boa ideia deixar o cineasta cortar seu filme.

Os realizadores tentam dar sentido ao nome do filme enfiando um monte de barulhos do cotidiano de uma cidade grande em quase todas as cenas, porém eles não acrescentam quase nada e acabam apenas ajudando a atrapalhar ainda mais a compreensão das falas empoladas dos atores. Quem quiser ver esse recurso sendo usado com maestria e significado, recomendo algum filme do grande Jacques Tati, principalmente "Meu Tio".

No final da exibição desse tedioso e bisonho filme, confesso que fiquei até triste. Estava torcendo para que fosse realmente a obra prima que muitos profissionais da opinião estavam dizendo, afinal seria uma glória para mim ter meu apelido de "crítico-spam" associado a um cineasta de alto calibre. Mas, que nada! Nem isso consegui. 

No final das contas, como cineasta Kleber Mendonça Filho é um ótimo crítico de cinema. Pena que ele não vai poder detonar seu próprio filme, como faz com tanta veemência quando se trata da obra de outros realizadores. 

Mas certamente eu vou ganhar mais um merecido esculacho do crítico e dublê de cineasta por ousar não confessar que sua obra é genial por puro rancor. Afinal, como diz aquele velho ditado Klingon: "a vingança é um prato que se come frio"...

Cotação: *

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Filmes: "Birdman"

CINEMA-MARRETA

Boa premissa é estragada pelo excesso de pretensão, autoindulgência e falta de sutiliza do cineasta mexicano

- por André Lux, crítico-spam

"Birdman" é mais um daqueles blefes que cai nas graças da maioria dos críticos e acaba sendo indicado para uma penca de prêmios da indústria do cinema estadunidense.

Mas aqui fica fácil identificar a origem dessa devoção toda, já que se trata de mais um "filme dentro do filme" (ou, no caso, dentro do teatro), que utiliza a metalinguagem e o auto-elogio como molas propulsoras. E todo mundo sabe que críticos e artistas em geral adoram esse tipo de obra, cheia de referências e citações que só eles vão entender e "rasgação" de seda para quem vive da arte e os parasitas que gravitam em torno deles.

Não bastasse isso, o filme praticamente coage os críticos a gostarem dele, já que em um cena o protagonista enfrenta a poderosa crítica do The New York Times e a humilha violentamente porque ela diz que vai malhar a obra dele, mesmo sem ter a assistido. Ou seja: "críticos, estejam avisados, se não gostarem do meu filme já sabem qual será minha resposta, certo?"

O filme é escrito e dirigido pelo mexicano Alejandro Iñárritu (de "Amores Brutos" e "Babel"), um cineasta inegavelmente talentoso, porém que costuma estragar suas obras com altas doses de pretensão e uma mão pesadíssima que usa como uma marreta para enfiar na tela as mensagens que gostaria de ensinar. 

"Birdman" tem até uma premissa interessante. Mostra ator que ficou famoso interpretando o super-herói "Homem Pássaro" nos cinemas, mas que caiu no esquecimento depois de recusar participar da quarta continuação do sucesso de bilheteria. Ele então tenta desesperdamente provar que é um "artista de verdade" montando uma peça na Broadway. Esse personagem é feito pelo Michael Keaton que, como todo crítico ou cinéfilo que se preze sabe, esteve na pele dos dois primeiros "Batman" do Tim Burton e também desistiu de interpretá-lo nas outras continuações.

Entenderam a sacada? O personagem de "Birdman" e o ator que o interpreta passaram por situações quase idênticas! Genial, certo? Pra meia dúzias de pessoas pode até ser, mas para o resto dos mortais esse tipo de coisa não quer dizer absolutamente nada.

Eu sinceramente acho muito pedante um cineasta fazer um filme só para ficar marretando na cabeça do espectador com a sutileza de um terremoto o quanto o chamado "cinema comercial" estadunidense e sua obsessão por filmes de super-heróis e efeitos especiais estariam acabando com a arte e com a civilização ocidental. E sobra porrada também para as novas tecnologias e as redes sociais, como se a tecnologia em si fosse maléfica e não a maneira com muitas pessoas a usam. Reacionarismo pouco é bobagem!

Enfim, o resto do filme mostra os problemas enfrentados por Keaton durante a montagem da peça que escreveu, a partir de um conto de autor cultuado, dirige e atua. Não vou negar que a primeira parte é interessante e realmente prende a atenção, principalmente graças às atuações de Keaton e Edward Norton, que interpreta um ator metido a besta e difícil de lidar (igual dizem ser o próprio Norton na vida real, sacaram? Hein, hein?).

Keaton e seu alter-ego, o "Homem Pássaro"
A interação entre eles e o resto dos personagens traz momentos engraçados, embora o tom seja sempre de humor negro (mas as mulheres tem pouco a fazer). 

A melhor sequência do filme se dá quando Keaton fica preso pra fora do teatro e tem que entrar pela porta da frente vestindo apenas uma cueca! Pena que o diretor nem mesmo tire mais proveito das consequências disso.

O problema começa no segundo ato do filme, quando a narrativa esquece dos outros e foca-se exclusivamente no protagonista, que é dado a ter delírios de grandeza graças à voz do "Homem Pássaro" que fala diretamente à sua cabeça. Ele também exibe poderes sobrenaturais, como fazer mover objetos e até voar, porém nunca fica claro se isso é real ou mais um delírio dele. 

E é na conclusão que o filme derrapa feio, quando Iñárritu tinha toda a oportunidade de fechar tudo com um crítica mordaz à hipocrisia de muitos autores em provarem que são "artistas de verdade" até receberem uma proposta milionária para estrelar o próximo blockbuster roliudiano, mas opta por fazer o contrário, que é justamente louvar esse tipo de busca autoindulgente e pretensiosa, inclusive negando a dubiedade com que mostrava os "poderes" do protagonista.

O mais estranho é que o subtítulo do filme é "A Inesperada Virtude da Ignorância". Só que no caso do diretor Iñárritu não foi virtude. Pelo contrário...

Cotação: * * 1/2

sábado, 17 de janeiro de 2015

Filmes: "De Volta ao Jogo"

Bomba: cartaz auto-crítico
LIXO TÓXICO

Mais um filme feito para disseminar o fetiche dos estadunidenses pelas armas de fogo e pela violência

- por André Lux, crítico-spam

É impressionante como a indústria cultural estadunidense gasta rios de dinheiro produzindo filmes como esse “De Volta do Jogo”, que mostram a vida de assassinos profissionais a serviço de máfias criminosas os quais eventualmente se envolvem em missões de vingança e retaliação contra seus ex-chefes.

