quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Filmes: "O Segredo do Abismo"

DE TIRAR O FÔLEGO

Edição Especial traz nova versão com as cenas que haviam sido deixadas de fora, inclusive o grande clímax apocalíptico.

- por André Lux, crítico-spam

Bem antes de "Titanic" e "Avatar", em 1989 o diretor James Cameron realizou um filme que dividiu a opinião de críticos e espectadores. 

Enquanto alguns, como eu, adoraram o clima tenso constante e as cenas de ação palpitante, outros o desprezaram pelas idéias aproveitadas de outras produções e, principalmente, por causa da falta de uma conclusão mais impactante e melhor resolvida.

Apesar de ter naufragado nas bilheterias, O SEGREDO DO ABISMO serviu pelo menos como um "divisor de águas" para o cinema de ficção científica.

Primeiro por trazer efeitos especiais nunca vistos nas telas, que exigiram a criação do programa "Morph" capaz de gerar com resultados surpreendentes imagens que se alongam, se distorcem e se transformam (recurso que foi levado à perfeição pelo próprio Cameron em "O Exterminador do Futuro 2" e hoje em dia já virou obrigatório até nas fitas mais banais).

E segundo por ter levado para o fundo do mar situações que até então só haviam sido exploradas em filmes situados no espaço sideral, o que acabou dando à trama um toque bastante palpável. Além de que o tratamento carinhoso e humano dado por Cameron (também autor do roteiro) aos personagens e às situações está longe dos clichés dos filmes de aventura e ficção.

O elenco também é excelente, com destaque para as atuações despojadas e apaixonadas de Ed Harris e Mary Elizabeth Mastrantonio. Muito boa também é a trilha musical de Alan Silvestri ( de "Predador" e colaborador habitual de Robert Zemeckis), principalmente na parte final, fazendo bom uso de coral de vozes naqueles arranjos capazes de arrepiar até o último fio de cabelo.


O compositor Alan Silvestri
Entretanto, o que muita gente não sabe é que a versão de O SEGREDO DO ABISMO lançada nos cinemas ficou muito longe da idealizada pelos seus realizadores. 

O fato é que durante as filmagens, quase todas feitas dentro do reator de uma antiga usina abandonada que foi inundado, ocorreram todos os tipos de atrasos e acidentes (um deles quase provocou a morte do ator Ed Harris) levando atores e equipe técnica à beira de um ataque de nervos. 

Para piorar tudo, simplesmente não havia tecnologia adequada na época para produzir os efeitos especiais exigidos na conclusão. Esgotado e vencido, James Cameron foi obrigado a tomar decisões drásticas: reduziu a metragem em cerca de 30 minutos, eliminando do filme justamente a sub-trama que daria gancho para o final apoteótico. 

Ficaram na sala de montagem então todas as sequências que mostravam o início de um processo de conflito entre várias nações (uma delas a extinta União Soviética, que deixa o filme com aquele ar de "datado"), que fatalmente deflagaria a 3ª Guerra Mundial. Era aí que entraria a mensagem anti-belicista do filme, representada pela interferência de uma "força maior" nos destinos da primitiva e beligerante humanidade.

Esse era o verdadeiro SEGREDO DO ABISMO que ninguém ficou conhecendo e que acaba justificando o fracasso do filme nos cinemas e a reclamação por um final mais coerente e impactante.

Só que agora, graças à nova tecnologia digital disponível, finalmente podemos ter acesso à versão integral do filme de Cameron. Lançada em DVD, a Edição Especial de O SEGREDO DO ABISMO traz, além da versão normal dos cinemas, a nova cópia com todas as cenas que haviam sido deixadas de fora, inclusive o grande clímax apocalíptico.
Cena da "grande onda" que ficou fora da versão original
Mas foi uma tarefa árdua, pois muitas das cenas inéditas não haviam sido masterizadas e já não possuíam trilha sonora com os diálogo ou efeitos sonoros, o que obrigou Cameron a reunir vários integrantes do elenco para regravar suas falas. 

Além disso, as cenas finais da "grande onda" tiveram que ser completadas e finalizadas pela Industrial Light and Magic com tecnologia moderna não existente na época da produção. Todos esse detalhes poderão ser conferidos no excepcional documentário contido no DVD "Under Pressure: The Making Of THE ABYSS", com mais de uma hora de duração.

O resultado dessa verdadeiro trabalho de "arqueologia cinematográfica" é impressionante. O que você assite na tela é simplesmente outro filme. Não melhor ou pior que o original, mas totalmente diferente. Muito mais rico e profundo (e também pretensioso).
Ed Harry descobre o segredo do abismo
A verdade é que se tivesse sido exibido nos cinemas como havia sido originalmente concebido, dificilmente teria fracassado. Afinal, todos nós - tendo ou não gostado da versão original - sentimos uma ponta de decepção por não termos verdadeiramente desvendado O SEGREDO DO ABISMO.

E agora, será que você tem fôlego para mergulhar nessa aventura de novo?

Cotação: ****

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Filmes: "Blue Jasmine"

TRISTE DECADÊNCIA

Infelizmente, aos 78 anos de idade, Woody Allen insiste em fazer um filme por ano, mesmo sem ter qualquer inspiração

- por André Lux, crítico-spam

Vou ser bem sincero: alguns filmes do Woody Allen foram muito importantes na época em que eu comecei a descobrir a importância do auto-conhecimento e da análise psicológica, principalmente “Hanna e Suas Irmãs”, "Manhattan" e “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”. Até alguns daquela fase pesada dele, em que tentava emular Bergman, me estimularam.

