quarta-feira, 16 de setembro de 2009

DVD: "Monty Python em Busca do Cálice Sagrado"

PURO NONSENSE

Esse é o tipo de filme para ver e rever sempre com enorme alegria, ainda mais numa sala repleta de amigos

- André Lux, crítico-spam

"Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado", eleita como uma das dez melhores comédias de todos os tempos pela crítica inglesa, é uma leitura hilariante puro nonsense da lenda do Rei Arthur e seus Cavaleiros da Távola Redonda, onde todos os seis membros do grupo Monty Python fazem múltiplos e impagáveis papéis (o campeão foi Eric Idle, com nada menos que 13 aparições diferentes!).

Apesar do orçamento ser mínimo, a direção de Terry Jones e Terry Gilliam (que depois seguiu carreira solo e realizou filmes como "Brazil, o Filme" e "Os Doze Macacos") é inspirada e disfarça com maestria as limitações, usando-as inclusive a favor da comédia. Um exemplo disso foi baterem duas cascas de côco para fingir que andam a cavalo, já que não tinham dinheiro para alugar os animais verdadeiros!

O filme é entrecortado por alucinantes animações do próprio Gilliam que servem como ponte para os diversos atos do roteiro. Os melhores momentos são sem dúvida o confronto sangrento entre Arthur e o Cavaleiro Negro, a aparição dos terríveis cavaleiros que dizem "Ni!", o ataque do coelho assassino e a cena com o velho da ponte. A gozação é tanta que nem mesmo os letreiros de apresentação escapam!

Esse é o tipo de filme para ver e rever sempre com enorme alegria, ainda mais numa sala repleta de amigos.

Cotação: * * * * *

Veja uma das melhores cenas do filme:

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Filmes: "1492: A Conquista do Paraíso"

DESCOBERTA OU INVASÃO?

Ridley Scott mostra que a “conquista do paraíso” foi na verdade um terrível banho de sangue, que levou à extinção da maioria dos nativos do continente americano.

- por André Lux, crítico-spam

Na época em que foram comemorados os 500 anos da “descoberta” (ou seria invasão?) da América, Róliudi produziu dois filmes sobre o assunto, mas apenas um é digno de nota.

“1492: A Conquista do Paraíso” marcou também a última obra decente do cineasta Ridley Scott, que em tempos áureos nos brindou com gemas como “Os Duelistas”, “Alien” e “Blade Runner” antes de se vender de vez para o cinemão comercial dos EUA para o qual dirigiu abominações como “Gladiador”, “Hannibal” e “Falcão Negro em Perigo”.

Ajudado em muito pela direção de fotografia de Adrian Biddle (a chegada dos europeus ao “novo mundo” é simplesmente espetacular) e pela música primorosa do grego Vangelis, Scott usa todo seu talento estético para mostrar a conquista da América com tintas realistas e sem concessões.

Nem mesmo a figura mítica de Cristovão Colombo é poupada e, mesmo tendo a princípio boas intenções, todos seus erros, falhas e fracassos são enfatizados pelo bom roteiro de Roselyne Bosch. Scott mostra acertadamente que a tal “conquista do paraíso” foi na verdade um terrível banho de sangue, que levou à extinção da maioria dos nativos do continente americano.

Embora não consiga fugir de alguns clichês (tais como exagerar na canalhice dos nobres espanhóis e apelar para cenas recheadas de frases de efeito), o filme é literalmente carregado nas costas pelo grande Gerard Depardieu como Colombo, cujo único defeito é escorregar num inglês macarrônico de vez em quando (dizem que o filme melhora na versão francesa, com a voz original de Depardieu). O restante do elenco é “multinacional” e bastante homogeneo.

Justamente por não ser o retrato heróico da “descoberta” das Américas que a maioria esperava naquela época de celebrações, “1492” fracassou no mundo inteiro e recebeu críticas bem negativas dos profissionais da opinião.

Mas numa revisão, ele melhora muito e é daqueles raros casos que servem tanto como bom espetáculo cinematográfico quanto para uma boa aula de história.

Procure ver “1492” na versão em widescreen e sem cortes que existe para venda no Brasil. A outra versão é em tela cheia e com cortes nas cenas de violência, fatores que simplesmente destroem toda a beleza e força do filme.

Cotação: * * * *

sábado, 5 de setembro de 2009

Clássico do Cinema: "2001: Uma Odisséia no Espaço"

SINFONIA DE IMAGENS

Obra prima de Kubrick é a prova cabal que o cinema pode ser também uma forma de arte reflexiva e revolucionária

- por André Lux, crítico-spam

"2001: Uma Odisséia no Espaço" é sem dúvida nenhuma um dos melhores filmes de todos os tempos (se não o melhor). É impressionante, acima de tudo, que uma obra realizada em 1968 - antes mesmo do homem pisar na lua! - continue sendo tão atual em sua previsão do futuro.

Filmes muito mais recentes (como "Aliens - O Resgate" ou "Fuga do Século 23") envelheceram mal e ficaram completamente datados no seu design futurista, enquanto o de Stanley Kubrick mantém um desenho de produção ainda plausível e totalmente contemporâneo - exceto talvez ao usar o logo da falida PanAm em uma das naves. A própria seqüência medíocre filmada em 1984, "2010: O Ano Em Que Faremos Contato", virou peça de museu com sua trama envolvendo conflitos entre os EUA e a (extinta) União Soviética e mostrando computadores operando em modo DOS (a tecnologia de ponta na epoca!).

Segundo os autores, a evolução da humanidade estaria diretamente ligada à aparição de um misterioso monolito preto que, ao alinhar-se com outros planetas, precipita acontecimentos fantásticos. O primeiro deles foi a criação da consciência nos homens-macacos. A segunda, quando alinha-se novamente com a Terra e Lua e lança um sinal sonoro em direção à Júpiter. E aí começa a terceira parte do filme, na qual acompanhamos a nave científica Discovery a caminho do planeta para tentar decifrar o mistério do monolito.



A nave é comandada pelo computador HAL 9000, o primeiro a ter Inteligência Artificial. Todavia HAL, que paradoxalmente é o personagem mais humano do filme, enlouquece e acaba matando todos os tripulantes, exceto David Bowman. Diga-se de passagem que só essa sub-trama computador versus a raça humana já gerou centenas de imitações e derivações (vide os recentes "O Exterminador do Futuro" e "Matrix").

O astronauta sobrevivente dirige-se então a Júpiter e ao monolito e, quando sua nave alinha-se com o planeta e o objeto, é lançada em uma viagem dimensional até o que poderia ser uma outra civilização mais avançada - ou mesmo deus. O astronauta é então mandado de volta à Terra (após passar por um período de "adaptação" em um ambiente familiar para preserver sua sanidade mental) na forma de um bebê - no que seria certamente o próximo passo da evolução humana.



Mas essa é só uma das possíveis interpretações do filme. A verdade é que, devido ao seu caráter francamente filosófico e aberto, "2001" permite uma gama infinita de conclusões e especulações. Mas o ritmo lento e a falta de explicações didáticas certamente vai horrorizar espectadores ávidos por aventuras, explosões e tramas simplórias.

O filme quase não tem efeitos sonoros, principalmente na terceira parte, que imita com perfeição a realidade no vácuo espacial, e flui como uma sinfonia de imagens de acordo com as músicas eruditas que Kubrick escolheu para musicar sua obra (Alex North chegou a compor uma trilha original para as duas primeiras partes de "2001", mas só descobriu que ela havia sido rejeitada durante a estréia do filme!).

Já para quem busca algo mais do que entretenimento descerebrado e descartável, "2001: Uma Odisséia no Espaço" é a prova cabal que o cinema pode ser também uma forma de arte reflexiva e revolucionária.

Cotação: * * * * *

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Filmes: "INIMIGOS PÚBLICOS"

MALA SEM ALÇA

Filme poderia ter sido um interessante retrato da mente criminosa na época da depressão econômica dos EUA. Mas o diretor está mais interessado em torrar o saco da platéia com altas doses de pretensão e pomposidade.

- por André Lux, crítico-spam

Com exceção de “Os Informantes”, com Al Pacino e Russel Crowe, todos os filmes do diretor Michael Mann que eu assisti padeciam dos mesmos defeitos: eram excessivamente longos, arrastados, melodramáticos, truncados e pretensiosos. E “Inimigos Públicos” não é exceção. O filme pretende contar a história real do assaltante de bancos John Dillinger, caçado pela polícia até se tornar o inimigo público nº1 dos EUA. Mas ao invés de tentar fazer um eletrizante policial de suspense ou então uma aventura escapista palpitante como “Os Intocáveis”, Mann carrega nas tintas e dá a impressão de querer produzir um épico com ares “shakespirianos”.

O problema é que o roteiro não aprofunda os personagens e não apresenta nenhum diálogo ou reviravolta interessantes. Tirando o protagonista, vivido por um pouco convincente Johny Depp, o resto do elenco passa batido e não tem o que fazer em personagens que beiram o vazio. Christian Bale é novamente desperdiçado como o agente do FBI Melvin Purvis, num papel que é nada. O mesmo vale para Marion Cottilard, que ganhou o Oscar por sua atuação como Edit Piaff e faz aqui a namoradinha sonsa do bandido Dillinger.

São duas horas e meia para contar essa história batida e sem graça, toda filmada em High Definition (digital) e câmera na mão que treme e balança o tempo todo causando mais irritação do que qualquer outro efeito. A fotografia do famoso Dante Spinotti utiliza quase sempre iluminação natural o que deixa o filme numa escuridão quase total, algo que serve apenas como exercício de estilo inútil e pedante. Em algumas cenas chave mal dá para se ver o que acontece na tela, tamanha a escuridão! Nem a trilha musical composta pelo competente Elliot Goldenthal (de “Alien 3” e “Frida”) escapa, sendo exageradamente melodramática e pomposa.

Também não entendo essa obsessão de Michael Mann em glamourizar bandidos sem escrúpulos, pintando-os, a exemplo do que fez em “Fogo Contra Fogo” e “Colateral”, como se fossem gênios incompreendidos ou coisa que o valha e fazendo suas quedas dignas de dramalhões mexicanos. Dá a impressão que o cineasta quer que a gente torça por gente como esse John Dillinger, de tanto que força a barra para mostrá-lo como uma pessoa simpática e profunda, quando não passava de um ladrãozinho de bancos assassino e estúpido (caso contrário não teria sido tantas vezes preso e no final abatido).

Se ao menos o diretor tentasse aprofundar o protagonista, mostrando o que o movia e o que o levou à vida de crimes, “Inimigos Públicos” poderia se tornar um interessante retrato da mente criminosa naquela época de profunda depressão econômica dos EUA. Mas, que nada, Mann está mais interessado em torrar o saco da platéia com altas doses de pretensão e pomposidade. É um verdadeiro mala sem alça, isso sim!

Cotação: * 1/2

sexta-feira, 24 de julho de 2009

DVD: "A Desconhecida"

SUSPENSE DOS BONS

O diretor Giuseppe Tornatore é um dos poucos que ainda conseguem fazer filmes de suspense com qualidade e clima sombrio sem ter que apelar para sustos falsos ou sangueira explícita.

- por André Lux, crítico-spam

O diretor Giuseppe Tornatore, de “Cinema Paradiso”, é um dos poucos que ainda conseguem fazer filmes de suspense com qualidade e clima verdadeiramente sombrio sem ter que apelar para sustos falsos ou sangueira explícita. Em “A Desconhecida”, ele demonstra novamente seu talento para contar histórias densas e sufocantes como já havia utilizado no excepcional “Uma Simples Formalidade”.

Aqui a trama não é tão complicada, porém o cineasta tira proveito máximo das situações utilizando enquadramentos rebuscados, música sinistra e onipresente do mestre Ennio Morricone e direção de fotografia enervante para contar a saga de uma misteriosa mulher que se aproxima de uma família com motivação obscura. Aos poucos o roteiro vai desvendando seus objetivos reais e seu terrível passado, enquanto tragédias vão se acumulando em seu caminho.

Não é um filme fácil de ver e Tornatore filma sem concessões até o final dramático, que mostra um drama muito atual que é o tráfico de mulheres do leste europeu. Mas quem gosta de um bom suspense, cheio de clima e mistério, não pode perder.

Cotação: * * * *

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Masoquismo explícito Revendo "Star Wars III: A Vingança dos Sith"

Hoje revi pela primeira vez, desde que fui ao cinema, o terceiro episódio da pré-saga do "Star Wars" do nosso querido tio George Lucas. Confesso que a decepção foi tanta na época, que nunca mais tive coragem de rever aquele desastre, nem mesmo ouvi novamente a trilha do mestre John Williams!

Mas, como estava com saudades de ver naves explodindo e sabres de luz zunindo, hoje resolvi ser corajoso e aluguei "A Vingança dos Sith". Bom, o filme é muito ruim, não tem jeito, embora fique melhor de assistir agora, em casa, com o senso crítico reduzido a zero. Continuo a manter tudo que escrevi na época do lançamento (clique aqui para ler minha crítica original).

Ainda não consigo acreditar que Lucas teve coragem de fazer três filmes tão ruins e patéticos, que chegam inclusive a estragar a trilogia original, dado o número de incoerências e erros "históricos" entre os filmes novos e os velhos.

Vejam abaixo algumas fotos que comprovam as falhas cometidas pelo próprio Lucas:

ENVELHECIMENTO PRECOCE



Beru Lars no final de "Episódio 3"



Beru Lars, nem 18 anos depois, em "Episódio 4"





Owen Lars, em "Episódio 3" (um jovem de no máximo 30 anos)


O mesmo Owen em "Episódio 4", misteriosamente conseguiu ficar com 60 anos! Será efeito do lado negro??




Obi-Wan em "Episódio 3" (35 anos, no máximo)

Em "Episódio 4" com 60 anos, no mínimo. "Onde você foi desencavar esse velho fóssil?", perguntava o despeitado Han Solo.


MEMÓRIA PRODIGIOSA
Diálogo de "Episódio 6 - O Retorno de Jedi"
Luke: "Leia, você lembra da sua mãe verdadeira?"
Leia: "Só um pouco. Ela morreu quando eu era muito jovem. Lembro que ela era muito bonita, gentil mas... triste"
Ou estamos falando do bebê com a memória mais prodigiosa do universo ou então Lucas pisou na bola feio de novo...

MÃO DE OBRA LERDA
De acordo com "Episódio 3", a Estrela da Morte, inaugurada em "Episódio 4" com a destruição de Alderaan, ficou mais de 17 anos em construção! O Imperador deve ter mudado de empreiteira, pois nem 5 anos depois já estava terminando de construir a 2ª Estrela da Morte no "Episódio 6"!

Lamentável...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Filmes: "A Culpa é do Fidel!"

SIMPLES E TOCANTE

Filme fracês mostra que a falta de capacidade de diálogo com os filhos não é "privilégio" apenas da direita!

- por André Lux, crítico-spam

É incrível a capacidade que os cineastas franceses tem de contar histórias humanas de forma sempre simples, porém tocante. É o caso desse “A Culpa é do Fidel!”, dirigido por Julie Gravas, filha do famoso Costa Gravas, cineasta de esquerda que realizou vários filmes políticos engajados em denunciar os males causados pela direita mundo afora.

E essa relação entre pai e filha torna o filme ainda mais interessante, pois, apesar de ser baseado numa obra da italiana Domitilla Cammile , o “A Culpa é do Fidel!” tem óbvias referências autobiográficas à vida da diretora. Afinal, trata-se da história de uma menina de nove anos que é criada por país esquerdistas que vivem engajados em causas em favor da democracia e da luta contra o fascismo, seja na Espanha de Franco ou no Chile (o filme começa em 1970 e termina na época do golpe militar contra Allende).

A história é sempre contada pelo ponto de vista da menina Anna (a ótima Nina Kervel-Bey), que não entende a luta dos pais e acaba se portando como uma verdadeira “fascistinha” (ou “múmia”, que é como os chilenos chamavam os reacionários em seu país). Esse é um dos aspectos mais interessantes do filme: a falta de diálogo entre país e filhos. O casal de esquerda, super engajado em causas humanitárias e democráticas, esquece de aplicar suas crenças dentro de casa e alienam a filha mais velha, que acaba sendo influenciada negativamente por uma empregada cubana que odeia Fidel Castro e todos os “barbudos vermelhos”, pelos avós ricos e reaças e pela educação rígida que recebe numa escola católica de freiras! Pior que eu mesmo já conheci pessoas assim: ultra-libertárias de esquerda na rua, mas que agem como verdadeiras tiranas dentro de casa. Ou seja: a falta de capacidade de diálogo com os filhos não é "privilégio" apenas da direita!

O filme mostra de maneira exemplar a confusão mental da criança (ela acredita, por exemplo, que o objetivo dos “barbudos vermelhos” é realmente provocar uma guerra nuclear e roubar as casas e os bens das pessoas boas!), e a falta de capacidade de seus pais em passarem para ela seus valores e crenças ideológicas. Há um cena muito engraçada, que mostra o medo estampado no rosto da menina quando seu pai chega de viagem barbudo!

Com o passar do tempo e do contato constante com os vários “barbudos” que vivem em sua casa e com suas babás (refugiadas ajudadas pelos pais), a pequena Anna vai aos poucos começando a questionar suas próprias crenças e certezas o que, obviamente, começa a fazê-la confrontar os reacionários que a influenciavam, principalmente as freiras católicas.

Tudo isso é tratado como bom humor, sem melodramas, mas com muita propriedade e delicadeza, até chegar ao final extremamente singelo e tocante. Não deixem de ver, principalmente se você também for de esquerda e estiver pensando em ter filhos...

Cotação: * * * *

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Filmes: "O Exterminador do Futuro: A Salvação"

TIRO NA ÁGUA

Como filme de ação e aventura dá para o gasto. Mas tem muito pouco a ver com os “Exterminadores” originais.

- por André Lux, crítico-spam

Não havia necessidade alguma de fazer mais uma continuação de “O Exterminador do Futuro”, filme de ficção científica que hoje é considerado um clássico do gênero e que foi praticamente refilmado com muito mais dinheiro anos depois pelo próprio criador do personagem, James Cameron.

Mas os executivos de Roliudi não têm jeito. Mesmo depois de uma terceira continuação bem fraca e de uma série de televisão (“As Crônicas de Sarah Connor"), eles insistem em inventar um filme que agora se passa no futuro, mostrando o início da luta de John Connor contra as máquinas.

Pior que nem achei esse “Exterminador do Futuro: A Salvação” tão ruim quanto estão dizendo. O filme é bem divertido e cheio de sequências de ação bem produzidas, efeitos especiais decentes e barulhos ensurdecedores (minha esposa saiu do cinema xingando e com dor de cabeça!). Porém, é um tiro na água, pois por mais que inventem, nós já sabemos que o protagonista não vai morrer já que ficou estabelecido nos filmes anteriores que ele vai virar o líder máximo da resistência humana.

Assim, o personagem vivido por Christian Bale (o novo “Batman”) é um peso morto, que se arrasta pelo filme até o final sem graça. Ciente disso, o esforçado ator não tem o que fazer a não ser lutar e fugir dos diversos tipos de máquinas assassinas que o perseguem filme adentro. Nem mesmo a aparição rápida de um Schwarzenneger criado digitalmente chega a empolgar, até porque o diretor McG (dos horríveis “As Panteras”) não consegue fugir daqueles velhos clichês irritantes, do tipo “monstro pega o herói pelo pescoço e, ao invés de mata-lo ali mesmo, joga-o do sobre uma barra de ferro do outro lado da sala”...

No fim, o personagem mais interessante acaba sendo Marcus Wright, feito pelo ator Sam Worthington, que pelo menos carrega um mistério com ele. Mesmo assim, a solução que inventaram para explicar suas ações não foge daquele velho clichê “tudo ocorreu de acordo com o que nós, os vilões, planejamos” que o George Lucas esgotou completamente ao filmar as prequels de Star Wars.

Enfim, como filme de ação e aventura dá para o gasto. Mas tem muito pouco a ver com os “Exterminadores” originais.

Cotação: * * 1/2

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Trilhas Sonoras: "Batman: O Cavaleiro das Trevas"

ESCOLHA INFELIZ

As partituras de Zimmer são rasas, limitam-se a pontuar a ação e ele é incapaz de compor música complexa para orquestra. 

- por André Lux, crítico-spam

O diretor Christopher Nolan acertou em praticamente todos os ingredientes ao fazer os novos filmes do “Batman”, mas foi muito infeliz em um dos mais importantes: a escolha do compositor de suas trilhas sonoras. 

No caso, foram os compositores, já que contratou uma dupla inusitada: o péssimo Hans Zimmer (“Gladiador”, “Falcão Negro em Perigo”, “A Rocha”) e o irregular James Newton Howard (“Sexto Sentido”, “O Príncipe das Marés”, “Neve Sob os Cedros).

De cara já há um problema nessa escolha: o “estilo” dos dois compositores não tem nada a ver um com o outro (coloco entre aspas, pois dizer que Zimmer possui estilo é uma ofensa aos músicos decentes). 

Pelo que li em entrevistas e análises de entendidos no assunto, Zimmer ficou responsável pelos temas principais e pelas cenas de ação e suspense, enquanto Newton Howard musicou as partes mais melancólicas dos filmes (como o tema de Harvey Dent e do triângulo amoroso entre os protagonistas). 

Mas, a grosso modo, quase 80% da trilha tem a assinatura inconfundível de Hans Zimmer e só de vez em quando aparecem alguns sinais do toque do outro compositor. Azar nosso.

Em “O Cavaleiro das Trevas”, Zimmer não procurou desenvolver seu tema para o Batman, deixando-o rolar praticamente da mesma forma que no filme anterior. Pesado e sombrio o tema é registrado nos níveis mais baixos e graves da orquestra, sem muita variação ou qualquer nuance. 

É quase um tema minimalista que parece dizer o tempo todo “esse cara é nervoso e carrancudo”. Assim, perde-se a chance de explorar musicalmente os conflitos internos do personagem, seus medos, dúvidas e desvios psicológicos. 

