sexta-feira, 29 de maio de 2020

terça-feira, 26 de maio de 2020

“O Farol” é um terror psicológico forte passível de diversas interpretações


Roteiro aberto e cheio de referências a mitos gregos, obras de Lovecraft e filmes como “O Iluminado” vai atrair alguns e irritar outros

- por André Lux


Quem gosta de terror psicológico não pode perder “O Farol”, segundo longa do cineasta Robert Eggers que chamou a atenção em sua estreia com “A Bruxa”. Seu novo filme foi todo fotografado em preto e branco no aspecto 1.19:1, o qual deixa a tela praticamente quadrada, tudo isso para deixa-lo como se tivesse sido produzido nos primórdios do cinema.

O roteiro, que foi escrito pelo cineasta e seu irmão, mostra a vida de dois personagens que trabalham cuidando de um farol localizado numa ilha isolada. O mais velho e experiente é feito por Willem Dafoe, veterano conhecido pela capacidade de convencer em qualquer tipo de personagem, enquanto o mais jovem fica na pele de Robert Pattinson, o famoso vampiro da série “Crepúsculo” que demonstra aqui ser um excelente e destemido ator. À medida que o tempo avança e o isolamento domina, ambos começam a demonstrar sinais de loucura e partem para a bebedeira e a agressão crescente.

Mas este é um daqueles filmes chamados de “abertos”, ou seja, é do tipo que vai ficando cada vez mais alucinante ao mesmo tempo que joga diversas referências à mitologias, por exemplo, mas sem nunca dar explicações sobre o que realmente está acontecendo. Sobra então para o pobre espectador tentar entender o que diabos ele viu, uma aproximação que certamente atrai alguns enquanto irrita outros.

Dessa forma, tudo pode ser apenas o delírio de um dos personagens, atormentado por erros cometidos no passado, uma releitura moderna do mito grego de Prometeus e obras de H.P. Lovecraft ou o produto da ação de uma entidade maligna concentrada no farol e que aos poucos vai dominando a mente e o corpo dos protagonistas. Essa última leitura deixa “O Farol” parecido com “O Iluminado”, tanto é que o próprio diretor afirmou ter feito uma citação ao filme de Kubrick na cena em que um personagem persegue o outro com um machado.

Se você pesquisar sobre este filme na internet vai encontrar um monte de cinéfilos e críticos tentando dar explicações sobre o filme e, principalmente, seu final, porém são meras conjecturas, pois como afirmei acima o roteiro não dá qualquer explicação lógica para o que realmente está ocorrendo, ficando assim aberto para qualquer tipo de interpretação.

Na minha singela opinião, apesar de achar que as três aproximações se fundem, “O Farol” faz mais sentido sob a lógica de um filme de terror onde os personagens são influenciados por uma entidade, algo que fica meio latente pelo uso da trilha musical bastante assustadora composta por Mark Korven, pelo estilo de fotografia e enquadramentos e, principalmente, pela atuação de Dafoe e Pattinson, ambos num verdadeiro “tour de force” de total entrega aos papeis inclusive em cenas escatológicas e de forte cunho sexual.

Por tudo isso obviamente não é um filme para todos e certamente vai aborrecer e causar repulsa em muita gente. É um prato forte. Veja por sua conta e risco.

Cotaçâo: ****

quarta-feira, 20 de maio de 2020

“After Life” faz rir e chorar enquanto provoca reflexões sobre o sentido da vida


Série aborda temas considerados tabus como depressão, luto e suicídio de forma tocante, mas também irônica

- por André Lux


“After Life” é uma série criada e estrelada por Rick Gervais, famoso pela versão original de “The Office”, depois adaptada nos EUA, o que fez dele um comediante muito rico (como o próprio se define hoje, ironicamente).

Trata-se da história de Tony, um jornalista morador de uma pequena cidade do interior da Inglaterra que acaba de perder sua esposa para o câncer. Os episódios começam sempre com gravações feitas por ela para tentar prepara-lo para o pior e tentar incentiva-lo a seguir em frente, porém sem sucesso. O protagonista perde a vontade de viver e passa os dias considerando se deve ou não tirar sua própria vida para acabar com o sofrimento da perda e, por causa disso, torna-se extremamente ácido e indiferente, falando tudo que tem vontade sem medir as consequências – “é um espécie de super-poder”, considera a princípio.