Claro que, depois que a gente passa essa fase do descobrimento e se aprofunda mais nos assuntos, percebe-se que Allen emprega uma psicologia superficial em seus filmes, mas que mesmo assim ainda sobrevivem a uma revisão, principalmente pelo bom humor auto-depreciativo e pelos diálogos rápidos e afiados.

Mas, verdade seja dita, de uns anos para cá, nosso querido Woody não tem mais nada a dizer e fica se repetindo ad nauseun ou então tentando fazer críticas sociais que são de dar pena, de tão canhestras. Dos últimos 10 filmes dele que assisti, o único minimamente memorável foi “Vicky Cristina Barcelona”, muito mais devido às quentes cenas de lesbianismo e ménage a trois entre os protagonistas do que por outra qualidade.

Esse novo dele, “Blue Jasmine”, chega a ser doloroso de assistir. Gira em torno de um ex-dondoca (Cate Blanchett) que perdeu tudo, depois que o marido foi preso por fraudar a Receita, e é obrigada a ir morar com a irmã de classe média baixa. É realmente duro de engolir a pobreza das caracterizações criadas por Allen, todas rasas como uma poça de água e baseadas nos piores estereótipos (ricos são elegantes, finos e cultos, enquanto os pobres são feios, toscos e imbecis).

Com a exceção de Blanchett, que se esforça em dar alguma vida a uma personagem tola, vazia e já à beira da loucura (passa boa parte da projeção falando sozinha no meio da rua), o resto do elenco é pavoroso, principalmente a irmã da protagonista. Alguns críticos chegaram a ver no filme uma "homenagem" ao clássico "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee William, que foi adaptado para o cinema como "Uma Rua Chamada Pecado" e estrelado pelo genial Marlon Brando. 

Esse é o novo Brando? Sério?
Mas só pode ser brincadeira. Primeiro porque, tirando uma ou outra semelhança, "Blue Jasmine" nada tem a ver com a peça. Não chega nem a insinuar a formação de um triângulo amoroso! E, segundo, porque comparar Brando com o ridículo ator que interpreta o "machão tosco" no filme de Allen é uma piada de mau gosto. Está muito mais para o Joey Tribiani, de "Friends", e olhe lá!

O que dizer do roteiro, escrito pelo próprio Allen? Além de ser chato e repleto de flashbacks inúteis, é ainda cheio de furos e incoerências. Como é que alguém pode fazer uma denúncia ao FBI capaz de levar uma pessoa à cadeia se o filme fez até então um grande esforço para mostrar que ela nada sabia das operações ilegais em questão? E desde quando um machão do tipo "mecânico mulherengo com gumex no cabelo" tem crises de choro e dá piti em público por causa de um simples pé na bunda? E o namorado novo da Jasmine, que acha que ela é uma rica decoradora de interiores e até a pede em casamento sem nem saber onde ela mora? E até parece que uma mulher daquelas, que nem é tão velha e até antes de casar estudava em uma grande universidade, não saberia sequer ligar um computador!

Se o filme ao menos fosse engraçado ou dramático tudo estaria perdoado. Mas que nada. É um porre só, mal feito, repleto de papo furado e pobre em conteúdo. Parece que Allen tentou fazer algum tipo de crítica ou leitura do momento de crise atual que vivem os EUA, onde os pobres e a classe média (como sempre) estão pagando o pato pela orgia neoliberal que tomou conta do país e levou o sistema à ruína. Mas, sinceramente, nem isso fica registrado. É tudo tão canhestro e tolo que não dá nem para analisar o filme por esse prisma.

Enfim, é triste observar a decadência de alguém que foi um dia um grande cineasta, cheio de ideias e com muito a dizer. Infelizmente, aos 78 anos de idade, Allen insiste em fazer um filme por ano, mesmo sem ter qualquer inspiração. Melhor seria dar um tempo e esperar pelas ideias refrescarem um pouco...

Cotação: *

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A depressão é doença e precisa ser tratada como tal



Depressão é uma doença terrível, angustiante e até fatal. Tive isso ano passado e por pouco não me suicidei. Muito pouco mesmo. A gente fica completamente dominado pela doença. 

É como se uma outra pessoa tomasse conta do seu cérebro e plantasse pensamentos alienígenas dentro dele que, depois que você se cura, custa a acreditar que foi possível pensar tais coisas.

O mais difícil quando se está com essa doença, é o fato de que a maioria das pessoas próximas não entende o que você está passando e, via de regra, fala besteiras como as mostradas na charge acima - sempre com a melhor das intenções, diga-se de passagem -, mas que só ajudam a piorar o quadro.

A depressão acaba também com a vida sexual da vítima. Quantos casamentos foram desfeitos por causa desse doença, sem que o casal soubesse disso?

Leiam com atenção o texto abaixo e repassem, pois vocês podem conhecer gente neste estado que necessita de cuidados médicos urgentes.

SINTOMAS, CAUSAS E TRATAMENTO DA DEPRESSÃO
Há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células.




A cultura popular associa depressão como um estado de humor da pessoa e que ela pode se curar sozinha. Isso faz com que as pessoas não encarem a depressão como uma doença e não procurem ajuda médica.

Depressão é uma doença psiquiátrica, crônica e recorrente, que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite.

É importante distinguir a tristeza patológica daquela transitória provocada por acontecimentos difíceis e desagradáveis, mas que são inerentes à vida de todas as pessoas, como a morte de um ente querido, a perda de emprego, os desencontros amorosos, os desentendimentos familiares, as dificuldades econômicas, etc. 

Diante das adversidades, as pessoas sem a doença sofrem, ficam tristes, mas encontram uma forma de superá-las. Nos quadros de depressão, a tristeza não dá tréguas, mesmo que não haja uma causa aparente. 

