terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Filmes: "Robocop" (2014)

O CAPITÃO NASCIMENTO DO FUTURO

Até esse filme, não conseguia decidir se o cineasta José Padilha era apenas um inocente útil ou um canalha mesmo. Agora eu sei.

- por André Lux, crítico-spam

Esse novo “Robocop” não chega a ser um filme ruim, tecnicamente falando (exceto a trilha musical, que é lamentável - leia aqui minha análise dela). É muito bem feito, tem excelentes atores e consegue manter o interesse nos dois primeiros terços da projeção. 

O problema mesmo é o terceiro ato, que joga tudo que foi mostrado antes para o alto e descamba para os clichês mais imbecis do cinema de ação made in USA. Mas o que implode mesmo o filme é a mensagem fascista que a obra transmite.

Eu vou ser sincero: até ver esse filme, não conseguia decidir se o cineasta José Padilha era apenas um inocente útil ou um canalha mesmo. Seu “Tropa de Elite” é um dos filmes mais asquerosos já produzidos, do tipo que faria Adolf Hitler e seus seguidores aplaudirem de pé (e como aplaudiram!). 

Chamado de fascista por um grande número de analistas, Padilha negou de pés juntos e aí fez o “Tropa de Elite 2”, que é uma tentativa desesperada (e sem sucesso) de provar que não reza pela cartilha dos nazi-fascistas. Mas, diabos, ele fez aquele excelente documentário “Ônibus 174” que era uma defesa valorosa dos direitos humanos!

Todavia, um cidadão que faz parte do Instituto Millenium (clique aqui para saber o que é isso, mas prepare o saco de vômito) e ganhou nada menos do que TRÊS capas da revista Veja, o maior panfleto da extrema-direita tupiniquim, não pode bancar o inocente. Então...

Diga-me com quem tu andas: Padilha é membro orgulhoso do Instituto Millenium
Agora vem esse “Robocop”, refilmagem do original feito em 1987 pelo holandês Paul Verhoeven que é considerado hoje um mini-clássico do gênero e este sim uma forte bofetada na cara dos extremistas de direita. Na época, buscando projetos para filmar nos EUA pela segunda vez (seu primeiro filme é o poderoso “Conquista Sangrenta”, que quase ninguém viu), Verhoeven leu o roteiro de “Robocop” e jogou de lado, desinteressado. 

Alguns dias depois, sua esposa perguntou a ele: “Não vai filmar a história do Jesus Cristo fascista”? E aí ele releu o roteiro e, claro, sua mente fervilhou com ideias subversivas para jogar na história e o resultado já é bem conhecido.

O que era para ser apenas um filminho de ação feito com míseros US$ 17 milhões (uma ninharia para se fazer um filme de ficção científica) sobre um Frankstein robótico dando tiros e sopapos, tornou-se uma das obras mais ácidas da história do cinema, lembrada até hoje com carinho pelos fãs que, sim, percebem claramente a crítica feroz a tudo que existe de errado na civilização ocidental liderada pelos EUA (naquela Detroit futurista, até a polícia havia sido privatizada).

O que torna o filme de Verhoeven tão fora de série dentro do gênero é exatamente a subversão que faz dos clichês. Assim, não existem mocinhos e bandidos no filme. Todo mundo é meio podre, esquisito, problemático, neurótico, aproveitador. Pegue o sujeito que criou o Robocop.

Se Veja elogia, boa coisa não pode ser
No novo filme do Padilha ele é praticamente um santo, que aceita vender seus ideais para ajudar a construir um policial meio homem e meio máquina com as melhores intenções do mundo e, quando descobre que foi enganado, praticamente dá a vida pela causa. 

Já no filme do Verhoeven, o cara é um tremendo almofadinha, que só quer saber de subir na empresa às custas do seu projeto e é morto pelo vilão no meio de uma orgia com prostitutas e cocaína (nada contra as prostitutas, muito pelo contrário).

Eu lembro perfeitamente como esse tipo de subversão, pequena é verdade, é eficiente em acionar partes dormentes do cérebro, justamente por ser algo tão fora do padrão. Ou seja, é o tipo de artifício sutil que te faz pensar e questionar coisas que normalmente você não questionaria.

E ao mesmo tempo que joga com esse tipo de sutileza, Verhoeven choca em seguida com sequências absolutamente exageradas, beirando a caricatura, como a morte do policial Murphy, colocado em posição de crucificação (lembram do Jesus Fascista?) pelo psicopata interpretado com maestria por  (da série “The 70’s Show” que tem cara de bonzinho e é também uma adição saborosa ao delírio subversivo de Verhoeven).

Enfim, é impossível não comparar as duas obras e, claro, a nova versão dirigida pelo Padilha perde feio. Primeiro, porque o brasileiro não é chegado em sutilezas. Filma tudo com mão pesada e marreta suas supostas mensagens com a delicadeza de um rinoceronte com dor de dente. 

Assim, como todo bom fascista, Padilha finge criticar e ironizar as manias de grandeza dos EUA e sua sociedade do consumo colocando tudo isso nas costas dos dois vilões principais do filme: o dono da corporação que produz o Robocop e manda na polícia (Michael Keaton, péssimo como sempre) e no apresentador de TV ultra-reacionário interpretado por Samuel L. Jackson, que não deveria se prestar a esse tipo de besteira (as cenas com ele são as piores do filme).

São aqueles tipo de vilões extremamente caricatos que a gente vê todos os dias nos filmes enlatados dos EUA, que fazem maldades simplesmente porque... são maus e sabem que são maus. Isso é algo tão ridículo e longe da realidade, que não causa o menor impacto ou reflexão. Simplesmente porque ninguém é mau, sabe que é mau e gosta de fazer maldades, nem mesmo o Hitler. 

O ser humano é por demais complexo para esse tipo de reducionismo barato que é usado pelo cinema estadunidense com maestria para entorpecer a mente dos espectadores enquanto as VERDADEIRAS mensagens são passadas de maneira muito mais sutil e subliminar.

No filme original, quando o Robocop vai prender o traficante psicopata (notem, um doente mental, não uma caricatura), ele refreia no último instante seu instinto de simplesmente esmagar o pescoço do seu executor lembrando que é um POLICIAL, ou seja, alguém que tem como profissão o respeito às leis. Não existe, na minha opinião, mensagem mais anti-fascista do que essa.

O Capitão Nascimento do Futuro, 
prendendo e arrebentando
Já no novo filme, o herói invade a fábrica de drogas do vilão (que é mau, sabe que é mau e gosta de fazer maldades) e simplesmente mata todo mundo, mesmo quando obviamente não havia mais necessidade. 

Ou seja, age como policial, juiz, júri e executor. Faz justiça com as próprias mãos, dando uma banana para a lei e a ordem, que ele teria como obrigação proteger, exatamente como o nefasto Capitão Nascimento dos "Tropa de Elite", naquela estilo "prendo e arrebento" tão comum durante a ditadura militar no Brasil. Coincidência. Só que não.

Falando agora apenas do filme em si, achei muito ruim a ideia de mostrar o Robocop como uma pessoa normal já de cara, com todas suas memórias intactas. No original, ele tem todas as memórias apagadas e é apenas uma máquina com algum tecido humano, porém com o passar do tempo, suas emoções vão ressurgindo e com elas as memórias, diminuindo a parte mecânica e aumentando a parte humana. Só na cena final é que ele finalmente diz seu nome, reconhecendo que, afinal, é um homem. Perfeito.

No novo filme, ele começa normal, depois tem as emoções retiradas, depois a memória e, em menos de 10 minutos, volta ao normal de novo e pronto, parte para a vingança. Assim, tirando esses poucos minutos em que realmente foi o Robocop, no resto do filme ele não passa de uma versão em preto do “Homem de Ferro”, só que com uma armadura colada eternamente ao corpo. 

Esse vai e vem de memórias e sentimentos humanos até é bem utilizado nas primeiras duas partes, mas, como eu disse, é jogado para o alto no final e tudo vira mais uma daquelas intermináveis sequências de ação, tiro e luta que são obrigatórias em qualquer filme de Roliúdi nos últimos dez anos...

Já falei demais de um filme tão desprezível. Nem vale a pena. A não ser para confirmar que José Padilha, definitivamente, de ingênuo não tem nada. 

Cotação: *

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Trilhas: "Robocop" (2014), por Pedro Bromfman

Brasileiro vai a Roliúdi imitar Hanzimmer

- por André Lux, crítico-spam

Não vi o novo "Robocop", dirigido pelo queridinho da revista Veja José Padilha, mas a trilha composta pelo seu parceiro de "Tropa de Elite", Pedro Bromfman, eu já ouvi e posso dizer: é um lixo.

É triste ver um brasileiro conseguindo a proeza de compor a partitura para um filme classe A de um grande estúdio estadunidense para simplesmente copiar o "estilo" do abominável Hanzimmer e seu exército de clones (alguns mais talentosos que o "mestre", diga-se de passagem!).

Mas, imagino que nem seja culpa do compositor, pois certamente foi obrigado a emular o "estilo" Zimmer de fazer trilhas para o cinema, que é a última moda hoje em Roliúdi. Afinal, deu certo nos filmes do "Batman", então é tudo que os adolescentes que lotam os cinemas hoje em dia querem ouvir, certamente imaginam os executivos dos estúdios.

Então, a trilha do novo "Robocop" é o resultado dos sons de uma grande orquestra, sintetizadores, percussão em loop e instrumentos de rock'n roll manipulados ao ponto de tudo parecer a mesma coisa, tocando aqueles manjados ostinatos que Zimmer utilizou em "Batman" e agora aparecem em todas as trilhas de filmes de ação estadunidense (a grande questão, todavia, é: será que Zimmer ao menos sabe o que ostinato significa?).

Bromfman? Zimmer? Tanto faz
Solos pesados de violoncelos são usados em qualquer cena "dramática" e os metais explodem em grandes notas em uníssono nos momentos de perigo, no que os críticos passaram a chamar ironicamente de "As Buzinas da Perdição" (Horns of Doom) - ambos marcas registradas do abominável Zimmer.

O pior é quando Bromfman cita o tema clássico para o filme original, composto pelo grande Basil Poledouris, na faixa "Title Card", pois isso nos lembra o quanto aquela trilha era boa e perfeita para o filme e o quanto essa nova é ruim e absolutamente genérica.

O fato é que essa música poderia ser colocada para tocar em qualquer um desses filmes de ação produzidos nos EUA nos últimos 10 anos, tipo "Transformers" ou o novo "Fúria de Titãs", sem qualquer prejuízo, ninguém ia nem perceber a diferença.

É uma pena ver um brasileiro sendo obrigado a produzir uma música tão sem personalidade, ao ponto de soar burocrática e anônima. Enfim, mais um produto que mostra o quanto o cinemão comercial estadunidense decaiu e continua decaindo. 

Cotação: *

A música de John Williams na Orquestra Sinfônica Brasileira


Homenagem ao compositor John Williams é uma das atrações da Temporada 2014 da Orquestra Sinfônica Brasileira

Em agosto, no Rio e em São Paulo, sob regência deRoberto Minczuk, a OSB apresentará as trilhas sonoras de filmes como “Harry Poter e a Pedra Filosofal”, “Jurassic Park”, “E.T”, “Tubarão”, “Guerra nas Estrelas”, “Superman” e “A lista de Schindler”.

O lançamento oficial da Temporada 2014 acontecerá em 15 de março. E, no dia 18, iniciam-se as vendas de assinaturas para as séries no Rio (Theatro Municipal do Rio de Janeiro).

Acompanhe as notícias da Orquestra Sinfônica Brasileira pela página no facebook e também, em nosso site: http://osb.com.br/.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Homenagem ao mestre Jerry Goldsmith

Hoje, 10 de fevereiro, seria o 85º aniversário do grande mestre Jerry Goldsmith. Infelizmente, ele perdeu a batalha para o câncer em 2004. Abaixo, o texto que escrevi no momento que soube da sua morte.

O cinema nunca será o mesmo sem Jerry Goldsmith

A morte do genial compositor é como uma luz que se apaga para nunca mais ser acesa

- por André Lux



2004 foi um ano difícil para mim e, suponho, para qualquer pessoa que tenha crescido apreciando a boa música do cinema. Um dos maiores compositores de trilhas sonoras nos deixou: Jerry Goldsmith.

Confesso que nada me havia preparado para o choque de receber a notícia de que tão ilustre artista não estava mais entre nós. 

No início a sensação era de incredulidade. Depois veio um sentimento amargo, deprimente, do tipo que se tem quando um bom e velho amigo deixa de viver. Mas como é possível sentir isso por uma pessoa que nunca havia sequer chegado perto? Como é possível ter sentimentos e laços tão profundos por alguém que jamais havia conhecido?

A resposta para essas perguntas só pode ser: a música que escrevia falava diretamente à minha alma. Era como se aquele senhor, ao escrever suas partituras, estivesse se comunicando diretamente comigo, num nível de intimidade que só pessoas realmente chegadas tem.

Afinal de contas eu cresci ouvindo a música dele e seria impossível não sofrer algum tipo de influência da sua imensa e grandiosa obra. No caso de Jerry Goldsmith, essa influência foi infinitamente maior, assim como a dor que senti ao saber que havia falecido. 



Apesar de ter começado a tomar gosto pela música do cinema com John Williams e sua trilha para ''Star Wars'', foi Goldsmith quem realmente me fisgou para esse mundo com sua partitura majestosa para ''Jornada nas Estrelas - O Filme''.

Lembro até hoje do dia em que, com apenas 9 anos de idade, arrastei meu pai até uma loja de discos para comprar essa trilha, mas só conseguimos achá-la em fita Cassete, a qual ouvi durante a minha adolescência até o ponto em que ela simplesmente se desmanchou! Felizmente com o advento do CD, não corro o risco de ver isso acontecer novamente...

Daí por diante minha vida nunca mais foi a mesma. Enquanto meus amigos corriam para ouvir o novo álbum do Duran-Duran ou do U2, lá estava eu, como um verdadeiro (e orgulhoso!) nerd, ouvindo a nova trilha do maestro Jerry Goldsmith! 

Nada mais engraçado do que chegar a uma rodinha de jovens que discutem música pop todos cheios de si e dizer que estava ouvindo em casa a trilha sonora de... ''Gremlins''! ''Como você é esquisito! De que planeta você é, cara??'', muitos me perguntavam. 

Mas eu nunca liguei para esse rótulos e tampouco sentia necessidade de deixar de ouvir o que realmente gostava só para me enturmar ou ser aceito. A música daqueles sujeitos tocava tão a fundo que não havia a menor possibilidade de não ouvi-la mais. 

É como dizem: uma vez fisgado, não tem mais volta. Mas é claro que esse gosto adquirido acaba se tornando algo solitário, afinal é muito difícil encontrar alguém que o compartilhe. Eu mesmo só fui encontrar outro colecionador de trilhas quando tinha 17 anos!



Penso que minha sorte foi ter conhecido a obra de Jerry Goldsmith bem cedo, pois sua música me abriu horizontes e me ajudou a passar pelos momentos mais difíceis, já que elas exprimiam com perfeição meus sentimentos e acabavam servindo como uma saudável catarse. 

Ou seja: quando estava nervoso, era só colocar a trilha de ''O Vento e o Leão'' ou de ''O Vingador do Futuro'' e me imaginar regendo furiosamente aquela orquestra. 

Quando sentia tristeza, bastava ouvir a ternura de ''A Ilha do Adeus'' para que meu coração voltasse a bater normalmente. Ao ter medo, nada melhor do que ouvir ''Alien: O Oitavo Passageiro'' ou ''Poltergeist'' para sentir na pele o que é o medo realmente. E assim por diante.

E Goldsmith, além de ser esse genial músico, era também uma pessoa maravilhosa. Tímido, arredio, humilde e sincero, era o tipo de profissional que levava seu trabalho muito a sério, mas que sensatamente jamais levou a si mesmo a sério a ponto de tornar-se arrogante, prepotente ou dono da verdade. 



O que mais atraia os diretores em seu trabalho era sua capacidade de colocar-se à serviço do filme, sempre disposto a colaborar e melhorar seu trabalho caso não agradasse num primeiro momento - até mesmo de produções visivelmente trash, como "Leviathan" ou "O Enxame", só para citar dois exemplos.

Essas atitudes louváveis e tão raras podem ser percebidas claramente em todas as entrevistas que ele concedeu ou nos comentários que gravou para os DVDs cujos filmes musicou. E isso é confirmado também pelas pessoas que trabalharam com ele, por seus amigos e por seus familiares, como pudemos perceber nas homenagens que recebeu mundo afora pela ocasião de sua morte.


Na semana da morte do maestro, tive uma surpresa emocionante: recebi pelo correio uma cópia do documentário que Fred Karlin fez sobre Jerry Goldsmith, o qual eu já havia assistido mas não havia copiado. E que hoje tornou-se uma raridade. O presente me foi enviado por um amigo que conheci num desses fóruns de discussões da vida, que também estava sentindo a mesma dor que eu sentia. 

Só mesmo um apreciador deste incrível compositor poderia fazer isso, assim de livre e espontânea vontade, sem pedir nada em troca. Ainda mais para alguém que nunca conheceu pessoalmente... Mais uma prova do poder de união e carinho que a música de Jerry pode ter sobre as pessoas!

A morte de Jerry Goldsmith é como uma luz que se apaga para nunca mais ser acesa. Uma perda insubstituível. Saber que nunca mais vou ao cinema só para curtir a nova trilha dele (e nunca vou perdoá-lo por ter me obrigado a ver bombas como ''A Múmia'', ''Rambo III'' ou ''A Soma de Todos os Medos''!) dá uma grande sensação de vazio. 

A sétima arte perdeu um de seus mais talentosos e versáteis artistas. E o mundo perdeu uma das pessoas mais amáveis e honestas que por aqui já estiveram, que foi capaz de, com meras notas espalhadas por uma folha de papel, tocar o coração e a mente de tantas pessoas, no mundo inteiro.

Agora, se vocês me dão licença, vou voltar a ouvir o Tema de Amor de ''Chinatown'' e chorar um pouco... 




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Tristeza: Morre o ator e músico Nico Nicolaiewsky


O ator, músico, compositor e humorista Nico Nicolaiewsky morreu nesta sexta-feira, aos 56 anos. Ele sofria de leucemia e estava internado no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
 
Conhecido, entre outros trabalhos, pela interpretação do maestro Pletskaya no espetáculo Tangos & Tragédias, no qual dividia o palco com Hique Gomez, Nico estava internado para tratamento desde janeiro. A temporada de verão do espetáculo no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, havia sido cancelada em função da doença do artista.

 
Além do Tangos..., que foi criado em 1984 e é exibido em temporadas de verão no São Pedro ininterruptamente desde 1987, Nicolaiewsky mantinha uma prolífica carreira musical, que incluía desde a participação no lendário Musical Saracura, ainda na década de 1970, até uma ópera cômica, As Sete Caras da Verdade, lançada em 2002.
 
O músico viveu 10 anos no Rio de Janeiro, onde estudou com o maestro Hans-Joachim Köellreuter. Além de As Sete Caras..., gravou dois discos solo, Nico Nicolaiewsky(1996), com valsas e canções líricas, algumas incluídas na trilha do filme Amores (de Domingos Oliveira, 1997)  e Onde Está o Amor? (2007), produzido por John Ulhôa, guitarrista do Pato Fu.
 
Com o Musical Saracura, no qual era o responsável pelos teclados e pelo vocal, lançou um LP homônimo, em 1982. A banda misturou influências da MPB tropicalista, do rock e da música regional gaúcha – juntamente com o compositor Mário Barbará, fizeram uma temporada de shows e chegaram a participar de uma edição da Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana.
 
O Saracura também foi formado por Sílvio Marques (violão), Chaminé (baixo e voz) e Gatinha (que depois foi substituída na bateria por Fernando Pezão, além de estabelecer parcerias com nomes como Zé Flávio e Léo Henkin.
 
Outro registro deixado por Nicolaiewsky, além dos álbuns solo e do disco com o Saracura, é o DVD Tangos & Tragédias na Praça da Matriz, lançado em 2007. O espetáculo "sborniano" também originou um longa-metragem de animação, dirigido por Otto Guerra e apresentado pela primeira vez no Festival de Gramado de 2013. O filme, intitulado Até que a Sbórnia nos Separe, está sendo convertido para 3D e deve ser lançado nos cinemas ainda em 2014. Será a primeira produção em 3D do Rio Grande do Sul.
 
Nico era casado com a atriz Márcia do Canto e deixa uma filha, Nina Nicolaiewsky, nascida em 1993.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Filmes: "O Jogo do Exterminador"

FRACASSO MERECIDO

Uma besteira monumental que se não bastasse ser incoerente é também tediosa e sem qualquer graça

- por André Lux, crítico-spam

*Atenção: essa crítica contem "spoilers"!

Orson Scott Card sempre foi um dos mais badalados autores de ficção cientifica e seu livro “O Jogo do Exterminador” é considerado um clássico do gênero por muita gente. Como não li a obra, estava bem entusiasmado para ver o filme, que foi co-produzido pelo próprio autor, o que geralmente é garantia de que foram fiéis à obra original.

Mas nada me preparou para tamanha decepção. O filme em si é bem feitinho e tem efeitos especiais de última geração. Mas o que choca é a pobreza da história, repleta de clichês e com um final que beira o ridículo, de tão ilógico.

As duas primeiras metades do filme não passam daquela velha baboseira de “o exército vai fazer de você um homem” que já era velha há 50 anos. A única diferença é que os protagonistas agora são todos pré-adolescentes que são recrutados pelo governo para lutar contra uma possível nova invasão de uma raça alienígena que tentou invadir a Terra anos atrás e foi derrotada pela destreza de um único piloto (outra coisa sem nexo).

Um desses meninos, chamado Ender, é mais um “escolhido”, daqueles que são gênios e certamente tem tudo para vencer a guerra. Pelo menos é nisso que acredita um milico feito por Harrison Ford, que passa o filme todo com a mesma cara de quem comeu e não gostou, certamente contrariado ao perceber a fria em que se meteu.

Então somos obrigados a aguentar mais de uma hora de milicos enfezados gritando ordens na cara dos moleques, do protagonista sofrendo “bullying” dos mais velhos e dos mais fortes e de cenas de treinamentos tediosos que ainda por cima não fazem o menor sentido (pra que ficar brincando de “pegar a bandeira” e de luta marcial se eles vão enfrentar os aliens em naves?).

Se não bastasse isso, ainda temos que aturar o Ender dando chiliques depois que quase mata numa briga o seu oficial superior, feito por um garoto narigudo e franzino cujo apelido é “Gonzo”, certamente em homenagem àquele boneco dos Mupetts – por aí a gente já vê como ele é ameaçador e poderoso... Enfim, o menino desiste de ser herói, volta pra Terra, mas, claro, é convencido a retomar o treinamento depois que sua irmã fala meia dúzia de frases de efeito.

O filme conta ainda com a participação do grande ator Ben Kingsley, que certamente estava precisando pagar alguma conta, tem o rosto coberto por tatuagens e se perde num sotaque ridículo. Sem dizer que seu personagem, pela logica interna da história, teria que ter no mínimo uns 80 anos, mas não tem mais do que 60.

Cara de Ford é a melhor crítica ao filme
Para piorar tudo, ainda chamaram um dos piores clones do abominável Hanz Zimmer para fazer a trilha, um tal de Steve Jablonsky, que é uma calamidade, genérica ao extremo e que em muitas cenas confunde-se com os efeitos sonoros. 

Um músico de verdade ao menos criaria uma ótima trilha para um filme desse tipo. