quarta-feira, 22 de julho de 2020

“Indústria Americana” evidencia a precarização do trabalho no capitalismo neoliberal



Documentário serve para promover debates acadêmicos, mas acaba sendo pouco para um tema tão quente e explosivo como esse

- por André Lux

Vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2019, “Indústria Americana” tem entre seus financiadores a Netflix e o casal Barack e Michele Obama, via sua produtora Higher Ground. Por mais que os cineastas Steven Bognar e Julia Reichert façam o máximo para deixar o filme com um ar neutro, é óbvio desde o início que eles tem lado – algo louvável, afinal nada mais desonesto do que fingir imparcialidade.

O documentário começa em 2008 mostrando fechamento de uma grande fábrica da GM na cidade de Dayton, nos EUA, tema de outro filme da dupla “The Last Truck: Closing of a GM Plant” que aborda justamente o fechamento dessa fábrica. Pulamos então para 2015, quando uma empresa chinesa que produz vidros automotivos monta uma nova indústria no mesmo local.

Se no início o clima é de otimismo e cooperação entre a mão de obra estadunidense e a chinesa, logo as coisas começam a desandar e os conflitos explodem. A mentalidade oposta com que as duas culturas encaram o trabalho é a mola propulsora para o desequilíbrio. Se na China o trabalho é visto como um fim em si a serviço da comunidade, no EUA (e no resto da cultura ocidental) ele é apenas um meio para que a pessoa possa ganhar dinheiro a fim de pagar suas contas e aproveitar os momentos de folga. Esse choque cultural fica ainda mais evidente quando um grupo de funcionários estadunidenses viaja até a China para acompanhar os festejos do ano novo daquele país dentro da tradição da empresa.

Dupla de cineastas com o casal Obama
Apesar de jamais interferir nas filmagens, a dupla de cineastas constrói a narrativa de “Indústria Americana” a partir de um tom obviamente crítico ao capitalismo neoliberal que tem como seus pilares a precarização do trabalho e a destruição dos sindicatos. Eles fazem questão de enfatizar a queda do rendimento dos trabalhadores (que recebem a metade do salário que ganhavam da GM), a falta de segurança no trabalho e a pressão dos empregadores chineses para que rejeitem a sindicalização.

Neste sentido os chineses são pintados como hipócritas, uma vez que na China os sindicatos são celebrados como intrínsecos e necessários à vida dos trabalhadores, enquanto nos EUA eles fazem de tudo para impedir que seus funcionários se sindicalizem. Chega, portanto, a ser contraditório o esforço que os cineastas fazem para “humanizar” os chineses, dando enfoque ao relacionamento familiar deles e aos parcos laços que constroem com os estadunidenses.

No final, o que “Indústria Americana” confirma é que tanto o capitalismo neoliberal dos EUA quanto o capitalismo totalitário chinês são duas faces da mesma moeda que tem como objetivo, em última instância, espremer os trabalhadores até não sobrar nada. Um em nome do “sonho americano” e outro da “grandeza coletiva” o que, no final das contas, enche de dinheiro os bolsos apenas de meia dúzia de pessoas. Nesse sentido, “Indústria Americana” serve para promover debates acadêmicos, mas acaba sendo pouco para um tema tão quente e explosivo como esse.

Cotação: ***

domingo, 19 de julho de 2020

Fascismo Explicado (por quem entende)


O professor de Filosofia em Yale e autor do livro Como Funciona o Fascismo conversa com Átila Imarino sobre o que é o fascismo, o que tem em comum e diferente em relação à outras ideologias e como os capitalistas liberais estão sempre associados a esse tipo de regime autoritário e anti-povo. Também falamos sobre moralidade, o combate ao politicamente correto e como acontece a interação de ideais fascistas com redes sociais e com a COVID.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Ennio Morricone: adeus ao mestre


Morreu hoje o grande Ennio Morricone, um dos maiores compositores de todos os tempos, especialista em música para filmes. Mais um gigante que vai embora... tristeza.

