quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Filmes: "O Despertar da Força" (sem spoilers)

A FORÇA VOLTOU, COM DENTES!

Apesar dos defeitos, novo “Star Wars” é sim um ótimo filme, digno dos melhores da franquia e fica anos luz à frente dos desastrosos episódios 1, 2 e 3

- por André Lux, crítico-spam

Chegou a hora que a maioria das pessoas ligadas em cinema estava esperando já há alguns anos: a estreia do sétimo capítulo da saga “Star Wars”! Antes de qualquer coisa preciso confessar que é praticamente impossível pra mim ser objetivo em relação a essa franquia, afinal eu estava lá, em 1977, sentado no cinema e assistindo ao primeiro filme quando tinha apenas 8 anos e fiz parte dessa história que abalou as estruturas da cultura popular da sociedade ocidental para sempre.

Dito isso, vamos às boas notícias: o “Despertar da Força” é sim um ótimo filme, digno dos melhores da franquia e fica anos luz à frente dos desastrosos episódios 1, 2 e 3 que George Lucas produziu para contar a queda de Anakin Skywalker e sua ascensão como Darth Vader. Mas isso não chega a ser um mérito muito expressivo, já que os três filmes das chamadas “prequels” são ruins em praticamente todos os aspectos, exceto na música de John Williams e, claro, nos efeitos especiais (que embora sejam bons, mais poluem os filmes do que qualquer outra coisa).

Apesar de estar longe de ser perfeito (falarei disso depois), o novo filme é uma aventura de space-opera palpitante, cheia de ação e emoção, algo que simplesmente não existiu nas “prequels”, por exemplo. O responsável por isso é sem dúvida o diretor J. J. Abrams, que sabe como dar ritmo a um roteiro e consegue extrair o melhor dos atores – que aqui são bons e cheios de carisma. O humor também está de volta em plena forma, o que deixa o filme leve e dinâmico, sem se levar a sério exceto nos momentos em que isso se faz necessário.

Gostei muito do novo vilão, Kylo Ren, que sinceramente parecia bem tolo nos trailers, ainda mais quando aparecia sem máscara, até porque o ator é um magrelo narigudo com cara de pernilongo. Mas, surpresa, é um excelente ator e realmente rouba as cenas em que aparece. O personagem é muito bem delineado e cheio de angústia e conflitos que realmente transbordam da tela para fora e dão outra dimensão a ele, mesmo nos momentos mais fracos, como quando fala com seu mestre, que é um boneco digital tosco e inconvincente (feito pelo mesmo Andy Serkis, que foi o Gollum e agora está em tudo quanto é filme), no que é certamente o ponto mais baixo do filme.

Já o ponto alto é sem dúvida a jovem Daisy Ridley, que faz a Rey, uma catadora de sucata que se vê no meio da confusão toda e tem momentos muitos fortes. A moça é boa atriz e também esbanja carisma. Sem dizer que é muito bom ver uma mulher ter um papel tão forte e vital nesse tipo de filme.

"Chewie, nós voltamos para casa!"
Sobre os pontos fracos de “O Despertar da Força”, falar deles é meio que chover no molhado, pois a saga Star Wars nunca primou por roteiros profundos e muito inventivos. E todo mundo sabe que George Lucas (que aqui não fez nada, pois vendeu a franquia para a Disney) pegou elementos de tudo quanto é mitologia e sagas do passado para criar o seu universo.

Embora o roteiro tenha sido escrito pelo próprio Abrams com a ajuda do consagrado Lawrence Kasdan, é um pouco episódico e confuso, deixando muito coisa no ar no que acaba sendo quase uma refilmagem de “Uma Nova Esperança”. Também não faz muito sentido ver gente que nunca lutou na vida virar mestre no uso do sabre de luz de uma hora pra outra! A única coisa que incomoda mesmo e impede o filme de atingir cinco estrelas na cotação é a parte final, onde repetem o que já vimos em “Uma Nova Esperança” e “O Retorno de Jedi” – outra Estrela da Morte, sério? Não tinham nada melhor para inventar?

Mas, tirando isso, o resto do filme é uma delícia, trazendo algumas cenas realmente fortes e até chocantes para os fãs, embaladas pela sempre excelente trilha musical de John Williams, que continua em plena forma aos 83 anos e mescla de forma magistral os temas antigos da saga com os novos, compostos para os personagens criados para “O Despertar da Força”. A partitura abunda de vigorosos scherzos, que são a marca registrada de Williams.

Não dá pra falar mais do que isso sem apelar para os famigerados spoilers, então vou parando por aqui. Mas uma coisa é certa: a Força está de volta! E com dentes!

Cotação: * * * *

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Filmes: "No Coração do Mar"

MOBY DICK DOS POBRES

Versão do que seria o encontro real com a baleia branca gigante é sem graça e, claro, perde de mil a zero para o romance


- por André Lux, crítico-spam

Esse 
“No Coração do Mar” é um daqueles filmes que estão na moda atualmente que pretendem contar a “história por trás da estória” ou coisa do tipo. Aqui tentam mostrar os acontecimentos supostamente reais que levaram o escritor Herman Melville a criar “Moby Dick”, considerada a obra-prima da literatura estadunidense e que já deu origem a várias adaptações para o cinema e televisão.

Mas, sinceramente, a tal versão do que seria o encontro real com a baleia branca gigante é bem sem graça e, claro, perde de mil a zero para o romance. E ainda tem muita coisa que foi obviamente inventada para tentar deixar o filme mais “dramático”, muitas delas sem sentido ou simplesmente irrelevantes.

Como por exemplo, o conflito entre o primeiro imediato e o capitão do navio, que foi claramente inspirado no também caso real do motim no Bounty, que também já foi adaptado para o cinema várias vezes (a melhor é a versão com Marlon Brando). O problema é que esse conflito é forçado e não leva a lugar nenhum. A cena em que o capitão do navio os obriga a entrarem de peito aberto numa tempestade em alto mar é tola, pois nem mesmo um idiota completo faria tal coisa, independente de ser novato na função.

O ator que faz o comandante, Benjamin Walker (que foi o protagonista no esquisito “Abraham Lincoln, Caçador de Vampiros”) também é fraco e não tem peso para o papel. Chris Hemsworth, o atual “Thor”, é bonitão, mas não tem carisma e acaba sendo neutro como o imediato.

O filme também sofre com falta de foco narrativo. O roteiro não sabe se está contando a história dentro da história (o narrador fala de coisas que não tinha como saber, por sinal), as desventuras do imediato ou os perigos do mar. Assim, quando a grande baleia branca chega, tudo acontece muito rápido e de forma abrupta, num anticlímax que chega a assustar de tão mal conduzido.