O que poderia se tornar uma série de sequências enfadonhas e pesadas, vira uma comédia de humor sombrio graças ao estilo de Gervais, que dá ênfase a sacadas irônicas e sarcásticas com alto grau de humor auto-depreciativo e questionamentos ao sentido da vida (Gervais é ateu militante e obviamente alfineta as religiões sempre que pode).

A interação entre Tony e as pessoa que o cercam, sejam elas seu cunhado, colegas de trabalho, a enfermeira que cuida de seu pai com Alzheimer ou seu carteiro intrometido, são o ponto alto da série. São particularmente tocantes as cenas entre Gervais e a senhora que visita o ex-marido, cujo túmulo fica ao lado do da esposa dele. São impagáveis também as matérias bizarras que ele e seu fotógrafo fazem com as pessoas da comunidade, entre elas um rapaz que toca duas flautas com as narinas e um sujeito que acha que a mancha que apareceu em sua parede tem as feições do cineasta Kenneth Brannagh.

Chama a atenção a maneira eficaz com que Gervais consegue extrair drama e comédia ao mesmo tempo de situações inusitadas geradas pela convivência dele com esse grande número de personagens bisonhos, esquisitos ou desajustados. A série é muito interessante também por tocar de forma direta em vários temas considerados tabus em nossa sociedade, tais como depressão, luto e suicídio, sempre de forma tocante, mas também irônica.

“After Life” tem as raras qualidades de fazer rir e chorar ao mesmo tempo que provoca uma reflexão mais profunda sobre os temas abordados sem nunca cair para a pieguice ou resoluções simplistas.

A segunda temporada acaba de estrear na Netflix. Assista, pois vale a pena!

Cotação: ****

“O Homem Invisível” é um excelente retrato do abuso velado feito por narcisistas


Filme mostra a essência do “gaslighting”, cujo objetivo é enlouquecer a vítima

- por André Lux


É bem interessante esta nova leitura do clássico “O Homem Invisível”, baseada na obra de H.G. Wells, e que já teve inúmeras versões para o cinema. A novidade é transformar o invisível em um abusador violento e neste sentido o filme torna-se um excelente retrato das pessoas que sofrem de Transtorno de Personalidade Narcisista, uma espécie de psicopatia que pode levar os outros literalmente à loucura, especialmente no uso do “gaslighting” que é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.

O longa começa de forma exemplar e muito bem construída, onde tudo que precisa ser estabelecido em relação ao tema principal é dito sem qualquer diálogo, apenas música e efeitos sonoros, em uma agoniante sequência onde a protagonista tenta escapar da casa de seu namorado. A partir daí o diretor Leigh Whannell escala no suspense construindo tomadas espaçosas onde apenas pequenos detalhes da presença do “Homem Invisível” aparecem (como a cena do fogão).

A protagonista feita pela competente Elisabeth Moss (de “O Conto da Aia”) começa a desconfiar que existe algo errado, mas seu algoz é muito hábil em perturbá-la sem deixar vestígios, o que vai gerando cada vez mais paranoia nela e perturbação nas pessoas à sua volta, que passam a achar que ela está com algum problema mental. Essa é a essência do “gaslighting”, enlouquecer a vítima ao mesmo tempo que faz com que pareça uma pessoa desequilibrada para os outros. Só quem passou por isso sabe o quanto esse tipo de abuso é cruel e destruidor.

O filme só cai um pouco perto do final, quando as revelações são feitas e a ação descamba para perseguições e tiroteios por demais forçados, com os personagens agido fora de suas características. Mesmo assim, “O Homem Invísivel” mantém sua qualidade e tem uma resolução forte e catártica, que certamente vai agradar muito quem já foi vítima de abuso como o mostrado no filme. Dentro do gênero suspense com pitadas de terror, está certamente acima da média.

Cotação: * * *1/2

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Recomendo: ANITTA E A AULA DE POLÍTICA DA GABRIELA PRIOLI

A Gabriela Prioli deu uma aula de política para a Anitta. Entenda porque foi uma das coisas mais bonitas deste final de semana!

sexta-feira, 1 de maio de 2020

“Tales From the Loop” vai agradar quem busca ficção científica reflexiva


Os episódios são longos, mas deixam um gosto de “quero mais”, sempre um dos maiores elogios

- por André Lux


Para quem gosta de filmes ou séries de ficção científica reflexivas e originais, eu recomendo “Tales From The Loop” exibida pelo Amazon Prime Video. São oito episódios livremente inspirados em um livro de artes e contos do suíço Simon Stalenhag que acontecem numa pequena cidade do estado de Ohio, nos Estados Unidos, unidas por uma instituição misteriosa que funciona no subsolo e que aparentemente tem influência sobre a cidade toda.