Morto aos 91 anos idade, em decorrência de uma queda, o maestro e compositor italiano Ennio Morricone deixou um obituário escrito de próprio punho e no qual explica a razão de ter determinado que seu funeral seja privado. "Não quero dar trabalho", escreveu o músico vencedor de dois prêmios no Oscar, um pelo conjunto de sua obra, em 2007, e outro pela trilha sonora original de "Os Oito Odiados", de Quentin Tarantino, em 2016

A mensagem foi divulgada pelo amigo e advogado de Morricone, Giorgio Assumma, e será publicada nos principais jornais italianos amanhã. Confira abaixo o obituário deixado pelo maestro:

Ennio Morricone está morto. Anuncio assim a todos os amigos que estiveram próximos e àqueles um pouco distantes, a quem saúdo com grande afeto. É impossível nomear todos, mas uma recordação particular vai para Peppuccio e Roberta, amigos fraternos muito presentes nos últimos anos de nossa vida. Há apenas uma razão que me faz cumprimentar todos dessa maneira e ter um funeral de forma privada: não quero dar trabalho. Saúdo com tanto afeto Ines, Laura, Sara, Enzo, Norbert, por terem compartilhado comigo e minha família grande parte da minha vida. Quero recordar com amor minhas irmãs Adriana, Maria, Franca e seus parentes e dizer o quanto as quis bem. Uma saudação plena, intensa e profunda a meus filhos Marco, Alessandra, Andrea, Giovanni, a minha nora Monica e a meus netos Francesca, Valentina, Francesco e Luca. Espero que saibam o quanto os amei. Por último, Maria (mas não a última). A ela, renovo o amor extraordinário que nos manteve juntos e o qual lamento abandonar. A ela, o mais doloroso adeus...

sexta-feira, 19 de junho de 2020

"Mad Max 2" é o melhor filme de ação de todos os tempos!



Produzido em 1981, longa continua a impressionar pela qualidade das cenas de perseguição e trombadas, sem dúvida as mais bem feitas do cinema. Música de Brian May é um dos maiores destaques.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Filmes: A LIGA EXTRAORDINÁRIA



LIXO EXTRAORDINÁRIO

Mais um filme de fantasia pavoroso que tentam salvar enfiando um monte de efeitos visuais exagerados

- por André Lux


Houve um tempo em que filmes de aventura e fantasia tinham que ser fortemente baseados em bons roteiros, direções inventivas e interpretações vigorosas caso contrário virariam motivo de chacota, já que naquela época não havia tecnologia disponível para grandes tomadas com efeitos visuais. Isso antes do advento da computação gráfica, recurso que (como toda inovação) pode tanto ser usado para o ‘bem’, quanto para o ‘mal’. Infelizmente, diferente de obras como O SENHOR DOS ANÉIS de Peter Jackson, essa A LIGA EXTRAORDINÁRIA é só mais um exemplo de um filme mal feito que tentam salvar inserindo centenas de tomadas geradas em computador.

O que não deixa de ser uma pena, já que a premissa é até interessante: pretende reunir vários personagens famosos da era Vitoriana inglesa - o Homem Invisível, Allan Quartermain (de ‘As Minas do Rei Salomão’), Capitão Nemo (de ‘Vinte Mil Léguas Submarinas’ que aqui virou um tipo de sultão árabe embora o personagem seja indiano!), Dr. Jekyl (que vira Mr. Hyde), Mina (de ‘Drácula’), Dorian Gray (do livro de Oscar Wilde) e Tom Sawyer (criado por Mark Twain) - numa Liga que precisa combater um vilão terrível.

Apesar de ter sido baseado numa obra de Alan Moore (o gênio por trás de grandes quadrinhos como WATCHMEN e V DE VINGANÇA) o roteiro de James Robinson é muito ruim, truncado e não explica nada direito. Pior, tem um monte de furos, como um vampiro que anda à luz do dia e usa um espelho para retocar a maquiagem, além de uma cena ridícula perto do final quando o Homem-Invisível aparece depois de andar pelado numa nevasca para não ser visto!

Mas o que mais incomoda é realmente a ruindade da produção. A começar pela fotografia escura e sem colorido. O desenho de produção também é pavoroso, tendo como ponto mais baixo o submarino Nautilus, uma total aberração tanto em termos de design como concepção (é ridiculamente gigantesco sem necessidade e super avançado, chegando até a lançar mísseis – isso em 1890!).

