sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

“Matrix Resurrections”: Wachowski trola os fãs e dá um tiro no pé da franquia

Boas ideias são desperdiçadas em roteiro fraco e precariedade técnica, algo que entra em conflito gritante com a trilogia original

- por André Lux

Expectativa é tudo quando se trata de apreciar um novo filme que pretende dar continuidade a uma franquia bem sucedida. Foi assim com Star Wars. É assim com Star Trek. E não poderia deixar de ser com Matrix. Ou seja, é praticamente impossível para qualquer apreciador assistir ao novo produto sem trazer consigo a bagagem de tudo que veio antes.

O primeiro filme data de um longínquo 1999 e revolucionou a sétima arte em termos de novas tecnologias de filmagem, efeitos especiais e incorporação de diversos aspectos da cultura pop e filosóficos em uma única obra. Visto hoje, o “Matrix” original continua impressionante, porém seu impacto jamais será o mesmo para quem o assiste pela primeira vez agora, haja visto as centenas de imitações que vieram na sua esteira. Os efeitos e truques de filmagens que na época eram inovadores, hoje parecem meros clichês.

Até mesmo as duas continuações, “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions”, falharam em impressionar e muita gente simplesmente não gostou porque os realizadores, os irmãos Wachowski, subverteram as expectativas e fecharam a trilogia de forma bem diferente do que se esperava do clichê da “jornada do herói”. Eu fui um dos poucos que realmente sacaram as intenções dos dois filmes e gosto deles até hoje, mesmo reconhecendo seus defeitos (leia aqui minha análise da trilogia).

Chega agora, 20 anos depois de “Revolutions”, a quarta parte da franquia, intitulada “Matrix Resurrections”. A grande pergunta sobre o filme é: por que foi feito? E a resposta está no próprio longa, em uma das várias tiradas sarcásticas que os roteiristas inventaram para rir de si mesmos: porque a Warner Brothers, detentora dos direitos, iria dar sequência à franquia com ou sem a participação de seus criadores, que hoje são duas mulheres transexuais Lana e Lily Wachowski (antes Larry e Andy), embora somente Lana aceitou participar da produção de “Resurrections”.

Já que foi forçada a fazer a nova sequência contra sua vontade, a cineasta optou por sabotar seu próprio filme. Embora “Revolutions” tenha fechado a trilogia original sem deixar muitas pontas soltas para uma continuação, obviamente o universo de Matrix poderia ser explorado de inúmeras formas, mas Lana optou pelo caminho mais fácil: fazer uma espécie de reboot do primeiro filme ao mesmo tempo que dá sequência aos eventos do último, algo que está na moda hoje em Hollywood e quase sempre resulta em fracasso junto aos fãs.

“Resurrections” é uma colcha de retalhos que mistura boas ideias, nostalgia e soluções simplistas. Mas são as duas últimas que predominam e as (poucas) premissas interessantes são desperdiçadas e não chegam a lugar algum. A melhor coisa acaba sendo o primeiro ato, quando Neo, novamente preso à Matrix, começa a perceber que algo está errado quando é obrigado a fazer uma continuação da série de videogames de sucesso chamado, bem... Matrix. E aí Wachowski aproveita para alfinetar a lógica corporativa que quer tirar leite de pedra dessas franquias, ao mesmo tempo que ironiza a falta de entendimento do público médio sobre os reais significados de Matrix.

É uma pena que tudo isso seja esquecido a partir do segundo ato que vira uma mera releitura do que já foi visto (inclusive com várias inserções de cenas dos filmes anteriores), com os personagens repetindo o que já foi feito, só que sem a menor vibração, suspense ou emoção. Keanu Reeves nunca foi um bom ator, mas aqui está catatônico, sussurrando seus diálogos como se estivesse... prestes... a... ter... um... ataque... de... cólica... intestinal. O resto do elenco é fraco e parece saído de uma série para adolescentes da Netflix. No terceiro ato alguns diálogos mais profundos melhoram a experiência, mas ainda é muito pouco perto do que já foi mostrado antes.

O que mais chama a atenção, além do roteiro fraco e sem qualquer inspiração, é a precariedade técnica do filme, algo que entra em conflito gritante com a trilogia original: lutas coreografadas de modo apressado, perseguições simplórias e efeitos visuais capengas. Fica evidente que faltou dinheiro e certamente a pandemia da Covid-19 atrapalhou bastantes as filmagens. No final das contas, parece um filme feito por algum fã de Matrix.

Já vi duas vezes “Matrix Resurrections”. Na primeira algumas passagens chegaram a me deixar constrangido. Na segunda achei menos ofensivo, certamente porque já estava sem qualquer expectativa. Infelizmente não é por isso que o filme deixa de ser fraco, apenas fica mais tolerável. E novamente a gente se pergunta: por que diabos fizeram esse filme? Embora a resposta seja óbvia, fica difícil de entender porque deixaram ser realizado dessa forma, já que é uma clara trolagem contra o estúdio e os fãs que já estão enfurecidos xingando o filme nas redes sociais e nos canais de youtube. Ou seja, mais um tiro no pé - só que em “bullet time”...