O humor permanece deprimido praticamente o tempo todo, por dias e dias seguidos, e desaparece o interesse pelas atividades, que antes davam satisfação e prazer.

A depressão é uma doença incapacitante que atinge por volta de 350 milhões de pessoas no mundo. Os quadros variam de intensidade e duração e podem ser classificados em três diferentes graus: leves, moderados e graves.

Causas
Existem fatores genéticos envolvidos nos casos de depressão, doença que pode ser provocada por uma disfunção bioquímica do cérebro. 

Entretanto, nem todas as pessoas com predisposição genética reagem do mesmo modo diante de fatores que funcionam como gatilho para as crises: acontecimentos traumáticos na infância, estresse físico e psicológico, algumas doenças sistêmicas (ex: hipotireoidismo), consumo de drogas lícitas (ex: álcool) e ilícitas (ex: cocaína), certos tipos de medicamentos (ex: as anfetaminas).

Mulheres parecem ser mais vulneráveis aos estados depressivos em virtude da oscilação hormonal a que estão expostas principalmente no período fértil.

Sintomas
Além do estado deprimido (sentir-se deprimido a maior parte do tempo, quase todos os dias) e da anedonia (interesse e prazer diminuídos para realizar a maioria das atividades) são sintomas da depressão:

1) alteração de peso (perda ou ganho de peso não intencional);

2) distúrbio de sono (insônia ou sonolência excessiva  praticamente diárias);

3) problemas psicomotores (agitação ou apatia psicomotora, quase todos os dias);

4) fadiga ou perda de energia constante;

5) culpa excessiva (sentimento permanente de culpa e inutilidade);

6) dificuldade de concentração (habilidade diminuída para pensar ou concentrar-se);

7) ideias suicidas (pensamentos recorrentes de suicídio ou morte);

8) baixa autoestima;

9) alteração da libido.

Muitas vezes, no início, os sinais da enfermidade podem não ser reconhecidos. No entanto, nunca devem ser desconsideradas possíveis referências a ideias suicidas ou de autodestruição.

Diagnóstico
O diagnóstico da depressão é clínico e toma como base os sintomas descritos e a história de vida do paciente. Além de espírito deprimido e da perda de interesse e prazer para realizar a maioria das atividades durante pelo menos duas semanas, a pessoa deve apresentar também de quatro a cinco dos sintomas supracitados.

Como o estado depressivo pode ser um sintoma secundário a várias doenças, sempre é importante estabelecer o diagnóstico diferencial.

Tratamento
Depressão é uma doença que exige acompanhamento médico sistemático. Quadros leves costumam responder bem ao tratamento psicoterápico. Nos outros mais graves e com reflexo negativo sobre a vida afetiva, familiar e profissional e em sociedade, a indicação é o uso de antidepressivos com o objetivo de tirar a pessoa da crise.

Existem vários grupos desses medicamentos que não causam dependência. Apesar do tempo que levam para produzir efeito (por volta de duas a quatro semanas) e das desvantagens de alguns efeitos colaterais que podem ocorrer, a prescrição deve ser mantida, às vezes, por toda a vida, para evitar recaídas.

Há casos de depressão que exigem a associação de outras classes de medicamentos – os ansiolíticos e os antipsicóticos, por exemplo – para obter o efeito necessário.

Há evidências de que a atividade física associada aos tratamentos farmacológicos e psicoterápicos representa um recurso importante para reverter o quadro de depressão.

 Recomendações
* Depressão é uma doença como qualquer outra. Não é sinal de loucura, nem de preguiça nem de irresponsabilidade. Se você anda desanimado, tristonho, e acha que a vida perdeu a graça, procure assistência médica. O diagnóstico precoce é o melhor caminho para colocar a vida nos eixos outra vez;

* Depressão pode ocorrer em qualquer fase da vida: na infância, adolescência, maturidade e velhice. Os sintomas podem variar conforme o caso. Nas crianças, muitas vezes são erroneamente atribuídos a características da personalidade e nos idosos, ao desgaste próprio dos anos vividos;

* A família dos portadores de depressão precisa manter-se informada sobre a doença, suas características, sintomas e riscos. É importante que ela ofereça um ponto de referência para certos padrões, como a importância da alimentação equilibrada, da higiene pessoal e da necessidade e importância de interagir com outras pessoas. Afinal, trancafiar-se num quarto às escuras, sem fazer nada nem falar com ninguém, está longe de ser um bom caminho para superar a crise depressiva.

Mais informações neste link.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Filmes: "O Hobbit: A Desolação de Smaug"

DRAGÃO DEMAIS

Parte final esticada e excessiva estraga o segundo capítulo dessa equivocada trilogia do diretor Peter Jackson

- por André Lux, crítico-spam

“O Hobbit: A Desolação de Smaug” é realmente melhor do que a primeira parte "Uma Jornada Inesperada" que, além de ser esticada além da conta, contava com uma trama muito simplista e repetitiva. 

O filme é bem mais dinâmico e a história é mais interessante. Felizmente também há menos cenas de ação e, com exceção da longa fuga nos barris (que não chega a irritar), o roteiro fica mais focados nos personagens e seus relacionamentos.

A cena com as aranhas é boa, Bilbo está menos irritante, os elfos da florestas são interessantes, Gandalf não aparece toda hora para salvar os heróis e, finalmente, usa seus poderes de mago da maneira que todos gostariam de ver. 

Sem dizer que a belíssima Evangeline Lily, com a elfa Tauriel (personagem inventado para o filme), é um colírio para os olhos - embora o triângulo amoroso que criaram entre ela, Legolas (Orlando Bloom que tomou um banho de photoshop vergonhoso para parecer mais novo) e um dos anões (que nada tem a ver com um anão) é risível.

