sábado, 27 de março de 2010

Filmes: "A Ilha do Medo"

BESTEIRA DAS GRANDES

Se tivesse sido feito por qualquer outro diretor que não o ilustre Martin Scorsese, teria sido massacrado ou no mínimo ignorado, que é o que o filme merece

- por André Lux, crítico-spam

É incrível que um diretor do prestígio de Martin Scorsese tenha aceitado fazer um filme tão tolo e dispensável como esse “A Ilha do Medo”, que não se assume como terror e não se sustenta nem mesmo como filme de suspense policial. O mais estranho é que se tornou um sucesso de bilheteria, o maior na carreira do cineasta! Mas é muito barulho por nada.

A história começa com a chegada de dois agentes federais a um sanatório do governo localizado numa ilha isolada, onde são mantidos criminosos perigosos. Aparentemente, eles vem investigar a fuga de uma das internas, mas aos poucos a trama vai enveredando por caminhos tortuosos que vão ficando cada vez mais inconvincentes e delirantes. O filme também dá um monte de pistas falsas que desembocam num daqueles famigerados finais surpresas onde a revelação final, além de forçada, implode totalmente tudo que havíamos visto até então. É só você parar para pensar um minuto e vai perceber que não havia como tudo que foi mostrado antes ter acontecido da forma como aconteceu. É totalmente inviável, ridículo até.

Scorsese tenta compensar esse buraco negro com estilosos movimentos de câmera (sua marca registrada) e uma trilha sonora intrusiva e irritante composta apenas por músicas eruditas atonais de gente como Penderecki e Ligeti. Mas erra também ao deixar o elenco descontrolado, principalmente Leonardo DiCaprio e Ben Kingsley (como o psiquiatra chefe) que passam o filme todo à beira da caricatura. A edição também é ruim e deixa cenas se alongarem sem necessidade (como a do final, no lago).

Enfim, uma besteira das grandes que só recebe louvores dos profissionais da opinião por ter sido dirigido pelo ilustre Scorsese. Se tivesse sido feito por qualquer outro diretor, teria sido massacrado ou no mínimo ignorado, que é o que o filme merece.

Cotação: * 1/2

sexta-feira, 26 de março de 2010

Filmes: "A Estrada"

ASSUSTADOR

Filme mostra um futuro plausível que pode nem estar tão distante caso a humanidade continue em sua rota suicida
- por André Lux, crítico-spam

De todos os filmes sobre o fim do mundo que tem pipocado nos cinemas atualmente, esse “A Estrada” é o melhor, embora não seja um filme de ação no estilo “Mad Max 2”. Está mais para drama e suspense, questionando quais são os limites da humanidade quando se encontra numa situação desesperadora depois que a civilização como a conhecemos foi destruída (talvez por uma guerra nuclear, mas o filme faz questão de não deixar claro qual foi o cataclismo que acabou com o mundo).

Baseado na obra do escritor Cormac McCarthy (o mesmo de “Onde os Fracos Não Tem Vez”), “A Estrada” centra-se em dois personagens sem nome, um pai e seu filho, que a exemplo de outros filmes com temática parecida (“O Livro de Eli” e “Zombielândia”) rumam para o oeste passando por um sem número de perigos enquanto viajam pela terra devastada.

Aqui, o maior terror é representado por humanos canibais, que patrulham as estradas e campos em busca de novas vítimas para saciar sua fome. Só que isso é mostrado com tintas extremamente realistas, sem exagero ou fantasia. Os canibais são pessoas normais e não zumbis mutantes, o que deixa tudo ainda mais assustador – principalmente na sequência em que os protagonistas entram inadvertidamente na casa onde reside um grupo deles. A cena no porão é de arrepiar!

Os pontos altos do filme são as interpretações da dupla principal. No papel do pai temos Viggo Mortensem que depois de brilhar em “O Senhor dos Anéis” está se tornando um ator cada vez melhor e mais sincero. E o jovem Kodi Smit-McPhee dá um show de verossimilhança como o filho, principalmente nas cenas mais dramáticas. A bela Charlize Theron aparece em alguns flashbacks como a esposa do protagonista cujo destino é bastante trágico.

Sem contar com grandes tomadas de efeitos especiais ou lições de moral idiotas (como acontece em “O Livro de Eli”), “A Estrada” aposta mais na exploração da intimidade dos personagens, que lutam para manter alguma humanidade e dignidade frente aos terríveis acontecimentos que enfrentam.

O único ponto baixo do filme é mesmo o seu final, que não chega a convencer e destoa do resto da condução da trama. Mas fora isso, continua sendo um filme assustador que mostra um futuro bem plausível que pode nem estar assim tão distante caso a humanidade continue em sua atual rota suicida.

Cotação: * * * 1/2

quarta-feira, 24 de março de 2010

Filmes: "O Livro de Eli"

MAD MAX CRISTÃO

Os fanáticos fundamentalistas agora inventaram um novo gênero de tele-pregação: o filme de aventura com mensagem religiosa.

- por André Lux, crítico-spam

Se você achava que os fanáticos religiosos já tinham invadido todos os tipos de mídia para propagar sua ladainha infame, pense novamente. Agora eles inventaram o filme de aventura com fundo religioso. E esse “Livro de Eli” nada mais é do que isso. Pregação fundamentalista cristã do pior tipo, embalada num filme de ação que traz um protagonista que é uma espécie de “Mad Max Cristão” com habilidades de ninja (Denzel Washington, que também é produtor e, portanto, tem culpa no cartório).

Para levar a cabo sua mensagem fundamentalista, os realizadores inventaram uma história que é das mais idiotas que já vi. Num mundo pós-apocalíptico, um homem solitário anda pelo deserto em direção ao oeste porque ouviu uma “voz” mandando ele fazer isso. O misterioso andarilho, que decepa com um facão os vilões que de tempos em tempos tentam roubá-lo, leva em sua mochila o último exemplar da “bíblia sagrada”. Por azar, ele acaba passando por um vilarejo que reúne alguns sobreviventes da guerra que destruiu a civilização, cujo poderoso chefão local (um caricato Gary Oldman) quer porque quer arranjar uma... bíblia! O motivo: usar as palavras do poderoso livro cristão para manipular os corações e mentes das pessoas e, assim, conquistar mais poder!

É claro que o ninja incorruptível Denzel, representando aí a pureza dos fundamentalistas, não vai querer entregar sua bíblia ao vilão e, pronto, o resto você já pode imaginar. É tiro pra todo lado, com o protagonista desviando de balas, matando todo mundo e sendo perseguido pelas estradas do mundo detonado enquanto dispara frases edificantes da sua bíblia. O filme tem ainda um final “surpresa” que não acrescenta nada, mas serve para enganar os incautos que gostam desse tipo de reviravolta.

Pior que eu gosto muito de filmes ambientados em cenários pós-apocalípticos desde que assisti ao segundo “Mad Max” quando era adolescente. Por isso minha indignação é ainda maior quando pegam um gênero querido como esse e enfiam um monte de pregação religiosa no meio. Enfim, uma besteira total que só vai agradar quem já é convertido aos dogmas da seita religiosa que o filme defende. Obviamente não é meu caso.

Cotação: *

Akira Kurosawa: O gênio que levou o cinema japonês ao Ocidente

- Por André Cintra*

Há uma cena, logo no começo do filme Ran (1985), de Akira Kurosawa, em que um grupo de descendentes e súditos se encontra ao redor do poderoso daimiô Hidetora, chefe do clã dos Ichimonji, durante o período feudal no Japão. Não é uma reunião convencional. Aos 70 anos — sendo 50 deles dedicados à conquista de um vasto império de castelos e terras —, Hidetora resolve “sair de cena e dar as rédeas para mãos mais jovens”.