Cotação: **

domingo, 24 de outubro de 2021

Novo “Duna” é um prato requintado que vai agradar quem procura ficção científica de qualidade

Filme é extremamente bem realizado, repleto de nuances e inflexões narrativas que captam a rica essência da obra original, porém com voz própria na linguagem cinematográfica

- por André Lux

Sou grande admirador da saga “Duna”, criada pelo escritor Frank Herbert a partir de 1965 e que influenciou diretamente um sem número de outros produtos começando com “Star Wars”, passando por “Matrix” e até “Game of Thrones”, a qual descobri a partir da adaptação feita por David Lynch para os cinemas em 1984. Versão essa que tinha inúmeros problemas e fracassou nas bilheterias, porém possuía também qualidades, entre elas um elenco formidável, além de desenhos de produção, figurino e de criaturas sensacionais, sem falar da música competente do grupo Toto (veja aqui minha análise das adaptações de "Duna" anteriores).

Confesso, portanto, que sempre tive grande dificuldade de aceitar outra versão de “Duna” para as telas tão ligado que sempre fui ao filme de 1984. Foi assim com a minissérie da Sci-Fi realizada no ano 2000 que embora fosse muito mais fiel à obra original, foi feita com parcos recursos financeiros e tinha um visual risível, parecendo muitas vezes desfile de escola de samba.

Chega então a última adaptação do livro gigantesco de Herbert, desta vez realizada por Dennis Villeneuve, cineasta brilhante que tem feito ótimos filmes (meu favorito é de longe “A Chegada”), um verdadeiro artista que, a exemplo do que foi Ridley Scott no passado, transforma cada fotograma em verdadeiras obras de arte. E “Duna” não é diferente. O filme é um espetáculo deslumbrante (e por isso exige ser visto ao menos uma vez nas telas dos cinemas), com fotografia e efeitos visuais de tirar o fôlego sempre acompanhadas por um senso de escala que impressiona. Os desenhos de produção e figurinos vão na direção oposta do barroco colorido do longa de Lynch, apostando em linhas retas e curvas sóbrias dignas da arquitetura contemporânea.

O mais interessante no meu caso é que não gostei muito do filme na primeira vez que assisti (no Imax). Embora tenha achado o visual sensacional, tive dificuldades em entrar na proposta da nova adaptação. Culpa disso certamente foi o meu apego ao “Duna” de 1984 e também ao extenso conhecimento do livro e suas tramas políticas complexas e intrincadas. Certamente se tivesse escrito minha análise depois dessa primeira experiência ela seria majoritariamente negativa. Mas senti que algo não estava correto e fui ver novamente no cinema. E isso fez toda a diferença!

Já sabendo o que ia encontrar, fui capaz de me distanciar da versão de Lynch e também do livro e finalmente consegui mergulhar de cabeça. Nem mesmo a música do abominável Hans Zimmer me incomodou na segunda exibição. Sim, a sua partitura para “Duna” sofre de quase todos os defeitos do resto do seu trabalho: é intrusiva, simplória, pesada, opressiva e ensurdecedora! Porém, me arrisco a dizer que mesmo assim essa provavelmente é sua melhor trilha pois, a despeito dos problemas, possui alguns momentos inspirados e até impactantes (dentro do baixo padrão Zimmer de qualidade, que fique claro).

O roteiro consegue sintetizar bem as grandes questões da obra de Herbert sem entrar em muitos detalhes e excesso de informações, fatores que deixaram o filme de 1984 incompreensível para quem não leu o livro. Apesar de enfurecer os fãs mais puristas, foi uma decisão acertada que deu leveza e permite um acompanhamento mais fácil por parte do espectador não familiarizado com o material.

Gostei muito da maneira como Villeneuve se manteve fiel à lógica do enredo original, no qual o conceito de “messias” e “escolhido” não passa de maquinações engendradas pelas Bene Gesserit para facilitar a manipulação e dominação dos povos dos mundos daquele universo, sempre ávidos por crenças religiosas em seres sobrenaturais. Esse, por sinal, foi o erro mais grotesco da versão de 1984 já que transformou Paul em um messias real com poderes mágicos, algo que arrebenta com toda a construção do livro.

Filme tem visual impressionante

Algumas escolhas prejudicam o ritmo da trama, especialmente o arco que envolve o traidor dos Atreides apresentado aqui de forma muito apressada, culminando com o ataque dos Harkonnens que parece acontecer apenas poucos dias após a chegada dos Atreides em Arrakis. O elenco é muito bom, embora alguns personagens importantes tenham pouco tempo de tela, o que afeta a composição dos atores, porém não enfraquece a narrativa principal que fica focada mais em Paul e sua mãe Jessica (aqui bem mais emotiva e insegura do que no livro).

O filme tem 2 horas e 35 minutos, mas parece menos, o que é sempre um dos melhores elogios, terminando de forma abrupta no que seria o início da segunda metade do livro e deixando um gosto de quero mais. O fato da continuação ainda não ter sido confirmada pelo estúdio aumenta ainda mais a ansiedade pois, diferente de “O Senhor dos Anéis” cujos três filmes foram filmados simultaneamente, Villeneuve rodou apenas a primeira parte.

“Duna” é um prato requintado que vai agradar em cheio quem procura ficção científica de qualidade e sabe apreciar um filme extremamente bem realizado, repleto de nuances e inflexões narrativas que captam a rica essência da obra original, principalmente as alegorias ao petróleo, ao cristianismo e islamismo e à ecologia, porém com voz própria dentro da linguagem cinematográfica.