O astro Sean Connery (aqui no papel de Allan Quartermain, que assina também como produtor executivo) brigou feio com o diretor Stephen Norrington (do também ruim BLADE – O CAÇA VAMPIROS) durante as filmagens. E, a julgar pelo que se vê na tela, o ator tinha razão. A direção de Norrington é péssima, sem rumo, deixa os atores perdidos ou descontrolados (a má vontade de Connery com o projeto fica evidente em sua atuação burocrática e infelizmente esta foi sua última aparição nas telas), cheia de enquadramentos ruins e falhas gritantes. Há, por exemplo, uma cena no mar enquanto o Nautilus deslancha a uma velocidade absurdamente alta, enquanto os atores aparecem na torre de comando conversando ao ar livre sem que haja qualquer vento ou mesmo movimento no oceano atrás deles!

São erros toscos como essa que deixam o filme quase insuportável, ainda mais quando tentam consertar isso (ou será disfarçar?) enfiando um monte de efeitos visuais exagerados e apelando para uma edição rápida cheia de cortes bruscos que deixa as lutas e cenas de ação ininteligíveis. Se não bastasse tudo isso, ainda existem tentativas de se fazer humor com aquelas infames piadinhas fora de hora e um monstro ridículo (o Mr. Hyde), que conseguiu ser ainda pior que o lamentável HULK, do Ang Lee. A única coisa boa do filme é a música composta por Trevor Jones, mas é praticamente inaudível durante a projeção já que foi a mixagem a enterrada em baixo dos efeitos sonoros.

Sinceramente, não dá pra ver esse LIGA EXTRAORDINÁRIA nem como comédia involuntária (daquelas que como o acima citado HULK fazem rir nas horas erradas), de tão aborrecido e irritante que é. Quando vemos um filme horroroso como esse é que percebemos o quão bons são X-MEN, de Bryan Singer, ou SUPERMAN, de Richard Donner. Melhor revê-los do que perder tempo como esse ‘Lixo Extraordinário’!

Cotação: *

sexta-feira, 12 de junho de 2020

“Meu Rei” traça um retrato do narcisista perverso e de como destroem suas presas


Ações do abusador são tão brutais que impedem que a vítima reaja e causam Estresse Pós-Traumático Complexo, Depressão, Ansiedade e até suicídio

- por André Lux, jornalista e psicanalista

“Meu Rei” é um filme perturbador, difícil de assistir, assim como todos que tem como tema central as criaturas acometidas pelo Transtorno de Personalidade Narcisista, sem dúvida o mais monstruoso dos descritos no DSM, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

São duas horas de suplício, durante as quais testemunhamos o inferno em que vive Tony (Emmanuelle Bercot), uma mulher frágil e com baixa auto-estima que tem sua vida literalmente destruída depois que se apaixona por Georgio (Vincent Cassel), um homem a princípio sedutor e carinhoso, mas que logo se revela uma narcisista perverso, capaz de abandoná-la quando está pretes a ter um filho. “Resolvi que quero morar sozinho agora, você está muito chata”, anuncia ele como quem diz que vai ao banheiro, demonstrando aí a incapacidade desse tipo de criatura de sentir empatia, compaixão ou remorso - fatores que levam os narcisistas a serem considerados também psicopatas.

O abuso físico e, principalmente, psicológico sofrido por Tony nas mãos do seu ex-marido, que incluem usar o amor dela pelo filho do casal para atormentá-la, levam ela inclusive a tentar se suicidar duas vezes. Por sinal, existe outra personagem no filme, uma ex-namorada dele, que passa o tempo todo orbitando à sua volta a qual ele usa para fazer as famigeradas “triangulações” e “gaslighting” usadas por quem tem transtorno narcisista para enlouquecer ainda mais suas vítimas.

O narcisista perverso usa os filhos para atormentar a vitima
 A cineasta francesa Maïwenn é muito hábil em construir a narrativa que se inicia com a protagonista sofrendo um acidente enquanto esquiava na neve, anos depois de ter sido descartada, porém ainda sofrendo abuso pelo ex-marido, mostrando a concretização da dor psíquica em dor física literal, que é o estágio máximo atingido por quem sofre nas mãos desse tipo de criatura. A partir daí começamos a entender o tormento em que ela vive e somos então apresentados à história de seu trágico “relacionamento” via flashbacks.