Depois do ataque e destruição do navio, o filme vira quase terror, com os náufragos tendo que praticar atos horrendos para garantir a sobrevivência (vira quase um “Sobreviventes dos Andes”, só que no mar). Também é ridículo insistirem na baleia perseguindo os pobres coitados, algo que certamente não aconteceu na realidade. E ainda tentam enfiar uma mensagem sobre como é feio matar os animais a fórceps, que deixa tudo ainda mais sem sentido.

Outro ponto baixo de “No Coração do Mar” é a trilha musical composta pelo espanhol Roque Baños, que apesar de ter mostrado talento em outros filmes, foi obviamente obrigado a compor no modo “Hans Zimmer” de fazer trilhas, que dá o tom atualmente com raras exceções. Apesar de ter algumas faixas interessantes, as músicas que acompanham as cenas mais tensas e de ação são totalmente genéricas, repletas dos irritantes ostinatos simplórios e até das insuportáveis “cornetas da perdição” que Zimmer inventou para “A Origem”.

Eu ia dizer que é triste ver um cineasta como Ron Howard, que trabalhou com gente como John Williams (em “Um Sonho Distante”) e James Horner (em “Coccon”, “Willow” e “Apollo 13”), pedindo música desse tipo, mas aí lembrei que ele é um dos culpados pela ascensão de Zimmer desde “Backdraft”, passando por “O Código Da Vinci” e “Rush”. Basta ouvir a trilha de “Tubarão” para perceber como uma música do mesmo nível da gloriosa composição de John Williams para o filme de Spielberg elevaria o filme a outros patamares.

Por sinal, quando a gente lembra-se de “Tubarão” é que percebe o quanto esse filme e quase todos os outros feitos atualmente pela indústria de cinema estadunidense são fracos e sem graça. Enfim, dá pra assistir, mas não chega aos pés de “Moby Dick”, seja o livro ou mesmo as suas adaptações para as telas...

Cotação: * *

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Filmes: "O Exterminador do Futuro: Gênesis"

RECOMEÇO DA CONTINUAÇÃO DA REFILMAGEM

Quinto filme da franquia do “Terminator” quer tirar leite de pedra e se perde em roteiro sem sentido

- por André Lux, crítico-spam

Os executivos de Róliudi estão sempre tentando desesperadamente tirar leite de pedra quando se trata de franquias de sucesso como “Jurassic Park” e tantas outras. E com “O Exterminador do Futuro” não poderia ser diferente.

O filme original de James Cameron, que de certa forma revolucionou o gênero ficção científica em 1984, ganha então mais uma continuação (a quinta!) que deveria funcionar também como um “recomeço” (ou reboot, como chamam os estadunidenses) para a série, como está na moda atualmente (vide “Jurassic World”  ou o novo "Robocop", por exemplo). Ou seja, esse “O Exterminador do Futuro: Gênesis” é um recomeço da continuação da refilmagem... ou coisa do tipo.

Inventam então uma nova história em que os protagonistas revisitam várias cenas do filme original de 1984, bem no estilo do que fizeram em “De Volta para o Futuro 2”. Mas o resultado é pífio, pois o roteiro não faz o menor sentido e tudo parece forçado, especialmente quando alguém tenta explicar o vai e vem de personagens e as diferentes linhas de tempo que o novo filme cria (“O Exterminador do Futuro: A Salvação” é solenemente ignorado).

A revelação do novo vilão do filme até poderia gerar alguma surpresa se já não tivessem mostrando isso no trailer do filme. Sem dizer que também não faz o menor sentido a existência dele e também não se explica porque simplesmente não mata Sarah Connor e Kyle Reese de cara.

Pra piorar tudo, temos uma trilha musical medonha composta por um tal de Lorne Balfe, que é mais um discípulo do abominável Hans Zimmer, que faz a trilha original eletrônica de Brad Fiedel parecer algo genial. Balfe usa até as insuportáveis “Cornetas da Perdição”, que Zimmer inventou para “A Origem” e agora todo mundo parece que é obrigado a usar em tudo quanto é filme!

O elenco é fraco, com a jovem Emilia Clarke de “Game of Thrones” tomando o papel que já foi de Linda Hamilton, mas sem deixar qualquer marca. O ator que colocaram para ser John Connor, o líder dos rebeldes no futuro (Jason Clarke, que esteve em "Planeta dos Macacos: O Confronto), também é muito sem graça e com aquela cara de bolacha que tem não convence nem um minuto como super-soldado.

O único que livra a cara é o Arnaldão que, embora esteja bem acabado, mantém seu carisma e ainda consegue dar alguma dignidade ao Exterminador, sem perder o bom humor com frases do tipo “Estou velho, mas não obsoleto” e as caretas de sempre. Se bem que ver a heroína do filme chamando o velho Terminator de "papi" não ajude muito...



Tecnicamente o filme não passa do medíocre e alterna efeitos especiais excelentes com outros que parecem de vídeo game. A direção de Alan Taylor, do fraco “Thor 2”, é impessoal e burocrática, o que fica evidente nas várias cenas de ação do filme, que até são bem feitas, mas nunca empolgam o suficiente para marcar. 


A melhor coisa acaba sendo ver o velho Arnold lutando com seu outro eu mais jovem e pelado - feito por um ator que se parece fisicamente com ele em 1984, mas com seu rosto colocado digitalmente em cima, o que não deixa de ser bizarro para dizer o mínimo!

Mas o pior mesmo é a conclusão, que obviamente não faz o menor sentido, recusa-se a responder várias questões nebulosas (como quem mandou o velho Terminator com sua nova missão) e ainda deixa a porta aberta para mais uma continuação, que certamente vão ser produzidas até quando o público simplesmente desistir de pagar para ver tanta besteira junta.

Cotação: **


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Filmes: "Perdido em Marte"

CAFÉ REQUENTADO

O maior problema do filme é que acaba se parecendo muito com outros sobre missões a Marte

- por André Lux, crítico-spam

“Perdido em Marte” é o melhor filme do outrora grande cineasta Ridley Scott em anos, mas isso não quer dizer muito já que seus últimos filmes resultaram medíocres ou simplesmente ruins (“Prometheus” sendo o pior). O que não deixa de ser triste para alguém que já foi capaz de produzir maravilhas da sétima arte como “Os Duelistas”, “Alien” e “Blade Runner”.

O maior problema deste filme estrelado por Matt Damon é que acaba se parecendo muito com outros recentes sobre missões espaciais a Marte. Em “Missão Marte”, de Brian de Palma, um dos astronautas também é forçado a sobreviver por anos usando apenas suas habilidades e o material que tinha disponível depois que a missão fracassa e todos morrem (embora o foco do filme não seja nele, mas na missão de resgate). Enquanto em “Planeta Vermelho”, estrelado por Val Kilmer, a conclusão e várias outras passagens são praticamente idênticas ao que vemos em “Perdido em Marte”.

O filme é bem conduzido e Damon está em seus melhores dias, porém tudo fica com aquele gosto de café requentado e morno. Além disso, é visualmente medíocre e não tem grandes cenas, o que mostra o declínio de Scott como esteta. As piadas recorrentes do protagonista sobre a seleção musical de canções pop dos anos 80 deixada pela capitã da missão também não empolgam e “Perdido em Marte” tem uma trilha musical sem impacto algum, composta por um dos muitos discípulos do abominável Hans Zimmer.

Apesar do bom elenco, a maioria não tem muito o que fazer e apenas Damon tem chance de brilhar. A ajuda que os chineses dão à missão de resgate do astronauta tem impacto zero na trama e é apenas uma daquelas coisas que o cinema estadunidense tenta fazer atualmente para deixar seus novos filmes agradáveis ao mercado da China.

Enfim, é perfeitamente consumível, mas não chega a empolgar e está muito aquém do talento que Scott demonstrou no passado.

Cotação: * * 1/2

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Filmes: "O Pequeno Príncipe"

MENSAGEM BATIDA, MAS VÁLIDA

É sempre bem vinda uma obra que exalte a liberdade, a imaginação e a importância de se manter a criança interior sempre viva e alegre

- por André Lux, crítico-spam

Embora não seja nenhuma obra-prima, é uma delícia essa nova adaptação do clássico "O Pequeno Príncipe", do francês Antoine de Saint-Exupéry, que certamente é uma dos livros mais lidos e conhecidos da história. 


Se bem que esse novo filme não chega a ser uma adaptação, mas sim uma livre interpretação dele, na qual os personagens principais interagem entre si tendo como pano de fundo o livro que dá título ao longa.

O filme é dirigido pelo mesmo sujeito que fez "Kung Fu Panda", Mark Osborne, e gira em torno de uma menina que é criada pela mãe obcecada em fazer ela ser aceita por uma escola tradicional, obrigando-a a seguir um rígido programa de estudo, sem direito a qualquer diversão. É aí que entra um velho excêntrico que mora na casa ao lado, que é justamente o escritor das histórias do Pequeno Príncipe.

É claro que a menina vai cair de encantos pelo senhor e descobrir o valor da amizade, da imaginação e das brincadeiras. Ou seja, são mensagens bastante batidas, mas que nunca deixam de ser válidas, ainda mais quando embrulhadas em uma obra tão bem feita, que mistura animação digital com a de bonecos quadro-a-quadro, com um desenho de produção muito bonito onde até a música do abominável Hans Zimmer funciona.

No terceiro ato há uma tentativa de ir além do que é contado no livro e o filme patina um pouco, marretando de forma meio óbvia o que já havia ficado subentendido antes. Não chega a incomodar, mas sinceramente, não acrescenta muito e acaba deixando a conclusão arrastada e um pouco sem impacto.

Mesmo assim é sempre bem vinda uma obra que exalte a liberdade, a imaginação e a importância de se manter a criança interior sempre viva e alegre, independente da idade.

Cotação: * * * 1/2

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Filmes: "Maggie - A Transformação"

HORROR PSICOLÓGICO

Para quem procura algo fora do tradicional no gênero "apocalipse zumbi", esse filme é uma boa pedida

- por André Lux, crítico-spam

Esse "Maggie - A Transformação" está sendo analisado de forma errada pelos críticos, como se fosse um filme do Schwarzenegger que fracassou, apesar da presença do astro veterano. Na verdade, é o contrário: só está gerando algum tipo de interesses devido à presença dele. Merece ser louvada a tentativa do eterno "Exterminador do Futuro" de escolher projetos diferentes e mais pesados, ao invés de ficar batendo só na mesma tecla.

Afinal, trata-se de um terror sobre um apocalipse zumbi que foge do convencional do gênero. Ou seja, é terror psicológico, daqueles em que as situações que geram horror e suspense são muito mais sugeridas do que realmente mostradas e o foco fica em cima dos dramas pessoais dos personagens atingidos pelas tragédias. Lembra bastante o excelente "Deixe-me Entrar" (a refilmagem estadunidense, que é bem melhor que o original).

Arnold faz com seu carisma de sempre (embora o sotaque não tenha melhorado quase nada) o papel de um fazendeiro que vai atrás da filha que foi mordida por um zumbi. Ao levá-la de volta para casa, apenas uma certeza existe: ela está infectada e irremediavelmente se tornará um monstro comedor de carne humana. Uma situação terrível e sem saída que é conduzida com habilidade e sensibilidade pelo diretor Henry Hobson.

Há apenas uma cena de ataque de zumbis tradicional, mas mesmo assim é curta e não muito violenta. A violência fica muito mais implícita durante todo o filme, em cenas dramáticas que enfatizam a a inevitabilidade da transformação da menina, feita pela sempre excelente Abigail Breslin, de "A Pequena Miss Sunshine". 

Em uma das sequências mais tristes, ela reencontra seu namorado adolescente, que também está infectado e logo em seguida é entregue pelo próprio pai à polícia. Em outra cena marcante, a menina começa a sentir cheiro de "comida" ao se aproximar da madrasta (Joely Richardson), que descobre apavorada que a comida no caso era ela mesma.

Eu só não gostei muito do final, que é anti-climático e acaba evitando o que deveria ser o confronto mais forte do filme. Não que seja incoerente ou forçado, apenas dá uma solução muito fácil para o dilema terrível enfrentado pelo pai.

Enfim, para quem procura algo fora do tradicional no gênero horror, esse é uma boa pedida.

Cotação: * * *

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Filmes: "Divertida Mente"

ESTUDO SOBRE A DEPRESSÃO

Animação da Pixar comprova que pode existir vida inteligente mesmo dentro da indústria cultural estadunidense

- por André Lux, crítico-spam

“Divertida Mente” é provavelmente a obra-prima da Pixar. O mais interessante é que a nova animação do estúdio parecia, pelos trailers, um tremendo erro. Afinal, que história era aquela de representar as emoções humanas com personagens cômicos em uma sala de controle?

O filme, porém, é uma grata surpresa, muito criativo, bonito, bem dirigido (pelo mesmo sujeito que fez “Monstros S.A.” em parceria com o diretor de "UP: Altas Aventuras"), engraçado e ainda por cima educativo. 

Pais inteligentes e antenados em psicologia certamente vão encontrar nele mil maneiras de usar os personagens Alegria, Tristeza, Raiva, Nojo e Medo de maneira positiva na educação dos filhos (claro que sempre deixando claro pra eles que somos nós que estamos no controle das emoções e não contrário!).

O mais interessante é que “Divertida Mente” acaba sendo um estudo da Depressão, doença silenciosa que vitima milhares de pessoas e que é muito difícil de diagnosticar e tratar. Quando a menina Riley perde a Alegria e a Tristeza, que são sugadas para fora da sala de controle, passa a apresentar alguns dos clássicos sinais de Depressão: irritabilidade, desânimo, ansiedade, apatia, entre outros.

O filme retrata com perfeição também o perigo que é uma pessoa tomar decisões importantes com esse quadro e dominada pela Raiva ou pelo Medo, além das graves consequências que isso pode causar não só para ela, mas também para todos que estão em volta – especialmente os familiares.

 Claro que tudo isso não vai fazer muita diferença para quem não está minimamente ligado no assunto. Mas para o resto dos mortais o filme funciona mesmo assim graças a um roteiro muito bem escrito, repleto de tiradas cômicas na hora certa, comentários ácidos sobre a eterna “guerra dos sexos”, exploração das criaturas terríveis que habitam o subconsciente e dos sonhos e delírios que habitam a mente das crianças. É particularmente tocante o destino do Bing Bong, o amigo imaginário da pequena Riley, que é uma mistura de elefante, gato e algodão doce.

Embalado por uma trilha musical deliciosa composta pelo esforçado Michael Giacchino (o tema principal é simplesmente contagiante), “Divertida Mente” comprova que pode existir vida inteligente mesmo dentro da indústria cultural estadunidense. Imperdível!

Cotação: * * * * *





Compositor James Horner morre em acidente aéreo


O avião do compositor James Horner, famoso pelas trilhas de "Titanic", "Krull", "Jornada nas Estrelas 2", "Coração Valente", entre centenas de outras, caiu hoje a tarde, em Los Angeles.

As autoridades informaram que uma pessoa morreu no acidente. Apesar de ainda não ter sido oficialmente confirmado, Horner provavelmente estava pilotando o avião.


Uma notícia muito, muito triste. Horner foi um dos compositores de música de cinema que mais me emocionaram, especialmente em minha juventude.

Abaixo, deixo para vocês ouvirem um trecho da trilha de "Krull", minha favorita dele.



Abaixo, a faixa Elora Danan de "Willow", uma de suas melhores trilhas.


 "Lendas da Paixão", uma de suas mais belas trilhas:

 

Música de encerramento de "Cocoon", uma de minhas favoritas...

sábado, 13 de junho de 2015

Filmes: "Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros"

PARA BRUCUTUS

Novo filme da franquia "Jurassic Park" consegue ser pior que o segundo e transforma o primeiro numa obra-prima!

- por André Lux, crítico-spam

A trupe responsável pela franquia Jurassic Park nos cinemas fez algo que parecia impossível: um quarto filme que é ainda pior que todos os outros três! Leia aqui minha análise deles.

Não estava esperando nada desse “Jurassic World” e confesso que até fiquei um pouco animado depois de ler tantas críticas positivas por aí. Mas à medida que a projeção avançava e as besteiras foram se amontoando, vi que tinha caído numa cilada.

Esse novo filme consegue ser pior que o segundo, “O Mundo Perdido”, e transforma o primeiro numa obra-prima - o que, convenhamos, não é nada fácil! Em horas como essa a gente lembra que, mesmo no seu pior momento, Steven Spielberg (que aqui atua só como produtor executivo) é alguém que realmente entende de cinema e, por isso, capaz de produzir ao menos uma ou outra cena antológica até mesmo em seus filmes mais medíocres.

Já esse novo filme é tão mal feito tecnicamente que parece mais antigo que os originais! A direção é inexistente, os efeitos são fracos, a edição pavorosa (chegam a repetir três vezes uma mesma tomada geral do parque logo no começo do filme, praticamente em seguida) e os atores péssimos, principalmente as duas crianças. O único que livra a cara é o galãzinho Chris Pratt, que esteve tão mal no fraquíssimo "Guardiões da Galáxia", mas aqui até que convence como herói de ação.

Mas o que impressiona mesmo é a ruindade do roteiro, mais cheio de buracos e falta de lógica que os dois primeiros somados e  parece uma colcha de retalhos do que existiu de pior neles. Ou seja, tem uma trama ridícula, excesso de pieguice e nenhum suspense. É praticamente uma refilmagem do primeiro filme, ainda que citem explicitamente os acontecimentos dele e insistam que se trata de um novo parque, embora na mesma ilha.

Só que o novo parque tem falhas de segurança tão grandes e ridículas que governo algum autorizaria sua construção, tipo uns carrinhos em forma de bola que andam no meio dos dinossauros e são pilotados pelos visitantes, que podem inclusive ignorar uma ordem de voltar! 

Em outra cena abismal, os guardas do parque entram dentro da jaula do novo super dinossauro só para olhar marcas que podiam ver de dentro da sala de controle e, claro, causam a fuga dele. Aí os guardas do parque vão enfrentar o monstro com umas armas que dão apenas uns fracos choques elétricos, quando já havia sido estabelecido que eles tinham acesso a armas de tranquilizantes totalmente eficazes, que são usadas depois na invasão dos pterodáctilos!


"Fiquem calmos, eu trouxe minha arma que dá choques"
Esse novo dino, por sinal, age além de qualquer lógica. Ele ser super inteligente (para um dinossauro), vá lá. Agora, disfarçar sua energia térmica só para não ser captado pelo sistema de segurança ou arrancar o seu implante localizador obrigaria que ele tivesse conhecimento técnico do funcionamento do parque! Pedir que eu desligue o cérebro para curtir um filme, eu até aceito. Mas querer arrancar ele da minha cabeça para colocar um monte de esterco no lugar, aí não dá! 

E que história é aquela de tentar transformar os Velociraptors em armas para o exército, igual queria a bendita "companhia" de "Alien"? Se não bastasse isso, ainda viram bonzinhos no final e defendem seu "treinador"! É sério, não estou inventando!

Finalmente o que você sempre sonhou ver: Velociraptors amigos!
Todas essas falhas, idiotices e absurdos até poderiam ser ignoradas se o filme ao menos fosse bem feito e causasse o mínimo de suspense e tensão (coisa que o terceiro da série até conseguiu). Mas não chega nem perto disso. É tedioso, repetitivo, sem qualquer ritmo e só tem personagens que agem de maneira burra e irritante, fatores que implodem qualquer tentativa de criar terror. Chegam ao cúmulo de copiar plano a plano uma cena de "Avatar" (os meninos pulando na cachoeira) e "Aliens" (aquela dos soldados sendo mortos e seus visores apagando um a um).

Nem a trilha musical do esforçado Michael Giacchino chega a ser memorável e ele é obrigado a apelar a toda hora para o tema original composto por John Williams para o primeiro filme na tentativa de criar ao menos alguma sensação de nostalgia, mas sem sucesso, pois essa música é majestosa demais para as mixarias que vemos na tela.

Todavia, "Jurassic World" está fazendo sucesso nas bilheterias, provando que o nível de exigência das pessoas está cada vez mais baixo. Enfim, nada mais natural que um bando de brucutus se delicie com um filme tosco sobre dinossauros...

Cotação: *

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Filmes: "Mad Max: Estrada da Fúria" (revisada)

NÃO CUMPRE NEM O QUE PROMETE

Novo filme da série Mad Max parece uma colcha de retalhos da perseguição do segundo com o que existiu de pior no terceiro 

- por André Lux, crítico-spam

Esse novo Mad Max é uma grande decepção. Confesso que não estava esperando muito depois de ver os trailers, que já deixavam claro que o excesso e a histeria iriam prevalecer. 
Mas mesmo assim aguardava algo um pouco melhor do que uma longa (e tediosa) sequência de perseguição que dura duas horas e, basicamente, sai do nada e chega a lugar nenhum. 

O filme tem pouca relação com os anteriores, estrelados por Mel Gibson, cujo segundo capítulo é uma obra-prima do cinema, especialmente nos quesitos edição e fotografia. 
Apesar de ter sido concebido e dirigido pelo mesmo George Miller da trilogia original, "Mad Max: Estrada da Fúria" parece uma colcha de retalhos da antológica perseguição ao caminhão tanque do segundo filme com o que existiu de pior no terceiro capítulo ("Mad Max Além da Cúpula do Trovão"), que foi estragado justamente pelo excesso de figuras caricatas e uma narrativa flácida e praticamente isenta de suspense.

O novo filme já começa mal, com Max sendo preso facilmente e passando os próximos trinta minutos de projeção sendo arrastado de um lado para o outro por um bando de moleques chatos e histéricos, dando a impressão que é um sujeito incompetente e burro - o oposto do que deveria ser.

Mas o que mata mesmo o novo filme é a falta de qualquer elemento dramático que nos ligue aos personagens e nos faça sentir algo por eles. Embora algumas cenas de perseguição sejam bacanas e bem encenadas "ao vivo" e sem muitos efeitos digitais, é tudo tão primário, caricatural e excessivamente coreografado que a gente acaba não dando a mínima para o que acontece. Não há aqui nem sombra da tensão e suspense de "Mad Max 2", que ainda se dava ao luxo de ter um humor negro afiadíssimo, inexistente aqui.

O problema nem é tanto a premissa de fazer um filme que é, basicamente, uma única e longa cena de perseguição, mas sim a falta de sutileza como que tudo é mostrado e o grande número de clichês de filmes de ação que deveriam ter sido evitados. A primeira parte da caçada, que termina durante uma tempestade de areia imensa, não chega a incomodar. Mas, depois disso, o filme vai ficando cada vez mais absurdo, já que não tem como um caminhão daquele tamanho e peso continuar correndo mais que centenas de carros potentes e então ficam inventando desculpas sem nexo para atrasar os perseguidores.


A ação dos vilões, comandados por um sujeito deformado pela radiação, chamado de Immortan Joe (feito pelo mesmo ator que foi o Toecutter no primeiro "Mad Max"), também não faz muito sentido, pois se no começo da perseguição o objetivo deles é resgatar as fugitivas, depois esquecem isso e saem atirando para matar todo mundo. Não convence o fato de tentarem imputar uma liderança místico-religiosa ao vilão frente à sua gangue, especialmente os tais moleques pintados de branco, e isso só serve para aumentar o nível geral de histeria.

Também não foi uma boa ideia colocar no papel título Tom Hardy (que surgiu no cinema como o ridículo vilão Shinzon de "Star Trek: Nemesis"), pois continua sendo um ator neutro, que fala pra dentro, grunhe toda hora e não tem o menor carisma (algo que sobrava para Gibson). 

Quem nasceu para Shinzon nunca será Mad Max...
É triste também ver um diretor como Miller, que trabalhou com monstros da música cinematográfica como Jerry Goldsmith, John Williams, Maurice Jarre e Brian May, rendendo-se ao que há de pior no gênero hoje ao chamar para compor a trilha musical um tal de Tom Holkenborg, que se auto-intitula “Junkie XL” (um nome artístico que já diz tudo!). O sujeito é um DJ ou coisa parecida que andou participando de algumas trilhas do abominável Hans Zimmer, como “Homem de Aço”, e, claro, segue a cartilha zimerística de “como compor música ensurdecedora, opressiva, quase sempre em ré menor e repleta de ostinatos simplórios e repetitivos”. Haja saco para aguentar esse lixo que está agora em tudo quanto é filme e periga estourar nossos sensíveis tímpanos!

Para ser sincero, uma das únicas coisas positivas no filme é o tom feminista que guia às ações da personagem Furiosa (feita por uma apática Charlize Theron), embora seu plano de fuga seja completamente absurdo e forçado. O desenho de produção dos vilões e sua cidadela é realmente criativo, mas muito exagerado, caindo para o nível "desfile de escola de samba" que colabora para deixar tudo ainda mais caricatural. 


Não ajuda nada o fato do exagero no número de carros perseguindo o caminhão tanque, ainda mais com gente tocando tambor e um sujeito fazendo solos de guitarra que espirra fogo, um contra-senso já que o filme se passa num mundo pós-apocalíptico onde tudo é racionado ao extremo, especialmente a água e o combustível.

A fotografia de John Seale é deslumbrante e recheada de cores vivas e quentes, porém depois de um tempo acaba cansando porque o filme todo se passa num deserto e nem mesmo chegamos a ver qualquer ruína da antiga civilização.

Estranhamente, esse novo Mad Max está sendo altamente elogiado pelos críticos mundo afora, mais uma prova do delírio coletivo que de vez em quando toma conta dos profissionais da opinião que, aparentemente, também são vítimas do “efeito manada”. 

Mas, infelizmente, é muito barulho por nada pra variar e não cumpre nem o que promete.

Cotação: * *


segunda-feira, 25 de maio de 2015

Filmes: "Judge Dredd" (1995)

OS FÃS ESTÃO ERRADOS!

Primeira adaptação do Juiz Dredd para os cinemas foi massacrada na época do lançamento, mas resiste bem a uma revisão

- por André Lux, crítico-spam

O Juiz Dredd é um personagem dos quadrinhos, criado por John Wagner e Carlos Ezquerra, que já rendeu duas versões para as telas dos cinemas.

A ação das histórias do Juiz se passa num futuro distópico, após uma guerra nuclear que deixou a maior parte do planeta devastada por radiação, onde os humanos sobreviventes se aglomeram em gigantescas mega-cidades que vivem sob o julgo de um sistema penal totalitário e fascista, no qual os policiais tem poder absoluto de polícia, júri, juiz e executor. O melhor deles é justamente Dredd, o mais impiedoso e rígido, fruto de uma experiência de clonagem.


A primeira versão para os cinemas, "Judge Dredd" ("O Juiz" no Brasil), foi vivida por Sylvester Stallone, o eterno Rambo, e dirigida por um garoto de 26 anos chamado Danny Cannon, em 1995. Apesar de ter sido rejeitado pela maioria dos fãs do personagem, o filme não é ruim. Pelo contrário.