Mas é na parte final, quando o dragão Smaug é finalmente revelado, que o longa sai dos trilhos e praticamente estraga o que havia de bom antes. A conversa entre a criatura e Bilbo é bacana, assustadora até, porém, como o diretor Peter Jackson colocou na cabeça que tinha que fazer uma nova trilogia baseada na obra de Tolkien com cada filme com quase três horas de duração, tudo é esticado e, no final quando aparecem os anões, vira uma longa e tediosa cena de perseguição, cheia de impossibilidades e besteiras que, além de dar dor de cabeça, ainda diminui o personagem do dragão ao ponto de torná-lo tolo.

É aquela velha máxima sobre monstros: quanto menos você mostra, mais assustador fica. É só a gente lembrar da sequência com o Balrog, em "A Sociedade do Anel", que é sensacional - ainda mais se a gente pensar que mal vê a criatura.

Confesso que lembro bem pouco do livro "O Hobbit", mas algumas coisas parecem bem confusas nessa versão super esticada e cheia de invenções de Jackson. Como a aparição de Sauron no meio do filme e a prisão de Gandalf que é uma tolice enorme e fica ainda mais estranho quando a gente compara com o começo da trilogia "O Senhor dos Anéis", com o mago lá todo tranquilão chegando na vila dos hobbits e só ficando preocupado com o possível retorno de Sauron depois que descobre que o anel é o Um Anel.

Colírio: Evangeline Lily com a elfa Tauriel
A verdade é que desde que foi anunciada como uma trilogia, nos moldes do sucesso de "O Senhor dos Anéis", já era óbvio que a adaptação de "O Hobbit" para os cinemas não daria certo. 

Primeiro, porque o livro tem apenas 300 páginas (contra mais de mil de "Anéis") e, segundo, porque é uma história francamente infantil sobre um bando de anões e um hobbit perambulando pela Terra Média para tentar derrotar um dragão falante. 

É uma pena que o sucesso tenha subido à cabeça do diretor Peter Jackson, que depois da sua premiada empreitada com a trilogia original nunca mais acertou nada.

Uma curiosidade: assisti ao filme em projeção digital 3D de 48 quadros por segundo, que é a nova maneira que Jackson inventou para filmar (o normal é 24 fps que é a velocidade que produz a ilusão de movimento em nosso cérebro). E sou obrigado a dizer que o resultado é desastroso. 

Sim, a imagem fica muito mais nítida e limpa, porém é completamente chapada e desprovida de profundidade de campo, o que deixa tudo com cara de novela da rede Globo, especialmente nas cenas feitas em estúdio. Sem dizer que, em certas cenas sequências e de multidão, o excesso de informação transmitida chega a dar tontura. Um lixo!

Cotação: * * *

domingo, 29 de dezembro de 2013

Morreu Wojciech Kilar, autor das trilhas sonoras de "Drácula" e "O Pianista"


O compositor polonês Wojciech Kilar, autor de trilhas musicais para filmes de realizadores como Roman Polanski, Francis Ford Coppola e Andrzej Wajda, morreu hoje aos 81 anos, anunciou a rádio pública da Polónia.
Além de música para dezenas de filmes, Wojciech Kilar compôs também música sinfónica, música de câmara e obras para instrumentos a solo.
Mas foram as músicas feitas para os filmes que o notabilizaram na Polónia e internacionalmente, com peças como a valsa composta para o filme do realizador polaco Andrzej Wajda "Terra Prometida" a tornarem-se marcos na história da música clássica.
A música que compôs para o filme "O Pianista", do realizador Roman Polanski, valeu-lhe, em 2002, o prêmio Cesar para a melhor música escrita para um filme.

Em 1992, a sociedade norte-americana de compositores, autores e editores, de Los Angeles, distinguiu-o pela melhor trilha sonora original para o filme "Drácula", de Francis Ford Coppola.
"Deixou-nos um homem excecional. Foi uma das figuras mais importantes da cultura polaca", disse Waldemar Dabrowski, diretor da Ópera de Varsóvia após o anúncio da morte de Wojciech Kilar.
Nascido em 1932 em Lviv, vila polaca antes da Segunda Guerra Mundial e que atualmente faz parte da Ucrânia,  Wojciech Kilar viveu após a guerra em Katowice, no sul da Polónia, onde começou os seus estudos na academia de música local.
Posteriormente mudou-se para Paris, França, para prosseguir os estudos com a pianista e pedagoga Nadia Boulanger.

Ouça abaixo a impressionante faixa de abertura do filme "Dracula", de Coppola:

domingo, 24 de novembro de 2013

Dez vídeos para entender a importância do Monty Python


Eles começaram na Inglaterra, influenciaram gerações e, hoje, seus integrantes estão na casa dos 70 anos de idade. Um dos mais importantes grupos de humor do mundo, o Monty Python não é Beatles nem Rolling Stones, mas bem que poderia ser.

O anúncio do retorno da trupe para um show único em julho, após 30 anos, causou alvoroço digno de estrelas do rock entre seus milhares de fãs.

Fundado na Inglaterra no final dos anos de 1960, o Monty Python ficou famoso com a série “Flying Circus'', transmitida pela rede britânica BBC entre 1969 e 1974. Nos anos seguintes, marcou época com as incursões cinematográficas “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado'' (1975) e “A Vida de Brian'' (1979), sucessos mundiais de bilheteria.

A base do estilo “pythonesco” é um humor anárquico e nonsense, com sátiras políticas e principalmente aos costumes da sociedade britânica. A combinação única de paródia e surrealismo, com toques de metalinguagem, ainda hoje ecoa na televisão e cinema.