Cada episódio conta uma história independente, porém quase sempre interligada de maneira sutil aos personagens principais e seus arredores. O clima da série é existencial, com ênfase no ritmo lento e minimalista, embalado por uma trilha musical composta por ninguém menos que Phillip Glass (músicas adicionais são creditadas a Paul Leonard-Morgan, mas seguem o estilo de Glass).

Essa aproximação certamente vai aborrecer muitas pessoas, acostumadas a series frenéticas como “Stranger Things” e “Black Mirror”, porém quem for capaz de emergir na proposta ficará fascinado, assim como fiquei.

O mais interessante é que nenhuma explicação é dada para os eventos bizarros que acontecem em cada episódio, apenas que tudo tem conexão a um objeto misterioso o qual os cientistas chamam de “Eclipse” que pode ser alienígena ou fruto de alguma experiência. Assim, personagens viajam ao futuro, vão parar em universos paralelos, congelam o tempo, trocam de corpos e assim por diante. Nada de novo no universo do gênero. A novidade aqui, porém, é ausência de explicações e a ênfase nas consequências que cada experiência traz para a vida de seus protagonistas e dos que os rodeiam.

Tecnicamente brilhante, com fotografia esplêndida e efeitos especiais fluídos e um elenco homogêneo e competente, “Tales From the Loop” impressiona pela capacidade de nos jogar dentro daquele mundo, sem nunca perder o interesse. Realidade essa que pode muito bem ser a de um universo paralelo, já que o comportamento letárgico das pessoas e a total ausência de referências à cultura pop dão a impressão que se trata realmente de um mundo espelho do nosso, porém diferente.

Os episódios são longos, cerca de 50 minutos cada, mas deixam sempre um gosto de “quero mais”, certamente um dos maiores elogios. A série foi criada por Nathaniel Halpern e tem Matt Reeves, diretor de “Cloverfield” e do novo “Batman”, como produtor executivo. Para quem procura algo diferente e imersivo, recomendo com louvor.

Cotação: ****

segunda-feira, 20 de abril de 2020

"Heal" faz marketing do charlatanismo


- por André Lux

"Heal" é  um "documentário" que faz  propaganda descarada da famigerada auto-ajuda e seus gurus.

Repleto de frases feitas e depoimentos duvidosos dos maiores charlatões do gênero, como o ridículo Deepak Chopra, e de inocentes úteis que acreditam que foram realmente "curados" pelas pseudociências que pregam quase como uma nova religião.

Pode ser que o "poder da mente" e do "pensamento positivo" ajude as pessoas a melhorarem (assim como fazem os placebos), porém sem cuidados médicos e/ou psicólogos  muita gente morre por causa dessa ladainha ou então permanece parada no tempo com suas neuroses e traumas sendo usadas para gerar riqueza para os gurus picaretas.

Se fosse um documentário sério procuraria também  depoimentos das vítimas desse tipo de vigarice que está se proliferando como praga.

Por quê? Simples: porque oferece pseudo-soluções fáceis e rápidas para problemas graves e profundos que só podem ser realmente tratados por bons profissionais das áreas da psicanálise e/ou da psiquiatria (porque tem muito vigarista e incompetente nessas áreas também). Fujam!

Cotação: Zero

terça-feira, 14 de abril de 2020

Palavras que nos animam


Um leitor do meu blog que se identifica apenas como "Espírito" deixou a mensagem abaixo nos comentários:

André Lux, adoro as tuas críticas de cinema, já fazia algum tempo que vinha acompanhando teu canal do youtube, e foi através de um vídeo teu que eu descobri o negócio do narcisismo e a partir dali comecei a estudar o assunto para iniciar meu processo de libertação, então tenho que te agradecer por ter aberto os meus olhos. 

O último vídeo sobre o capitalismo e o vírus, também o melhor que eu vi sobre o assunto. 

Pena que tu desativa os comentários e aí a gente não pode elogiar nem apoiar verbalmente. Sugiro que faça que nem o Peninha, libera os comentários e nunca olha, deixa os fãs e os haters se engalfinharem. 

No mais, te acho um grande cara, como se fosse um amigo pessoal meu, gostaria de um dia poder conhecer pessoalmente. Um abraço e continue o grande trabalho!