Tem efeitos especiais bacanas para a época, excelente música de Alan Silvestri (dos "De Volta Para o Futuro" e "Predador"), fotografia requintada de Adrian Biddle e um desenho de produção muito bonito, com direito às armaduras dos juízes criadas pelo famoso estilista Gianni Versace.

Canastrice e queixo de Stallone são perfeitos para Dredd
Os fãs reclamam até hoje do fato de Dredd tirar o capacete no filme, algo que jamais faz nos quadrinhos. Mas, sinceramente, isso não me incomoda simplesmente porque na trama contada pelo filme, que o mostra sendo injustamente acusado de um crime e enviado à prisão, não teria mesmo como ele ficar usando ele o tempo todo.

Confesso que não conhecia o personagem quando assisti nos cinemas, mas minha apreciação ao filme aumentou ainda mais depois que passei a acompanhar os quadrinhos, já que descobri que o roteiro faz uma salada bastante interessante das origens de Dredd com outros personagens clássicos.

Além disso, conta com um elenco de apoio muito bom, com direito a Max Von Sydow (como o Juiz Fargo), Jurgen Prochnow, Diane Lane, Joan Chen e um Armand Assante que praticamente mastiga o cenário com sua interpretação over do juiz Rico.

Armand Assante, como Rico, praticamente mastiga o filme
"Judge Dredd" também não tem medo de colocar o dedo na ferida e mostrar o quanto a "justiça" fascista daquele mundo é perigosa e absurda, ao colocar o próprio Dredd como vítima do sistema que ele até então defendia com unhas e dentes, sem questionar (algo que os próprios quadrinhos abordam raramente).

O que atrapalha o filme acaba sendo justamente a presença de Stallone, cuja canastrice até ajuda na caracterização. Apesar de ficar perfeito no uniforme (especialmente graças ao seu enorme queixo), ele ainda recebia tratamento de estrela e exigiu várias mudanças no roteiro, inclusive poder disparar aquelas frases cômicas infames que estavam na moda na época, mas que destoam completamente do personagem
. Embora nos quadrinhos exista bastante humor (negro), ele nunca vem de Dredd, que é mortalmente sério.

O grande Max Von Sydow como Fargo: coadjuvante de luxo
Mas é pouco para estragar a diversão. Esse é o tipo de filme que resiste bem a uma revisão, mesmo ficando datado em certos aspectos. Neste caso, os fãs estão errados!

Cotação: * * * 1/2

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sonho de nerd: ver "Mad Max 2" no cinema!



É impressionante como ver um filme no cinema, com a sala lotada, é uma experiência inigualável. Eu perdi a conta de quantas vezes já vi "Mad Max 2" em casa, um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. 

Mas ontem pude ver na tela grande do cinema, na maratona "Mad Max" promovida pelo Cinemark, e foi como se tivesse visto pela primeira vez na vida! 

Emocionante é pouco para descrever...


quarta-feira, 6 de maio de 2015

Filmes: "Vingadores 2: A Era de Ultron"

PROBLEMÁTICO, MAS DIVERTIDO

Filme é movimentado, divertido, tem atores adequados e sabe manipular as emoções na hora certa

- por André Lux, crítico-spam

Esse segundo filme dos "Vingadores" é quase tão legal quanto o primeiro, o que, convenhamos, é um milagre tendo em vista o excesso de personagens e a disparidade entre os heróis e seus poderes, que variam de um deus imortal portador de um martelo mágico a um simples sujeito bom no arco e flecha.

O mérito desse sucesso continua sendo do diretor e roteirista Joss Whedon que acerta novamente em não se levar muito a sério e inserir bastante humor e cenas calmas de interação entre os personagens.


A história, todavia, faz ainda menos sentido que a do original, já que nunca fica claro, por exemplo, o que é exatamente o tal Ultron, como foi criado, quais são suas intenções e poderes e o que o vilão da Hydra (derrotado logo no começo) tem a ver com essa salada toda. 

Quase tudo parece entrar na trama de maneira forçada, principalmente uma cientista coreana e sua máquina de recriar tecido humano e os gêmeos mutantes (feitos pelos atores que foram marido e mulher no novo "Godzilla") que odeiam Tony Stark, mas não o matam quando poderiam (sei que a ação deles fazia parte de um plano maior ligado à Hydra, mas no final não fica muito claro que plano era esse e tudo é descartado sem explicações). A atração da Viúva Negra pelo dr. Banner também não convence e o personagem Visão faz muito pouco.

O filme teve problemas na pós-produção, ao ponto de chamarem o compositor Danny Elfman para reescrever a música para algumas sequências, substituindo o que já havia sido feito por Brian Tyler (que fez a música para "Homem de Ferro 3" e "Thor 2"). Mas, na prática, trocaram seis por meia dúzia, já que não dá pra notar muita diferença e a trilha acaba sendo bastante genérica, só chamando a atenção quando usa o tema dos "Vingadores" composto por Alan Silvestri para o primeiro filme.

Todavia, esses problemas todos não chegam a incomodar muito porque o filme é movimentado, divertido, tem atores adequados e sabe manipular as emoções na hora certa. Não dá pra exigir muito mais desse tipo de produto, convenhamos...

Cotação: * * *

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Filmes: "Chappie"

ROBOCOP DOS POBRES

Essa é mais uma batida história de inteligência artificial criando consciência num ser mecânico 

- por André Lux, crítico-spam

É muito ruim esse novo filme do diretor Neill Blomkamp, que chamou a atenção com o interessante "Distrito 9" e logo depois fez o fraco "Elysium". Ele certamente ficou animado com os holofotes que recebeu graças ao seu primeiro longa e resolveu fazer um filme atrás do outro para aproveitar a onda positiva. 

Mas essa estratégia vai acabar virando um tiro no pé, já que a qualidade de seus filmes vem caindo visivelmente e pode decretar um fim abrupto na carreira do sujeito.

Porque fica bem óbvio que ele concebeu esse "Chappie" ainda durante as filmagens de "Elysium", que também mostrava um futuro onde robôs agiam como policiais. Aí ele esticou esse ideia, que por sinal não é nada original, e a transformou em mais uma daquelas histórias que envolvem inteligência artificial criando consciência num ser mecânico que está entre as mais velhas do gênero ficção científica. Acaba sendo uma espécie de "Robocop dos Pobres" ou algo parecido. E é muito similar ao simpático "Short Circuit", de 1986 (chamado de "O Incrível Robô" por aqui) e sua continuação, que também mostrava o robozinho sendo manipulado por ladrões para roubar carros para eles.

Se ao menos o roteiro fosse minimamente inteligente o filme poderia até ser desfrutável, mas é simplesmente pavoroso, repleto de absurdos, falta de lógica e personagem ridículos ou simplesmente desprezíveis. Alguns diálogos são dignos das "melhores" produções trash e ao menos fazem a gente rir quando era para levar a sério. Principalmente quando saem da boca da dupla que faz os traficantes que "adotam" o robô, feita por dois componentes de um grupo de rap sul-africano chamado Die Antwoord que são tão ruins que chega a dar pena. Hugh Jackman, o "Wolverine", também dá um show de canastrice como o vilão que anda de bermuda e usa um penteado de nerd ridículo.