Cotação: ****1/2

domingo, 10 de outubro de 2021

“007 Sem Tempo Para Morrer” pode ser o fim da franquia do personagem

 

Talvez seja melhor mesmo deixar James Bond morto e enterrado, junto com os valores apodrecidos que ele tão bem representa

- por André Lux

É impossível falar sobre o novo filme do 007 sem fazer uma análise histórica da franquia, portanto aqui vai (contém spoilers!).

O personagem do agente secreto britânico James Bond, codinome 007, foi criado pelo escritor Ian Fleming em 1953 e gerou a mais longa franquia do cinema com 26 filmes cujas qualidades variam bastante, do ótimo ao francamente bisonho.

O problema do 007 é que ele é extremamente datado, um verdadeiro dinossauro que foi criado na época da guerra fria entre EUA e a extinta União Soviética cujas características principais eram o machismo e, claro, a defesa irrestrita do imperialismo ocidental (afinal, é um agente do MI6 britânico). Ou seja, em linhas gerais era a encarnação perfeita do chamado “macho alfa” que detona os inimigos do capitalismo enquanto usa e descarta as mulheres a seu bel prazer.

Essa fórmula funcionou bem até mais ou menos 1985 com o último filme de Roger Moore interpretando Bond, “007 Na Mira dos Assassinos” (“A View To a Kill”), mas logo os produtores tentaram dar um upgrade no personagem em 1987 com “007 Marcado Para a Morte” que eu considero talvez o melhor filme da série, trazendo o personagem mais próximo da realidade, diminuindo sua misoginia e deixando a trama menos caricata. O ator Timothy Dalton ficou perfeito no papel, mas infelizmente fez apenas dois filmes e logo foi substituído pelo insonso Pierce Brosnan, cujas encarnações de Bond estão entre as piores da série.

Corta para 2006 e entre em cena então uma nova tentativa de revitalizar a franquia. Inspirados pelo sucesso dos filmes com Jason Bourne, personagem parecido com Bond, porém muito mais realista e mundano, os produtores contratam o feioso Daniel Craig (que lembra muito o nosso Didi Mocó de “Os Trapalhões”) para viver 007 em “Cassino Royale” e criam um ótimo filme, porém cada vez mais distante do personagem original. 

O Bond de Craig é inseguro, nervoso e altamente incompetente (o que se justifica no primeiro filme por ele estar estreando no serviço), porém essas características são levadas para todos os outros filmes, fator que irrita os fãs da série.

James Bond e Didi Mocó: trapalhões

Além disso, a trama do primeiro filme é levada para a continuação “Quantum of Solace”, algo inédito na franquia. Até aí, nada de errado. O problema é que em “Skyfall” (leia aqui minha análise) resolvem abandonar a continuidade, só para a retomarem em “Spectre” (leia aqui minha análise) inventando de forma absurda uma organização do mal capitaneada pelo vilão Blofeld que estaria por trás de todos os eventos dos filmes anteriores.

Chega então “007 Sem Tempo Para Morrer” que já se anuncia como o último filme da era Craig e o resultado não poderia ser mais decepcionante. Confesso que não esperava grande coisa depois dos fiascos de “Skyfall” e “Spectre”, porém é bem pior do poderia imaginar. O longa começa com Bond novamente aposentado (ele foi substituído por uma mulher, porém isso não tem a menor relevância na trama) vivendo um grande amor com a personagem feita pela Léa Seydoux (que ao menos está menos inexpressiva). Mas logo sofrem um atentado e Bond a abandona achando que ela a traiu.

Temos então a invasão de um laboratório secreto do qual é roubado um tipo de vírus que pode matar pessoas específicas baseado no DNA delas. Por trás do roubo está a Spectre que continua sendo comandada por Blofeld mesmo ele estando preso em segurança máxima (e o filme nunca explica de forma inteligível como faz isso). Todavia, existe um outro vilão (feito de forma caricata por Rami Malek) que busca vingança contra a Spectre e quer usar o vírus para matar Blofeld e, depois, eliminar grande parte da humanidade. Os motivos dele nunca ficam claros, mas parece que quer dar uma de Thanos, da série dos “Vingadores”.

Enfim, o roteiro é tolo, a trama não tem pé nem cabeça e é arrastada demais (o filme tem quase 3 horas de duração), a direção é burocrática, as cenas de ação, lutas e perseguições são muito fracas, as motivações dos vilões não fazem sentido e o Bond de Daniel Craig continua incompetente e burro, incapaz de se salvar sem ajuda de outros ou de perceber óbvios traidores. 

E se não bastasse tudo isso, ainda inventam uma filha para o 007, recurso que terá efeito dramático praticamente nulo para a trama e só serve para tentar sem sucesso dar mais emoção a perseguições e confrontos. E o que foi aquilo dos membros da Spectre se reunirem todos numa festa em Cuba? Mais uma estupidez do roteiro inventada só para tentar manchar novamente a reputação da ilha, como se lá fosse terra de ninguém.

Não foi boa ideia chamarem o abominável Hans Zimmer para compor a música de “Sem Tempo Para Morrer”, pois seu “estilo” é completamente errado para os filmes da franquia que sempre contaram com partituras excelentes, grande parte delas composta pelo mestre John Barry. Mas Zimmer não chega a incomodar, criando uma trilha musical banal mas funcional na qual cópia sem grande talento o que já foi estabelecido na série por Barry e David Arnold. As melhores faixas acabam sendo as que Zimmer incorpora sem maiores explicações o tema criado por Barry para “A Serviço Secreto de Sua Majestade” (de 1969), cuja canção interpretada pelo grande Louis Armstrong encerra o novo filme.

E, para fechar o desastre com chave de outro, resolveram simplesmente matar James Bond. Isso mesmo: está morto o personagem icônico do cinema que basicamente era imortal (tanto é que está vivo desde 1953 e já foi interpretado por seis atores). E nem mesmo uma morte gloriosa o coitado teve, sendo eliminado de forma idiota por causa de erros que ele mesmo comete! Um verdadeiro trapalhão esse James Bond.

Vai ser difícil para os produtores da franquia retomarem o personagem daqui para frente. Primeiro porque o mataram e segundo porque fica quase impossível manter a fleuma de James Bond viva sem ter que descaracterizar ele completamente. O que no final das contas pode ser uma boa notícia, já que realmente não existe mais lugar no mundo para esse tipo de “macho alfa” sedutor, invencível, imperialista e misógino que encantava certas pessoas no passado. Talvez seja melhor mesmo deixar James Bond morto e enterrado, junto com os valores apodrecidos que ele tão bem representa.

Cotação: **

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

"Rambo 3" mostra como os EUA financiaram o Talibã


É interessante perceber que Osama Bin Laden poderia ser um daqueles afegãos que dão uma forcinha ao Rambo...

- por André Lux, crítico-spam

“Rambo III" é sem dúvida o ponto mais baixo da trilogia com o personagem que foi apresentado no primeiro filme (o interessante “First Blood”) como um veterano da guerra do Vietnam desajustado e marginalizado pela mesma sociedade que supostamente defendeu com seu sangue, só para ser transformado em super-herói invencível no segundo capítulo, no qual vence sozinho a guerra que os EUA perderam.

Animado com o sucesso mundial daquela bomba fascista e panfletária da era Reagan, que entre outras ofensas pregava abertamente em favor da interferência direta dos EUA no assunto de países soberanos, o brucutu Sylvester Stallone resolveu ir mais além entrando no conflito que estava ocorrendo no Afeganistão, que na época havia sido invadido pela extinta União Soviética.


O filme já começa de forma risível, com Rambo lutando quase até a morte para descolar uns trocados que dá gentilmente aos monges budistas que o acolheram em seu templo. Mas a "paz" do personagem dura pouco, pois logo descobrimos que seu mentor e camarada, Coronel Trautman (Richard Crenna), foi capturado pelos malvados comunistas quando estava em missão do Tio Sam tentando levar democracia e liberdade para o pobre povo afegão.

Rambo então deixa a batina e vai para aquele país quente e repleto de barbudos mal-encarados a fim de resgatar seu colega militar e, de quebra, destruir sozinho e com um estoque aparentemente infinito de flechas explosivas o abominável exército vermelho - o qual, depois de uma sessão de tortura contra inimigos, ataca aldeias miseráveis por esporte, matando cruelmente inclusive criancinhas indefesas (na certa para comê-las no jantar).


Ficar apontando aqui todas as cenas absurdas e ridículas do filme seria perda de tempo - o ponto alto da canastrice é ver o herói cauterizando com pólvora um ferimento que atravessou seu torso!

Também é inútil enumerar todos os clichês deploráveis e preconceitos que pipocam na tela a cada cinco segundos, particularmente aqueles que nos ensinam o quanto são malvados e pervertidos os comunistas e também como são ineptos e atrasados os afegãos (no caso representando qualquer povo que use turbante) frente à superioridade moral, tecnológica e estratégica dos ocidentais. Pior que tem gente que acredita nesse tipo de ladainha racista até hoje.


O interessante, entretanto, é analisar “Rambo III” como produto de seu tempo e compará-lo com a realidade atual, depois dos ataques terroristas em território estadunidense no 11 de setembro. Se em 1988 (ano de produção do filme) o indestrutível soldado do Tio Sam ia até o Afeganistão para salvar o sofrido povo daquele país da tirania dos sanguinários soviéticos, agora o mesmo "Rambo" está lá jogando bombas e mísseis sobre aquelas pessoas, exatamente como faziam os supostos vilões vermelhos.

Só que agora com a desculpa de ser uma "guerra contra o terror" para capturar o terrorista Osama Bin Laden – que, vejam só que ironia, em “Rambo III” podia ser muito bem um daqueles rebeldes Mujahadin do Talibã financiados e armados pelos EUA que ajudam o herói a derrotar os soviéticos!

O absurdo chega a níveis gritantes quando lembramos que o "engajado" Stallone ainda fez questão de incluir a seguinte frase na conclusão da sua obra: "Esse Filme é Dedicado ao Valente Povo do Afeganistão". Como se vê, até o incorruptível Rambo tem "dois pesos e duas medidas". Seria risível se não fosse tão trágico...


Nossa única vingança é saber que o exército soviético abandonou o Afeganistão alguns meses antes do filme estrear nos cinemas, o que deixou tudo ainda mais ridículo e sem sentido ao ponto de decretar seu fracasso nas bilheterias.

Mas, para espanto geral e graças a atual política bélica e reacionária de Bush Júnior, Rambo vai voltar às telas em breve, agora para lutar contra sequestradores e ladrões de suprimentos (clique aqui para ver uma foto do deformado Sylvester Stallone durante as filmagens de "Rambo IV" e corra para o abrigo mais próximo!). Sinceramente, ninguém merece!

Depois de tudo isso alguns incautos e outros nem tanto ainda vêm me falar que o cinema e outros produtos da indústria cultural não sao usados descaradamente como máquina de propaganda imperialista. Imaginem então se fosse...

Cotação: ZERO
.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

A esquerda precisa entender a importância de Felipe Neto



Em entrevista histórica ao grupo Prerrogativas, o youtuber explica porque mudou de lado na política e como a luta contra o neofascismo precisa de jovens como ele. Confira a minha análise!

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MEMÓRIAS DE UM ALIENADO: Como deixei de ser um "papagaio de direita":http://tudo-em-cima.blogspot.com/2015/08/memorias-de-um-alienado.html 

Felipe Neto no Prerrô! - Liberdade de expressão e redes sociais 

terça-feira, 20 de abril de 2021

Interferência dos produtores dilui impacto de “A Sombra e a Escuridão”


A pior coisa é o caçador interpretado por Michael Douglas, personagem inventado para que pudessem enfiar um estadunidense na história

- por André Lux


“A Sombra e a Escuridão” tem uma premissa bastante interessante, ainda mais ao sabermos ter sido baseado em uma história real. O filme mostra a construção de uma ponte em Uganda, na África, que é ameaçada pela aparição de dois leões sanguinários que começam a matar indiscriminadamente e com requintes de crueldade, muito diferente de como agiriam em uma situação normal.

Infelizmente “A Sombra e a Escuridão” não cumpre todas as suas expectativas. A pior coisa do filme é, sem dúvida, o caçador Remington, interpretado por Michael Douglas (que é um dos produtores do filme) que aparece do nada para tentar ajudar a matar os leões. Personagem, diga-se de passagem, "inventado" pelos roteiristas para que de algum jeito pudessem enfiar um estadunidense na história. 

Mas ele não só é ridículo (sua chegada com um grupo de nativos vestindo trajes carnavalescos é digna de gargalhadas) como não tem nada a fazer, a não ser proferir falas vazias e ficar posando de "sabe tudo" o tempo todo. Essa "licença poética" com os fatos reais é justamente o que derruba a fita, já que o personagem principal, vivido com frieza por Kilmer, é enfraquecido em favor do "astro" Douglas.

Os leões verdadeiros estão empalhados
Os leões verdadeiros estão em um museu

Entretanto, o filme tem várias qualidades, a começar pela bela fotografia do mestre Vilmos Zsigmond, passando pela trilha musical extremante rica e complexa do maestro Jerry Goldsmith. “A Sombra e a Escuridão” traz ainda algumas cenas de ataques de leões das cenas mais impressionantes do cinema. É particularmente assustador o embate final entre Kilmer e um dos deles.

Pena que mais uma vez a política dos grandes estúdios tenha interferido no resultado de um filme que poderia ter se tornado um clássico do gênero, transformando-o em apenas uma diversão de qualidade, mas que resulta banal e fria.

Cotação: * * *

"Eu me Importo" desperdiça boa premissa com situações ridículas e humor pastelão

 

Filme pretensioso vende-se com obra séria, porém tem um roteiro desastroso e personagens absurdos.

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segunda-feira, 19 de abril de 2021

"Godzila vs Kong" aposta em roteiro estúpido e absurdo


Franquia iniciada em 2014 coloca os dois monstros para lutar em meio a um enredo sem pé nem cabeça que nem mesmo é fiel à mitologia apresentada nos filmes anteriores.

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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Cinema Com Barbudos #1: Godzilla vs Kong e Justice League

 

Nesse primeiro programa conversei com meu amigo Ariel Wollinger sobre os dois mais recentes blockbusters hollywoodianos. Confira!

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sexta-feira, 19 de março de 2021

Snyder's Cut de "Liga da Justiça" é melhor, porém peca pelo excesso


Versão do diretor tem 4 horas de duração e restaura visão original do cineasta. Mas é bom? Assista minha análise! 

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 #Snyder​'scut #Justiceleague

sexta-feira, 12 de março de 2021

“WandaVision” mistura sitcom com o universo Marvel e tem resultado capenga

- por André Lux

Não deu para entender o que a Marvel quis exatamente com essa série “WandaVision”. A impressão que fica é que alguém falou: “Ei, que tal colocar os personagens numa espécie de sitcom antiga?”, acharam genial e, a partir dessa premissa mínima, começaram a construir o roteiro de forma capenga.

A série começa com Wanda e Visão num daqueles programas cômicos em preto e branco dos anos 1960, tipo “Dick Van Dyke” e “A Feiticeira”, com direito a trejeitos exagerados e faixa de risadas. Algumas pequenas pistas de que a realidade não é bem aquela aparecem, mas é só mesmo a partir do terceiro episódio que as explicações começam a ser apresentadas e as pontas com o universo Marvel vão sendo atadas.

O problema é que essas duas realidades não casam e levantam um monte de perguntas que acabam não sendo respondidas (tipo, por que e como Wanda gravava e transmitia a vida deles para fora do escudo de força?). E nos últimos episódios qualquer traço de originalidade dá lugar às velhas lutas com raios e pancadarias genéricas de sempre.

Os realizadores enfiam vários fan-services durante os episódios, porém acabam tendo pouco impacto na trama, sendo o pior colocarem o ator que fez o Mercúrio nos “X-Men” da Fox como o irmão da Wanda, o que gerou uma avalanche de teorias, mas que no fim era só uma besteira sem nexo que culminou com uma piada sexual rasteira.

O fato de Wanda estar sofrendo com o luto pela morte do Visão em “Vingadores: Guerra Infinita” não é justificativa para os atos dela e o fato de encerrarem a série sem maiores consequências deixa tudo com um gosto mais amargo.