São palavras como essas que fazem a gente ter ânimo de continuar... Obrigado!

segunda-feira, 13 de abril de 2020

“A Odisseia dos Tontos” mistura de forma hábil comédia e drama com filme de roubo


Filme foi dirigido por Sebastián Borensztein (de “Um Conto Chinês”) e conta com a presença do formidável ator Ricardo Dárin

- por André Lux

Falar bem da qualidade do cinema argentino é chover no molhado. Mas não tem como a gente não bater palmas para a capacidade dos nossos vizinhos em produzir filmes que conseguem com tanta maestria mesclar diversos tipos de gêneros num mesmo produto sem nunca deixar cair a peteca.

“A Odisseia dos Tontos” foi dirigido por Sebastián Borensztein (do ótimo “Um Conto Chinês”) e conta com a presença do formidável ator Ricardo Dárin, sem dúvida um dos atores mais versáteis e carismáticos já vistos em cena.

O filme começa em tom de comédia ao apresentar os seus vários personagens, todos unidos em torno da formação de uma cooperativa que visa reformar uma velha fábrica da cidadezinha em que moram. Cada um deles possui suas características marcantes que depois vão servir para mover a trama adiante.

Mas tudo muda quando eles são vítimas de um golpe armado por um banqueiro e um advogado um dia antes da economia ruir ante a implantação das típicas medidas neoliberais em 2002, quando nada menos do que cinco presidentes tentaram em menos de 12 dias governar a Argentina depois da renúncia de Fernando de La Rua, em dezembro de 2001.

O filme muda de tom completamente frente à falência e à revolta que se abate sobre os protagonistas, algumas com trágicas consequências. Impressiona a maneira natural como Dárin abraça essa mudança. É aqui que o “A Odisseia dos Tontos” faz sua denúncia da impotência do homem comum (o “tonto”) frente à opressão do sistema capitalista e das forças governamentais que atual contra os trabalhadores e em favor sempre dos banqueiros e da elite econômica.

Mas logo a veia cômica da produção volta à tona quando o grupo recebe informações valiosas sobre o possível paradeiro do dinheiro que deles foi roubado e aí, como Robin Hood e seu bando, resolvem partir para a ação e reaver o que lhes foi tirado. A elaboração e execução do plano é o ponto alto do filme e a direção segura mantém o interesse e o suspense até a resolução.

“A Odisseia dos Tontos” mistura de forma muito hábil comédia e drama com filme de roubo e suspense, deixando a gente sempre com um sorriso no rosto, exceto claro nos momentos mais tristes. Vale a pena assistir.

Cotação: * * * 1/2

sábado, 4 de abril de 2020

“Ameaça Profunda” mistura “Alien” e “O Segredo do Abismo” com resultado irregular


Apesar dos defeitos e dos clichês, é perfeitamente desfrutável dentro do gênero "terror sub-aquático"

- por André Lux

“Ameaça Profunda” foi massacrado pela crítica e passou em branco nos cinemas, porém não chega a ser ruim. É mais um filme de terror com monstros, mas que se passa no fundo do mar e, por isso, bebe de diversas fontes, principalmente “Alien”, “O Segredo do Abismo”, “Leviathan”, “Pandorum” e “Deep Rising”, entre outros.

Confesso que gosto bastante de filmes de monstro, embaixo da água então, melhor ainda. O grande problema deste filme é que ele começa muito mal, em plena ação, já de cara com o acidente que destrói a estação sub-aquática enquanto alguns personagens tentam escapar e sobreviver.

Se fosse um filme como “Pandorum”, onde o que importa é a revelação final de quem são e de onde vieram aquelas criaturas que infestavam a nave, tudo bem. Não haveria necessidade de apresentar os personagens, nem criar conexões entre eles, já que o foco narrativo estaria fora e eles serviriam apenas para reforçar o clima de mistério e irracionalidade da trama.

Mas “Ameaça Profunda” não vai por esse caminho. Embora contenha sim criaturas desconhecidas, não são elas nem suas origens que servem de esteio à obra, mas sim o drama dos personagens em sua luta para sobreviver ao desastre e aos ataques dos monstros. Só que como não fomos apresentados a eles de maneira apropriada, tudo soa muito superficial e aí fica difícil nos identificarmos com seus problemas e medos.