"Mamãe, eu quero ser nerd!"
E que empresa é aquela, que fabrica robôs policiais de última geração, mas não tem segurança nenhuma? Os caras entram e saem a hora que querem levando equipamentos secretos e fica por isso mesmo. O engenheiro vilão ameaça um dos funcionários com uma arma no meio de todo mundo e nada acontece. E assim por diante. 

O robô é até bem feito e em alguns momentos quase convence, mas tudo é destruído pelos diálogos inacreditáveis e a insistência em transformar ele numa espécie de gangster robótico cheio de jinga e malandragem.

E, como de costume, o abominável Hans Zimmer destrói o pouco que resta do filme com uma música totalmente eletrônica que é tão primária e nojenta que nos "melhores" momentos soa como alguém espancando o sintetizador com um gato no cio.

É triste que um cineasta que demonstrou tanta garra e originalidade em seu primeiro filme se perca dessa forma, afinal não é todo dia que a gente tem contato com a cultura sul-africana. Vamos torcer para que ele dê um passo para trás e conceba seus novos projetos com mais carinho e cuidado, sem pressa. E sem Zimmer, por favor... 

Cotação: *

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Filmes: "Relatos Selvagens"

PORRADA NA CLASSE MÉDIA

Filme é retrato brutal da mentalidade daquele extrato social que sonha que "um dia vai chegar lá"

- por André Lux, crítico-spam

É impressionante a vitalidade do cinema argentino, sempre pronto a nos surpreender com uma nova produção inusitada e original que quase sempre entretém, mas também faz pensar.

É o caso desse notável "Relatos Selvagens", que é um retrato brutal do que se pode chamar de "mentalidade de classe média", aquele extrato social que acha que vive espremido entre os podres de ricos e os pobres, enquanto sonha que "um dia vai chegar lá" sem perceber que, de fato, está a dez mil passos dos primeiros e a míseros dez dos segundos.

Escrito e dirigido por Damián Szifron, o filme é uma comédia de humor muito negro, que não tem medo de dar uma bela porrada nos classe-medianos e de expor seus maiores defeitos e também o seu retumbante falso moralismo. 
Dividido em seis episódios sem relação um com o outro, "Relatos Selvagens" coloca em cena situações limites que evidenciam algumas das características mais patéticas, violentas, assustadoras ou simplesmente podres das pessoas ditas comuns. Não dá para comentar a fundo os episódios sem estragar as surpresas de cada um deles, mas basta dizer que abordam questões corriqueiras na vida de qualquer um dos autoproclamados "cidadãos de bem" que, pelo jeito, são comuns em qualquer grande metrópole do mundo. Ou seja: os "coxinhas" estão por todos os lados!


O mantra dos coxinhas: "Sou contra 
a corrupção... dos outros, é claro"
Temos ali a propina e a corrupção nossa de cada dia que só gera indignação quando são os outros que as cometem, o desejo de vingança e retaliação que cega e destrói, a alienação política gerando atos de revolta inúteis e autodestrutíveis, a traição como forma de manter relações motivadas por aparências e a incapacidade de lidar com problemas psicológicos de maneira responsável e que joga sempre nos outros a culpa.

Tudo isso vem embrulhado num pacote cinematográfico requintado, com direção e diálogos primorosos, atores excelentes, edição perfeita e, como já disse, um humor negro afiadíssimo e brutal, que chega a chocar em alguns momentos, principalmente nos episódios da briga entre os motoristas e do casamento.

Engraçado é ler as críticas por aí exaltando o filme, mas sem nunca mencionar os ácidos comentários sociais sobre a mentalidade mesquinha e a hipocrisia da chamada classe média. Sinal de que a ironia e o humor finos estão cada vez mais ininteligíveis para a grande maioria das pessoas, infelizmente...

Cotação: * * * * *

segunda-feira, 30 de março de 2015

Filmes: "Cinderela" (2015)

À PROVA DE CRÍTICAS

Sucesso do filme mostra que esse tipo de conto de fadas machista ainda faz a cabeça de muita gente


- por André Lux, crítico-spam


É impossível analisar um filme como "Cinderela" objetivamente, afinal trata-se de uma das histórias mais manjadas de todos os tempos. 


Além disso, já deu origem a incontáveis adaptações, começando pelo desenho clássico de 1950 e passando por dezenas de releituras para os cinemas e vídeo.

O que se pode dizer com certeza é que esse conto de fadas é um dos maiores responsáveis por "envenenar" a mente das crianças, principalmente as mulheres, com valores machistas e patriarcais, que incentivam as mulheres a serem eternamente passivas, submissas e sempre à espera de um "príncipe encantado" lindo e, claro, rico que será a fonte de toda a felicidade e conforto para elas.

Nesse sentido, a nova versão com atores de carne e osso não faz muito para mudar esse quadro, embora o diretor Kenneth Branagh se esforce para deixar a protagonista mais ativa e menos submissa. Mas é muito pouco, ainda mais depois da enxurrada de filmes e animações atuais que buscam colocar a mulher como dona do próprio nariz e lutando pela felicidade sem precisar se apoiar em um homem para isso (vide "Frozen", "Malévola", "Valente", entre outros).

A seu favor, o novo "Cinderela" tem um belíssimo desenho de produção feito pelo mestre Dante Ferreti. A trilha musical de Patrick Doyle, colaborador habitual de Branagh desde "Henrique V", é bonita e funciona bem com as imagens. Mas quem rouba a cena é Cate Blanchet, como a Madrasta, que além de ser belíssima, consegue colocar um peso na personagem nunca visto antes.

O mesmo não se pode dizer da moça que faz o papel título, uma certa Lily James, insonsa e sem qualquer carisma. Não chega a ser má atriz, mas não convence nem um pouco no quesito sedução, o que deixa o filme capenga, especialmente quando o príncipe, feito pelo rapaz que foi o Robb Stark em "Game of Thrones", tem que cair de amores por ela. Mais verossímil seria ele se apaixonar pela maravilhosa Madrasta...

Sou obrigado a dizer que erraram em não incluir canções no filme - e isso vindo de alguém que não suporta musicais! Nem mesmo a fada madrinha (feita pela horrível Helena Bonham Carter usando uns ridículos dentes postiços) canta a famosa "Bibidi-Bobi-Boo". Certamente algumas canções teriam deixado tudo mais mágico e ligeiro. 

Porque a trama é tão previsível e conhecida que acaba sendo meio tedioso acompanhar tudo, ainda mais levado tão a sério como nesta versão. Estranhei ao descobrir que o filme tem apenas 105 minutos, pois tive a impressão que é bem mais longo, o que é sempre um mau sinal.