Zimmer, o abominável: prova viva de que não é
preciso estudar ou ter talento para fazer sucesso
Só para comparar, o mestre Jerry Goldsmith criou três momentos diferentes dentro do mesmo tema para o protagonista de “Patton”: uma introdução com trompetes no ecoplex remetendo às crenças espirituais do general, outra passagem mais sóbria para definir o código de honra incorporado por ele e outra puramente militarista. 

Assim, com um só tema, Goldsmith trouxe à tona três elementos distintos do personagem principal, dando voz a características mencionadas apenas de relance no roteiro.

Mas, Zimmer não é Goldsmith. Assim, sua aproximação ao material é o reflexo de suas limitações. Suas partituras para os filmes do “Batman” são rasas e se limitam a pontuar a ação nas telas. Soma-se a isso a total incapacidade do sujeito em compor música complexa para orquestra. 

Suas orquestrações são ridículas, sem contraponto, harmonia, fuga ou qualquer outra técnica que poderia elevar a música a patamares minimamente interessantes. Tudo é pasteurizado e, via de regra, temos a sensação de que todos os membros da orquestra, mais os solistas e o sintetizador estão tocando a mesma nota, ao mesmo tempo. Sensação que aumenta ainda mais por culpa da mixagem pesada que deixa o som “achatado” e não dá qualquer chance para nuances no desempenho dos músicos.

Em “O Cavaleiro das Trevas”, Zimmer criou um tema para o Coringa que é de um simplismo de dar dó: nada mais do que um zumbido de uma nota só tocada pelo cello, sampleado e acompanhado por guinchos de guitarra e sons que se assemelham a alguém jogando um gato em cima do sintetizador. 

No filme até que funciona, pois contribui para aumentar o clima enervante que emerge do personagem, porém da mesma forma que o tema do Batman, não ajuda em nada para expandi-lo além do que se vê na tela.

Justiça seja feita: a trilha musical de Zimmer para os dois “Batman” funciona razoavelmente bem junto como as imagens, o que no caso dele é algo surpreendente, já que estou acostumado a vê-lo (ou seria ouvi-lo?) destruindo filmes de ação e aventura com sua mesmice barulhenta ou passando em brancas nuvens quando o assunto são comédias ou dramas. 

E não adianta querer me convencer que a trilha é ótima, pois ela funciona junto com as imagens. Para mim, uma boa trilha sonora é aquela que, além de funcionar dentro do filme, traz à tona elementos “escondidos” na trama ou nos personagens. Cito como exemplo disso, o tema que Bernard Herrman criou para o misterioso “Rosebud” em “Cidadão Kane”. 

Ouvidos mais atentos vão perceber que Herrman “entrega” o mistério logo de cara juntando o tema ao objeto na cena do menino na neve. Ou Goldsmith “explicando” por meio da música que o unicórnio de “A Lenda” está perdoando os erros do protagonista. Além disso, claro, uma boa partitura deve ser musicalmente interessante fora do filme.


O álbum com a trilha sonora de “O Cavaleiro das Trevas” traz 14 faixas editadas em forma de suíte, com nomes que remetem a diálogos do filme, mas não deixam claro para qual cena foram compostas – pecado que enfurece todos os colecionadores de música de cinema. 

A primeira, “Why So Serious?” tem mais de nove minutos e traz, basicamente, o tema do Coringa em diversas variações, o que vai fazer você lamentar ter perdido todo esse tempo da sua vida com algo tão estúpido. 

Lançaram depois mais uma versão da trilha, num álbum com dois CD, trazendo ainda mais músicas que ficaram de fora da primeira edição. Enfim, mais do mesmo...

Repleta de momentos bombásticos e barulhentos, a trilha do novo “Batman” funciona como uma injeção de testosterona na veia – não é a toa, portanto, que a maioria dos fãs de Hans Zimmer são adolescentes nervosos. 

Como eu disse, até funciona junto com o filme, mas se quiser ouvir em casa... prepare a Neosaldina!

Cotação: * *

terça-feira, 9 de junho de 2009

DVD: "Sangue Negro"

“Sangue Negro” não passa de um interminável exercício de estilo do diretor Paul Thomas Anderson, cineasta especialista em torrar o saco da platéia com altas doses de auto-indulgência e pretensão expostas em filmes a princípio interessantes que se perdem em projeções alongadas e irritantes.

Seus dois filmes mais celebrados, “Boogie Nights” e “Magnólia”, padeciam do mesmo defeito, sendo que o último era encerrado misteriosamente com uma chuva de sapos que só o diretor e seus amigos entenderam o significado.

“Sangue Negro” é supostamente inspirado na vida de Edward Doheny, que serviu de esteio ao livro de Upton Sinclair, no qual o filme é baseado. O enredo deveria contar a trajetória de um brutal magnata do petróleo, Daniel Plainview, desde o tempo que cavava o chão com as próprias mãos até se transformar em dono de muitas jazidas e de uma grande fortuna. Tudo conquistado com muito sangue, suor e lágrimas – geralmente de seus funcionários, obrigados a trabalhar em condições animalescas e sem qualquer segurança. Muitos viram aí uma metáfora para a brutalidade do capitalismo. Pode ser que no livro isso seja verdade, mas no filme o personagem age de forma incoerente e sem motivações claras, mudando de comportamento e atitude a cada seqüência.

Contribui para o fracasso da caracterização do protagonista a presença de Daniel Day-Lewis no papel principal. Ao contrário da maioria (ele chegou a ganhar um absurdo Oscar de melhor ator!), achei sua atuação o ponto mais baixo do filme, totalmente caricata, sem nenhuma verdade ou humanidade, baseada inteiramente nos mesmos tiques, tom de voz e bigodão que compôs para o igualmente mal delineado e violento protagonista de “Gangues de Nova York”, de Martin Scorsese (outro filme ruim superestimado pelos críticos). No ridículo final de “Sangue Negro” o exagero era tanto que tive a impressão que Day-Lewis atuou sob forte prisão de ventre, tamanho o número de caretas e gritos histéricos que providenciou!

Apesar de contar com interessante direção de fotografia e inusitada trilha musical (de Jonny Greenwood, do Radiohead), “Sangue Negro” falha justamente na caracterização do protagonista. Terminamos o filme sem saber direito quem foi aquele sujeito, nem quais eram as suas motivações, medos ou obsessões, se era mesmo um homem obcecado por poder e dinheiro ou simplesmente um louco varrido. E olha que o diretor teve quase três horas para explorar o personagem! Deveria ter gasto menos tempo admirando o próprio umbigo...

Cotação: * *

domingo, 7 de junho de 2009

Filmes: "Meu Irmão é Filho Único"

DA DIREITA PARA A ESQUERDA

A mensagem do filme é clara: passar da direita para a esquerda é um processo de difícil amadurecimento. Mas e o contrário? Bom, olhe para gente como Soninha ou Gabeira e você vai saber a resposta...

- por André Lux, crítico-spam

Esse filme me tocou particularmente, afinal conta a história de um sujeito que era fascista na juventude e virou socialista ao amadurecer. Quem leu minhas “Memórias de um alienado” sabe do que estou falando.

“Meu Irmão é Filho Único” é inspirado num livro autobiográfico de Antonio Pennachi chamado "Il Fasciocomunista”. Começa como comédia, passa para o drama e termina de forma emocionante.

Na Itália do início dos anos 1960, o jovem Accio é mandado para um seminário. Mas o irmão mais velho, comunista e ateu, “salva” o moleque dessa fria dando umas revistinhas pornôs para o irmão que, pego em flagrante durante ato onanista, é convidado a se retirar pelos padres.