Sem John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin provavelmente não existiria “TV Pirata'' ou “Casseta e Planeta'', nem “Hermes e Renato'' e os recentes Porta dos Fundos e “Último Programa do Mundo''.

Outro feito do grupo foi popularizar o formato de esquete, as peças cômicas de curta duração oriundas do teatro, que viraram praxe em humorísticos televisivos, de “Trapalhões'' a Roberto Bolaños, passando pelo americano “Saturday Night Live''.

A influência do Monty Python também  pode ser sentida na utilização frequente de colagens em stop-motion na TV nas últimas décadas. O grupo utilizava a técnica para contar algumas de suas histórias surrealistas, inspirando até mesmo programas educacionais.

Cabe ainda aos ingleses a “paternidade'' do lixo eletrônico da internet, o “spam''. A expressão nasceu de um quadro de 1970 em que um grupo de vikings se refere à comida processada servida em um restaurante como “spam''. A palavra acabou ficando famosa como referência a mensagens não solicitadas. 

Com essa e várias outras pérolas, veja dez esquetes inesquecíveis do grupo que ajudam a (tentar) entendê-lo.




terça-feira, 29 de outubro de 2013

Filmes: "A Caça"

AMANHÃ PODE SER VOCÊ

Este é um filme que todos deveriam ser obrigados a assistir, principalmente advogados e jornalistas

- por André Lux, crítico-spam

"A Caça" é um filme que todos deveriam ser obrigados a assistir, principalmente advogados e jornalistas.

O longa é dirigido por Thomas Vinterberg, dinamarquês que participou do movimento Dogma, o qual não passou de uma gozação inventada por um grupo de cineastas escandinavos que, entre outros absurdos, estipulava uma série de "regras" que deveriam ser seguidas em seus filmes. 


Obviamente, tratava-se apenas de uma peça de publicidade para provocar polêmicas que acabou dando certo, já que muitos críticos mundo afora realmente levaram a bazófia a sério, o que garantiu ao grupo notoriedade e prestígio no circuito do chamado "cinema de arte".

Em seu novo filme, Vinterberg aborda um tema que é, mais do que nunca, um dos pilares de qualquer Estado Democrático de Direito: a presunção da inocência, que dita a máxima "todos são inocentes até que seja provado o contrário". E o diretor coloca o dedo na ferida de forma contundente ao mostrar o que acontece com a vida de uma pessoa quando esse princípio básico é desrespeitado.

A trama é protagonizada por Lucas, um ex-professor que, depois de ser demitido da universidade onde lecionava e largado pela esposa, só consegue emprego em uma pequena escola infantil, onde é muito querido pelas crianças. Uma delas é filha de seu melhor amigo e, por sofrer de carência afetiva por parte dos pais, fica cada vez mais encantada com a figura do carinhoso professor, ao ponto de "se apaixonar" por ele (algo muito comum entre as crianças pequenas). Mas quando ela declara seu amor, Lucas não reage da maneira adequada e acaba despertando a raiva da menina, que se sente rejeitada.

Vingativa, ela inventa para a diretora da escola que foi abusada sexualmente pelo professor (usando termos chulos que ouviu o irmão mais velho dizer a um amigo enquanto viam pornografia na internet). Daí para frente "A Caça" se transforma em uma angustiante tragédia, na qual o protagonista é imediatamente tratado como culpado e passa a ser hostilizado pela comunidade, inclusive por seus amigos, sem ter qualquer chance de provar sua inocência.


Abro aqui um parêntese para lembrar que caso muito semelhante aconteceu em São Paulo há alguns anos, quando os donos da escola infantil Base foram acusados dos mesmos crimes e, sem chance nenhuma de se defenderem, tiveram suas reputações destruídas pela imprensa, principalmente pelo jornal Folha de S.Paulo e pela rede Globo. Anos mais tarde, provou-se que eles eram inocentes e o jornal e a emissora em questão inclusive foram condenadas pela Justiça a pagar indenizações milionárias aos acusados. Todavia, a vida deles ficou destruída para sempre.

Voltando ao filme, a decadência física e psicológica que toma conta de Lucas é retratada de forma perfeita pelo ator Mads Mikkelsen, que tem carreira internacional e foi o vilão de "Cassino Royale", o primeiro filme do atual James Bond. Sua interpretação é extremamente contida e cheia de nuances, já que o personagem é arredio, tímido e retraído, fatores que só aumentam a sensação de angústia.


O filme é também muito interessante no sentido de ser completamente diferente dos clichês tradicionais que estamos acostumados a ver no cinemão comercial estadunidense, onde uma obra com temática semelhante certamente acabaria se tornando um thriller repleto de advogados caricatos e cenas quentes de tribunal, o que certamente diluiria seu conteúdo. 

Aqui a abordagem é a oposta dessa e, por consequência, extremamente realista e humana. Nem mesmo a ação da polícia é mostrada. A direção permanece o tempo todo focada na tragédia que se abate sobre o protagonista e sua família (ele tem um filho pré-adolescente) e nas ações irracionais das pessoas que, até ontem, estavam na sua casa comendo e bebendo com ele.

É possível recuperar uma vida destruída pela calúnia?
Vinterberg não tem qualquer sutileza em denunciar o que esse repulsivo tipo de "linchamento de caráter" implica na vida de uma pessoa. Ele quer mesmo é provocar uma reação na platéia, como que dizendo: "Isso pode acontecer com qualquer um e amanhã pode ser com você!". 

Ainda mais quando levamos em conta toda a complexidade e complicações que envolvem uma denúncia grave como a mostrada pelo filme, a de abuso sexual, mas o mesmo pode ser estendido para qualquer tipo de acusação. Afinal, sabemos que na hora de noticiar, a mídia vai dar destaque enorme às acusações, ainda mais se tratar-se de algum desafeto ou inimigo político dos seus donos, manchando assim para sempre a vida dos acusados.