O elenco é encabeçado pela fraquíssima Kristen Stewart, de “Crepúsculo”, que deveria funcionar como uma Ripley, de “Alien”, mas acaba sendo um peso morto devido à sua total falta de expressão e empatia. O comediante T. J. Miller, de “Deadpool”, tenta em vão fazer graça, porém só consegue irritar com suas piadinhas fora de hora. O único que deixa alguma impressão é o experiente Vincent Cassel, como o Capitão, pena que não tem muito o que fazer, inclusive há uma sub-trama onde ele pode saber mais do que aparenta, mas que não chega a lugar algum.

O filme é prejudicado também pelo excesso de clichês do gênero e por uma fraca trilha musical composta por Marco Beltrami e Brandon Roberts, desprovida de melodia e que só serve para provocar desconforto. Compare, por exemplo, com as sensacionais partituras que Jerry Goldsmith compôs para “Alien” e até mesmo para o fraco “Leviathan”.

*CONTÉM SPOILERS a partir daqui*

A única coisa interessante do filme é a caracterização do “chefão” das criaturas que é uma representação do famoso monstro Cthulhu, da obra do mestre do horror H.P. Lovecraft, segundo o próprio diretor de “Ameaça Profunda” revelou em uma entrevista


Mas, sinceramente, podia ser qualquer coisa, pois nem mesmo conseguimos ver direito a criatura já que a fotografia é muito escura e borrada, o que prejudica demais o resultado final. Na maior parte do tempo mal conseguimos ver o que se passa na tela, principalmente nas cenas de ataque dos monstros na água. 

Pela minha análise o filme parece pior do que realmente é. Apesar de todos os defeitos, é perfeitamente desfrutável dentro do gênero, é bem feito e até prende a atenção se você conseguir perdoar os sustos manjados.

Cotação: * * *

sexta-feira, 27 de março de 2020

“Star Trek: Picard” consegue ser ainda mais abominável que “Discovery”


Série é violenta, mal feita e tem um impressionante número de furos no roteiro, sem falar da traição ao espírito das séries criada por Gene Rodenberry

- por André Lux

É simplesmente lamentável o rumo que a franquia “Star Trek” (“Jornada nas Estrelas”) tomou depois do “reboot” iniciado por J.J. Abrams no cinema em 2009. Eu até gostei desse filme, porém começou a desandar no segundo “Star Trek: Além da Escuridão” (o terceiro foi inofensivo) e desembocou na grotesca série “Star Trek: Discovery”, certamente uma das coisas mais ridículas e ofensivas já produzida por Hollywood (clique aqui para ver minha análise das duas temporadas da série).

O grande culpado por isso certamente é um tal de Alex Kurtzman, roteirista e cineasta sofrível que simplesmente destrói tudo que põe a mão. Surge então “Star Trek: Picard”, nova tentativa do Kurtzman e do estúdio CBS em continuar lucrando em cima da franquia, dessa vez sobre o grande Jean-Luc Picard, capitão da Enterprise D em “Star Trek: A Nova Geração”. Mas sinceramente não tem absolutamente nada a ver com a série que teve sete temporadas e é muito amada pelos fãs da franquia.

Confesso que não estou entre eles. Gosto da série, porém sempre achei meio tediosa e nunca me conectei satisfatoriamente com os personagens. “Star Trek” para mim continua sendo a série original com Kirk, Spock e o doutor McCoy. Todavia, “A Nova Geração” tem muitas qualidades, sendo a principal delas justamente o capitão Picard (feito pelo grande Patrick Stewart, um inglês interpretando um francês!) que era um formidável diplomata, quase sempre conseguindo resolver os problemas com uma boa conversa racional.

Infelizmente, quando “A Nova Geração” foi para o cinema, mudaram bastante a caracterização de Picard tornando-o mais brigão e heroico, dizem que por exigência do próprio ator, algo que irritou os apreciadores da série. Porém, não chega nem perto dessa aberração chamada “Star Trek: Picard” que da franquia tem apenas os nomes. Consegue ser ainda pior e mais irritante que “Discovery”, algo que ninguém imaginava possível. É impressionante o número de furos e inconsistências no roteiro e a total falta de sentido na trama como um todo. Sério, daria para escrever um livro sobre isso se analisarmos a fundo cada episódio de tão grotescos que são.