O problema é que o garoto é feioso pra chuchu, meio tonto e entende as coisas tudo ao contrário. Revoltado com o sucesso do irmão mais velho na liderança sindical e na conquista de belas garotas, o coitado começa a ser influenciado por um velho fascista careca, seguidor fervoroso de Mussolini e o único que leva o Accio a sério.

Não dá outra. O menino alienado e mal influenciado começa a escutar hinos nazi-fascistas e repetir aquelas nojeiras irracionais repletas de preconceito, ódio e rancor que ficariam bem na boca de qualquer senador do DEMo. Para piorar, quando vira adolescente e depois de levar a enésima “coça” do irmão mais velho, Accio se filia ao partido Fascista e sai pelas ruas com seus novos amigos espancando comunistas e botando fogo em seus carros (isso pelo menos eu não fiz... ufa!).

Tudo é mostrado em tons cômicos, principalmente a burrice e a alienação do Accio. Mas as coisas mudam quando seu irmão vira alvo dos odiosos fascistas e aí o filme troca de figura, ganhando contornos mais dramáticos e realistas.

Não vou entregar a história toda, mas basta dizer que “Meu Irmão é Filho Único” termina de forma tocante, com Accio finalmente mudando de lado e entendendo que passou um terço da sua vida do “lado errado”. A mensagem é clara: passar da direita para a esquerda é um processo de difícil amadurecimento. Mas e o contrário? Bom, olhe para gente como Soninha ou Gabeira e você vai saber a resposta...

Cotação: * * * *

domingo, 10 de maio de 2009

Filmes: "STAR TREK"

PRA NERD NENHUM BOTAR DEFEITO

- por André Lux, crítico-spam

Esse novo “Star Trek” é simplesmente espetacular! Palmas para o diretor J.J. Abrams, que estava na crista da onda depois do sucesso de “Lost” e se arriscou bastante ao aceitar fazer esse renascimento da série original com Kirk, Spock e o Dr. McCoy que desperta paixões em várias gerações de espectadores. Mas ele não poderia ter acertado mais.

Tudo está no lugar certo neste filme, a começar pelo elenco homogêneo e sem pontos baixos e pelo roteiro muito bem escrito, que consegue o milagre de resolver satisfatoriamente uma trama tortuosa e complexa a qual inclui até viagens no tempo (sempre uma armadilha perigosa em filmes desse tipo), chegando a ter participação especial de Leonar Nimoy, o Spock original!

O mais bacana de tudo é que Abrams revela-se um bom cineasta, com completo domínio da narração e da imagem. Reparem como ele e seu diretor de fotografia posicionam a câmera e usam lentes zoom em várias tomadas para criar o máximo efeito de profundidade de campo no frame, deixando “Star Trek” com cara de filme grande (comparem, por exemplo, com o fraquinho “X-Men Origens: Wolverine”, cuja fotografia utilizada deixa-o quase todo chapado, com cara de filme para televisão).

A música de Michael Giacchino, colaborador constante de Abrams (é dele as trilhas de “Missão Impossível 3” e da série “Lost"), também é muito boa e o compositor tem talento para alternar orquestrações pesadas com outras mais intimistas sem perder a lógica interna do desenvolvimento temático (coisa rara atualmente). Giacchino teve o luxo de compor músicas para cenas chave (como a do nascimento de Kirk) desprovidas de efeitos sonoros. Ou seja, Abrams deixou só as imagens e confiou acertadamente na trilha musical para elevar a dramaticidade da cena (outra opção rara e corajosa). Interessante notar também que o músico vai inserindo aos poucos o tema da antiga série (composto pelo falecido Alexander Courage) no filme, culminando com uma rendição enérgica e empolgante dele nos créditos de encerramento.

São muito legais e bem-vindas paras os fãs as citações a vários episódios da série original e até mesmo dos filmes do cinema, algumas delas bem sutis. Os efeitos visuais também são ótimos, a nova Enterprise é simplesmente linda e o filme tem muito humor. Mas, na minha modesta opinião, a melhor sacada dos realizadores foi eles terem inventado toda uma trama de viagens no tempo que culminou na criação de um universo paralelo, onde os heróis vão poder viver suas aventuras sem precisar se preocupar em serem fiéis à cronologia de eventos da série original (engraçado ver alguns profissionais da opinião criticando o roteiro de forma a dar claras evidências que não entenderam esse ponto crucial - pior que esse fato é tão óbvio e importante para a apreciação do filme que a Uhura chega a citá-lo literalmente!)

Enfim, é um renascimento para “Star Trek” para nerd nenhum botar defeito.

Cotação: * * * * *

domingo, 3 de maio de 2009

Filmes:"X-MEN ORIGENS: WOLVERINE"

FRAQUINHO

Perda de tempo

- por André Lux, crítico-spam


É bem fraquinho esse “X-Men Origens: Wolverine”. No fundo, não passa de um filminho classe B e com jeitão de produção para a TV feito às pressas para tentar lucrar em cima da franquia dos mutantes da Marvel, cujo primeiro filme tinha qualidades. 

Como perceberam que fazer uma quarta continuação de "X-Men" ficaria muito cara, principalmente por causa do elenco estelar, resolveram então inventar um filme solo para o personagem mais carismático da série.

Com exceção do astro Hugh Jackman, que se esforça em vão tentando passar alguma emoção, todo o resto do elenco e da equipe técnica é de segundo linha, particularmente o sujeito que faz o coronel Striker, canastrão ao extremo. 

Podiam ao menos ter feito um filme desfrutável se tivessem investido num roteiro melhor. Mas que nada, a história é cheia de furos e as reviravoltas e resoluções soam falsas e forçadas. Entre as piores de longe ficam a desculpa que inventaram para a perda de memória do protagonista e a história da morte da sua namorada, totalmente ridículas.

E como sempre acontece com esse tipo de produção, na falta de um melhor roteiro e diálogos minimamente inteligentes, apostam todas as fichas em perseguições, lutas e explosões exageradas a cada cinco minutos. Chega a ser tedioso ver Logan lutando com seu irmão Dente-de-Sabre pela enésima vez, quando sabemos muito bem que ambos não vão morrer.

Enfim, é uma perda de tempo. Pior é que li profissionais da opinião dizendo que essa bobagem caça-níqueis é melhor que “Watchmen”! Depois ficam nervosinhos quando percebem que a maioria dos mortais não leva o trabalho deles a sério...

Cotação: **

segunda-feira, 30 de março de 2009

Luto: Compositor Maurice Jarre morre aos 84 anos

Mais uma notícia triste para os apreciadores da boa música do cinema. Morreu, no dia 29 de março, em Los Angeles, o compositor Maurice Jarre, autor de trilhas sonoras memoráveis como "Lawrence da Arábia", "Doutor Zhivago", "Mad Max Além da Cúpula do Trovão", "A Filha de Ryan", "Passagem para a Índia", "Topázio", "Ghost", "Inimigo Meu", "O Homem Que Queria Ser Rei" e mais de 160 outras.

Confesso que Jarre não entraria na minha lista dos 10 compositores favoritos, suas trilhas mais recentes, como "Sem Saída", "Atração Fatal", "Sociedade dos Poetas Mortos", eram praticamente todas eletrônicas (talvez por influência do sucesso do filho Jean-Michel Jarre) e infelizmente bem fraquinhas. Porém, é inegável que criou partituras clássicas que serão lembradas para sempre!