Mas esse é um daqueles filmes à prova de crítica, afinal está fazendo enorme sucesso, principalmente entre seu público alvo: as mulheres. Na sessão que participei, elas gritavam, vaiavam e aplaudiam muito. Sinais de que esse tipo de conto de fadas machista ainda faz a cabeça de muita gente...

Cotação: * * *

quinta-feira, 26 de março de 2015

Filmes: "Garota Exemplar"

BLEFE

Filme mente e engana o espectador para gerar surpresa e choque, o que é sempre algo imperdoável.

- por André Lux, crítico-spam

David Fincher acabou sendo o maior blefe de sua geração. Depois de um começo problemático em "Alien 3", explodiu com o sensacional "Seven" e virou a maior promessa do cinema estadunidense. 


Infelizmente, parece que se deixou levar pelo ego inflado e acabou fazendo filmes excessivos (como "Clube da Luta" e "Millenium") ou simplesmente insonsos ("O Curioso Caso de Benjamim Button", "Zodiaco", "Quarto do Pânico", "A Rede").

Mesmo assim, mantém seu prestígio junto à indústria e os críticos, ao ponto de todo mundo louvar esse "Garota Exemplar", que é baseado num romance de sucesso. Mas é, como Fincher, um blefe. 


Esse é um daqueles filmes que são vendidos como algo grandioso, cheio de mistérios e reviravoltas, mas no fundo é apenas mais um que mente e engana o espectador para gerar surpresa e choque, o que é sempre algo imperdoável.

O mistério do desaparecimento da esposa do coitado do Ben Afleck é resolvido já no meio da trama e, convenhamos, é algo completamente absurdo e sem nexo. Nem o maior psicopata do mundo se daria o trabalho de construir um esquema tão elaborado e infalível só para prejudicar uma pessoa. 


A partir daí, o filme fica ainda mais tedioso, enquanto seguimos o patético marido que só faz besteiras e o autor do plano mirabolante, que também age de maneira totalmente estúpida e incoerente com o que foi mostrado até então sobre o personagem. Mas pior mesmo é a conclusão, daquelas que fazem a gente gargalhar, de tão forçada e inverossímil.

Fincher encena e filma tudo com preguiça e sem deixar qualquer marca, culpa também da trilha musical de Trent Reznor e Atticus Ross que não serve para nada e a maioria do tempo soa mais como alguém fazendo barulinhos no teclado.

Cotação: *

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Filmes: "Sniper Americano"

DOUTRINADO PARA MATAR

Coitados como Chris Kyle são ensinados que fazem parte de elite moral e que a violência é sempre a melhor solução

- por André Lux, crítico-spam

Ninguém pode dizer que Clint Eastwood seja um diretor ruim, muito menos que nunca tenha feito um bom filme. "As Pontes de Madison" e "Os Imperdoáveis" estão aí para quem quiser tirar a prova. 

Mas também não dá para negar que suas posições políticas estejam, digamos, bastante à direita e que vários de seus filmes, inclusive como ator, são francamente fascistas - vide o horroroso "O Destemido Senhor da Guerra" e seu personagem mais famoso, o detetive "Dirty" Harry, do tipo que atira primeiro e pergunta depois.

Esse "Sniper Americano" é, infelizmente, mais uma peça de propaganda do exército estadunidense e de suas "guerras pela liberdade", leia-se invasões de países em que os EUA tem interesses geopolíticos, leia-se, petróleo. O filme conta a história supostamente verídica do maior atirador de elite dos SEALs, um certo Chris Kyle (interpretado pelo bonitão Bradley Cooper que tem cara de gaiato e não convence muito no papel, apesar de se esforçar). Oficialmente, ele matou mais de 160 pessoas durante a "guerra" do Iraque, inclusive mulheres e crianças (seus primeiros assassinatos, diga-se de passagem).

O roteiro é baseado no livro do próprio Kyle e é muito ruim, sem qualquer tipo de sutileza ou mesmo diálogos verossímeis. Tudo soa como os mais batidos clichês desse tipo de filme, desde o treinamento feito por oficiais sádicos, até a conquista da sua cara-metade num barzinho cafona. Os diálogos entre ele e sua esposa, por sinal, são completamente falsos. Tudo filmado de forma burocrática por Eastwood - nem mesmo as cenas de guerra geram qualquer tipo de suspense.

Não faz mal, pois o que importa nesse tipo de peça de propaganda é espalhar mundo a fora que os estadunidenses são mesmo uma espécie de "raça superior" (Kyle chega a dizer isso quase literalmente no início do filme) e que usar seu exército composto por jovens submetidos a intensa lavagem cerebral para invadir outros países é algo totalmente justificável e louvável até. Afinal, fora dos EUA só existem mesmo "selvagens", não é mesmo?

Muita gente que critica o filme afirma que o protagonista é um psicopata, que não sente remorso por ter matado tanta gente. Mas não acho que é assim. Na verdade, pobres coitados como Chris Kyle são doutrinados desde criança a achar que fazem mesmo parte de uma elite moral e que usar a violência em casos de conflito é sempre a melhor solução, talvez a única. 

Não é à toa que vemos seu pai ensinando-o a matar animais com um rifle quando não passava de um menino (coisa que Kyle obviamente faz com seu filho também). Na mesa do jantar, o patriarca ensina seus filhos que o mal está à espreita e que existem apenas três tipos de seres humanos no planeta: as ovelhas (os mansos), os lobos (os malvados) e os cães pastores (a turma do bem, que protege as ovelhas dos lobos). "Não quero ver filhos meus virando ovelhas e se tornarem-se lobos vou enchê-los de porrada!", grita ao esmurrar a mesa com uma cinta. 

O pequeno Chris absorve bem a lição do pai e corre se alistar no exército quando "terroristas" explodem algumas embaixadas dos EUA no estrangeiro e logo é mandado para o Iraque, acreditando que irá assim vingar os ataques do 11 de setembro e, de quebra, proteger seus entes queridos em casa. 

Não há espaço para qualquer tipo de questionamento na cabeça unidimensional de pessoas como Kyle, que graças à sua pontaria certeira recebe o apelido de "Lenda" e é tratado como herói pelos seus companheiros de armas e também pelo filme. Eastwood em momento algum da projeção levanta qualquer tipo de dilema moral em relação às mortes ou mesmo á "guerra" no Iraque que, como qualquer pessoa minimamente bem informada sabe, foi invadido sob pretextos falsos.

No final, descobrimos que o protagonista foi assassinado por um veterano de guerra ao tentar ajudá-lo. Ou seja, acabou vítima da própria loucura que ele ajudou a criar. Mas pelo menos foi enterrado com muitas honras e seu caixão foi saudado por vários transeuntes que acompanharam o cortejo fúnebre com a bandeira dos EUA tremulando em suas mãos, ao som de um solene solo de trompete. The End.

Cotação: *