Mas, antes que o senhor feudal anunciasse sua decisão, alguém lhe pergunta se convém assar um javali recém-caçado. A resposta: “Ele era velho. Sua pele é dura, fedida, indigerível. Como eu, o velho Hidetora. Vocês me comeriam?".

Nascido há exatamente cem anos, Kurosawa, maior representante do chamado jidai-geki (filme histórico de samurai), "saiu de cena" em 1998, aos 88 anos. Vítima de um derrame cerebral, morreu sem saber se boa parte de seus compatriotas o engoliam. A muitos orientais, pouco importavam os 55 anos de carreira do diretor, os 32 filmes, inúmeros prêmios, a projeção que deu ao cinema japonês no exterior. Na visão de seus detratores, o diretor de Os Sete Samurais e Kagemusha era definido como um "cineasta de exportação" demasiadamente "ocidentalizado", que teria cometido o crime de renegar as tradições e os costumes japoneses.

A realidade é bem diferente. Nem na sua vida, tampouco na sua vasta obra, Kurosawa deu as costas para a cultura do seu país. Descendente de um clã de samurais, filho de um férreo administrador militar, ele nasceu em Tóquio no dia 23 de março de 1910. Recebeu forte influência do irmão Heigo — um benshi (narrador de filmes japoneses na época do cinema mudo) —, que o iniciou no cinema.

Em 1936, Kurosawa conseguiu emprego como terceiro assistente de direção na Photo Chemical Laboratories. Foi lá que começou a escrever roteiros para outros cineastas. Demonstrava aberta admiração pelo trabalho do americano John Ford em filmes como No Tempo das Diligências (1939) e As Vinhas da Ira (1940). As principais referências, literárias e cinematográficas, podiam até ser ocidentais. Mas Kurosawa, ao estrear na direção com o drama A Lenda do Grande Judô (1943), tratou de temas mais próximos a suas raízes — as artes marciais, a devoção à natureza, a descoberta paciente do amor.

Os militares, às voltas com a Segunda Guerra Mundial, abominaram o lirismo do longa-metragem e acusaram o diretor de renegar os sentimentos nacionais. As autoridades o obrigaram a aplicar uma espécie de autocensura. A derrota na guerra se avizinhava quando foi lançado o filme Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre (1945). É o primeiro jidai- geki de Kurosawa — que, se não foi o precursor, certamente o tornou o cineasta-chave para entender o gênero samurai.

O estigma de "o mais ocidental dos cineastas japoneses", atribuído pejorativamente a Kurosawa, tem início com esse ousado longa-metragem. Embora continuasse a tratar de temas contemporâneos, o diretor passou a ambientar suas histórias no Japão feudal. Os dilemas foram então avaliados através de valores tradicionais, especialmente a honra, a lealdade e o sacrifício, tão caros no universo samurai.

No ambiente do pós- guerra seus filmes ganharam acesso a festivais internacionais. Em 1950, o diretor surpreendeu ao sair do Festival de Veneza com o prêmio máximo — o Leão de Ouro — por Rashomon. O mundo do cinema passou a dar destaque para o cinema japonês, e Kurosawa foi convertido em celebridade.

"Foi ele [Kurosawa] quem melhor representou a aproximação entre seu país, o Japão, e o Ocidente, após a Segunda Guerra Mundial", escreveu o crítico Inácio Araújo, da Folha de S.Paulo. Nos anos 50, o Japão era conhecido apenas como uma nação exótica, que os filmes de guerra americanos representavam como pouco mais que um grupo de bárbaros fanáticos. Essa imagem preconceituosa do Japão foi completamente subvertida por Kurosawa a partir de Rashomon.

Remontando ao século 11, o longa conta a história de um controvertido julgamento. Numa floresta, a noiva de um samurai tem relações sexuais com o bandido Tajomaru. O samurai, logo em seguida, é encontrado morto, ali perto. O que ocorreu de fato? O bandido estuprou a mulher e depois assassinou o noivo dela? Ou o samurai se matou em nome da honra ao ver sua amada traí-lo? Na investigação, quatro pessoas são ouvidas — a noiva, o samurai (por mediunidade), o bandido e um lenhador. Os relatos se chocam. Em breves flashbacks, o filme mostra cada um dos pontos de vista e seus elementos contraditórios.

Rashomon foi o primeiro grande filme de Kurosawa — uma obra em que ele mostra que o limite das certezas é também o limite da justiça. Sua premissa narrativa e moral — uma história com múltiplas versões — irradia-se até os dias de hoje.

Em 1954, Kurosawa realizou sua obra-prima, Os Sete Samurais. O filme se baseia numa história verídica para contrapor honra e destino. Aldeões do século 16 estão ameaçados por bandidos que, sem piedade, ocupam o povoado e saqueiam as colheitas de arroz. O mestre Kambei é encarregado de contratar mais seis samurais para proteger o local.

O professor acadêmico e crítico americano Roger Ebert especula que em nenhum filme, antes de Os Sete Samurais, um grupo de personagens havia se reunido para executar certa missão. Não bastasse a originalidade, Kurosawa compôs um grupo heterogêneo, cujos membros têm personalidade e motivações diferentes — o samurai interpretado por Toshiro Mifune fez história.

O filme é um elogio a valores coletivos (solidariedade, disciplina), mas exalta a humanidade que cerca sentimentos pessoais como o medo e a covardia. Os Sete Samurais levou o Leão de Prata no Festival de Veneza e consagrou de vez Kurosawa — Hollywood fez uma versão em faroeste do filme, com o título Sete Homens e um Destino.

Se o faroeste era o gênero americano por excelência, Kurosawa transformou o jidai-geki no grande gênero japonês. Nada de caubóis, pradarias e longos duelos do Velho Oeste — elementos típicos do western. O diretor japonês iluminou o cinema de seu país com guerreiros samurais, aldeias medievais, xogunatos, lutas breves de lanças — a essência da arte do espadachim.

Está aí a principal razão para o reconhecimento e a fama de Kurosawa fora do Japão, acima de diretores como os também mestres Kenji Mizoguchi (1898-1956) e Yasujiro Ozu (1903-1963). De um lado, seus filmes apresentaram pontos de sintonia com a tradicional narrativa ocidental; de outro, o cineasta interpretou à sua maneira princípios universais — na arte e na sociedade —, atribuindo-lhes a riqueza dos valores tipicamente orientais.

Tais características estão claras em outros filmes de samurai de Kurosawa, como A Fortaleza Escondida (1958), Yojimbo, O Guarda-Costas (1961), e sua continuação, Sanjuro (1962). Desses três, Yojimbo é o mais bem-sucedido em termos de crítica e público. Seu enredo gira em torno de um samurai solitário e desempregado, que resolve lutar para dois grupos inimigos. No filme seguinte, Sanjuro é o nome do samurai que cede à corrupção. Dois personagens, dois estudos morais.

Para incômodo dos japoneses mais ortodoxos, a carreira de Kurosawa sempre dialogou com o Ocidente. Na década de 50, o diretor adaptou para a tela grande O Idiota, de Dostoievski, e Ralé, de Gorki. Em Trono Manchado de Sangue (1957), ambientou Macbeth, de Shakespeare, no Japão feudal, e tratou do samurai Taketori Washizu. Destinado a ser xogum e instigado pela ganância da esposa Asaji, esse anti- herói envereda por uma luta que leva à memorável cena final: Washizu, imperecível, não sucumbe nem quando seus antigos comandados o atingem com dezenas de flechas.

O universo shakespeariano e o desenlace trágico são retomados em Ran, uma adaptação livre de Rei Lear e da lenda japonesa de Móri. O filme mostra uma disputa de poder marcada por traições no seio de um clã. Kagemusha é outro ensaio de Kurosawa sobre o poder, ambientado nos tempos dos samurais. Próximo da morte, o xogum Shingen vê que seu clã está em processo de ruína e arma uma manobra: arranja um sósia para sucedê-lo em sigilo.