Alguns até acabam trazendo reviravoltas interessantes, que servem para acabar com o tédio das incontáveis cenas onde o “herói” destrói sozinho um exército de capangas. Mas não é o caso desse novo filme estrelado por Keanu Reeves, que sinceramente não precisava participar desse tipo de porcaria, ainda mais para dar um desempenho no seu “estilo zumbi” de sempre.

A trama é rasa como uma poça de água e feita a partir dos clichês mais óbvios do gênero. Matador profissional apaixona-se e larga o trabalho. Sua esposa adoece e morre, para seu desespero. Gangue liderada pelo filho do seu ex-chefe assalta sua casa, rouba seu carro e mata o cão. “Herói” parte para a vingança total contra todos. Fim.

Poderia até ser divertido para quem gosta desse tipo de obra, porém é previsível até o talo e cheio de furos ridículos. Tipo, como é que o filho do mafioso não iria conhecer o protagonista, apelidado de "Bicho-Papão" justamente pela sua eficiência e crueldade, sendo que ele havia abandonado a organização há poucos anos?

Enfim, nem vale a pena ficar enumerando as besteiras nesse tipo de filme, já que sua verdadeira função é disseminar pelo resto do mundo o fetiche dos estadunidenses pelas armas de fogo e pela violência, função que “De Volta ao Jogo” cumpre com a maestria de sempre. 

Para quem gosta de lixo tóxico, é uma ótima pedida... Sem dizer que o cartaz do filme já a melhor crítica dele: uma bomba!

Cotação: *

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"A bissexualidade e o amor livre serão as tendências no futuro", afirma psicóloga

A psicanalista Regina Navarro Lins bate na mesma tecla há mais de duas décadas: amor é uma coisa, sexo é outra. Em sua obra mais recente, O livro do amor, declara guerra ao idealismo: “As pessoas precisam parar de acreditar em fidelidade e amor romântico. Dentro de 30 anos, o sexo será mais livre. A bissexualidade é uma tendência”


Falar de sexo não é problema para Regina Navarro Lins. Carioca de Copacabana, mãe de dois filhos e avó de uma menina, a escritora e psicanalista de 63 anos ganha a vida falando “daquilo”. E fala sem travas, sem tabus, sem moralismo, de um jeito que incomoda muita gente e põe em xeque os sonhos de uma vida amorosa e sexual ideal. E irreal.
Regina se considera “uma libertária”. Palavras como masturbação, sexo grupal (“são uma tendência”), bissexualidade (“outra tendência”) e orgasmos fingidos (“um absurdo”) saem da sua boca com uma facilidade que justifica os 12 livros que ela publicou. Todos sobre sexo e relacionamentos. Por causa deles, participa de programas de rádio, escreve colunas em jornais, artigos em revistas, blogs, e, este mês, ganha um quadro na terceira temporada de Amor e sexo, apresentado por Fernanda Lima, na Globo. Tornou-se uma espécie de militante da liberdade sexual e amorosa.
Em sua mais recente obra, O livro do amor, volumes 1 e 2, ela conta como evolui o sentimento desde a Pré-História até os dias de hoje. “Passei cinco anos debruçada sobre esse assunto”, diz. “A gente tem que saber do passado para entender por que as coisas são como são no presente.” Seu objetivo: esclarecer o maior número de pessoas possível. “Elas não percebem que são infelizes porque seguem padrões que não levam a nada, como acreditar que em um casamento é possível a exclusividade.” Regina prefere este termo: “exclusividade”. “Traição não é uma pessoa sentir desejo por outra, isso é natural. Traição é enganar um amigo, um irmão.”
A psicanalista também ataca outras frentes carregadas de polêmica. Incentiva, por exemplo, o uso de vibradores (“para que mais mulheres gozem”) e é “absolutamente” contra o cavalheirismo. “Por que um homem tem que pagar a sua conta ou tirar uma cadeira para você sentar? É porque a mulher é um ser frágil e incapaz até de puxar uma cadeira?”
Essa filosofia de vida é um espelho da sua rotina. Há 11 anos está casada com o escritor Flávio Braga, seu terceiro marido. “Não temos um pacto de exclusividade. As pessoas estranham até coisas bobas na gente”, diz. Exemplo: ela não gosta de cozinhar, seu marido gosta. Ele vai além, cuidando da casa, lavando os pratos... “Tenho amigos intelectualizados que acham isso um absurdo”, conta Regina. “Fico chocada com essas reações.”
A cama na varanda
Falar e escrever sobre relacionamentos foi um caminho natural para Regina. “Sempre gostei do tema”, diz. Filha de uma família de classe média da zona sul carioca, casou aos 23 anos (“não virgem e não na igreja, claro”). Até então, seguia o destino de uma psicóloga comum. Abriu um consultório, fez formação psicanalítica. “Mas percebi que esse não era o meu caminho”, explica. “Precisava falar mais de amor e sexo. Eram assuntos que toda hora surgiam na minha clínica.”
Em 1992, ela compilou suas posições sobre o tema e lançou A cama na varanda. Um best-seller com mais de 50 mil cópias vendidas. Nele, fez uma previsão que balançou certezas e atiçou a atenção de quem desconfia de que esse negócio de viver a dois é uma luta arriscada e dolorosa por algo quase impossível. Para Regina, num futuro que deverá chegar dentro de 30 anos, viveremos a era do poliamor e de um sexo menos encanado.
Com essas teses todas no colo, a escritora passou a ser uma das pessoas mais ouvidas do Brasil sobre o tema. “Acho um absurdo que em um país como o nosso não existam mais especialistas que pensem sobre isso”, diz a psicanalista, que cutuca seus colegas de profissão. “Um psicanalista normal fica fechado lá com seus dez pacientes. Assim, fica difícil ter uma visão do mundo.”
Para ter essa visão, ela usa a internet e conversa regularmente com seus leitores por e-mail e Twitter. Ou em palestras. Ou mesmo na rua. “Ouço as pessoas. Vejo o que está acontecendo e, a partir daí, posso apontar tendências.” Entre elas: o fim do casamento tal qual o conhecemos. “Quem disse que não é possível amar mais de uma pessoa? É sim!”
Na entrevista, a psicanalista demoliu até mesmo os contos de fadas. “Uma mãe que lê um livro de uma Cinderela da vida está sendo irresponsável com a sua filha.” 
Tpm. Você se considera uma pessoa libertária. Como isso surgiu?
Regina. Acho que já nasci libertária. Sou filha de uma família de classe média. Minha mãe sempre foi muito careta. Ela só começou a trabalhar depois que meu pai morreu, em um desastre de avião, quando eu tinha 14 anos. Minha irmã, que é quatro anos mais velha, também é assim, supermoralista. Mas eu tive uma avó maravilhosa, que veio do Líbano com 14 anos e desquitou com quatro filhos pequenos. Isso na década de 30! Imagina o que era isso? Essa avó deve ter me influenciado de alguma maneira. Ela sustentou sozinha os quatro filhos e ainda ajudava o meu avô com dinheiro.
E quando ficou claro que você era como ela? 
Aos 8 anos, fui fazer primeira comunhão, porque todas as minhas amigas faziam. Minha mãe não me forçou. Isso é uma coisa que agradeço a ela – minha mãe não tinha essa religião. Agradeço mesmo por não terem me colocado a culpa católica [risos]. Na primeira aula de catecismo, lembro até hoje, vi um livrinho em que tinha uma menina entrando num pote de melado e estava escrito: “Deus tudo sabe e tudo vê”. Nunca mais voltei.
Você foi adolescente nos conservadores anos 50. Casou virgem? 
Não. Perdi a virgindade com meu primeiro marido, quando a gente namorava. Antes já tinha tido dois namorados. Não transei com eles porque eles não quiseram! Era uma época em que se gozava nas coxas [risos]. Lembro que para um deles eu falava: “Tira a minha virgindade!”. E ele respondia: “Não, porque se eu tirar a sua virgindade e depois a gente se separar você vai sofrer”. E eu falava: “Pode tirar, não vou sofrer” [risos].
A vontade de ser psicóloga e trabalhar na área da sexualidade e do amor surgiu de que jeito? 
Sempre quis fazer psicologia, desde os 15 anos. Por 18 anos, trabalhei como psicanalista comum, tinha consultório, dava aula em universidade e atuei até em uma penitenciária. Até que descobri que grande parte dos problemas das pessoas era ligada a amor e sexo. Daí me senti mal em ficar naquela coisa só de interpretação. Comecei a me especializar nesses dois temas, a dar palestras sobre isso. 