Os atores são excelentes, com destaque para o vigoroso Vincent Cassel que como sempre se entrega totalmente ao personagem, alternando charme e sedução com agressividade e crueldade, onde por meio da manipulação e da mentira patológica sempre vira o jogo ao seu favor convencendo a todos (inclusive a pobre Tony!) que ele é a vítima e não o abusador (de longe o maior “super poder” das criaturas narcisistas).

O que mais angustia é justamente a inação da protagonista que, como toda vítima do abuso narcísico, é incapaz de entender como alguém que tanto a “amava” da noite para o dia passa a trata-la como um trapo velho, tornando-se logo seu maior inimigo e capaz de perpetrar as maiores barbaridades contra ela, inclusive leva-la à falência e fazer de tudo para prejudicar a relação dela com seu filho.

As ações do narcisista perverso são tão brutais que impedem que a vítima reaja, tamanha a crueldade e o sadismo delas, algo que simplesmente “frita” o cérebro da pessoa e, além de gerar Estresse Pós-Traumático Complexo, pode levar a um quadro de Depressão, Ansiedade, Síndrome do Pânico e até suicídio.

Infelizmente, este é um assunto pouco estudado no Brasil e é raro encontrar um profissional da saúde mental capaz de ajudar efetivamente uma vítima desse tipo de abuso, sendo que muitos inclusive tratam os pacientes com desdém, fator que pode agravar ainda mais o frágil estado deles. Embora esse tipo de transtorno acometa mais aos homens estatisticamente falando, também podemos encontrar muitas mulheres que o possuem.

“Meu Rei” é um filme que, além de ser ótimo cinema dentro do gênero que se propõe, ainda ajuda a jogar luz sobre essa questão tão importante para a saúde pública. Neste sentido deveria ser obrigatório para quem trabalha com saúde mental, especialmente os estudantes de psicologia, psicanálise e psiquiatria.

Cotação: * * * *

quinta-feira, 11 de junho de 2020

EXPLICANDO PARA QUEM NÃO ENTENDE O ABUSO NARCISISTA

Uma das violências mais terríveis a que alguém pode ser submetido é o abuso realizado por narcisistas patológicos, algo que muitos profissionais da saúde mental desconhecem e tratam com desdém até, agravando ainda mais a situação das vítimas.






terça-feira, 9 de junho de 2020

Luto: Jundiaí perde Josette Feres


- Por ARIADNE GATTOLINI no jornal de jundiaí

A musicista Josette Silveira Mello Feres faleceu nestas segunda (8), em decorrência de problemas de saúde.

Ela ficou internada somente um dia após se sentir mal em sua residência.

Josette Feres fundou a Escola de Música Jundiaí (EMJ), em 1971. Formada em música, ela foi aluna de Villa-Lobos e criou o primeiro método de ensino de música a bebês. Sua pedagogia foi levada a diversos países e era uma das autoras brasileiras mais acessadas e consultadas no meio musical.

Graças à pedagogia própria, Josette Feres formou grandes expoentes musicais eruditos, que hoje atuam em orquestras em todo o mundo. Seu método é aplicado em diversas escolas, assim como suas músicas, de autoria própria, que seguem sendo executadas em todo o mundo. Josette era uma pessoa simples, dedicada a suas flores e à família. 

Aos 85 anos, ainda dava aulas de piano a alunos que pediam para se aperfeiçoar ou conhecer seu método. Comumente, abria sua casa como extensão da Escola de Música Jundiaí e não raro a casa era uma espécie de abrigo, proteção e de encontros musicais.

Sua simplicidade era levada a sua pedagogia diária. Tinha como premissa de vida facilitar o acesso às partituras, desmitificava os métodos difíceis e incansavelmente estudava formas de ensinar que facilitassem a vida dos alunos. Foi uma das precursoras da inclusão educacional, formando muitos alunos com deficiência. 