Com a morte do chefe militar, o sósia a subir ao trono é um ladrão que aceita o disfarce e depara com uma série de crises. O larápio, no entanto, aprende as artimanhas do clã e vira uma personificação fiel do líder morto. Por esse épico espetacular — estudo de como a manutenção do poder pode custar caro numa sociedade de hipocrisias e aparências —, o cineasta japonês amealhou vários prêmios internacionais, com destaque para a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Lembrar Kurosawa cem anos após seu nascimento — como faz a Cinemateca Brasileira, ao programar um ciclo gratuito de filmes do diretor — é prestar tributo a uma cinematografia única. Uma vez mais, espectadores poderão entender por que esse gigante das artes japonesas foi definido até pelo diretor americano Steven Spielberg como “o Shakespeare visual do nosso tempo”.

* Texto adaptado de um artigo do autor para a revista Japão, 500 Anos de História, 100 Anos de Imigração

terça-feira, 9 de março de 2010

Oscar: Venceu o filme a favor da máquina de guerra

Achei interessante a análise, embora continue achando "Avatar" uma porcaria. Mas vale lembrar que a direitona dos EUA estava metendo o pau no filme por achar que ele era de esquerda!

- André

Oscar: Venceu o filme a favor da máquina de guerra

- Por Luiz Bolognesi*

Ao contrário do que parece à primeira vista, a polarização entre Avatar e Guerra ao Terror não traduz uma disputa entre cinema industrial e cinema independente, nem batalha entre homem e mulher. O que estava em jogo e continua é o confronto entre um filme contra a máquina de guerra e a economia que a alimenta e outro absolutamente a favor, com estratégias subliminares a serviço da velha apologia à cavalaria.

Avatar foi acusado nos Estados Unidos de ser propaganda de esquerda. E é. Por isso é interessante. No filme, repleto de clichês, os vilões são o general, o exército americano e as companhias exploradoras de minério do subsolo. Os heróis são o "povo da floresta". A certa altura, eles reúnem todos os ''clãs'' para enfrentar o invasor americano.

Clãs? Invasor americano? Que passa? É difícil entender como a indústria de Hollywood conseguiu produzir um filme tão na contramão dos interesses do país e transformá-lo no filme mais visto na história do cinema. Esse fato derruba qualquer teoria conspiratória, derruba décadas de pensamento de esquerda segundo a qual a indústria de Hollywood está sempre a serviço da ideologia do fast-food e da economia que avança com mísseis, aviões e tanques. Como explicar esse fenômeno tão contraditório?

Brechas, lacunas na história. Ou como diria Foucault, a história é feita de acasos e não de uma continuidade lógica cartesiana. A necessidade do grande lucro, da grande bilheteria mundial produziu uma antítese sem precedentes chamada James Cameron. O homem de Titanic tinha carta branca. Pelas regras da cultura do "ao vencedor, as batatas", Cameron podia tudo porque era capaz de fazer explodir as bilheterias mundiais.

Mas calma lá, cara pálida, uma incoerência desse tamanho, você acredita que passaria despercebida? O general americano, vilão? As companhias americanas que extraem minério debaixo das florestas tratadas como o império das sombras? Alto lá. Devagar com o andor, mister Cameron.

Aí, alguém chegou correndo com um DVD na mão. Vocês viram esse filme da ex-mulher do Cameron? Não, ninguém viu? Então vejam. É sensacional. Ao contrário de Avatar, nesse DVD aqui o soldado americano é o herói. Aliás, mais que herói, ele é um santo que arrisca sua própria vida para salvar iraquianos inocentes. Jura? Temos esse filme aí? Sim, o pitbull americano é humanizado e glamourizado, mais que isso, ele é santificado.

Então há tempo.

Guerra ao Terror estreou no Festival de Veneza há dois anos. Por acaso eu estava lá como roteirista de Terra Vermelha, do diretor italiano Marco Bechis, e fui testemunha ocular da história. O filme da diretora Kathryn Bigelow foi absolutamente desprezado pelos jornalistas e pelo público. E seguiu assim. Indo direto ao DVD, em muitos países, sem passar pelas salas de cinema. Até ser resgatado pela indústria americana como um trunfo necessário para contestar Avatar e reverenciar a máquina de guerra e o sacrifício de tantos jovens americanos mortos e decepados em campo de batalha.

Trabalhando num projeto para o mesmo diretor italiano, que pretendia fazer um filme sobre os viciados em guerra no Iraque, eu pesquisei o assunto durante alguns meses. Tudo muito parecido com o filme de Bigelow, exceto por um detalhe. O detalhe é que os soldados americanos que se tornam dependentes da adrenalina da guerra tornam-se assassinos compulsórios e não salvadores de vidas.

O sintoma dos viciados em guerra é atirar em qualquer coisa que se mexa, tratar a realidade como videogame e lidar com armas e balas de verdade como um brinquedo erótico. Se Guerra ao Terror representasse nas telas essa dimensão da realidade, seria um filme sensacional, mas não teria levado o Oscar, podem apostar.

Guerra ao Terror venceu o Oscar porque, como nos filmes de forte apache, transforma os assassinos que dizimam outras culturas em heróis santificados. A cena extremamente longa e minimalista em que os jovens soldados americanos em situação desprivilegiada combatem no deserto os iraquianos é o que, se não uma cena clássica de caubóis cercados por apaches?

Sem nenhuma surpresa para filmes desse gênero, os garotos americanos vencem, matam os iraquianos sem rosto, como os caubóis faziam com os apaches no velho-oeste. A cena do garoto iraquiano morto, com uma bomba colocada dentro do corpo por impiedosos iraquianos, que literalmente matam criancinhas, tem a sutileza de um elefante numa loja de cristais. Propaganda baratíssima da máquina de guerra.

No filme de Cameron, os na"vi azuis podem ser os apaches que derrotam o general e expulsam a cavalaria americana. Mas isso é apenas uma ficção. Na vida real do Oscar, a cavalaria precisa continuar massacrando os apaches.

*Luiz Bolognesi é roteirista de filmes como Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade

segunda-feira, 8 de março de 2010

Masoquismo puro: Análise do Oscar 2009

Esse último Oscar foi um dos piores, se não o pior, que eu já assisti. Não estou falando do show em si, que foi brega, irritante e interminável como sempre, mas sim dos filmes concorrendo.

Uma piada o fraco "Guerra ao Terror" ganhar seis estatuetas - ainda mais as técnicas, como melhor edição de som e efeitos sonoros, já que o filme é extremamente precário. Mas pior seria o desenho animado em computador "Avatar" ter ganho como melhor filme e diretor. Por sinal, como um filme desses, todinho feito digitalmente, pode ganhar o Oscar de melhor fotografia? Ridículo.

Sandra Bullock melhor atriz? Só rindo mesmo... Mas faz parte da lógica deles de tentarem alavancar a carreira de gente que ajuda a trazer dinheiro para as bilheterias e para as contas bancárias dos executivos de Roliúdi.

As únicas coisas boas da noite foram as premiações do Jeff Bridges, bom ator e um sujeito simpático, do filme argentino "O Segredo de Seus Olhos" e do compositor Michael Giacchino (por "Up", um desenho bem fraquinho cuja trilha sonora era a única coisa que prestava). Só faltava mesmo a grotesca trilha de James Horner para "Avatar" ganhar. Ou o abominável Hans Zimmer, que criou o barulho que chamaram de música para o desprezível "Sherlock Holmes".

Não dá mesmo para levar a sério esse concurso de popularidade, mas nunca haviam chegado ao fundo do poço como este ano. Filmes excepcionais como "Agora" ou "Watchmen" não terem recebido nenhuma indicação é apenas a prova que não se deve levar essa besteira à sério. A gente assiste e comenta por masoquismo puro e simples...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Filmes: "O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus"

ANARQUISTA EM FORMA

É uma obra típica de Terry Gilliam, do Monty Phyton, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas.