Sempre quis trabalhar com um grande público. Achava que com quanto mais gente eu falasse, melhor. Em 1992, assinei com a editora Rocco para lançar meu primeiro livro, A cama na varanda. Foi um grande sucesso. Tinha um programa diário de sexo no rádio. Fui indo. Hoje dou palestras pelo Brasil todo. Sinto que tenho muito material e que é absurdo guardar isso só para mim.
Você está no seu terceiro casamento e prega o amor livre. Como é isso dentro das suas uniões?
Primeiro casei com 23 anos e tive minha filha [a advogada Taísa, 37 anos]. Separei depois de cinco anos. Era um casamento normal. A gente não questionava isso. Mas também não tinha pacto de exclusividade. Já sabia que, se eu quisesse transar com alguém, isso seria um direito meu. Nunca pensei diferente. Depois casei outra vez, tive outro filho [o jornalista Deni, 27] e fiquei nove anos sozinha. E fiquei muito bem. Isso é bastante importante. É fundamental que as pessoas saibam que podem ficar bem sozinhas. Que se livrem dessa ideia do amor romântico, essa coisa que diz que você tem que ter um par. A pessoa tem que saber ficar sozinha até para escolher quando quiser se juntar com alguém, e não ficar com o primeiro que aparecer só por medo da solidão.
Como foi ficar nove anos sem alguém? 
Foi uma fase meio radical. Não queria casar nem namorar. Queria ficar sozinha. Eu já tinha publicado A cama na varanda e tinha lançado também uma coletânea de minhas colunas no Jornal do Brasil. Aí, escrevi um novo livro chamado Na cabeceira da cama, em que fui bem contundente. Nessa época, achava impossível o tesão continuar em um casamento. Completamente impossível! Hoje, estou mais amena. Acho viável desde que você não tenha um pacto de exclusividade.
Foi nessa fase radical que você conheceu seu atual marido? 
Foi. Conheci o Flávio em 1999, quando eu dava palestra, publicava livros e todo o resto. Ele já sabia quem eu era, o que eu pensava. Em 12 anos, não vi nenhum moralismo nele. Não temos pacto de exclusividade. Se ele transar com alguém, não tenho nada a ver com isso. E se eu transar com outra pessoa, ele também não tem nada a ver com isso. Mas estamos sempre juntos, somos superparceiros, trabalhamos juntos [o casal já escreveu livros em parceria, entre eles, Fidelidade obrigatória e outras deslealdades]. E ele é muito delicado, muito respeitador. Jamais me pergunta o que fiz, aonde fui. Nosso casamento é ótimo, inclusive sexualmente. 

Acho difícil o tesão se manter quando existe controle. A coisa mais comum de ver no casamento é dependência emocional de um e do outro. Quando você sabe que o outro tem pavor de te perder, que ele está ali no seu pé... o tesão fica inviável. Tem que existir um mínimo de insegurança para você ter tesão. 
“É fundamental que as pessoas saibam que podem ficar bem sozinhas. Que se livrem dessa ideia do amor romântico, essa coisa que diz que você tem que ter um par”
Como é a rotina de vocês? 
O Flávio gosta muito de cozinhar, eu detesto. Ele lava prato cantando, eu não suporto cuidar da casa. Eu cuido de ir ao banco, chamar o encanador, essas coisas. Mas as pessoas são muito caretas. Outro dia estava ao telefone com um amigo e o Flávio gritou: “O almoço está na mesa”. E meu amigo disse: “Então você é o homem da casa?”. Fiquei chocada! Como uma pessoa intelectualizada fala uma coisa dessas?
Você acha que existe diferença entre o masculino e o feminino?
Tenho horror daquela história de “meu lado masculino, meu lado feminino”. Minha irmã sempre me falava: “Você tem alma masculina”. Essa coisa de masculino e feminino são estereótipos para aprisionar as pessoas. As mulheres têm que ser sensíveis e frágeis. E os homens, corajosos e bravos. Imagina! Isso é tudo criação. Todos nós somos fortes e fracos, ativos e passivos, depende do momento.
Sexualmente, existe diferença? 
Claro que não! É tudo cultural. Existem pesquisas no exterior que dizem que as mulheres transam fora do casamento praticamente tanto quanto os homens e que não sentem mais tanta culpa. Eu recebo uma quantidade imensa de mensagens que provam isso. Vejo que as mulheres estão tendo mais relações extraconjugais. Tenho a impressão de que a sexualidade, com o tempo, vai ser mais livre. Você vê as casas de suingue, por exemplo. O número de casais que frequenta casas de suingue é enorme! E pessoas que você nem imagina. Com o meu trabalho, minhas pesquisas, posso apontar tendências.
E quais são as outras “tendências sexuais”? 
Sexo grupal, por exemplo. O sexo vai ser mais livre, a bissexualidade também é uma tendência. Acho que ela será predominante daqui a uns 30 ou 40 anos. Porque o patriarcado está se dissolvendo. A tendência é que as pessoas busquem mais objetos de amor entre seus interesses do que entre ser homem e mulher. Outra tendência é o fim do amor romântico.
Como assim? 
O amor romântico é aquele que está nas músicas, nos filmes, aquele que diz que você vai encontrar a pessoa certa. A busca por esse tipo de amor está em baixa. Ainda bem! Por quê? Porque esse amor prega a fusão completa, ao mesmo tempo que estamos vivendo um momento em que existe uma busca clara pela individualidade, que não tem nada a ver com o egoísmo, como muitos conservadores acham. 