"A Caça" é um tratado sobre a importância da presunção da inocência e com certeza vai chocar aqueles que acham que jamais serão acusados de qualquer crime, por serem "homens de bem", iguais ao Lucas desse excepcional filme. E será que é possível recuperar uma vida destruída por uma falsa acusação? Assista ao filme e saiba a resposta...

Cotação: * * * * *

sábado, 19 de outubro de 2013

Homenagem a Carl Sagan

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Carl Sagan,  é considerado um dos divulgadores científicos mais carismáticos e influentes da história. Possui mais de 600 publicações cientificas e é autor de mais de 20 livros.   Em uma época em que as belezas do universo não era tão divulgadas se restringindo aos cientistas e astrônomos, Sagan sempre tentava divulgar as grandes descobertas de uma maneira simples e acessível. A partir desse ponto, ele lançou a série “cosmos” em 1980. São 15 episódios onde Sagan explica para o mundo as belezas e mistérios do universo segundo a ciência moderna.

Aqui você curte uma pequena parte da série “cosmos” com seu famoso monólogo sobre o nosso planeta, o pálido ponto azul (vale a pena ver):

Aproveitando, já que estamos falando sobre o universo, vale a pena acessar o site abaixo.

Nele, você irá fazer uma viagem em nossa galáxia! Apenas uma em um mar de trilhões de outras. Clique na imagem e faça uma boa viagem.

universo


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Filmes: "Gravidade"

MUITO BARULHO POR NADA

Trama simplória, personagens inconsistentes e preciosismo técnico acabam diluindo o suspense

- por André Lux, crítico-spam

Toda vez que críticos e pessoas ligadas à indústria cultural estadunidense começam a rotular um filme de "revolucionário", "melhor não sei o que de todos os tempos" e coisas assim, eu já fico com um pé atrás porque na maioria das vezes é delírio coletivo.

E mais uma vez acontece isso, agora com esse "Gravidade", dirigido pelo competente Alfonso Cuarón que fez os ótimos "E Sua Mãe Também" e "Filhos da Esperança". Não vou dizer que o filme seja ruim, porque não é, todavia não passa de mais um "filme-desastre" só que situado no espaço e com a pretensão de respeitar as leis da física (como a ausência de som no vácuo), embora um astronauta verdadeiro já tenha afirmado que uma das proezas realizadas no filme é inviável (leia aqui).


Assim, "Gravidade" mostra em tempo real a luta pela sobrevivência de dois astronautas, feitos por Sandra Bullock e George Clooney, depois que sua nave é destruída por uma chuva de destroços de satélites que foram detonados por um míssil russo (será que os russos iam mesmo fazer uma burrice dessas? Os países não se comunicam, ainda mais quando tem uma missão trabalhando no espaço?). É um trama bastante simplória que o diretor tenta disfarçar com pirotecnia visual, preciosismo técnico e muito papo furado. 

Em uma das cenas que deveriam ser mais emocionantes, por exemplo, a personagem de Bullock sai girando pelo espaço enquanto é afastada da nave. Então temos uma longa sequência onde a câmera começa girando junto com ela, depois se aproxima de seu capacete até entrar dentro dele e nos dar a visão em primeira pessoa, e depois sai novamente e se fixa do rosto dela enquanto tudo continua girando. Tecnicamente, é uma cena incrível, porém dramaticamente não acrescenta nada, ao contrário, acaba desviando a atenção do drama da personagem para o malabarismo fotográfico da tomada. A gente fica se perguntado coisas como "Nossa, como será que conseguiram filmar assim?" e nem dá bola para a pobre moça. Sem dizer que dá uma tontura incrível.

Apesar da presença sempre eficiente de Clooney, no papel do comandante da missão, o filme é mesmo de Sandra Bullock, até porque a participação do ator é pequena, tem um destino bem sem graça e se resume a ficar fazendo piadas e dando tiradas sarcásticas mesmo em situações de alta tensão, algo que infelizmente contribui novamente para diluir o drama. O problema é que a moça é uma atriz fraca e não tem condições de segurar uma empreitada dessa envergadura. Além disso, sua personagem é inconsistente, pois revela um drama pessoal terrível e uma condição psicológica que jamais a permitiram viajar para o espaço. E ainda temos uma daquelas cenas constrangedoras onde a protagonista recebe informações cruciais de uma alucinação...

Clooney, o piadista: "Garota, acho que 
vamos morrer, mas... cetem bruneva?"
O filme também é prejudicado por uma trilha musical eletrônica que funciona mais como efeito sonoro do que música, exceto quando tenta ser dramática e falha fragorosamente. Não faz muito sentido fazer um filme sem o barulho de explosões e outros ruídos, como é no espaço, se vai colocar por cima de tudo uma trilha barulhenta e intrusiva. 

Cuarón ainda tenta dar algum significado mais profundo ao roteiro fazendo um paralelo na busca pela sobrevivência da protagonista com uma espécie de "renascimento" dela, mas, sinceramente, isso nem chega a funcionar. Sem dizer que as "dicas" para isso são óbvias demais: ela em posição fetal flutuando dentro da capsula e no final saindo pelo orifício embaixo da água.

Mas acho que o maior problema do filme é que em momento algum duvidei do destino da personagem, o que, convenhamos, acaba com qualquer tentativa de criar suspense. Como eu disse, "Gravidade" não é ruim, porém ao menos para mim, não causou nenhuma reação além de tontura e uma certa irritação ao ver tantas cenas repetidas de gente girando e tentando se agarrar em naves ou sendo atingidas pela enésima vez pelos benditos destroços! Ou seja, mais uma vez é muito barulho por (quase) nada.