- por André Lux, crítico-spam

Depois de uma maré baixa, onde fez dois filmes fracos (“Os Irmãos Grimm” e “Contraponto”) e quase foi à loucura com as filmagens inacabadas de “Dom Quixote”, o anarquista Terry Gilliam volta à forma com “O Mundo Imaginário do Dourtor Parnassos”, filme que acabou ficando famoso por se tratar da última interpretação de Heat Ledger (o Coringa do último “Batman”) que morreu durante as filmagens e quase inviabilizou a finalização da obra.

Mas como a trama é bizarra e cheia de passagens delirantes, Gilliam conseguiu substituir Ledger com sucesso por Johnny Depp, Jude Law e Collin Farrel em momentos chaves do filme que se passam numa espécie de realidade paralela existente dentro de um espelho que é fruto dos poderes paranormais do tal Dr. Parnassus do título (Christopher Plummer em ótimo desempenho), um sujeito que tem uma trupe de circo que se apresenta em becos de Londres e vive há centenas de anos por causa de diversas apostas que fez com o diabo (interpretado pelo cantor Tom Waits). O personagem de Heat Ledger entra na trama depois de ser salvo de um aparente suicídio pela trupe circense e, como perdeu a memória, insere-se ao grupo e tenta injetar sangue novo às apresentações do Dr. Parnassus.

Embora o filme tenha um início truncado e mal alinhavado, tudo melhora quando Ledger entra em cena e as propostas do diretor começam a tomar forma, assim como a crítica à sociedade do consumo e à estupidez de quem faz parte dela acriticamente (que dá o tom à sua obra-prima “Brazil”).

Ou seja, é uma obra típica de Gilliam, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas. O filme lembra em alguns momentos “As Aventuras do Barão Munchausen” (uma de suas melhores obras) tanto na forma quanto no conteúdo e tem relação com “O Pescador de Ilusões”, que também mostrava personagens derrotados vivendo em busca de redenção por meio da imaginação. Há inclusive uma cena completamente maluca dentro do espelho, onde policiais dançam numa espécie de musical, que faz referência direta aos quadros do genial grupo Monty Phyton (do qual Gilliam era o criador das animações).

Enfim, para quem gosta e estava com saudades do bom e velho Gilliam, este filme é um prato cheio.

Cotação: * * * 1/2

Filme: "O Segredo de Seus Olhos"

IMPERDÍVEL

Obra mostra o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.

- por André Lux, crítico-spam

Depois de passar uma temporada dirigindo episódios de séries famosas nos EUA (como “House” e “Lei e Ordem”), o diretor Juan José Campanella, de “O Filho da Noiva” (leia minha análise neste link), voltou à Argentina para produzir mais um excelente filme chamado “O Segredo de Seus Olhos”.

Novamente trabalhando com seu ator preferido, Ricardo Darin, Campanella adapta um romance de Eduardo Sacheri com sua habitual maestria, juntando no mesmo filme diversos tipos de gêneros do cinema, tais como suspense, drama, romance, policial, comédia, denúncia política (uma parte do filme se passa durante a ditadura militar argentina) e até uma pitada de film noir.

Darin interpreta com sua naturalidade e competência de sempre Benjamín Espósito, um oficial de justiça aposentado que resolve escrever um livro tendo como premissa um caso escabroso que investigou no passado e que trouxe conseqüências trágicas para todos os envolvidos.

Mas não é só isso. Em seu livro Espósito quer também expiar seu remorso por não ter tido coragem de lutar pelo amor de sua vida, interpretada por Soledad Villamil (que esteve em “O Mesmo Amor, A Mesma Chuva” também com Darin e dirigido por Campanella), que era sua supervisora no Fórum. Outro personagem importante é o parceiro de Espósito, Pablo Sandoval, na pele de Guillermo Francella, que serve como alívio cômico à trama (preste atenção às formas como ele atende ao telefone da repartição).

Por meio de flashbacks muito bem elaborados, vamos sendo apresentados ao crime e aos desdobramentos que ele provoca na vida dos envolvidos.

É digna de nota a firmeza com que Campanella conduz a trama, sempre de forma inusitada e buscando o aprofundamento psicológico dos protagonistas à medida que eles vão sendo afetados pelos desenlaces do caso investigado.

O filme busca também fazer um estudo do que leva uma pessoa a ficar obcecada, em contraste com o vazio existencial enfrentado por Espósito e o que ambos sentimentos geram de consquências.

Se você já conhece o trabalho do diretor Campanella então não pode perder mais esse excelente filme dele. E se não conhece, está aí uma ótima oportunidade para tomar contato com o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.

De qualquer forma, “O Segredo de Seus Olhos” é um filme simplesmente imperdível.

Cotação: * * * *

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Filmes: "Guerra ao Terror"

CHATO E PRECÁRIO

O filme nem mesmo tem uma mensagem firme contra a guerra. No máximo ensina que “a guerra não é bolinho”, algo que certamente vai impressionar um alienígena pacífico que chegou à Terra hoje.

- por André Lux, crítico-spam

Esse “Guerra ao Terror” (uma tradução ridícula para “The Hurt Locker”) é mais um caso de delírio coletivo dos profissionais da opinião que colocam no pedestal um filme fraco que não chega nem aos pés de outros filmes de guerra como “Platoon”, “Três Reis” ou mesmo “O Resgate do Soldado Ryan” (que era tecnicamente impressionante). 

Até entendo que cause certo impacto nos Estados Unidos, afinal são eles que estão metidos até o pescoço naquele atoleiro servindo de bucha de canhão enquanto algumas corporações ligadas aos neocons do partido Republicano faturam em cima da guerra. Agora, indicar esse blefe para nove Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, só pode ser piada (e quando eu digo que esse prêmio não pode ser levado a sério tem gente que acha ruim)!

Não há história a ser contada e o filme resume-se a uma série de episódios envolvendo uma equipe de especialistas em desarmar bombas, comandada por um sujeito estúpido e irresponsável que coloca seus colegas em risco todo o tempo. Há uma tentativa forçada de afirmar que o rapaz é “viciado em guerra”, como sugere uma frase no início do filme, mas tudo não passa de desculpa para gerar situações de suspense onde somos obrigados a torcer para os patéticos soldadinhos do Tio Sam, sempre atônitos e perdidos no meio daquele deserto cheio de barbudos usando turbante.

Tecnicamente o filme é precário, todo filmado naquele estilo “docudrama” que já deu o que tinha que dar, com câmera de High Definition trepidando na mão e um excesso de zooms que só servem para torrar o saco do espectador. Não dá nem para falar em direção de fotografia num filme desses, já que tudo é filmado com luzes naturais, o que deixa as cenas noturnas num breu total. Não se trata nem de opção estética, como já fizeram por exemplo Clint Eastwood em “Os Imperdoáveis” ou Stanley Kubrick em “Barry Lyndon”. É falta de recursos mesmo.

A direção de Kathryn Bigelow é medíocre e o fato mais marcante de sua presença atrás das câmeras, que tem gerado faniquitos em alguns profissionais da opinião, é ela ser ex-mulher do James Cameron, que também concorre ao Oscar como Melhor Diretor pelo ridículo “Avatar”. Vejam só que coisa importante!

Os diálogos são frouxos e soam forçados saindo das bocas de um grupo de atores inexpressivos (não se deixe enganar pelo nome de alguns famosos no elenco, como Ralph Fiennes e Guy Pierce, pois eles aparecem em pontinhas minúsculas). O filme nem mesmo tem uma mensagem firme contra a guerra. No máximo ensina que “a guerra não é bolinho”, algo que certamente vai impressionar um alienígena pacífico que chegou à Terra hoje. Se não bastasse tudo isso, “Guerra ao Terror” é chato pra burro, do tipo que você não vê a hora que acabe – e suas duas horas de duração parecem o dobro!