A grande viagem do ser humano hoje é para dentro de si mesmo. O amor romântico propõe o oposto dos anseios atuais. Claro que você vai encontrar muitas mulheres que vão largar tudo, trabalho, mestrado, por causa do homem. Mas isso está começando a sair de cena. Vai surgir outro tipo de amor.
Que tipo? 
Um amor não calcado na idealização. Acho que você vai poder se relacionar com mais de uma pessoa. E, ao sair de cena, o amor romântico está levando com ele a sua principal característica: a exclusividade.
Traição ainda é um grande tabu? 
É. E fidelidade para mim não tem nada a ver com sexualidade. A palavra traição é muito inadequada para definir uma relação sexual com outra pessoa. Traição é uma coisa muito séria. É você trair um amigo, um irmão. As pessoas falam muito a palavra traição por hábito. Prefiro chamar de exclusividade. O que as pessoas precisam é parar de fazer um pacto que não vão cumprir. 
Com o amor romântico saindo de cena, ele leva junto a exclusividade. Acredito que cada vez mais as pessoas vão optar por não se fechar em uma relação e preferir relações múltiplas. Porque essa coisa de você amar duas pessoas, três, isso acontece o tempo todo. Eu atendo pessoas nessa situação e elas sofrem muito por isso. Acho que existem muitas chances de esse poliamor predominar. Porque amor é uma construção social. As pessoas pensam que o amor é só o amor romântico, mas não é nada disso. Quando eu critico o amor romântico, tem gente que acha que sou contra o amor.
Mesmo depois da contracultura e do feminismo ainda tememos coisas como a traição. Você acha que seguimos muito caretas? 
Não acho. No meu O livro do amor descobri que há 5 mil anos, quando o sistema patriarcal se instalou, a mulher foi aprisionada. Na Idade Média, houve concílio para decidir se mulher tinha alma ou não. Até o século 19, ainda se discutia o tamanho da vara com que os homens podiam espancar a mulher. Por isso que eu acho engraçado, sabe? Uma vez me ligaram de uma revista semanal dessas e me perguntaram: “Você é feminista?”. Respondi horrorizada: “Claro, por quê? Você não é?” [risos]. Acho que não ser feminista é concordar com todos esses 
absurdos. As pessoas não entendem isso porque são ignorantes. Mas com tanta opressão, olha, acho que estamos até bem.
A religião é um outro problema para a sexualidade? 
Nossa! E como! O que houve de culpabilização do desejo sexual na Igreja durante todo esse tempo! Tanto moralismo... A Igreja fez barbaridades, como por exemplo apoiar a caça às bruxas. Esse foi um período terrível de violência contra a mulher, em que aconteceram atrocidades das mais horríveis. É importante conhecer o passado para a gente entender o presente.

A Igreja usava uma coisa chamada danação eterna para assustar as pessoas. Imagina isso! A repressão era tanta que muita gente fugia para o deserto do Egito para se mortificar, para tirar os pensamentos da cabeça e fugir dessa “danação eterna”. Essa ideia foi de profissional, né? [Risos]Imagina, danação eterna! A nossa história é um hospício. É inacreditável! 
“Sexo grupal é uma tendência, a bissexualidade também. Acho que ela será predominante daqui a uns 30 ou 40 anos”
Em um dos seus livros, você diz que é contra o cavalheirismo. Por quê? 
O conceito de cavalheirismo não serve para nada, né? O que é cavalheirismo? Que vergonha! Gentileza, sim. O homem tem que ser gentil com a mulher, a mulher com o homem. Cavalheirismo implica que a mulher é incompetente para puxar uma cadeira? Ela malha, segura 10 quilos, mas não consegue puxar uma cadeira ou abrir uma porta? Cavalheirismo é um horror! Precisamos pensar sobre isso, gente! 