Confira abaixo algumas de suas obras e uma suite de "Lawrence da Arábia", regida pelo próprio Maurice Jarre.



quinta-feira, 26 de março de 2009

Séries: THE L WORD (Última Temporada)

FINAL MELANCÓLICO

É muito triste ver uma série que começou com tantas promessas terminar de forma tão deprimente e sem sentido.

- por André Lux, crítico-spam simpatizante

Não poderia ter sido mais melancólico e decepcionante o final da sexta e última temporada da série “The L Word”.

Mas não era imprevisível, visto que somente a primeira temporada é que foi realmente boa (leia minha análise neste link). A partir da segunda, a qualidade da série foi decaindo exponencialmente até chegar ao que chegou.

Até agora não consegui entender o que aconteceu com os idealizadores da série, especialmente com a criadora e principal roteirista Ilene Chaiken, que surgiu como uma lufada de ar fresco na mesmice da programação das redes de TV, trazendo para a telinha histórias fortes, picantes e realistas de um grupo de lésbicas de Los Angeles.

Tudo que era verdadeiro, emocionante e divertido na primeira temporada foi, aos poucos, se transformando no contrário. Principalmente a partir da terceira temporada, que foi onde a coisa realmente desandou. As situações começaram a ficar cada vez mais forçadas e inverossímeis.

O que era sério e realista virou dramalhão sem sentido. Saiu de cena o humor fino e entrou o puro pastelão rasteiro. É incrível também a facilidade como todo mundo na série perde um emprego e arruma outro rapidinho, sem qualquer problema e sempre ganhando mais!

Incomodou também a inserção de péssimos novos personagens, como a horrível Papi, representando todos os piores estereótipos da mulher latina, e a chatíssima transexual feminina Moira, ainda por cima interpretada por uma atriz péssima.

Isso sem falar na mudança de personalidade de algumas personagens-chave, que foram literalmente da água para o vinho – como, por exemplo, a arrogante e dominadora Helena Peabody (a belíssima Rachel Shelley) que se transformou, sem qualquer motivo, numa mulher chorona e submissa.

Mas a pior mudança mesmo, que realmente destruiu a série, foi feita na personagem Jenny Schectter (Mia Kirshner). Ela, que na primeira temporada, descobriu sua bissexualidade e foi responsável por momentos de forte emoção e verdade, transformou-se, principalmente nas três últimas temporadas, numa dondoca petulante e estúpida que, ridículo do ridículo, virou diretora de cinema depois que um livro seu, inspirado na vida dela e das amigas, virou best-seller e foi comprado por um estúdio de Hollywood!

Por que não mataram ela antes?
E se não bastasse a total falta de credibilidade da situação, praticamente todo o resto da série ficou gravitando em torno dos chiliques de Jenny e das constrangedoras filmagens do seu "Lez Girls", deixando “The L Word” praticamente intragável.

Nem mesmo algumas sub-tramas e novos personagens realmente interessantes (como o romance entre Beth e a artista surda-muda Jodi, interpretada pela talentosa Marlee Matlin, ou o drama da soldado que, por ser lésbica, é ameaçada de expulsão pelo exército) conseguiram salvar a série, que foi afundando até chegar à última temporada que, acreditem, gira totalmente em torno de uma única questão: “quem matou Jenny Schectter”?

Por que não a mataram antes é a pergunta que realmente gostaríamos de ver respondida...

Enfim, é muito triste ver uma série que começou com tantas promessas terminar de forma tão deprimente e sem sentido.

Para vocês terem uma idéia do tamanho da besteira, o último episódio acaba com todas as personagens chegando numa delegacia de polícia para prestar depoimento sobre a morte de Jenny (que, pasmem, nem é solucionada!) e, de repente, começam a andar sorridentes e de forma posada em câmera lenta, como se estivessem numa passarela. The End!

Lamentável...

Cotação: *

quarta-feira, 18 de março de 2009

Jornada nas Estrelas: Tributo a Jerry Goldsmith

Assistam ao bonito tributo feito pelos responsáveis da franquia Jornada nas Estrelas ao grande compositor Jerry Goldsmith, contido no DVD no oitavo filme para o cinema, "Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato".

Contém entrevistas com diretores, atores, compositores e com o próprio Jerry. Em inglês, sem legendas (infelizmente). Dividido em duas partes. Mais abaixo, o tema principal e a batalha dos Klingos de "Jornada nas Estrelas: O Filme", de 1979, uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos!





quinta-feira, 12 de março de 2009

Filmes: "WATCHMEN"

ESPETACULAR E EMOCIONANTE

Mais importante do que o enredo são as questões que a obra levanta, principalmente as políticas, fortemente representadas nas figuras do Comediante e do Rorschach, os personagens mais carismáticos que não passam de sociopatas praticantes da máxima fascista “bandido bom é bandido morto!”.

- por André Lux, crítico-spam

Quem não leu “Watchmen” na época de seu lançamento não sabe a revolução que aquela obra causou no mundo dos quadrinhos. Lembro-me até hoje da angústia que era esperar que o próximo fascículo da saga criada por Alan Moore e Dave Gibbons chegasse às bancas. Por isso, acho difícil que o público atual, especialmente aquele que não conhece a graphic novel, será abalado pelo filme, já que o sem número de obras que beberam de sua fonte (como a animação “Os Incríveis”) certamente vão tirar seu impacto. É mais ou menos como o meu sobrinho de 16 anos, que nunca viu os “Indiana Jones” originais, mas assistiu ao quarto filme lançado há pouco tempo nos cinemas. Sabe o que ele me disse? “Pô, esse filme é cópia da Múmia!”. Pois é, tio sofre...

Mas, eu que sou fã incondicional da obra, achei “Watchmen”, o filme, espetacular. Sei que muitos vão reclamar das mudanças e reduções, porém isso é inevitável nesse tipo de empreitada e, na minha opinião, não reduziram em nada o valor da obra. Confesso que fiquei um pouco apreensivo ao saber que o diretor seria o mesmo do irregular “300”, Zack Snyder. Porém, o sujeito deu conta do recado e conseguiu transportar para as telas o clima e o desenho dos quadrinhos de forma quase irretocável. Só faço ressalvas a algumas cenas onde exageram na violência (defeito que “300” também tinha).

Todas as questões filosóficas e políticas levantadas pelo texto de Alan Moore (não por acaso, o mesmo autor de “V de Vingança”) estão no filme, que retrata uma realidade paralela, onde vigilantes mascarados faziam justiça com as próprias mãos e os EUA venceram a guerra no Vietnam graças à ajuda do invencível Dr. Manhattan, um semi-deus criado a partir de um cientista exposto a uma experiência radioativa que passa a maior parte da projeção peladão (imagino que os realizadores serão, no mínimo, excomungados por mostrarem um super-herói com o pinto de fora!).

Graças a tudo isso, o infame Richard Nixon é reeleito por três mandatos e os EUA viram um Estado praticamente fascista, onde até os vigilantes mascarados são considerados foras da lei – exceto o truculento Comediante e o Dr. Manhattan que, além do Vietnam, ajudam Nixon a derrubar “governos marxistas” no mundo (reparem como, nesse ponto, a obra foi premonitória do governo de Bush Júnior!). O problema é que isso causa uma escalada de tensões entre os EUA e a União Soviética, ao ponto de praticamente iniciarem uma guerra nuclear. Pode ter certeza que a trama é bem confusa e fica ainda pior quando chega a conclusão, que é arrebatadora, totalmente inesperada e vai exigir atenção máxima.