Veja por sua conta e risco, mas não diga que eu não avisei.

Cotação: *

Filmes: "Criação"

HUMANIZANDO O MITO

Filme tem como protagonista ninguém menos do que Charles Darwin, o criador da teoria da evolução

- por André Lux, crítico-spam

Cinebiografias de personalidades reais sempre correm o sério risco de limitarem-se a elencar vários episódios importantes sobre a vida do biografado, falhando em aprofundar suas paixões, dores ou inspirações e alienando assim o espectador. Levando-se esses fatos em conta, “Criação” é uma boa surpresa. O filme tem como protagonista ninguém menos do que Charles Darwin, o criador da teoria da evolução, que revolucionou o modo como vemos a natureza e mesmo nosso lugar neste mundo.

Ao invés de tentar reproduzir nas telas toda a jornada de descobertas do cientista, o filme concentra-se na fase mais difícil de sua empreitada: justamente quando tem que completar seu livro “Sobre a Origem das Espécies”. Atormentado pela morte de sua filha mais velha, com a qual tinha grande empatia e continua conversando em momentos de delírio, e pelos conflitos entre sua fé cristã cada vez mais enfraquecida e suas descobertas científicas revolucionárias, Darwin reluta em finalizar sua obra. E quanto mais procrastina, mais estressado fica ao ponto de adoecer fisicamente.

Esses conflitos internos do protagonista são explorados de maneira sutil e madura, sem cair em melodramas ou reduções simplistas. O relacionamento entre Darwin e sua devota, porém muito religiosa esposa (a lindíssima Jeniffer Connely) também é bem enfocado, tornando-se parte importante do desenvolvimento psicológico do personagem. A interpretação de Paul Bettany como Darwin é convincente e o filme tem ainda uma excelente direção de fotografia e uma bonita trilha musical composta por Christopher Young.

Se não é nenhuma obra-prima, “Criação” ao menos tenta humanizar um personagem mítico da nossa história sem se preocupar em ser didático ou detalhista. E é exatamente assim que os bons dramas são feitos. Além disso, esse é o tipo de filme que, mesmo sendo respeitoso em relação à fé alheia, certamente vai provocar a fúria dos fanáticos religiosos - o que por si só já um ponto positivo a mais para ele.

Cotação: * * *

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Filmes: "Baarìa"


DECEPCIONANTE

É o tipo de filme que a gente quer gostar, mas que no final se torna penoso de assistir.

- por André Lux, crítico-spam

É uma grande decepção esse novo filme do diretor de “Cinema Paradiso”, Giuseppe Tornatore, que ele garante ser sua obra mais autobiográfica e íntima. Pode até ser que para ele, seus familiares e amigos mais chegados “Baarìa” passe algum tipo de emoção ou mensagem, mas para o resto dos mortais o filme é de um vazio impressionante. Chega a dar sono, ainda mais por ter uma metragem alongada (2 horas e trinta minutos, mas que parecem ser mais).

O mais triste é que a obra é extremamente bem feita tecnicamente. Tudo está no lugar certo: a fotografia é exuberante, a trilha de Ennio Morricone é excelente como de costume e a reprodução dos cenários e vestimentas de época impressionam. Tornatore chegou a construir uma set inteiro no deserto da Tunísia para reproduzir o que seria uma vila italiana da Scilia por volta de 1940, que é onde a história começa, mostrando a segunda guerra mundial e a ação dos fascistas de Mussolini na região.

Mas nada disso adianta para salvar o filme. O roteiro, de autoria do próprio Tornatore, é um desastre e não tem foco narrativo definido, pulando de um episódio a outro sem ligação ou lógica (a edição é um ponto baixo do filme, principalmente ao abusar de fade outs). 


Não dá para entender qual era enfim o objetivo do filme: se queria contar a saga de Peppino Torrenuova (que ao que parece seria o pai do cineasta), pintar um retrato da Scilia durante os mais de 40 anos que o filme aborda ou fazer uma crítica social e política da situação dos pobres que vivem sendo explorados pelos políticos de direita e pela máfia local.

No final, não é nem uma coisa nem outra. Personagens entram e saem de cena sem marcar e fica difícil se identificar com qualquer um deles. Nem mesmo com Peppino, que supostamente seria o protagonista da história, mas que passa em brancas nuvens já que seu personagem nunca é aprofundado.

Nem mesmo dá para entender porque ele resolve se filiar ao Partido Comunista Italiano na juventude, no qual milita até o fim. Também é extremamente superficial seu relacionamento com a esposa ou com os filhos (o que deveria ser a força motriz do filme).

É o tipo de filme que a gente quer gostar, por causa de todos os envolvidos em sua produção e pela própria temática, mas que no final se torna penoso de assistir. Lamentável.

Cotação: * 1/2

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Filmes: "Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" (Versão Estendida)


A New Line e a Warner lançaram no exterior uma versão expandida de ''O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel'', primeira parte da trilogia baseada na obra de J. R.R. Tolkien dirigida por Peter Jackson, em luxuosos Boxes com 4 e 5 DVDs.

Apesar destas edições estarem disponíveis na Austrália, que pertence à Região 4 como o Brasil, infelizmente nós ficamos de fora dos planos dos estúdios. Vou analisar aqui a edição com 4 discos - e quem tiver dinheiro sobrando para adquirir este produto importado terá motivos de sobra para comemorar.

Apesar do próprio Peter Jackson avisar que não considera esse corte do filme, que contém mais de 30 minutos de imagens inéditas, como a ''Versão do Diretor'', a verdade é que as novas cenas melhoram muito o filme, que já era praticamente perfeito ao ser exibido nos cinemas. Houve preocupação imensa em transformar essa nova versão em uma experiência totalmente coerente e refinada. Isso fica evidente quando percebemos que a montagem inclui várias tomadas diferentes das que foram usadas nos cinemas, para que a narrativa case melhor com as cenas inéditas, cujo exemplo mais nítido vem durante o ''Conselho de Elrond''.

Além disso, o compositor Howard Shore compôs e gravou músicas adicionais e totalmente novas para as seqüências inéditas, sendo que em alguns momentos elas acabam até predominando sobre a trilha anterior, o que deixa ainda maior a sensação de fluidez da montagem. Normalmente, em casos de ''Versões do Diretor'', muitas cenas ou seqüências novas são simplesmente jogadas no meio da narrativa, o que resulta em ''pulos'' na banda sonora ou na estrutura do filme. 

Nada disso acontece aqui. Conforme explica o diretor Jackson, essa versão estendida é, de fato, o primeiro corte do filme já refinado, mas antes de começar a sofrer as pressões para redução da metragem. É claro que um filme com 3 horas e 28 minutos de duração seria grande demais para os cinemas, nos quais foi apresentada a versão reduzida com ''apenas'' 2 horas e 40 minutos (contida no DVD lançado no Brasil oficialmente).



Contudo, o mais interessante é que muitas das sequências reincorporadas ao filme mudam completamente o seu próprio conceito autoral. No início, por exemplo, após o prólogo explicativo sobre a história do Anel, temos a apresentação dos Hobbits, que é feita por Bilbo Bolseiro (Ian Holm) enquanto inicia os trabalhos de criação de seu livro. Essa seqüência toda é bastante diferente da que foi para os cinemas, tanto em relação ao clima quanto ao ritmo, especialmente nos diálogos travados entre Frodo (Elijah Wood) e Gandalf (Ian McKellen).