A mulher deve dividir a conta do motel com o homem? Outro dia joguei essa questão para uma amiga. E ela: “Ah, divido restaurante, cinema, mas motel não”. E eu pergunto: “Motel não por quê?”. É como se a mulher quisesse os benefícios da emancipação, mas não quisesse os ônus! Então, depois não reclama que ganha menos.
O que você acha desses guias de autoajuda com regras para “conquistar” um homem? 
Acho um absurdo! As mulheres foram condicionadas a acreditar que são frágeis, que precisam de um homem para cuidar delas. Quando você chega à idade adulta, foi tão condicionada que não sabe mais se faz as coisas porque deseja ou porque te educaram para isso. Por exemplo, uma mulher vai a uma festa, está aos amassos com um cara. Ele a chama para fazer sexo e ela diz: “Não tenho vontade, não faço sexo no primeiro encontro!”. Até parece! Isso é para agradar o homem, porque se criou essa ideia de que homem não gosta de mulher que é fácil! Então, ela tem medo de que os caras não liguem no dia seguinte. Muitas mulheres ainda acreditam em príncipe encantado.
E essa ideia de príncipe, dos contos de fadas? 
Essas histórias tipo Cinderela e Branca de Neve não deviam ser lidas para as crianças. Elas incentivam as mulheres a ser o quê? O que você quer para a sua filha? Passar uma imagem subliminar de que ela só vai ser salva se aparecer um homem? O que diz a história da Cinderela? Que o pé tem que caber naquele sapatinho! Ou seja, que a mulher tem que ajustar a sua imagem aos padrões masculinos. Os contos de fadas são muito nocivos. As mães não sabem. Não pararam para pensar. Espero que menos gente conte essas histórias para seus filhos.
Você já contou para seus filhos? 
Contei porque era ignorante. Mas para a minha neta, de jeito nenhum!
O casamento tende a acabar? 
Não consigo acreditar que quem está nascendo agora vai ter, daqui a 30 ou 40 anos, casamentos do jeito que eles são hoje. Li uma pesquisa que diz que 80% dos casamentos são infelizes. Bom, infelizes no sentido de uma convivência boa, de bom relacionamento sexual, de acrescentar coisas para a pessoa. Esse modelo de casamento que está aí é um horror. 
“Fidelidade não tem nada a ver com sexualidade. A palavra traição é muito inadequada para definir uma relação sexual com outra pessoa. Traição é você trair um amigo, um irmão. Prefiro chamar de exclusividade”
Por quê? 
As pessoas precisam reformular as expectativas a respeito da vida a dois. Como todo mundo casa regido pelo amor romântico, a pessoa acha que vai ser aquilo, que o outro vai cuidar de todas as suas necessidades, e por aí vai. Mas isso não é real! As pessoas têm que ter vida própria, têm que ter liberdade de ir e vir, amigos separados, não pode haver controle da vida do outro, controle da sexualidade do outro. A exigência de exclusividade é uma obsessão.
Uma insegurança. 
Sim. As pessoas são muito inseguras. Nós nascemos do útero. No útero temos todas as nossas necessidades garantidas, mas, quando saídos de lá, somos tomados por um sentimento de desamparo. A nossa cultura prega o tempo todo que você tem que encontrar alguém que te complete. 
As pessoas passam a vida inteira procurando alguém que vá dar aquela sensação que você tinha no útero. O amor romântico se presta a isso. A criança pequena também é assim: ela sem a mãe por perto morre. Por isso, as crianças são ciumentas, possessivas. 
Quando meus filhos eram pequenos percebia isso. Se você está muito tempo no telefone, a criança dá um jeito de machucar o pé, de cair, de fazer qualquer coisa para chamar sua atenção [risos]. O adulto é capaz de lidar com seus problemas cotidianos razoavelmente bem. Ele resolve tudo, uma briga com o síndico, uma briga no trabalho. Mas é entrar em um relacionamento e mudar. Ele se torna ciumento, possessivo, controlador. Ele reedita o que fazia quando era criança.
Que conselho você dá para as mulheres que vivem com medo de perder a “exclusividade”? 
Ninguém deveria se preocupar com quem o parceiro ou a parceira transou. Dentro de um relacionamento, você só tem que responder a duas perguntas: “Me sinto amada? Me sinto desejada?”. Se a resposta para essas duas perguntas for “sim”, tudo bem. Agora, ficar se perguntando o que o seu parceiro faz quando não está com você? Ora, isso não é da sua conta!
Mas muitos jovens ainda acreditam naquele modelo da “família margarina”, não é? 
Muitos acreditam mesmo. E isso vem dos anos 50. A década de 50 era uma década de modelos. Se você saísse deles, ficava marcado. Tenho uma amiga que, quando separou, nunca mais foi convidada para as festas do prédio. Isso nos anos 80. Porque são modelos: “Você tem que ser casado, ter dois filhos, uma geladeira, uma televisão de não sei quantas polegadas”. 
Acho anacrônico quem fala hoje: “Ah, porque a sociedade não aceita isso”. Gente, a sociedade somos nós! Mas o mais importante disso tudo é: não estou propondo outro modelo. Estou propondo que não haja modelo. Se alguém quiser ficar casado 30 anos com uma pessoa e só fazer sexo com essa pessoa, tudo bem. Se quiser ficar casado com quatro, tudo bem também. O importante é não ter modelos. Os modelos aniquilam as singularidades.
Você disse em uma entrevista que usava vibrador muitas vezes quando fazia sexo com seu marido. Isso ainda choca as pessoas? 
Essa questão de vibrador tem muito tabu também. O sexo ainda é visto como algo sujo. Mas há 2 mil anos era pior. Era visto como uma coisa tão terrível que acho até um milagre que as pessoas conseguissem ter orgasmo. 
Era tanta repressão acumulada que cada orgasmo é quase um milagre e um sucesso [risos]. Outro dia estava conversando com uma psicanalista e falei de vibrador. Sabe o que ela me disse: “Eu não, não preciso desses brinquedinhos”. Virei para ela e falei: “Escuta, não é precisar de brinquedinho, é uma coisa concreta. Se você estimula duas zonas erógenas ao mesmo tempo, isso tem um efeito. Se o cara está te penetrando e você usa um vibrador no clitóris, vai ter um orgasmo melhor!”. E não tem dedinho que substitua um vibrador. 

Agora, não só as mulheres, mas os homens também têm problema com isso. Eles competem com o vibrador. Acham que, se a mulher usa, é porque ele não está dando conta. As mulheres em geral usam sozinhas, para masturbação, mas não com o parceiro.
Por que os homens temem a concorrência do vibrador? 
Na verdade, os homens são muito inseguros. São dependentes das mulheres como crianças. E isso é culpa do sistema patriarcal. O menino aprendeu a se defender da mãe muito cedo. Imagine a seguinte cena: um menino e uma menina estão brincando no play. Se a menina cai e rala o joelho, começa a gritar, pede o colo da mãe, que faz chamego na filha, fala que ela é meiga. O menino tem que engolir o choro, coitado. 
O menino passa o tempo todo negando a necessidade da mãe, e por isso começa a desvalorizar a mulher. Mais tarde, quando entra em uma relação amorosa, fica frágil. E a mulher acaba cuidando dele. Tem casos de homens que têm empresas de 10 mil empregados e não conseguem decidir a roupa! É uma loucura! Muitos são extremamente dependentes! O sistema patriarcal foi o maior inimigo dos relacionamentos. Colocou a mulher e o homem, cada um de um lado, e criou uma guerra dos sexos.
Essa guerra dos sexos cria que tipo de desencontro na cama? 
O homem vai pro sexo, inconscientemente, para provar que é macho. Então, tem que ficar de pau duro e ejacular. As preliminares ficam pra lá. Para estar no ponto, a mulher precisa de cinco vezes mais sangue irrigando os órgãos sexuais do que o homem. E também de mais tempo para ter um orgasmo. 

Já o cara, ele quer gozar logo para não perder a ereção. E fica naquele movimento igual, de ir pra frente e pra trás, que faz com que a mulher tenha cistite, mas não tenha orgasmo [risos]. Agora, a mulher aprendeu que tem que corresponder à expectativa feminina. E aí, ela finge orgasmo.
Você já afirmou que a última vez que fingiu um orgasmo foi com 20 anos... 
Sim! Eu não faço isso e ninguém devia fazer. É um absurdo! Se uma mulher fingir um orgasmo, vai ser muito difícil ela ter um. E por que ela está fazendo isso? Só para agradar o homem! Para o cara não trocar ela por outra, para segurar o homem.
Como foi educar dois filhos, um menino e uma menina, tendo esse pensamento libertário? 
Sempre denunciei para os meus filhos o moralismo. Nessa área do amor e do sexo, busquei mostrar para eles o que havia de preconceito. Lembro que uma vez fui botar meu filho para dormir e ele estava vendo um seriado em que tinha um padre que se torturava, sofria por causa do seu desejo sexual. E falei para ele: “Meu filho, isso não pode ser assim, sexo não é algo ruim, é uma coisa boa”. Sempre expliquei tudo. E meus filhos sempre dormiram com namorado em casa. Às vezes chegam pais com essa questão pra mim e falam: “Ah, porque é muito complicado...”. E eu falo: “Não é, não”.
Você acha que as coisas estão melhorando? 
Sim! Muito! A minha filha, por exemplo, teve um filho de produção independente. Ela tinha 20 anos e um namoradinho de 17. E foi maravilhoso. Assisti ao parto da minha filha e, imagina, ela nunca foi discriminada por ninguém por causa disso. Na minha geração, as mulheres eram muito discriminadas nessa situação. Aconselho homens e mulheres a questionar tudo isso e jogar o moralismo no lixo. Isso se quiserem viver melhor. Mas para isso é preciso uma coisa muito difícil: ter coragem.
Entrevista publicada no site TPM.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Filmes: "O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos"