Todavia, o que mais incomoda é como pintam a Federação dos Planetas nessa realidade, especialmente os seres humanos. Nas séries originais criadas pelo grande Gene Rodenberry, a humanidade do futuro havia resolvido suas mesquinharias e aprendeu a viver pacificamente, sendo a Federação uma irmandade de seres das mais variadas espécies, voltada para a ciência e para a exploração espacial. Claro, de vez em quando as coisas esquentavam e aconteciam lutas e guerras, porém quase sempre tudo era resolvido com diplomacia, até mesmo por Kirk que adorava ter sua camisa rasgada durante uma troca de socos.

Em “Star Trek: Picard” a Federação é a grande vilã, pintada como uma organização decadente e cheia de preconceitos! Como assim? Na verdade, essa ideia vem da cabeça dos criadores da série Michael Chabon e Kurtzman que queriam levar uma mensagem contra o presidente Donald Trump e a favor das minorias e dos perseguidos aos espectadores. Até aí, nada contra, porém tudo é feito com a sutileza de um elefante com dor de dentes e acaba sendo um grande tiro no pé. A situação ficou tão ruim que vários produtores e roteiristas foram demitidos no meio das filmagens, muita coisa teve que ser alterada e várias sequências foram refilmadas de forma completamente diferente, o que resultou numa série sem pé nem cabeça, onde nem mesmo a trama principal faz o menor sentido ou tem qualquer resolução.

Por exemplo, alguém consegue explicar como e por que as duas androides gêmeas foram parar uma na Terra e outra dentro de um cubo Borg? Ou como os romulanos sabiam disso? E o que elas tem realmente a ver com o comandante Data (Brent Spiner, que aparece em pontas)? E como explicar então que os romulanos, que tiveram seu império dizimado por uma supernova (eventos que acontecem no “Star Trek” de 2009) obrigando muitos de seus membros a viverem em um planeta em condições precárias, no final aparecem com uma frota de mais de 200 poderosas naves? É tanto furo e coisas sem sentido que, como falei, daria para ficar dias falando só sobre isso.

“Picard” consegue também ser pior que “Discovery” nos aspectos técnicos, pois parece pobre, mal feita, tem uma edição péssima (alguns cortes parecem ter sido feitos por amadores), efeitos especiais fracos e um elenco formado por canastrões risíveis (a direção e o roteiro dos episódios também não os ajuda em nada), onde até Patrick Stewart está fora de forma (aos 80 anos de idade ele parece cansado e praticamente sussurra seus diálogos sem vigor). Acho que o pior personagem é o romulano ninja que parece irmão gêmeo do Elrond, o elfo de "O Senhor dos Anéis"!

Separados no nascimento: o Elfo e o Romulano Ninja

Mas, acima de tudo, a série é chata, desinteressante, repleta de cenas de violência extrema (chegam a arrancar o olho de um personagem e várias cabeças são decepadas!), palavrões e gírias típicas da nossa época. Se fosse uma série de ficção científica qualquer resultaria abaixo do medíocre, porém ao usar o nome “Star Trek” fica simplesmente abominável, principalmente quando incorpora o magnífico tema musical criado pelo mestre Jerry Goldsmith para “Star Trek: O Filme” e que depois foi escolhido como o tema principal de “A Nova Geração”.

“Picard” está sendo massacrada pela maioria dos fãs, que dizem que a franquia agora está sendo feita "por gente que não conhece Star Trek, para gente que não gosta de Star Trek". Com razão. Seria bom que os executivos da CBS os ouvissem e repensassem como vão tratar a franquia daqui para frente, porque se continuarem assim, somente os fanáticos que louvam qualquer coisa que tenha o nome de sua adoração vão continuar assistindo. O que é uma pena. Gene Rodenberry não merece isso, sinceramente...

Cotação: ZERO

terça-feira, 24 de março de 2020

"Freud" usa o nome do pai da Psicanálise em vão


ATO FALHO

Série é uma tremenda enganação, pois não tem nada a ver com o pai da Psicanálise e o coloca no meio de uma trama cheia de conteúdos sobrenaturais, algo que Freud abominava

- por André Lux


Essa série da Netflix chamada "Freud" é uma tremenda enganação. Primeiro porque é totalmente fictícia e quase nada tem a ver com o verdadeiro pai da Psicanálise.

Segundo porque Freud nem é o protagonista, mas sim uma moça com poderes mediúnicos e que vive atormentada por sua mãe adotiva que é uma espécie de bruxa húngara. Ou seja, ladainhas sobrenaturais que Freud repudiava, afinal era ateu e cético ao extremo.