É uma pena que não souberam aproveitar a interessante premissa melhor, desperdiçando o talento dos atores Elizabeth Olsen e Paul Bettany em episódios que possuem sequências muito boas desconectadas do todo, mas que deixam a desejar no âmbito geral do que tentaram construir.

Cotação: * * *

terça-feira, 9 de março de 2021

"Nomadland" retrata o fim do "sonho americano"

 

PESADELO AMERICANO

“Nomadland” é um filme duro, árido, triste, feito quase todo com atores amadores que trazem verdade em seus relatos do fim do “sonho americano”

- por André Lux

“Nomaldland” é mais um filme que descreve de maneira quase documental o fim do chamado “sonho americano” focando na personagem Fern feita pela sempre excelente Frances McDormand. Ela é apenas mais uma vítima da ideologia do capitalismo selvagem neoliberal que tomou conta do mundo depois da queda do muro de Berlim, quando os donos do poder econômico decidiram que não era mais necessário manter o “Estado de Bem Estar Social” que garantia uma vida decente aos proletários a fim de manter afastado o fantasma da revolução comunista.

Fern vivia na cidade Empire que simplesmente desapareceu do mapa depois que a maior fábrica faliu e fechou as portas com a crise de 2008. Já com mais de 50 anos e sem perspectiva de conseguir um emprego fixo, resta a ela viver num pequeno trailer e trabalhar em subempregos esporádicos.

O filme dirigido pela chinesa Chloé Zhao mostra a rotina da protagonista em seus trabalhos e interações com outras pessoas, entre elas muitas vivendo em situação precária como ela sem qualquer expectativa de sair daquela condição. São seres humanos catatônicos que vivem um dia depois do outro desprovidos de brilho e de qualquer ajuda governamental, basicamente esperando a morte chegar.

Em um de seus encontros, Fern conversa com uma idosa que conta a ela que desistiu de se suicidar porque ficou com pena de seus cães e que foi atrás de seus direitos só para descobrir que após uma vida de trabalho duro tinha apenas 500 dólares de direitos trabalhistas para resgatar.

“Nomadland” é um filme duro, árido, triste, desesperançoso, feito quase todo com atores amadores que trazem grande verdade em seus relatos do que é hoje o “pesadelo americano”.

Cotação: * * * *

quinta-feira, 4 de março de 2021

Filmes: "A Múmia" (1999)



- por André Lux

Depois conseguir inesperado sucesso com o divertido e assumidamente "trash" "TENTÁCULOS" (Deep Rising), o diretor Stephen Sommers recebeu carta branca para realizar essa pseudo-refilmagem do clássico estrelado por Boris Karloff nos anos 30. Entretanto, A MÚMIA nova está mais para Indiana Jones e comédia do que qualquer outra coisa.

Só que as cenas de ação são fracas e inconvincentes e as piadas não funcionam como se esparava. O filme, no final das contas, é basicamente uma longa propaganda da ILM, empresa de George Lucas especializada em efeitos visuais, que mostra aqui tudo que havia de novo em termos de computação gráfica na época - hoje já datados.

O roteiro não segue nenhuma lógica aparente, limitando-se a criar situações que vão inevitavelmente acabar em um efeito especial, quase sempre exagerado ou grotesco (o pior mesmo são os ataques dos besouros devoradores de gente...).

Portanto, não espere sutilezas nos ataques da Múmia - ela lança chuva de meteoros sobre a cidade ou é capaz de criar uma gigantesca tempestade de areia, mas no momento decisivo sai apenas "no braço" para tentar vencer o herói (Brendan Fraser).

O filme só não é uma lástima total graças ao elenco razoável, à fotografia colorida e pulsante de Adrian Biddle e à trilha musical grandiosa de Jerry Goldsmith.

E olhe lá...

Cotação: **1/2

Filmes: "007 Um Novo Dia Para Morrer"



JAMES BOND EM RÍTIMO DE "BABA BABY"

Canção repulsiva de Maddona dá o tom desse que é o pior (mas mais lucrativo) filme da série com o agente inglês

- por André Lux

Não sou nehum purista (daqueles que só gostam do que é velho), portanto posso afirmar com tranqüilidade que esse novo filme do James Bond, UM NOVO DIA PARA MORRER, é, de longe, o pior de toda a série. Ainda mais lamentável que o já péssimo O AMANHÃ NUNCA MORRE. 

O problema do filme não são os absurdos de sempre ou as bobagens (como o Aston Martin que agora vem equipado com tecnologia de camuflagem digna dos Klingons de STAR TREK!), mas sim o simples fato de que não existe uma história para ser contada. O roteiro é absolutamente ridículo assim como as situações (aquela parte em Cuba é lamentável) e os personagens (da onde surgiu o vilão inglês ninguém explica, o que fica ainda mais risível quando revela-se quem ele é na verdade). Além disso, fica evidente também quem é o traidor e só o herói parece não perceber...

O que dizer então de James Bond, o maior espião do mundo, deixar-se ser preso por um bando de coreanos malvados e passar 14 meses sendo torturado? E ainda por cima colocaram o Pierce Brosnan (cuja atuação é tão burocrática que beira o catatônico) sem camisa, com cara de mendigo, fazendo o maior esforço para encolher a barriga. Tenha santa paciência... A cena dele surfando de pára-quedas foi digna das maiores vaias! Parecia desenho animado ou video-game de tão mal feita. Os efeitos visuais do filme, diga-se de passagem, são péssimos - nem em DR. NO, o primeiro da série, eram tão primários e toscos assim.