GRANDILOQUÊNCIA SEM GRANDEZA

Trilogia serve para confirmar que um diretor sem controle e dominado pelo ego acaba tendo seu talento tolhido

- por André Lux, crítico-spam

O capitulo final da trilogia "O Hobbit" é a prova final de que foi um grande erro do diretor Peter Jackson esticar o pequeno livro de Tolkien em três filmes de quase três horas de duração cada. 

Muita gente está dizendo que esse é o melhor deles, mas eu não achei. Pelo contrário. Os outros dois ao menos tentavam contar uma história, sem muito sucesso, é verdade. Já em "A Batalha dos Cinco Exércitos" temos apenas lutas e batalhas sem fim, durante praticamente toda a projeção.

O que mais choca é a total falta de foco narrativo na trilogia. Enquanto em "O Senhor dos Anéis" Jackson manteve tudo girando em torno do Um Anel e sua capacidade de corromper, em "O Hobbit" a gente nunca sabe em torno do que gira o roteiro. É do Bilbo? É do Gandalf? É do anão Thorin? Do dragão então? Impossível saber, pois o foco muda a cada sequência, deixando tudo desconjuntado e frio.

Pelo que eu me lembro do livro, o protagonista é mesmo Bilbo, cujo arco seria mais ou menos transformar-se de um hobbit preguiçoso e covarde em um aventureiro e cheio de coragem. Nos filmes, não vemos nada disso, nesse último, por sinal, ele quase não tem o que fazer.

E o dragão Smaug, então? Sua participação no terceiro filme é totalmente anti-climática, com ele sendo despachado com menos de 15 minutos de projeção! Já que Jackson ia deturpar tanto a obra original, poderia então mudar o destino do dragão, deixá-lo vivo por mais tempo, sei lá, qualquer coisa! Depois de ficar quase dois filmes inteiros nos provocando com pequenas aparições, a maneira como o diretor encerra a participação dele nos filme é lamentável.

A guerra entre os tais cinco exércitos, que no livro dura meia dúzia de páginas, no filme vira uma orgia de orcs, anões, elfos e humanos digitais se matando por mais de 45 minutos, com resultado emocional pífio! Confesso que não aguentava mais ver aqueles dois chefões orcs sendo golpeados, caindo e levantando para serem golpeados novamente pela enésima vez. Já estava esperando eles gritarem: "Ai amor, me joga na parede, me chama de lagartixa!".  

A resolução da história de amor entre a elfa Tauriel (personagem inventado para o filme) e um dos anões é lamentável. Basicamente sai do nada e chega a lugar algum. Jackson, por sinal, parece perder o controle dos atores, principalmente do sujeito que faz o "aspone" do prefeito da Cidade do Lago, cuja atuação é pavorosa, e do rei dos Elfos Thranduil, feito por um Lee Pace que passa toda a trilogia com a mesma cara de empáfia, como se fosse uma drag queen cuja peruca foi roubada.


"Foi você que roubou a minha peruca favorita, não foi?"

O coitado do Howard Shore, cuja música para "O Senhor dos Anéis" entrou para qualquer lista das melhores de todos os tempos, esforça-se em vão para criar alguma dramaticidade para os filmes, mas a ausência de um foco narrativo definido e de personagens fortes deixa sua partitura sonsa e repetitiva. 

O fato de Jackson optar por enfiar música praticamente do começo ao fim dos filmes sem pausa, serve para limitar ainda mais a paleta musical do compositor, que é obrigado a esticar as notas para tentar cobrir tantas cenas sem graça e redundantes.

Contorci-me novamente na poltrona com a trama paralela que traz Sauron para o meio da narrativa, pois é completamente absurda, especialmente quando a Galadriel usa "a força" para expulsar o vilão. E como é que depois desse terrível encontro, o Gandalf está lá todo tranquilão no começo de "O Senhor dos Anéis"? Nesse ponto, Jackson dá uma de George Lucas e tenta estragar seus filmes originais com essas informações incoerentes.

No final das contas, a trilogia "O Hobbit" apenas serve para confirmar que um diretor sem controle e dominado pelo seu ego acaba tendo seu talento tolhido e sobra apenas o exagero e a grandiloquência, como se isso fosse sinônimo de grandeza. Só que não é. Uma pena.

Cotação: **

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Filmes: "Azul é a Cor mais Quente"

CHATO PRA CACETE

O que poderia ser um interessante estudo sobre a sexualidade humana se transforma num penoso esforço para evitar o sono

- por André Lux, crítico-spam

Eu nada tenho contra os chamados "filmes de arte", pelo contrário, muitas vezes os acho sensacionais e essenciais. Porém, de vez em quando, a gente se depara com um deles que, mesmo tendo conteúdo bastante pertinente, derrapa em sua realização ao ponto de tornar-se intragável.

É o caso desse "Azul é a Cor Mais Quente", dirigido por um certo Abdellatif Kechiche, tunisiano radicado na França, que poderia ser um interessante estudo sobre a sexualidade humana e também sobre as confusões que as pessoas fazem entre atração sexual e amor, mas que acaba se tornando num filme penoso de se ver até o fim.

O roteiro, que é baseado numa história em quadrinhos francesa, conta a história de Adèle, uma adolescente de 15 anos, que descobre sentir atração por pessoas do mesmo sexo depois de esbarrar, na rua, numa mulher de cabelos azuis e ter um flerte com uma colega na escola.

Aos poucos ela vai explorando suas novas descobertas e acaba conhecendo a tal moça de cabelos azuis, com quem vive uma tórrida história de amor, com direito a longas cenas de sexo lésbico que certamente vão ser aprovadas pelas mulheres gays ou bissexuais, já que a maior reclamação delas sobre os filmes pornográficos é justamente a artificialidade das transas entre mulheres.

Confesso que estava gostando bastante do filme mais ou menos até sua metade, principalmente pela atuação de Adèle Exarchopoulos, que além de muito bonita e fofa, conseguia transmitir com muita intensidade os dramas e conflitos da adolescente, compensando a falta de graça da sua "cara-metade" Emma, feita por uma apagada Léa Seydoux.