Era incansável ao defender a música como propulsora de mudança social e a queria nas escolas públicas, desde que com qualidade. Deixa o marido Samy e os filhos Roberto, Renato, Sônia, Cláudia e Luciana, centenas de alunos, amigos e fãs.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

terça-feira, 26 de maio de 2020

“O Farol” é um terror psicológico forte passível de diversas interpretações


Roteiro aberto e cheio de referências a mitos gregos, obras de Lovecraft e filmes como “O Iluminado” vai atrair alguns e irritar outros

- por André Lux


Quem gosta de terror psicológico não pode perder “O Farol”, segundo longa do cineasta Robert Eggers que chamou a atenção em sua estreia com “A Bruxa”. Seu novo filme foi todo fotografado em preto e branco no aspecto 1.19:1, o qual deixa a tela praticamente quadrada, tudo isso para deixa-lo como se tivesse sido produzido nos primórdios do cinema.

O roteiro, que foi escrito pelo cineasta e seu irmão, mostra a vida de dois personagens que trabalham cuidando de um farol localizado numa ilha isolada. O mais velho e experiente é feito por Willem Dafoe, veterano conhecido pela capacidade de convencer em qualquer tipo de personagem, enquanto o mais jovem fica na pele de Robert Pattinson, o famoso vampiro da série “Crepúsculo” que demonstra aqui ser um excelente e destemido ator. À medida que o tempo avança e o isolamento domina, ambos começam a demonstrar sinais de loucura e partem para a bebedeira e a agressão crescente.

Mas este é um daqueles filmes chamados de “abertos”, ou seja, é do tipo que vai ficando cada vez mais alucinante ao mesmo tempo que joga diversas referências à mitologias, por exemplo, mas sem nunca dar explicações sobre o que realmente está acontecendo. Sobra então para o pobre espectador tentar entender o que diabos ele viu, uma aproximação que certamente atrai alguns enquanto irrita outros.

Dessa forma, tudo pode ser apenas o delírio de um dos personagens, atormentado por erros cometidos no passado, uma releitura moderna do mito grego de Prometeus e obras de H.P. Lovecraft ou o produto da ação de uma entidade maligna concentrada no farol e que aos poucos vai dominando a mente e o corpo dos protagonistas. Essa última leitura deixa “O Farol” parecido com “O Iluminado”, tanto é que o próprio diretor afirmou ter feito uma citação ao filme de Kubrick na cena em que um personagem persegue o outro com um machado.

Se você pesquisar sobre este filme na internet vai encontrar um monte de cinéfilos e críticos tentando dar explicações sobre o filme e, principalmente, seu final, porém são meras conjecturas, pois como afirmei acima o roteiro não dá qualquer explicação lógica para o que realmente está ocorrendo, ficando assim aberto para qualquer tipo de interpretação.

Na minha singela opinião, apesar de achar que as três aproximações se fundem, “O Farol” faz mais sentido sob a lógica de um filme de terror onde os personagens são influenciados por uma entidade, algo que fica meio latente pelo uso da trilha musical bastante assustadora composta por Mark Korven, pelo estilo de fotografia e enquadramentos e, principalmente, pela atuação de Dafoe e Pattinson, ambos num verdadeiro “tour de force” de total entrega aos papeis inclusive em cenas escatológicas e de forte cunho sexual.

Por tudo isso obviamente não é um filme para todos e certamente vai aborrecer e causar repulsa em muita gente. É um prato forte. Veja por sua conta e risco.

Cotaçâo: ****

quarta-feira, 20 de maio de 2020

“After Life” faz rir e chorar enquanto provoca reflexões sobre o sentido da vida


Série aborda temas considerados tabus como depressão, luto e suicídio de forma tocante, mas também irônica

- por André Lux


“After Life” é uma série criada e estrelada por Rick Gervais, famoso pela versão original de “The Office”, depois adaptada nos EUA, o que fez dele um comediante muito rico (como o próprio se define hoje, ironicamente).