Mais importante do que o enredo em si, porém, são as questões que a obra levanta, principalmente as políticas, que estão mais fortemente representadas nas figuras do Comediante e do Rorschach, já que ambos acabam sendo os personagens mais carismáticos ao mesmo tempo em que não passam de dois sociopatas violentíssimos e praticantes daquela velha máxima fascista “bandido bom é bandido morto!”. O problema é que, no final das contas, a gente fica sem saber quem são realmente os bandidos e os mocinhos nessa história maluca - o que, espero, faça as pessoas pensarem um pouco melhor no perigo que esse tipo de ideologia maniqueísta esconde.

Tecnicamente o filme é irrepreensível, tem efeitos visuais muito bons, mas sem exageros, fotografia e edição adequadas ao clima caótico do enredo e faz bom uso (às vezes de forma irônica) de músicas famosas de Bob Dylan, Janis Joplin, Nat King Cole, Simon & Garfunkel entre outros. “A Cavalgada das Walkyrias” de Richard Wagner aparece na cena do Vietnam traçando paralelo com a insanidade de “Apocalipse Now” e duas faixas minimalistas de Phillip Glass foram usadas na cena da origem do Dr. Manhattan de forma primorosa. Já a trilha incidental, composta por um tal de Tyler Bates, é funcional, porém não acrescenta nada a mais, o que é sempre uma pena (nessa hora que sentimos a falta de um compositor de verdade, como um Goldsmith ou Morricone, criando uma partitura musical que eleve o filme e os personagens além do trivial).

O elenco, formado quase todo por atores pouco conhecidos, também é perfeito, embora quem roube a cena - exatamente como nos quadrinhos - seja o megafascista Rorschach, perfeito na pele de Jack Earle Halley (que foi um pedófilo em “Pecados Íntimos”).

Bom, já escrevi demais. Para resumir: o filme é espetacular, emocionante até. Vale a pena ser visto e revisto. E parece que vem aí uma versão ainda mais longa (essa que está nos cinemas tem 163 minutos), que vai incluir diversas cenas inéditas, inclusive os terríveis “Contos do Cargueiro Negro”. É esperar para ver!

Cotação: * * * * *

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Homenagem: Jerry Golsmith completaria 80 anos em fevereiro

No último dia 10 de fevereiro teria sido comemorado o 80º aniversário do compositor Jerry Goldsmith. Infelizmente, ele perdeu a luta contra o câncer e faleceu em 21 de julho de 2004.

Goldsmith é meu compositor favorito. Não devo passar mais de três dias sem ouvir alguma coisa que ele criou. Tenho hoje mais de 150 CDs com suas trilhas sonoras (parei de contar faz tempo). E olha que ele criou música para muitos filmes realmente horríveis!

Sua trilha mais famosa é a do filme "A Profecia", que lhe rendeu seu único Oscar, e é confundida por muita gente com Carmina Burana, que não tem nada a ver exceto o uso de coral de vozes.

Não sei dizer qual trilha dele gosto mais, mas arriscaria dizer que é a de "Alien - O Oitavo Passageiro" ou a de "Jornada nas Estrelas - O Filme".

É muito estranho ser abalado de forma tão forte pela morte de alguém que você nunca conheceu de perto. Falei dessa dor em um texto que escrevi no dia que recebi a notícia de sua morte. Ele foi originalmente publicado no hoje falido site E-pipoca, na época em que eu o editava em caráter de caridade. Clique aqui para ler.

Confira abaixo a filmografia do mestre (não sei dizer se contém realmente todos os filmes para os quais compôs a trilha sonora):

Timeline (2003) (rejeitado)
Looney Tunes: Back in Action (2003)
Star Trek: Nemesis (2002)
The Sum of All Fears (2002)
Along Came A Spider (2001)
The Last Castle (2001)
Hollow Man (2000)
The Haunting (1999)
The Mummy (1999)
The Thirteenth Warrior (1999)
Deep Rising (1998)
Mulan (1998)
Small Soldiers (1998)
Star Trek: Insurrection (1998)
U.S. Marshals (1998)
Air Force One (1997)
The Edge (1997)
Fierce Creatures (1997)
L.A. Confidential (1997)
Chain Reaction (1996)
City Hall (1996)
Executive Decision (1996)
A Family Thing (1996)
The Ghost and the Darkness (1996)
Star Trek: First Contact (1996)
Congo (1995)
First Knight (1995)
Powder (1995)
Star Trek: Voyager (1995)
Angie (1994)
Bad Girls (1994)
I.Q. (1994)
The River Wild (1994)
The Shadow (1994)
Dennis the Menace (1993)
Malice (1993)
Matinee (1993)
Rudy (1993)
Six Degrees of Separation (1993)
The Vanishing (1993)
Basic Instinct (1992)
Forever Young (1992)
Love Field (1992)
Medicine Man (1992)
Mom and Dad Save the World (1992)
Mr. Baseball (1992)
Not Without My Daughter (1991)
Omen IV: The Awakening (1991)
Sleeping with the Enemy (1991)
Gremlins 2: The New Batch (1990)
The Russia House (1990)
Total Recall (1990)
The 'burbs (1989)
Criminal Law (1989)
Leviathan (1989)
Star Trek V: The Final Frontier (1989)
Warlock (1989)
Rambo III (1988)
Rent-a-Cop (1988)
Extreme Prejudice (1987)
Innerspace (1987)
Lionheart (1987)
Hoosiers (1986)
Link (1986)
Poltergeist II: The Other Side (1986)
Baby... Secret of the Lost Legend (1985)
Explorers (1985)
King Solomon's Mines (1985)
Legend (1985)
Rambo: First Blood Part II (1985)
Gremlins (1984)
The Lonely Guy (1984)
Runaway (1984)
Supergirl (1984)
Dusty (1983)
Psycho II (1983)
The Return of the Man from U.N.C.L.E. (1983)
Twilight Zone: The Movie (1983)
Under Fire (1983)
The Challenge (1982)
First Blood (1982)
Inchon (1982)
Poltergeist (1982)
The Secret of NIMH (1982)
The Final Conflict (1981)
Night Crossing (1981)
Outland (1981)
Raggedy Man (1981)
The Salamander (1981)
Caboblanco (1980)
Alien (1979)
The Great Train Robbery (1979)
Players (1979)
Star Trek: The Motion Picture (1979)
The Boys from Brazil (1978)
Capricorn One (1978)
Coma (1978)
Damien: Omen II (1978)
Magic (1978)
The Swarm (1978)
Contract on Cherry Street (1977)
Damnation Alley (1977)
High Velocity (1977)
Islands in the Stream (1977)
MacArthur (1977)
Twilight's Last Gleaming (1977)
The Cassandra Crossing (1976)
The Last Hard Men (1976)
Logan's Run (1976)
The Omen (1976)
Babe (1975)
Breakheart Pass (1975)
Breakout (1975)
A Girl Named Sooner (1975)
Medical Story (1975)
The Reincarnation of Peter Proud (1975)
Take a Hard Ride (1975)
The Terrorists (1975)
The Wind and the Lion (1975)
Chinatown (1974)
S*P*Y*S (1974)
A Tree Grows in Brooklyn (1974)
Winter Kill (1974)
Ace Eli and Rodger of the Skies (1973)
The Don Is Dead (1973)
Hawkins on Murder (1973)
Indict and Convict (1973)
One Little Indian (1973)
Papillon (1973)
Police Story (1973)
The Red Pony (1973)
Shamus (1973)
The Culpepper Cattle Company (1972)
Lights Out (1972)
The Man (1972)
The Other (1972)
Pursuit (1972)
The Brotherhood of the Bell (1971)
Crawlspace (1971)
Crosscurrent (1971)
Do Not Fold
Spindle
or Mutilate (1971)
Escape from the Planet of the Apes (1971)
The Going Up of David Lev (1971)
The Homecoming - A Christmas Story (1971)
The Last Run (1971)
The Mephisto Waltz (1971)
Wild Rovers (1971)
The Ballad of Cable Hogue (1970)
Patton (1970)
Rio Lobo (1970)
A Step Out of Line (1970)
Tora! Tora! Tora! (1970)
The Traveling Executioner (1970)
100 Rifles (1969)
The Chairman (1969)
The Illustrated Man (1969)
Justine (1969)
Bandolero! (1968)
The Detective (1968)
Planet of the Apes (1968)
Sebastian (1968)
The Flim Flam Man (1967)
Hour of the Gun (1967)
In Like Flint (1967)
The Karate Killers (1967)
Warning Shot (1967)
The Blue Max (1966)
One of Our Spies Is Missing (1966)
The Sand Pebbles (1966)
Seconds (1966)
Stagecoach (1966)
To Trap a Spy (1966)
The Trouble With Angels (1966)
The Agony and the Ecstasy (1965)
In Harm's Way (1965)
Morituri (1965)
Our Man Flint (1965)
A Patch of Blue (1965)
The Satan Bug (1965)
Von Ryan's Express (1965)
Fate Is the Hunter (1964)
Rio Conchos (1964)
Seven Days in May (1964)
Shock Treatment (1964)
The Spy With My Face (1964)
A Gathering of Eagles (1963)
Lilies of the Field (1963)
The List of Adrian Messenger (1963)
The Prize (1963)
The Stripper (1963)
Take Her
She's Mine (1963)
Freud (1962)
Lonely Are the Brave (1962)
The Spiral Road (1962)
The Crimebusters (1961)
The General with the Cockeyed ID (1961)
The Expendables (1960)
Studs Lonigan (1960)
City of Fear (1959)
Face of a Fugitive (1959)
Black Patch (1957)
Don't Bother to Knock (1952).