Os problemas começaram quando o filme ultrapassou a marca das duas horas de projeção e aí começou a se arrastar em cenas desnecessárias e esticadas, quando já havia muito pouco a se mostrar, exceto o crescente distanciamento entre as duas depois que vão morar juntas, agravado pelo fato delas terem muito pouco em comum além da forte atração sexual inicial. 

Há uma cena, por exemplo, em que ambas oferecem um jantar aos amigos artistas e intelectuais de Emma que, sem brincadeira, deve durar uns 10 minutos ou mais (mas parece uma eternidade), e que só serve para mostrar o constrangimento de Adèle perante os assuntos debatidos. Essa sequência poderia ter 2 minutos e já daria para entender tranquilamente o que estava acontecendo, mas é esticada ao extremo, ao ponto de irritar. Confesso que foi tanta gente comendo e "chupando" macarrão que até me deu enjoo!

Ao final, foi difícil resistir ao sono, pois foram três horas de filme, algo que, convenhamos, só dá para suportar em épicos com "Ben Hur", "Lawrence da Arábia" ou "O Senhor dos Anéis"...

Para piorar, o diretor insiste em filmar quase tudo em planos fechados, com a câmera quase enfiada na cara das atrizes, deixando tudo claustrofóbico sem qualquer necessidade, quando queria apenas demonstrar intimidade. 

O que mais impressiona é que o filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes esse ano. Mais uma prova que alguns "entendidos" gostam mesmo é de filmes chatos pra cacete!

Cotação: * *

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Filmes: "Malévola"

MULHERES NO PODER

Apesar da motivação ser sempre o lucro, quem entende a luta das feministas não tem do que reclamar

- por André Lux, crítico-spam

A Disney está investindo agora em filmes que trazem mulheres em posição de destaque, mostrando força e independência, bem diferente dos contos de fadas do passado, onde ficavam sempre esperando passivamente o príncipe encantado para serem salvas.

Claro que isso só acontece porque fizeram intensas pesquisas de mercado e descobriram que as mulheres são as espectadoras mais fiéis desse gênero e, por isso, estão tentando lucrar nesse nicho.

Mas quem entende a luta das feministas não tem do que reclamar. Filmes como "Malévola", "Frozen" e "Valente" não deixam de ser bem vindos nessa sociedade basicamente machista e patriarcal em que vivemos, onde as mulheres tem sempre lugar secundário e são tratadas por muitos como seres inferiores. Não por acaso, esses filmes foram acusados pelos fundamentalistas de plantão de serem "obras demoníacas a serviço da conspiração comunista-gayzista-feminazi" ou coisa parecida. Só rindo mesmo.

Pena que essa releitura feminista do clássico "A Bela Adormecida" se perca num roteiro mal escrito e na necessidade de tentar enfiar monstros e lutas no estilo de "O Senhor dos Anéis" no meio do filme, fatores que apenas servem para deixá-lo confuso e sem foco.

Angelina Jolie se esforça em dar algum sentido à protagonista, vista aqui como uma fada que é traída pelo seu amor de infância, tem suas asas cortadas e então se deixa consumir pela sede de vingança. Jolie consegue convencer, mas faltam-lhe cenas que deixem seus conflitos internos mais evidentes. 

Também nunca fica claro quais são as extensões de seus poderes. No final, ela consegue até conjurar um dragão, o que nos faz pensar: por que simplesmente não fez crescer novas asas em suas costas? E por que os humanos tinham tanto ódio das criaturas mágicas de Moors, sendo que, com exceção da Malévola e algumas árvores-soldados, tudo que víamos por lá eram uns bichinhos totalmente inofensivos e até bobos? Quanto mais fantasioso um filme é, mais preocupado em criar certas regras para "prender" seus personagens tem que ser, senão fica tudo sem lógica.

O ator que faz o rei, Sharlto Copler (de "Elysium"), e as três fadinhas que cuidam da jovem Aurora também são péssimos e ajudam a estragar o resultado final. O rapaz que pegaram para ser o príncipe Felipe é ridículo, mas aí parece que foi proposital, já que ele não tem qualquer importância na trama, pelo contrário, é até usado de forma irônica.

E a produção foi bastante complicada, a ponto dos executivos da Disney dispensarem o diretor no final e obrigarem a refilmagem de todo o prólogo, com outro cineasta e uma nova atriz como a Malévola jovem. Isso é sinal de que não estavam certos sobre os rumos que o filme deveria tomar e, como sempre, quanto mais mexem, pior fica o resultado final.

Ao seu favor, "Malévola" é lindamente filmado, graças ao diretor Robert Stromberg, que é também artista de efeitos visuais, e ao consagrado fotógrafo Dean Semler. A música de James Newton Howard é muito boa também, cheia de poder sinfônico, o que demonstra sensibilidade do cineasta por trás das câmeras, que é irmão do compositor de trilhas William Stromberg.

Dá para assistir e certamente vai agradar as mulheres, mas poderia ser bem melhor.

Cotação: * * 1/2

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Os imensos buracos negros no roteiro de "Interestelar"

Olha, não costumo ser chato assim, mas tem certas coisas que merecem ser ridicularizadas. 

O filme "Interestelar" vem recebendo bastante atenção e isso é até louvável, afinal trata-se realmente de uma obra feita com coração, um verdadeiro "filme de autor". Pena que neste caso o autor seja um sujeito pretensioso e sem qualquer profundidade.

Mas aí é opinião minha, tudo bem, ninguém é obrigado a concordar (clique aqui para ler minha análise do filme). 

Agora, o que mais incomoda é ver gente defendendo o filme porque ele supostamente leva a sério a ciência envolvida nas viagens espaciais e as várias teorias que a Física desenvolveu sobre o assunto. O diretor até se gaba de ter como consultor para assuntos científicos o renomado professor Kip Thorne.

Mas, a verdade é que o filme tem sérios buracos no roteiro e também besteiras que nada tem a ver com ciência e caem para a pura ficção ou fantasia, no mesmo nível de um Star Trek ou Star Wars, só que levado a sério.

Atenção: daqui pra frente o texto estará cheio de "spoilers", ou seja, vai revelar vários segredos do filme. Se não o viu, desista aqui de ler!

Faço aqui minha lista dos principais furos que levantei até agora:

1) No começo do filme, descobrimos que uma "praga" está acabando com as lavouras de alimento da Terra. Mas que "praga" é essa que ataca grupos específicos de plantações? E que depois, sem mais nem menos, começa a destruir outros tipos? E por que o mundo ia acabar por causa disso? Não temos animais para comer? Pode-se dizer que com o fim das lavouras, os animais também morreriam. Mas e os animais que comem, sei lá, grama? Ela também estava sendo dizimada pela tal "praga"? E aquela poeira toda, o que tem a ver com isso? Ninguém explica.