Trata-se da história de Tony, um jornalista morador de uma pequena cidade do interior da Inglaterra que acaba de perder sua esposa para o câncer. Os episódios começam sempre com gravações feitas por ela para tentar prepara-lo para o pior e tentar incentiva-lo a seguir em frente, porém sem sucesso. O protagonista perde a vontade de viver e passa os dias considerando se deve ou não tirar sua própria vida para acabar com o sofrimento da perda e, por causa disso, torna-se extremamente ácido e indiferente, falando tudo que tem vontade sem medir as consequências – “é um espécie de super-poder”, considera a princípio.

O que poderia se tornar uma série de sequências enfadonhas e pesadas, vira uma comédia de humor sombrio graças ao estilo de Gervais, que dá ênfase a sacadas irônicas e sarcásticas com alto grau de humor auto-depreciativo e questionamentos ao sentido da vida (Gervais é ateu militante e obviamente alfineta as religiões sempre que pode).

A interação entre Tony e as pessoa que o cercam, sejam elas seu cunhado, colegas de trabalho, a enfermeira que cuida de seu pai com Alzheimer ou seu carteiro intrometido, são o ponto alto da série. São particularmente tocantes as cenas entre Gervais e a senhora que visita o ex-marido, cujo túmulo fica ao lado do da esposa dele. São impagáveis também as matérias bizarras que ele e seu fotógrafo fazem com as pessoas da comunidade, entre elas um rapaz que toca duas flautas com as narinas e um sujeito que acha que a mancha que apareceu em sua parede tem as feições do cineasta Kenneth Brannagh.

Chama a atenção a maneira eficaz com que Gervais consegue extrair drama e comédia ao mesmo tempo de situações inusitadas geradas pela convivência dele com esse grande número de personagens bisonhos, esquisitos ou desajustados. A série é muito interessante também por tocar de forma direta em vários temas considerados tabus em nossa sociedade, tais como depressão, luto e suicídio, sempre de forma tocante, mas também irônica.

“After Life” tem as raras qualidades de fazer rir e chorar ao mesmo tempo que provoca uma reflexão mais profunda sobre os temas abordados sem nunca cair para a pieguice ou resoluções simplistas.

A segunda temporada acaba de estrear na Netflix. Assista, pois vale a pena!

Cotação: ****

“O Homem Invisível” é um excelente retrato do abuso velado feito por narcisistas


Filme mostra a essência do “gaslighting”, cujo objetivo é enlouquecer a vítima

- por André Lux


É bem interessante esta nova leitura do clássico “O Homem Invisível”, baseada na obra de H.G. Wells, e que já teve inúmeras versões para o cinema. A novidade é transformar o invisível em um abusador violento e neste sentido o filme torna-se um excelente retrato das pessoas que sofrem de Transtorno de Personalidade Narcisista, uma espécie de psicopatia que pode levar os outros literalmente à loucura, especialmente no uso do “gaslighting” que é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.

O longa começa de forma exemplar e muito bem construída, onde tudo que precisa ser estabelecido em relação ao tema principal é dito sem qualquer diálogo, apenas música e efeitos sonoros, em uma agoniante sequência onde a protagonista tenta escapar da casa de seu namorado. A partir daí o diretor Leigh Whannell escala no suspense construindo tomadas espaçosas onde apenas pequenos detalhes da presença do “Homem Invisível” aparecem (como a cena do fogão).

A protagonista feita pela competente Elisabeth Moss (de “O Conto da Aia”) começa a desconfiar que existe algo errado, mas seu algoz é muito hábil em perturbá-la sem deixar vestígios, o que vai gerando cada vez mais paranoia nela e perturbação nas pessoas à sua volta, que passam a achar que ela está com algum problema mental. Essa é a essência do “gaslighting”, enlouquecer a vítima ao mesmo tempo que faz com que pareça uma pessoa desequilibrada para os outros. Só quem passou por isso sabe o quanto esse tipo de abuso é cruel e destruidor.

O filme só cai um pouco perto do final, quando as revelações são feitas e a ação descamba para perseguições e tiroteios por demais forçados, com os personagens agido fora de suas características. Mesmo assim, “O Homem Invísivel” mantém sua qualidade e tem uma resolução forte e catártica, que certamente vai agradar muito quem já foi vítima de abuso como o mostrado no filme. Dentro do gênero suspense com pitadas de terror, está certamente acima da média.