Cotação: * * *

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Filmes: "Elysium"

DECEPÇÃO

A tentativa de misturar ficção científica com crítica social não funciona como em "Distrito 9"

- por André Lux, crítico-spam

O diretor Neill Blomkamp chamou a atenção do mundo cinematográfico com o interessante "Distrito 9", um filme que misturava ficção científica com crítica social e trazia uma forte mensagem contra o racismo.

Com o sucesso do longa (que chegou a ser absurdamente indicado ao Oscar de melhor filme) ele obviamente foi recrutado por Róliudi para tentar repetir a façanha, agora com mais dinheiro. Só que dificilmente um raio cai duas vezes no mesmo lugar e seu novo filme, "Elysium", é uma decepção em todos os sentidos.

A tentativa de misturar ficção científica com crítica social também se faz presente, mas não funciona como em "Distrito 9". A causa principal disso é que o mundo do futuro apresentado pelo cineasta não faz sentido e nunca ficamos sabendo como funcionam as engrenagens políticas dele.

A trama acontece em 2154 e mostra a Terra devastada por poluição e superpopulação. Nessa época, os ricos se mudaram para uma estação espacial chamada Elysium e vivem totalmente separados do resto do mundo. Um rapaz pobre, feito por Matt Damon quando adulto, sonha em viajar até lá, mas depois de uma vida de crimes, é obrigado a trabalhar em condições desumanas em uma fábrica de policiais-robôs. Depois que um acidente de trabalho o condena à morte, ele tenta desesperadamente chegar a Elysium, pois lá existe uma máquina que cura milagrosamente todas as doenças.

A alegoria social aí é óbvia, porém é pouco desenvolvida e o resto do filme não faz qualquer sentido. Para chegar à estação dos ricos, o protagonista procura Spider, um gangster local que vive de tentar mandar os pobres coitados para Elysium em troca de grana. Esse sujeito é feito pelo brasileiro Wagner Moura (O capitão Nascimento de "Tropa de Elite"), que se esforça em dar vida um personagem muito mal desenvolvido. 

Suas ações levantam todo tipo de questionamento: como ele consegue arrumar todas aquelas naves para transportar o pessoal pelo espaço? Por que as autoridades não rastreiam a trajetória delas e prendem os "bandidos"? Como é possível para ele implantar tecnologia nas pessoas que é reconhecida pela máquina que cura doenças? Como seus ajudantes são capazes de fazerem cirurgias complicadas como a que implanta um exoesqueleto metálico no corpo do protagonista, inclusive em seu cérebro?

O filme tem ainda outros furos terríveis no roteiro que só ajudam a diluir ainda mais o seu conteúdo. A estação Elysium parece não ter qualquer tipo de defesa anti-aérea e para derrubar as naves que tentam invadí-la, a chefe de segurança (feita de maneira péssima pela Jodie Foster) tem que acionar um agente secreto (interpretado pelo mesmo ator de "Distrito 9" que com sua cara de nerd não convence nem um minuto como vilão malvado) que está na Terra para lançar foguetes nelas! Hein, como assim?

"Vai uma cirurgiazinha no cérebro aí, chefia?"
Também não fica claro como funciona aquela sociedade. Existem dois governos paralelos, um em Elysium e outro na Terra? Enfim, os furos se amontoam e eu poderia gastar mais seis parágrafos aqui citando-os.

O maior problema, contudo, é o excesso de cenas de ação e luta, todas elas esticadas e redundantes, no que parece ser uma tentativa de nublar a consciência do espectador para que não perceba todos os furos do roteiro. Mas não funciona, principalmente porque elas são mal encenadas e feitas no irritante modo "câmara tremida" que deixa a gente com vontade de vomitar. O final também beira o ridículo e é totalmente incoerente com a proposta do filme.

Apesar de bem intencionado, "Elysium" naufraga em suas pretensões basicamente porque não tem uma história lógica para contar e precisa enfiar um monte de tiros, lutas e explosões para tentar disfarçar. Todavia, o filme foi detonado por um colunista da revista Veja, que chamou-o de "lixo ideológico da esquerda caviar de Hollywood". Ou seja, conseguiu irritar os porta-vozes da extrema direita tupiniquim, o que, convenhamos, é um grande mérito.

Cotação: ** 1/2

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Filmes: "Guerra Mundial Z"

ZUMBIS A SÉRIO
 
Filme consegue a proeza de não agradar ninguém. Quem não gosta do gênero, vai fugir. Já os fãs vão achá-lo muito leve.
 
- por André Lux, crítico-spam
 
É incrível como evoluíram os zumbis (ou mortos-vivos como eram chamados antigamente). Nos primeiros filmes em que apareceram, andavam bem devagar, com os braços esticados e gemendo. Com o passar do tempo, ficaram mais rápidos e agressivos (“Extermínio” e “The Walking Dead”), mas nada perto dos velocistas desse “Guerra Mundial Z”, certamente o mais caro filme de zumbi feito até hoje (dizem que chegou a US$ 200 milhões).
 
O filme é baseado num livro de sucesso, que dizem ser muito bom (eu não li), no qual um jornalista refaz a trajetória da guerra contra os zumbis com depoimentos de pessoas ao redor do mundo afetadas pelo conflito. Mas pelo jeito quase nada da obra original foi usada na produção, pois o protagonista, feito por Brad Pitt, é um ex-funcionário da ONU que sai pelo mundo atrás de uma possível cura para a praga que transforma todo mundo que foi mordido em zumbis.
 