2) Bom, se o mundo estava acabando e as pessoas morrendo de fome, por que é que não vemos hordas de humanos famintos atacando a plantação de milho do herói do filme? Sim, porque se a raça humana estava para ser extinta por causa da falta de alimentos, não dá pra acreditar que uma fazendo cheia de milho ia ficar lá, toda tranquila, sem qualquer tipo de proteção contra os famintos. Quando você cria um "mundo" no cinema, ele precisa respeitar certas regras óbvias. Esse não respeita, nem de longe.

3) Logo cedo na trama, aprendemos que existe um "fantasma" no quarto da filha do protagonista, que fica derrubando livros e outros objetos. Depois, descobrimos que ele está na verdade se comunicando com ela, passando coordenadas e outros segredos do universo em forma de código morse ou linguagem binária. 

No final, ficamos sabendo que é o próprio protagonista que está fazendo isso, no futuro, de uma outra dimensão, dentro do buraco negro que entrou. E quem o está guiando é, segundo ele informa, a própria raça humana do futuro que se desenvolveu ao ponto de viajar entre as cinco dimensões livremente. Só que ela só chegou àquele ponto porque conseguiu sobreviver ao cataclismo na Terra porque o astronauta vivido por Matthew McConaughey foi instruído por ele mesmo para poder não só chegar àquele ponto no espaço-tempo, como também para passar os segredos do universo para a filha. 

Não faz qualquer sentido, mesmo quando a gente tenta suspender a credibilidade e passar apenas para o reino da fantasia. Por uma razão simples: os seres do futuro só poderia existir se os do passado tivessem conseguido sobreviver ao desastre natural. Mas como poderiam ter feito isso sem a ajuda que receberam dos irmãos do futuro? Nonsense total!

4) O herói passa TODOS os segredos que descobriu dentro do buraco negro manipulando a gravidade por meio de código morse nos ponteiros de um relógio de pulso analógico. Não estou brincando. É assim mesmo no filme.

5) Os três planetas que supostamente poderiam servir de morada aos seres humanos ficam pertinho de um gigantesco buraco negro, chamado Gargantua. De onde vem a luz que ilumina esses planetas? Não se vê nenhum sol perto deles e não precisa ser expert em Física para saber que toda a luz é sugada para dentro de um buraco negro, ainda mais um tão próximo daqueles planetas.

6) Alguém pode explicar como é que os astronautas pousam num planeta que é totalmente coberto de água e varrido por ondas gigantescas sem saber disso? A nave deles não possui qualquer tipo de sensor para analisar a superfície do planeta? Nem mesmo olharam para a janela da nave e pensaram: "Hummm, parece que nesse planeta só tem água. Melhor cancelar a visita". O que traz outra pergunta: como é que o piloto sabia então que a água era rasa o bastante para a nave poder pousar? 

7) Quer dizer que, enquanto eles estavam no planeta aquático e o tempo era atrasado por causa do efeito do buraco negro, o coitado do astronauta negro ficou 23 ANOS esperando eles voltarem? Assim, na boa, sem ficar completamente louco ou tentar se matar? Ficou ali, sentadão, jogando paciência ou Candy Crush e aparando a barba enquanto duas décadas passavam? 

8) O plano B do cientista feito pelo Michael Caine consistia em levar um monte de embriões para o planeta escolhido para recomeçar a raça humana. Ok, tudo bem. Mas, quem é que seria a mãe desses embriões? A pobre da Anne Hathaway é que seria usada como "barriga de aluguel" para dar vida a toda aquela gente? Será que perguntaram se ela queria? Ou será que tinham outra tecnologia para fazer brotar seres humanos do chão? Cartas para o sr. Christopher Nolan.

9) O cientista traidor feito por Matt Damon sabia que o plano A era uma farsa. Por que então ele e os outros cientistas já não levaram com eles os embriões e também umas barrigas de aluguel para dar a luz a eles (a menos que fariam brotar bebês do chão)? 

10) Qual era, afinal, o plano do Matt Damon? Ele ficou solitário, fingiu que o planeta que estava era habitável, entrou no hipersono na esperança de ser resgatado e aí atacou o protagonista para fugir na nave dele e ir... para onde? Para o terceiro planeta? Fazer o que? Morrer sozinho? Ou ele ia voltar pelo buraco de minhoca em direção à Terra para... morrer de fome ou cheio de pó na boca? Não entendi ainda.

11) Aí o Damon levou o McConaughey para ver de perto o local onde ele dizia que seria possível ter vida. Andaram um tempão no meio do gelo e então Damon rachou o capacete do McConaughey e fugiu, enquanto o outro gritava por socorro e sufocava. Pergunta: como é que Damon conseguiu chegar à nave tão rápido, sendo que andaram um bocado e o protagonista foi salvo rapidamente pela Anne Hathaway que estava em outra nave?

12) Novamente, a nave dos heróis não tinha qualquer tipo de sensor que pudesse detectar que o planeta de gelo só tinha gelo e não mantinha condições de sustentar vida? Eles tinham mesmo que descer no planeta para ver o que o cientista havia descoberto por meio dos... sensores da nave dele? Se não tinham como detectar coisas fora da nave, como é então que obtinham todas aquelas informações sobre o buraco negro? Ahá, te peguei!

13) O poder gravitacional de um buraco negro é tão forte que atrai até a luz! Mas o nosso herói não só entra no buraco negro, como ainda apronta um monte de peças lá dentro, só para depois sair dele e ser enviado através do buraco de minhoca para perto de Saturno! Pelo jeito, os humanos do futuro conseguem tudo, até mesmo manipular o que acontece dentro de um buraco negro. Tudo certo, professor Kip Thorne?

14) O que era exatamente aquela estação espacial que resgata o herói? Era a que foi construída lá na NASA? Ou era outra? Pelo que falam no filme, parece que existiam outras. Como é que conseguiram construir algo tão idílico e perfeito em um mundo moribundo, que já não tinha mais comida nem ar respirável? E as plantações que vimos lá dentro, de onde surgiram? Afinal, lembre-se, todas as plantações estavam sendo dizimadas pela "praga"! E por que ainda estavam dentro delas e não já no planeta, além do buraco de minhoca?

15) Como é que a filha do protagonista, já bem velha e prestes a morrer depois de ficar dois anos hibernando, sabia que a astronauta feita pela Anne Hathaway estava esperando por ele no terceiro planeta? A menos que seu pai tenha passado todas as outras informações, além dos segredos do universo, pelo relógio, não tinha como ela saber nada disso, certo?