Adicionalmente, as novas cenas são muito mais focadas no desenvolvimento dos personagens e suas relações, do que em cenas grandiosas ou com grandes efeitos. Quem mais se beneficia nessa nova versão é sem dúvida Aragorn (Viggo Mortensen), cujo drama interior ganha maior destaque e profundidade. Apenas quem leu os apêndices do livro de Tolkien sabe, por exemplo, que ele foi perseguido a vida toda pelos seguidores de Sauron até acabar sendo levado por sua genitora até Valfenda, para ser criado pelos elfos - daí vem o início de seu romance com Arwen (Liv Tyler). Há a inclusão de uma bela cena na qual ele visita o túmulo da mãe, quando é interpelado por Elrond (Hugo Weaving), que tenta despertá-lo para seu destino. A relutância de Aragorn em aceitar sua herança - e as conseqüências disso para a Sociedade do Anel - são muito mais exploradas e realçadas aqui.



É claro que nem todas as cenas inéditas são relevantes e muitas acabam funcionando apenas a título de curiosidade ou registro de passagens do livro que pouco acrescentam à trama. Um exemplo disso é a discussão entre os membros da Sociedade e os elfos de Lothlorién, que se recusam a deixá-los prosseguir floresta adentro. Todavia, existem algumas preciosidades nessa nova versão que melhoram muito o filme, sendo que algumas até corrigem alguns ''defeitos'' que atrapalharam a versão cinematográfica. Entre eles, temos um pequeno trecho de diálogo entre Gandalf e Frodo, nas Minas de Moira, quando o mago revela que Gollum já foi conhecido como Sméagol (informação crucial que foi deixada de fora e prejudicou o segundo filme, ''O Senhor dos Anéis: As Duas Torres'').

Outra diz respeito à preparação da queda de Boromir (Sean Bean), que ganhou várias cenas adicionais (como ele discutindo com Aragorn, enquanto ambos vêem Gollum no rio seguindo a comitiva) e cuja batalha contra os Uruk-hais ficou mais longa e aumentou em dramaticidade. Há a inclusão de um pequeno monólogo de Aragorn, logo após a morte de Boromir, o qual culmina com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, que corrige o que parecia ser um grave defeito de montagem da versão original. Antes, ela cortava do personagem ajoelhado no chão para o close dele em pé, chorando. Agora podemos entender perfeitamente o desenvolvimento da cena, que havia ficado extremamente truncada.



Outra adição saborosa foi a da distribuição dos presentes aos membros da Sociedade, onde é mostrado um lado mais ameno de Galadriel (nos cinemas ela acabou ficando sombria demais), bem como a conseqüente paixão do anão Gimli pela elfa! Ou seja: se o filme que todos viram nos cinemas (ou em DVD) já possuía qualidades inegáveis, a nova versão deixa tudo ainda melhor, mais dramático, rico e profundo, mesmo tendo um ritmo mais lento e sendo, obviamente, bastante longo.



Os Extras Além do filme com 30 minutos a mais e com a opção do som DTS, os dois primeiros DVDs trazem ainda nada menos do que 4 faixas de áudio com comentários da produção, divididos em ''O Diretor e os Roteiristas'', ''O Time de Design'', ''O Time de Produção e Pós-Produção'' e ''O Elenco'' (com participação de Elijah Wood, Ian McKellen, Liv Tyler, Sean Astin, John Rhys-Davies, Billy Boyd, Dominic Monaghan, Orlando Bloom, Christopher Lee e Sean Bean!). Mas é nos próximos dois discos que somos apresentados a uma quantidade inacreditável de extras e bônus.

Só de documentários estilo making of são mais de 12 horas de material, divididos em ''Do Livro à Visão'' (disco 3) e ''Da Visão para a Realidade'' (disco 4), ambos subdivididos em uma série de capítulos nos quais cada aspecto da realização do filme é dissecado de maneira excepcional. De particular interesse é o documentário sobre a criação dos efeitos sonoros (especialmente os ruídos do Balrog feitos a partir do deslocamento de um imenso bloco de concreto!) e as diferentes técnicas usadas para deixar os Hobbits do tamanho correto (fundo azul, perspectiva forçada, uso de bonecos gigantes e dublês anões).

E, se não bastasse tudo isso, os discos ainda trazem mais de duas mil fotos de produção, mapas interativos da Terra-Média, storyboards, testes iniciais de filmagem, animatics comparativos, etc... Certamente quem gostou do filme poderá ver ''A Sociedade do Anel'' de uma forma que nunca sonhou ver antes.

Cotação: *****

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Só para constar: Minha opinião sobre o Oscar

Muita gente me pergunta o que eu acho do Oscar, o prêmio máximo do cinema estadunidense. Bom, apesar de sempre assistir até as altas horas da madrugada, não levo esse negócio a sério. Trata-se de uma premiação da indústria cultural daquele pais, apenas uma espécie de "concurso de popularidade", onde os premiados são via de regra aqueles que mais faturaram nas bilheterias ou os atores que mais grana deram aos estúdios.

Dá pra contar nos dedos das mãos as vezes que premiaram filmes realmente importantes. Por isso, não é surpresa nenhuma ver "Avatar" concorrendo a nove estatuetas! Mas desta vez exageraram: colocar esse filme ridículo indicado a melhor filme e melhor diretor só pode ser piada!

O engraçado é que não tiveram coragem de indicá-lo como "melhor roteiro original", já que é uma reciclagem de "Pocahontas" e "Dança Com Lobos" com pitadas de "Matrix" (talvez poderia entrar como "melhor roteiro adaptado"). Aí vem a pergunta: como um filme pode ser considerado "melhor filme" se seu roteiro não está entre os finalistas? Não faz o menor sentido.

Outra piada pronta do Oscar: indicar "Sherlock Holmes", do abominável Hans Zimmer, como melhor trilha sonora. Será que esses caras não entendem nada do assunto?

Por essas e outras, morro de rir quando vejo profissionais da opinião fazendo mil análises e previsões sobre essa premiação, como se fosse algo para ser levado a sério...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Trilhas Sonoras: "O Senhor dos Anéis: As Duas Torres", de Howard Shore

DUAS VEZES BRILHANTE

Com ''As Duas Torres'', Peter Jackson confirma que não poderia ter sido mais feliz na escolha do compositor para ''O Senhor dos Anéis''.

- por André Lux, crítico-spam

Com a partitura de ''O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel'', Howard Shore mostrou para todos que é muito mais do que um mero compositor de música de suspense - alcunha que já estava fadado a carregar por causa de sucessivas composições para filmes como ''Seven - Os Sete Crimes Capitais'' e ''O Silêncio dos Inocentes'' (claro que quem afirmava isso nunca deve ter ouvido ''Ricardo III'', ''Nobody's Fool'' ou ''Ed Wood'').

Ele não apenas capturou com grande maestria todas as nuances do mundo criado por J.R.R. Tolkien, mas também teve criatividade e arrojo suficientes para injetar sangue novo à arte de compor música para filmes de fantasia e aventura, terreno já trilhado antes por monstros sagrados como Bernard Herrman, John Williams, Jerry Goldsmith e tantos outros. Ou seja: era fácil deixar-se levar pelas influências e trilhar o caminho mais conhecido dos clichês musicais.

Mas Shore entendia o peso da responsabilidade que carregava e não decepcionou. Não é a toa, portanto, que fisgou os prêmios mais importantes daquele ano, bem como o respeito e a admiração de praticamente todos os apreciadores da música cinematográfica. Depois do sucesso da primeira empreitada, a grande questão que pairava no ar era: será que Shore teria fôlego para criar partituras tão boas quanto a do primeiro para os outros filmes da trilogia? ''As Duas Torres'' chegou e a resposta foi um sonoro SIM! Ele não apenas compôs uma trilha à altura da primeira, como a superou em vários momentos.

Livre das necessidades mercadológicas que acabaram limitando a trilha anterior (como a inclusão da soporífera Enya, cujas canções embora não tenham atrapalhado, também nada acrescentaram), Shore pôde concentrar-se mais na experimentação e na criação de temas menos fáceis de serem digeridos à primeira leitura (como o tema dos Hobbits, cuja simplicidade acabou gerando críticas equivocadas, tais como afirmar que era plágio de ''Titanic'', só por usar instrumentos de sopro semelhantes aos daquela trilha).