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Decifrando o código: Por que Matrix é de esquerda?

"Não é possível explicar a ninguém o que é a Matrix. Você tem que ver com seus próprios olhos..."

- por André Lux, crítico-spam

É incrível o número de pessoas que dizem "adorar" a trilogia Matrix, mas que coçam a cabeça e fazem cara de interrogação quando confrontados com as várias alegorias e subtextos dos filmes.

Aí, quando você pergunta por que, afinal, gostam de Matrix, respondem algo como: "Pô, puta filmão! Tem um monte de tiro, porrada e efeitos especiais animais!".

Sim, tem mesmo, mas além disso, a trilogia Matrix consegue passar nas entrelinhas sérios questionamentos sobre a realidade que nos cerca, inclusive política, sem precisar ser panfletário ou maniqueísta. 

Ou seja, diverte e faz pensar - aqueles que conseguem, é claro.

Para mim, os irmãos Wachawsky fizeram um filme de esquerda porque questionam os princípios básicos dos mecanismos de dominação atuais usados pelas elites econômicas para escravizar o resto da população.

O que é a Matrix, em última instância, senão uma óbvia alegoria para o circo midiático usado para deixar a maioria das pessoas vivendo em uma realidade virtual, ilusória, quase que em estado dormente enquanto são oprimidos e escravizados pela busca do lucro ilimitado? 

Os romanos chamavam isso de "pão e circo" - hoje é só circo mesmo, porque o pão só pagando.

Se não acredita em mim, repare na cor da pílula que Neo deve tomar para sair da Matrix e na cor da que deve tomar se quiser continuar vivendo na ilusão... Preciso dizer mais?



O bacana da trilogia Matrix é que ela começa nos convencendo que Neo é o "novo Jesus Cristo", alguém dotado de poderes especiais, praticamente sobrenaturais, que tem a missão de salvar os seres humanos do julgo das máquinas.

Tratado como terrorista pelas "autoridades" daquele mundo virtual, Neo tem que lutar também contra seus próprios semelhantes, contra aqueles a quem deseja salvar, mas que podem ser usados pelos agentes a qualquer hora. 

Mais uma alegoria óbvia: os agentes Smith só conseguem "entrar" dentro de quem é alienado da realidade em que vive. 

Lembram do traidor Cypher (o Judas da trilogia) dizendo "a ignorância é uma benção"? Pois para muitos é mesmo.



Assim, Neo e seus amigos realmente acreditam, como Che Guevara e tantos outros revolucionários, que é por meio da luta armada que conseguirão vencer as máquinas e libertar seu povo oprimido. 

E fazem isso com grande elegância em cenas de primor técnico, ao som da trilha sonora vibrante de Don Davis.

Agora, veja abaixo como fica a cabecinha daquelas pessoas que torcem e vibram com Neo, mas chamam gente como Che e Fidel Castro de terroristas, ao descobrirem que foram enganados pela Matrix e que serão obrigados a reverem seus conceitos pré-históricos...



Mas, surpresa! No final da trilogia, descobrimos junto com os protagonistas que as máquinas, em sua infinita capacidade lógica de manipulação da primitiva e emocional mente humana, haviam incorporado o conceito de "salvador" dentro da Matrix simplesmente para sanar uma falha sistêmica.

Ou seja, Neo não era nem o novo Jesus Cristo, nem o novo Che Guevara, mas sim apenas mais um peão no jogo de controle feito pelas máquinas para continuar escravizando a raça humana. 

Aqui mais uma alegoria clara: religião é algo que existe apenas para controlar as mentes e as ações das pessoas, fazendo-as acreditar que suas felicidades se encontram fora delas, nas mãos de um deus ou salvador ao qual devem orar e, preferivelmente, temer.



Neo tinha de ser convencido pela Oráculo, um programa criado para simular as emoções humanas e trazer equilíbrio à Matrix, que era realmente o salvador, só para descobrir no final de sua jornada que era apenas o carregador do código que iria dar um "reload" na Matrix e iniciar sua nova versão. 

Até que o sistema ficaria instável e um novo Neo apareceria para fazer tudo de outra vez.

Mas, as máquinas não previram que Oráculo iria adqurir sensibilidades humanas e agiria para desestabilizar a equação criada pelo Arquiteto, a fim de promover a paz entre homens e máquinas. 

Assim, na versão Neo 7.0, Oráculo incluiu dois itens a mais na jornada do "salvador": o amor por Trinity e um vírus no agente Smith que o levaria a contaminar toda a Matrix.



O primeiro item leva Neo a optar por salvar sua amada ao invés de dar "reboot" na Matrix e salvar a humanidade, enquanto o segundo leva a Matrix à beira da destruição. 

Portanto, Oráculo causa uma revolução ao forçar as máquinas a fazerem as pazes com os humanos, pois somente o Neo do mundo real poderia voltar à Matrix para destruir o virus Smith.

Enfim Neo torna-se realmente o "salvador" e sacrifica-se, não para alcançar a glória ou dar uma lição de moral, mas sim para salvar a humanidade da opressão e da ilusão... Simplesmente genial!



Claro que não vou agradar a todos com essa minha interpretação da trilogia Matrix, mas tudo bem. 

Como disse o próprio Morpheus, "Não é possível explicar a ninguém o que é a Matrix. Você tem que ver com seus próprios olhos..."



Mas o vídeo abaixo, que chamo de "Matrix para Lesados", talvez dê uma força!