Cotação: * * *1/2

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Recomendo: ANITTA E A AULA DE POLÍTICA DA GABRIELA PRIOLI

A Gabriela Prioli deu uma aula de política para a Anitta. Entenda porque foi uma das coisas mais bonitas deste final de semana!

sexta-feira, 1 de maio de 2020

“Tales From the Loop” vai agradar quem busca ficção científica reflexiva


Os episódios são longos, mas deixam um gosto de “quero mais”, sempre um dos maiores elogios

- por André Lux


Para quem gosta de filmes ou séries de ficção científica reflexivas e originais, eu recomendo “Tales From The Loop” exibida pelo Amazon Prime Video. São oito episódios livremente inspirados em um livro de artes e contos do suíço Simon Stalenhag que acontecem numa pequena cidade do estado de Ohio, nos Estados Unidos, unidas por uma instituição misteriosa que funciona no subsolo e que aparentemente tem influência sobre a cidade toda.

Cada episódio conta uma história independente, porém quase sempre interligada de maneira sutil aos personagens principais e seus arredores. O clima da série é existencial, com ênfase no ritmo lento e minimalista, embalado por uma trilha musical composta por ninguém menos que Phillip Glass (músicas adicionais são creditadas a Paul Leonard-Morgan, mas seguem o estilo de Glass).

Essa aproximação certamente vai aborrecer muitas pessoas, acostumadas a series frenéticas como “Stranger Things” e “Black Mirror”, porém quem for capaz de emergir na proposta ficará fascinado, assim como fiquei.

O mais interessante é que nenhuma explicação é dada para os eventos bizarros que acontecem em cada episódio, apenas que tudo tem conexão a um objeto misterioso o qual os cientistas chamam de “Eclipse” que pode ser alienígena ou fruto de alguma experiência. Assim, personagens viajam ao futuro, vão parar em universos paralelos, congelam o tempo, trocam de corpos e assim por diante. Nada de novo no universo do gênero. A novidade aqui, porém, é ausência de explicações e a ênfase nas consequências que cada experiência traz para a vida de seus protagonistas e dos que os rodeiam.

Tecnicamente brilhante, com fotografia esplêndida e efeitos especiais fluídos e um elenco homogêneo e competente, “Tales From the Loop” impressiona pela capacidade de nos jogar dentro daquele mundo, sem nunca perder o interesse. Realidade essa que pode muito bem ser a de um universo paralelo, já que o comportamento letárgico das pessoas e a total ausência de referências à cultura pop dão a impressão que se trata realmente de um mundo espelho do nosso, porém diferente.

Os episódios são longos, cerca de 50 minutos cada, mas deixam sempre um gosto de “quero mais”, certamente um dos maiores elogios. A série foi criada por Nathaniel Halpern e tem Matt Reeves, diretor de “Cloverfield” e do novo “Batman”, como produtor executivo. Para quem procura algo diferente e imersivo, recomendo com louvor.

Cotação: ****

segunda-feira, 20 de abril de 2020

"Heal" faz marketing do charlatanismo


- por André Lux

"Heal" é  um "documentário" que faz  propaganda descarada da famigerada auto-ajuda e seus gurus.

Repleto de frases feitas e depoimentos duvidosos dos maiores charlatões do gênero, como o ridículo Deepak Chopra, e de inocentes úteis que acreditam que foram realmente "curados" pelas pseudociências que pregam quase como uma nova religião.

Pode ser que o "poder da mente" e do "pensamento positivo" ajude as pessoas a melhorarem (assim como fazem os placebos), porém sem cuidados médicos e/ou psicólogos  muita gente morre por causa dessa ladainha ou então permanece parada no tempo com suas neuroses e traumas sendo usadas para gerar riqueza para os gurus picaretas.

Se fosse um documentário sério procuraria também  depoimentos das vítimas desse tipo de vigarice que está se proliferando como praga.

Por quê? Simples: porque oferece pseudo-soluções fáceis e rápidas para problemas graves e profundos que só podem ser realmente tratados por bons profissionais das áreas da psicanálise e/ou da psiquiatria (porque tem muito vigarista e incompetente nessas áreas também). Fujam!

Cotação: Zero