A trilha de ''As Duas Torres'' está dividida em duas partes bem claras. Em uma há a recorrência aos temas principais criados para o primeiro filme. Faixas como ''Glamdring'', "The Dead Marshes'', ''Ugluk's Warriors'' e ''Wraiths on Wings'' basicamente refrescam nossa memória acerca do material anterior, mas sempre com uma nova leitura ou desenvolvimento. Já a outra parte apresenta as novidades, que começam em ''The Plains Of Rohan '' e passam a dar o tom a partir da belíssima ''Théoden King'', na qual a nobreza dos Cavaleiros de Rohan é representada no solo do violino norueguês de Dermot Crehan.

O diretor Peter Jackson explica que nesse filme somos apresentados ao ''mundo do dos Homens'' e isso se faz sentir na trilha de modo acentuado. Ficam em segundo plano, portanto, os temas etéreos e místicos (que deram o tom à primeira trilha). Prevalece agora um tom mais melódico, mais ''pé-no-chão'', fazendo eco à tradição musical européia romântica. E isso é sentido claramente nos momentos mais emocionais, principalmente em ''Gandalf, the White'', ''Where Is The Horse And The Rider?'', ''Théoden Rides Forth'' - sem dúvida algumas das melhores faixas do álbum, nas quais as performances dos metais (principalmente das trompas) e do coral de vozes impressionam.

Entretanto, a trilha de ''As Duas Torres'' é mais pesada, soturna e sombria do que a de ''A Sociedade do Anel'', seguindo obviamente o clima do segundo capítulo da saga. Shore às vezes abusa um pouco de gongos e pratos para representar a grandeza na tela, mas ainda assim há espaço para músicas reflexivas e elegantes, representadas em ''One Of The Dúnedain'' e ''Arwen's Fate''. O compositor faz novamente extenso uso de coro de vozes (ainda mais acentuadamente do que na primeira partitura) e de solistas, mas nunca de forma bombástica ou intrusiva (pecado mortal de nove entre dez trilhas que utilizam dessa técnica), ficando como destaque a retumbante ''The Last March of the Ents''. A trilha é encerrada com ''Gollum's Song'', na voz de Emilliana Torrini (sem dúvida uma canção bizarra, mas cujo valor cresce à medida que se entende seu conteúdo já que é o retrato perfeito do atormentado personagem), seguida de uma releitura dos temas principais do filme.

Com ''As Duas Torres'', Peter Jackson confirma que não poderia ter sido mais feliz na escolha do compositor para ''O Senhor dos Anéis'', cuja missão é tão importante quando à do pequeno Hobbit que tem em mãos o destino dos povos da Terra Média.

Cotação: * * * * *

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Filmes: "Os Garotos Estão de Volta"

BONITO E TOCANTE

Para quem gosta de um bom drama este filme é uma ótima pedida.

- por André Lux, crítico-spam

Scott Hicks deve ser um dos cineastas mais sensíveis em ação atualmente. Ele tem a capacidade de transformar histórias até certo ponto banais em filmes extremamente bonitos e tocantes. Foi assim em “Shine – Brilhante” e no belíssimo “Neve Sobre os Cedros”.

Em “Os Garotos Estão de Volta” ele coloca essa sua sensibilidade mais uma vez a serviço de um enredo que, nas mãos de um diretor medíocre ou com mão pesada, se transformaria em mais um daqueles dramalhões piegas e manipulativos que existem aos montes por aí.

Inspirado em fatos reais, o roteiro conta a história de um jornalista esportivo inglês que, após a trágica morte da esposa, é obrigado a cuidar do filho sozinho no interior da Austrália. Para complicar ainda mais as coisas, um outro filho dele (fruto de casamento anterior) vem da Inglaterra para passar um tempo com o pai.

Acompanhamos então as desventuras do protagonista, encurralado entre as necessidades de seu trabalho e as responsabilidades paternas, enquanto é atormentado pela morte da esposa. Os inevitáveis conflitos entre ele e seu filho adolescente também são tratados de maneira convincente, sem nuca cair em caricaturas ou reducionismos.

O grande trunfo do filme é a direção cativante de Hicks, que faz uso de enquadramentos muito bem elaboradores, de uma fotografia brilhante e de uma trilha musical belíssima, que emoldura a narrativa com contornos poéticos.

Ajuda muito também a presença de Clive Owen como o protagonista, talvez em sua melhor atuação até hoje, que conta com ótimos coadjuvantes (especialmente as crianças) para apóia-lo.

Para quem gosta de um bom drama, “Os Garotos Estão de Volta” é uma ótima pedida.

Cotação: * * * *

Vox Populi: Dilma tem 45% e Serra 23% em Pernambuco

A pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, alcançou em Pernambuco, na primeira quinzena deste mês, quase o dobro das intenções de voto do pré-candidato do PSDB, José Serra, informa pesquisa do instituto Vox Populi encomendada pela Rede Bandeirantes e divulgada na edição de ontem do Jornal da Noite. De acordo com o Vox Populi, Dilma obteve 45%, Serra 23%, Ciro (PSB) 9% e Marina (PV) 3%.

Os resultados apurados em Pernambuco fazem parte de uma pesquisa de âmbito nacional realizada junto a 2.000 eleitores de todas as regiões entre os dias 14 e 17 de janeiro.

No fim da semana passada, o Jornal da Band havia divulgado os resultados que o Vox Populi apurou no Rio de Janeiro sobre a disputa presidencial. Eles mostram um empate técnico entre Serra (27%) e Dilma (26%), dentro da margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. Ainda no Rio, terceiro maior colégio eleitoral do país, Ciro Gomes obteve 14% e Marina Silva 9%.

Dilma, que estará amanhã em Pernambuco, esteve hoje no Rio, onde iniciou seu dia com entrevista na Rádio Tupi AM. Enfatizou que a Saúde e a Educação terão espaço destacado em sua plataforma de campanha e anunciou “um PAC da creche e um PAC do ensino superior. Um tem tudo a ver com o outro. Para ter uma boa creche, é preciso ter uma universidade que forme bons professores”.

À tarde, acompanhando o presidente Lula, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, a ministra participou da inauguração da creche Zilda Arns e da praça Nossa Senhora Aparecida, obras financiadas pelo PAC na Colônia Juliano Moreira, que está sendo urbanizada no bairro de Jacarepaguá com orçamento de R$ 142 milhões – R$ 112 milhões do governo federal e R$ 20 milhões da Prefeitura. As obras e serviços beneficiarão 6.200 famílias.

GOVERNO DE MINAS

Além de apurar as intenções de voto para a eleição presidencial, a pesquisa Vox Populi para a Rede Bandeirantes incluiu consultas sobre as disputas para os governos dos maiores estados, como Minas Gerais. Em todos os três cenários simulados lá, o atual vice-governador e candidato do governador Aécio Neves (PSDB), Antônio Augusto Anastásia, aparece em segundo lugar, na faixa de 16% a 17%, atrás de Hélio Costa (PMDB) e dos petistas Fernando Pimentel e Patrus Ananias.

Num dos cenários, sem candidato do PT, Hélio Costa soma 37%, Anastasia 16%, Vanessa Portugal (PSTU) 5% e Maria da Conceição (PSOL) 2%.

Nas outras simulações, sem a candidatura de Hélio Costa, um dos pré-candidatos do PT, Fernando Pimentel, soma 34% enquanto Anastasia fica com 17%; e o outro pré-candidato petista, o ministro Patrus Ananias, alcança 28%. Anastasia permanece com 17%.