Pior é o final, onde aparece transando com a agente Jinx (Halle Berry, visivelmente constrangida) dentro de um templo budista! Dá pra entender a revolta dos Coreanos com a fita (se parece bobagem, imaginem então o contrário: um filme coreano onde no final o herói fizesse sexo dentro de uma igreja cristã, em cima do altar e embaixo da cruz... Ia ter gente declarando guerra contra o país na mesma hora!).

A canção da Maddona é repulsiva e parece mesmo uma cópia piorada (se é que isso seja possível) de "Baba Baby" da Kelly Key, assim como toda a sequência de abertura (que é uma longa e estilizada sessão de tortura!). A trilha orquestral de David Arnold é absurdamente bombástica para conseguir ser ouvida sobre o infinito número de explosões irritantes.

Resumindo: um desastre total, ofensivo até, que não serve nem para fazer rir (como, por exemplo, fazia aquele em que Roger Moore lutava contra o rei do Voodoo). Mas, em contrapartida, é o filme da série que está mais lucrando nas bilheterias. Sinal de que tem gente que gosta. Eu, francamente, não sou um deles.

Cotação: *

Filmes: "007 O Amanhã Nunca Morre"


- por André Lux

Pierce Brosnan retoma o personagem James Bond neste que é sem dúvida um dos piores filmes da série com o famoso agente secreto britânico.

Erraram em praticamente tudo: as cenas de ação são forçadas e exageradas, a trama é inverossímil e os vilões totalmente caricatos - onde nem o competente Jonathan Price se salva, perdendo-se em um atuação constrangedora que o transforma num tipo de sósia do Moacir Franco.

Brosnam está menos convincente do que em sua estreia em GOLDENEY, limitando-se aqui a fazer caras e bocas em uma caracterização extremamente superficial. Parece estar debochando do papel.

O filme tem uma trama pretensamente moderna - dono de rede de comunicação manipula e cria eventos e tragédias para poder noticiá-los em primeira mão - mas é tudo mostrado de forma tão canhestra e primitiva que fica difícil levar a sério seus planos mirabolantes e o interesse vai por água abaixo.

E o que sobra é o 007 correndo de um lado para o outro em perseguições que beiram o ridículo (como a do carro guiado por controle remoto!) ou que não tem razão de ser (para que ficar pulando de moto sobre telhados quando era só ficar parado dentro de uma das casas até o helicóptero ir embora?).

A série James Bond, que sempre primou por enredos inteligentes e soluções engenhosas, parece ter finalmente sucumbido à nova tendência do cinema moderno americano que prima por muita ação e pouco (ou nenhum) cérebro...

Cotação: *

Filmes: "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban"


- por André Lux

Existem duas maneiras de se analisar um filme como “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”. A primeira como um produto industrial muito bem acabado e feito na medida certa para agradar o culto que segue os livros criados pela escritora J.K. Rowling. Já a outra como uma obra cinematográfica e, como tal, sujeita à analise de todos os fatores que a compõe, inclusive a elaboração de seu roteiro e o sentido dos acontecimentos para o desenvolvimento da narrativa.

Se você não é fanático pelo personagem, nem leu os livros que deram origem aos filmes, certamente só vai poder analisá-los pela segunda opção. E é justamente aí que os filmes da franquia derrapam em grande estilo. A produção pode ser caprichada, os atores simpáticos e eficientes, a fotografia bonita, a música excelente, mas em se tratando de roteiro a série é um fracasso retumbante. Não há como negar que a autora soube captar o imaginário infantil com suas histórias repletas de figuras míticas e passagens repletas de maravilhas visuais, mas é no desenvolvimento das tramas que ela revela sua maior fraqueza.

E isso, que estava refletido nas duas outras produções da franquia, fica aqui mais do que comprovado. Afinal, analisadas sob esse prisma, as narrativas dos três filmes são praticamente idênticas, ou seja, começam, desenvolvem-se e terminam sempre do mesmo jeito. As únicas coisas que mudam são os antagonistas de Potter, os professores que dão novas aulas e os motivos que os levam ao confronto final. Mas todo o resto é de uma similaridade que chega a ser constrangedora.

Também não é difícil notar que a autora cria seqüências sem a menor lógica ou razão de ser só para poder concluí-las de maneira grandiosa. O exemplo mais evidente disso é a cena na qual Hagrid, recém promovido a professor, leva as crianças para interagirem com um hipogrifo, espécie de cavalo alado com cabeça de pássaro de temperamento imprevisível e que pode ser até fatal. Mas que tipo de aula é essa na qual um professor leva seus alunos para conhecer uma besta feroz sem qualquer proteção? Obviamente, a única razão de ser dela é mostrar Harry conquistando a amizade do animal só para, em seguida, sair voando com ele numa cena bonita e grandiosa, mas desprovida de qualquer coerência ou sentido.

Esse tipo de abordagem certamente não vai incomodar as crianças que não ligam para esse tipo de coisa - e é por isso que a saga de Harry Potter tornou-se um triunfo. Mas para o resto dos mortais os filmes do aprendiz de bruxo podem ser uma experiência enfadonha até, especialmente por causa de sua excessivamente longa duração e pela insistência em construir sequências que não tem nenhuma razão de existir, a não ser para gerar um clímax bonito. É particularmente irritante a parte final do filme, na qual a trama descamba de vez fazendo as ações dos supostos vilões tornarem-se totalmente incompreensíveis.