As únicas relações da série com a realidade são o uso de nomenclaturas psicanalíticas nos nomes dos episódios e quando Freud hipnotiza as pessoas, algo que sabemos ele nem gostava e logo descartou. Mas na série ele usa e abusa da ferramenta, mais parecendo um Jedi de "Star Wars" (segundo os autores, basta encostar a mão numa pessoa e ela fica instantaneamente hipnotizada!).

Não que seja ruim, a trama tem seu interesse e há personagens ricos como o oficial da polícia traumatizado pela guerra. Porém, chamar a série de "Freud" parece mesmo um grande ato falho ou então má fé pura e simples...

Cotação: **

terça-feira, 3 de março de 2020

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...

Livro confirma que Palpatine morreu e voltou como clone em "A Ascensão Skywalker"


A adaptação para livro de "Star Wars: A Ascensão Skywalker", que contém algumas cenas inéditas, confirmou que o Imperador Palpatine que aparece no filme é um clone.

O romance que será lançado no dia 17 de março conta, em trechos liberados antecipadamente, o momento que Kylo Ren chega ao planeta Exegol para confrontar Palpatine, e explica que o corpo físico do vilão era um clone.

“Todos os frascos estavam sem líquido, exceto um, que estava quase no fim. Kylo examinou de perto. Ele havia visto este aparelho antes, quando estudou as Guerras Clônicas, quando era garoto. O líquido que fluía ao pesadelo vivo em sua frente lutava uma batalha fracassada para nutrir o corpo pútrido do Imperador.”

“E o que você poderia me dar?', perguntou Kylo. O Imperador Palpatine estava vivo, após um molde, e Kylo sentia em sua alma que o corpo clonado guardava o espírito real do Imperador. Era um recipiente imperfeito, no entanto, incapaz de sustentar seu imenso poder. Não poderia durar muito.”

Então o Imperador morreu em "O Retorno de Jedi" (1983), quando Darth Vader salva Luke, mas apenas em corpo. O espírito dele foi transferido para o clone que aparece em "A Ascensão Skywalker".

Essa possibilidade já foi citada em alguns livros de Star Wars como a Transferência de Essência, uma técnica Sith que permite o espírito do usuário possuir outro corpo.

- fonte: Rolling Stone

segunda-feira, 2 de março de 2020

"Ford vs Ferrari" vai agradar até quem não tem fetiche por carros



O filme vale principalmente pelas atuações carismáticas de Matt Damon e Christian Bale

- por André Lux

Como não ligo para carros, não dei muita bola para “Ford vs Ferrari” quando foi lançado nos cinemas. Mas, depois que ganhou o Oscar de melhor Montagem, resolvi dar uma espiada. E fui surpreendido positivamente. O filme é realmente muito bom e vai interessar mesmo quem, como eu, não tem fetiche por automóveis.

O foco central do excelente roteiro baseado em fatos reais fica sobre a relação entre os personagens feitos por Matt Damon e Christian Bale. O primeiro é um ex-piloto de corridas que teve que abandonar a profissão por causa de problemas no coração e tornou-se designer de automóveis, enquanto o segundo é o seu melhor piloto de teste e corredor. A atuação deles é o ponto alto do filme, com ambos esbanjando carisma, especialmente Bale que fica muito melhor em papeis cômicos e soltos como esse, onde pode ter arroubos de sarcasmo e explosões de raiva livremente.

A direção de James Mangold (de “Copland” e “Logan”) é muito segura e consegue um perfeito equilíbrio entre os momentos introspectivos dos personagens e a emoção das corridas. “Ford vs Ferrari” tem também ótimas direção de fotografia e montagem que nunca deixam o filme confuso ou picotado, algo realmente raro no cinema comercial estadunidense hoje em dia. A trilha musical de Marco Beltrami e Buck Sanders pontua com perfeição a ação ao mesclar batidas de rock com jazz, entrecortados por languidos solos de guitarra.

O único ponto que não gostei foi a maneira que escolheram para mostrar o destino de um dos personagens, feita de maneira distanciada e não convincente. Deveriam ter ido mais a fundo e não ter medo de buscar uma aproximação mais melodramática, afinal o arco dos protagonistas permitia isso. Mas é apenas um pequeno deslize num filme bastante divertido e dinâmico que tem 2h30 de projeção, porém parece bem menos – o que é sempre o melhor elogio.

Cotação: * * * *