Fonte: Brasilia Confidencial

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Filmes: "Amor Sem Escalas"

PREGAÇÃO FUNDAMENTALISTA

O que poderia se transformar num ácido retrato da frieza e desumanidade do capitalismo é destruído por mensagem moralista e piegas.

- André Lux, crítico-spam

De vez em quando os profissionais da opinião mundo afora parecem sofrer de uma alucinação coletiva e elegem um filminho bobo e sem graça como sendo algo próximo de uma obra prima da sétima arte.

Fizeram isso novamente com esse “Amor Sem Escalas” (um título nacional idiota que tenta vender o filme como se fosse uma comédia romântica).

Dirigido pelo medíocre Jason Reitman (filho do diretor de “Caça-Fantasmas”) e realizador de outra besteira chamada “Juno” (também louvado inexplicavelmente pela crítica), a única coisa que presta no filme é a presença do carismático George Clooney, à vontade no papel de um executivo especializado em demitir funcionários de empresas que não tem coragem de executar essa ingrata tarefa.

O personagem passa a maior parte de sua vida em aviões viajando de uma cidade para outra e se orgulha de ser tratado como VIP em todos os aeroportos e hotéis que vai e de passar no máximo algumas semanas por ano em sua residência fixa.

O que poderia se transformar num ácido retrato da frieza e desumanidade do sistema capitalista (que inova na crueldade terceirizando até o serviço de demissões!) é destruído por uma necessidade de impor uma mensagem moralista e piegas sobre o “valor da família” e de uma suposta incapacidade do ser humano de ser feliz sozinho.

Assim, o protagonista que, durante o primeiro ato, foi pintado como sendo uma pessoa irônica, bem resolvida, feliz e realizada com sua vida, de repente vira um pobre coitado que passa a invejar até sua irmã medíocre só porque ela vai se casar para levar uma daquelas vidinhas típicas de “Amélia”! Essa é a mensagem que os realizadores querem nos fazer acreditar: só existe felicidade dentro da tradicional estrutura familiar “papai-mamãe-titia” que é a realidade de uma parcela reacionária da sociedade.

Vejam bem, não tenho nada contra nem a favor da família tradicional. O que questiono aqui é essa necessidade de “pregar” um tipo de valor como se ele fosse a única forma de se atingir o nirvana. A partir dessa visão obtusa de mundo, alguém que, por exemplo, decide ser solteiro ou um casal que não quer ter filhos são, necessariamente, infelizes e vazios.

Nada mais ridículo do que ver gente julgando e condenando os outros a partir de seus preconceitos tidos como “verdades absolutas”. Ainda mais no cinema!

Mas o mais ridículo é ver gente idolatrando um filme idiota como esse, que não passa de pregação fundamentalista sutil como um elefante com dor de dentes. Sem comentários.

Cotação: *

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Filmes: 2019 - O Ano da Extinção (Daybreakers)

TERROR COM CONTEÚDO

Esse é um filme totalmente original que subverte os clichês do gênero e ainda traz uma crítica político-social bastante interessante.

- por André Lux, crítico-spam

"2019 - O Ano da Extinção" (Daybreakers) parece, a princípio, apenas mais um filme sobre vampiros que quer se aproveitar da atual onda de fanatismo que cerca a saga “Crepúsculo”. Mas não se engane. Esse é um filme totalmente original que subverte os clichês do gênero e ainda traz uma crítica político-social bastante interessante.

Estamos na Terra do ano 2019, dez anos após uma epidemia que transformou grande parte da humanidade em vampiros. O problema é que existem cada vez menos humanos e até animais e o precioso sangue está cada vez mais escasso. 

Assim, o que restou da raça humana é caçada e cultivada por uma mega corporação comandada por um vampiro neoliberal sem escrúpulos que lucra horrores com a alta do preço do sangue. E para piorar tudo, a falta do precioso alimento começa a transformar os vampiros mais pobres em verdadeiros monstros sem controle, os quais são perseguidos e destruídos pela polícia.

Temos aí uma ótima alegoria sobre a crueldade do sistema capitalista, que pode remeter à escassez de água que parece estar chegando, onde só os que podem ter acesso a esses “comodities” (como os defensores desse sistema desumano chamam aquilo que pode gerar lucros) poderão sobreviver, enquanto o resto é tratado como lixo e enviado para a morte. Em tempos onde favelas de São Paulo são sistemática e criminosamente incendiadas, o filme não poderia ser mais atual.

Esse subtexto político permeia toda a obra, que conta com boas atuações de um elenco liderado por Ethan Hawke (como um vampiro cientista que se recusa a beber sangue humano e tenta encontrar desesperadamente um substituto sintético para ele), Willem Dafoe (no papel de caçador de vampiros que funciona como alívio cômico) e Sam Neill.

Assistindo a “Daybreakers” podemos notar também o quanto a música é importante para o cinema. Composta pelo australiano Christopher Gordon (das minisséries para a televisão “A Hora Final” e “Moby Dick”), a partitura é simplesmente espetacular e eleva o filme a patamares maiores do que os sonhados pelos seus realizadores (os irmãos Michael e Peter Spierig, também australianos).

Tenso, bem dirigido, com diálogos inteligentes, sem finais redentores idiotas ou excesso de cenas nojentas, “Daybreakers” é um dos raros filmes que misturam terror com ficção científica que valem a pena serem assistidos atualmente. 

Não percam – e não se esqueçam de prestar atenção à música!

Cotação: * * * *

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Filmes: "Pintar ou Fazer Amor"

SEM FALSO MORALISMO

Indicado para pessoas bem resolvidas ou para quem procuram um bom drama com conteúdo erótico 

- por André Lux, crítico-spam

Filmes cuja temática aborda o sexo liberal (sexo a três, troca de casais ou fantasias mais picantes consideradas tabu pela nossa sociedade hipócrita) geralmente descambam para um falso moralismo retrógrado e caricato que quase sempre acaba em brigas, assassinatos, extorsões ou coisas tenebrosas do gênero.

Como se a intenção desses cineastas fosse mostrar que essas práticas são erradas e feitas apenas por pessoas degeneradas, embora não se furtem de usar do apelo que esse tipo de erotismo tem junto às pessoas para tentar faturar nas bilheterias.

Só mesmo os franceses poderiam fazer um filme com esses temas de maneira humana, realista e madura. Assim, “Pintar ou Fazer Amor” (“Peindre ou Faire L'amour”) mostra a rotina de um casal de meia idade (os ótimos Daniel Auteuil e Sabine Azéma) que vai morar numa casa de campo no interior do país.

Fazem amizade com outro casal que mora nas redondezas e, aos poucos e com muita naturalidade, o roteiro vai mostrando a atração e cumplicidade crescentes entre eles que culmina numa surpreendente troca de casais.

A nova experiência deixa-os perplexos e amedrontados, tanto é que na manhã seguinte fogem sem rumo e até provocam um acidente de carro. Mas, ao mesmo tempo, a novidade reacende a chama do desejo entre eles.

O contraste dessas fortes emoções e os sentimentos dúbios que elas geram nos protagonistas são explorados de maneira muito sensível pelo casal de diretores Arnaud e Jean-Marie Larrieu (também autores do roteiro), sem nunca cair para reduções simplistas ou discursos moralistas.

Esse é um filme altamente indicado para pessoas sexualmente bem resolvidas, de mente aberta ou para aqueles que simplesmente procuram um bom drama com conteúdo erótico que respeita a inteligência e a sensibilidade do espectador.

Cotação:
* * * *

sábado, 16 de janeiro de 2010

Jerry Goldsmith em "Powder": Música para arrepiar todos os pelos do corpo!

Vejam abaixo a cena final do excelente filme "Energia Pura" ("Powder"). A música do mestre Jerry Goldsmith é maravilhosa e me deixa arrepiado até o último fio de cabelo toda vez que a ouço... Ah, que saudades do mestre!