Confesso que, embora não tenha gostado dos primeiros dois filmes, estava até com muita vontade de ver esse “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, principalmente por causa da direção de Alfonso Cuarón que, imaginei, seria capaz de injetar sangue novo à franquia. Mas, por mais que ele se esforce em dar um tom mais sombrio e enérgico à narrativa (deixando inclusive o compositor John Williams mais livre para criar uma música mais forte e pesada), fica impossível para o mexicano (autor de “E Sua Mãe Também”) mudar muita coisa quando tem em mãos um roteiro tão inconsistente e sobre a sua cabeça a sombra da escritora impedindo qualquer mudança ou enriquecimento narrativo. O trabalho de Cuarón, no final das contas, é meramente burocrático e não chega a parecer muito diferente do que o realizado pelo anterior, Chris Columbus, que foi acusado de mediocridade injustamente afinal.

Reveladas as falhas e limitações do texto original, resta a “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” agradar em cheio aqueles que obviamente vão analisar o filme pelo prisma do culto e da beleza do projeto. Por isso, o terceiro filme da franquia foi um sucesso estrondoso comprovando de maneira cabal que de boba a escritora J.K. Rowling não tem nada...

Cotação: ***

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Música de Basil Poledouris para "Conan, O Bárbaro" é uma das melhores do cinema

 

 Filme de 1982 dirigido por John Millius e estrelado por Arnold Schwarzenegger tem uma das mais impressionantes trilhas musicais de todos os tempos. Confira minha análise!

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domingo, 10 de janeiro de 2021

“Manhunt: Unabomber” mostra como ressentimento e ódio aliados ao extremismo político podem ser perigosos


- por André Lux

A mini-série “Manhunt: Unabomber” conta a história real do desfecho dos 17 anos de caçada ao terrorista que mandava bombas pelo correio e causou a morte de três pessoas, deixando outras dezenas de feridos.

São oitos episódios que alternam três linhas temporais. Em uma delas acompanhamos os esforços do agente do FBI James Fitzgerald, interpretado por Sam Worthington (de “Avatar”) cuja apatia atua em favor do personagem. Ele é recrutado pela força-tarefa do FBI para tentar encontrar pistas a partir das cartas enviadas pelo terrorista. Porém, logo descobre que ninguém leva a sério suas análises, já que essa técnica ainda era uma novidade e os agentes da velha guarda obviamente resistiam a ela.

Aos poucos ele vai conseguindo identificar padrões linguísticos nos textos do Unabomber e traça um novo perfil dele, bastante diferente do que existia até então. Hoje sabemos que se tratava de Ted Kaczynski, um matemático superdotado com QI muito acima da média que usava os ataques com bomba para se vingar da sociedade que o rejeitava (ele nunca teve um relacionamento afetivo e é virgem até hoje, o que explica em grande parte seu ressentimento).

Na segunda linha temporal, vemos as conversas que Fitzgerald trava com Kaczynski já na prisão na tentativa de induzi-lo a confessar seus crimes e admitir a culpa, algo que era desejável pelo governo do EUA. Esses encontros entre eles não ocorreram na vida real e foram criados apenas para dar algum peso dramático ao desfecho do julgamento do terrorista, embora ele tenha de fato se declarado culpado e cumpre até hoje várias sentenças de prisão perpétua.

A terceira linha narrativa apresentada pela série aborda o passado de Kaczynski, sua infância desajustada e solitária, sua adolescência tendo que estudar numa universidade com apenas 16 anos e, principalmente, os fatos chocantes que mostram ter sido usado como cobaia em experimentos do governo que queriam promover lavagem cerebral em agentes soviéticos capturados nos EUA. Ali ele sofreu todos os tipos de abusos, violências e humilhações físicas e psicológicas, o que certamente acionou os gatilhos que o transformaram em um sociopata perigoso.

As cenas que mostram esses experimentos parecem irreais, porém quando descobrimos que realmente aconteceram fica impossível não sentir empatia pelo personagem. Esse é o maior trunfo da série, principalmente quando traça paralelos entra as teorias do Unabomber e o comportamento obsessivo do agente do FBI que chega a se alienar totalmente da família em sua busca pelo terrorista. Nesses momentos, “Manhunt: Unabomber” mostra de forma cristalina como é fina a linha que separa a sanidade da loucura e a crítica contra os abusos do sistema da paranoia delirante.

Muitos dos questionamentos feitos por Kaczynski reverberam até hoje, principalmente no que diz respeito à escalada da tecnologia que destrói nossa humanidade, porém é evidente que seus ataques à sociedade são motivados somente por ódio, inveja e ressentimento por não ser capaz de se ajustar a ela e não por uma profunda consciência social e política. Ou seja, muito parecido com o que vemos atualmente em extremistas de direita que apoiam de maneira irracional políticos que dão voz e legitimidade a esse ressentimento, cujas consequências nefastas assistimos escalando a cada dia no mundo todo, inclusive no Brasil. 

A série é muito bem dirigida por Greg Yaitanes (de “Os Filhos de Duna” e vários episódios de “House”) e conta com uma interpretação brilhante de Paul Bettany (o “Visão” de “Os Vingadores”) como Kaczynski. Para quem gosta do gênero, é imperdível.

Cotação: ****