E é justamente esse personagem o maior problema do filme. Nunca ficamos sabendo qual é a dele realmente (não é soldado, não é médico, não é cientista). Então, por que diabos um poderoso da ONU faria tanto esforço para resgatá-lo e, mais estranho, iria enviá-lo como líder do grupo que sai em busca de respostas? Esse grupo, por sinal, é ridículo. Quer dizer que a única esperança da humanidade recai sobre um sujeito misteriosos que trabalhava na ONU, um jovem cientista nerd e meia dúzia de soldados?  Fala sério!
 
O filme teve sérios problemas durante a produção, ao ponto de terem refilmado todo o terceiro ato que, originalmente, aconteceria na Rússia e seria recheado de perseguições. Optaram por uma solução mais simples e supostamente mais "claustrofóbica", mas sinceramente achei bem sem graça. Apenas o velho clichê de terem que andar quietinhos num lugar infestado de zumbis e que, obviamente, vão ouvir barulhos e sairão correndo atrás de todos.
 
A verdade é que, no final das contas, "Guerra Mundial Z" não vai agradar plenamente ninguém. Por mais que tentem disfarçar, não passa de um filme com zumbis, só que levado a sério, o que já vai afugentar quem não curte o gênero, principalmente as mulheres (até tentei enganar minha esposa, dizendo que era um filme sobre o "fim do mundo", mas bastou aparecerem os primeiros mortos-vivos correndo que ela falou "Ah não, filme de zumbis não!" e caiu fora).
 
Já os fãs desse gênero vão achar o filme muito leve, já que não tem efeitos sanguinolentos e repelentes que a turma adora. Até porque ele foi todo montado para conquistar uma "censura livre", portanto não tem nada de "gore" e mal se vê sangue. Além disso, tem umas coisas ridículas que poderiam ter sido evitadas, como os zumbis digitais subindo um em cima do outro, como se fossem formigas, até chegar ao topo de prédios e muros bem altos (formigas tem "cola" nas patas, então tudo bem fazerem isso, já humanos, mesmo em estado morto-vivos, não tem como). Para piorar, ainda despencam de cima dos muros e saem correndo na moral. Caramba, imagino que até um zumbi precisa estar com os ossos intactos para poder continuar correndo, não? 
 
Enfim, não chega a ser um desastre e até prende a atenção, mas nada mais que isso.
 
Cotação: * *


 

 

Filmes: "Depois da Terra"

DESASTROSO

Não dá para entender como é que alguém investe dinheiro num produto que obviamente vai ser um fracasso

- por André Lux, crítico-spam

Fazia tempo que eu não via um filme tão desastroso como esse "Depois da Terra", daqueles que falham em todas as suas pretensões e propostas. 

Como filme de aventura é tedioso, como ficção científica é risível e como filme-mensagem é patético. Não funciona nem como comédia involuntária, daqueles que a gente morre de rir nas  horas erradas, tipo "Hulk", do Ang Lee, ou "Yor - O Caçador do Futuro".

Certamente a motivação por trás desse desastre foi a vontade de Will Smith em transformar seu filho Jaden em astro e, de quebra, pregar um pouco das maluquices da Cientologia, espécie de religião-auto-ajuda que ele e várias outras celebridades seguem. Ou seja, não dá para perdoar Smith, que também aparece como o autor da estória, que não é apenas cheia de furos ridículos, como também sai do nada e chega a lugar algum, de tão ruim.

O filme é ainda dirigido pelo maior blefe de Hollywood, M. Nigh Shyamalan, que acertou em "Sexto Sentido" e "Corpo Fechado", mas depois só fez bombas, uma pior que a outra. Sua rejeição pelo público é hoje tão grande que seu nome nem aparece em destaque no cartaz de "Depois da Terra".

No início do filme, que é uma mistura de "Oblivion" com "Jogos Mortais", somos informados que a Terra se tornou inabitável para os humanos que fugiram para outro planeta. Só que lá são atacados por outra civilização que para matar as pessoas jogam de suas naves um monstro cego, chamado de Ursa, que se guia pelo cheiro dos feromônios liberados pelo medo! Como se vê, uma estratégia genial!

Se não bastasse isso, os humanos se defendem das criaturas usando.. bombas, granadas, naves, armas de raio laser, armaduras que escondem o cheiro do medo? Que nada! O lance é enfrentar os bichos de cara limpa com uma espécie de espada ou lança retrátil! Santo besteirol, Batman!


Depois desse prólogo, acompanhamos pai e filho tentando reatar laços indo juntos para uma missão em outro planeta, só que sofrem um acidente e acabam caindo na velha Terra, que segundo o protagonista agora é habitada por seres que evoluíram para uma única função: matar seres humanos! Hein, como assim? Por que fariam isso se nem existem mais humanos na Terra? 

Daí pra frente o filme se transforma numa tediosa jornada pela floresta para achar os destroços da cauda da nave, que está a 100 km de distância, para pegar um sinalizador que vai trazer o resgate até eles.

Will Smith tem uma atuação catastrófica, certamente a pior da sua vida, o que é uma pena, pois até que é um ator simpático. Mas, como todo comediante que não sabe fazer nada diferente de micagens, ele entra no velho módulo de "robô com cara de prisão de ventre" para interpretar alguém que deveria ser rígido e pouco emotivo. Chega a dar dó do coitado tentando fingir que é um ator sério.

Mas triste mesmo é a atuação do seu filho, que chega a ser canhestra especialmente nos momentos em que tem simular medo ou raiva. Sem dúvida um mico total que deve ter jogado suas chances de virar astro para o lixo.

Não dá para entender como é que alguém investe seu dinheiro num produto que obviamente vai ser um fracasso, em todos os níveis. Será que ninguém leu o roteiro antes? Fuja!

Cotação: *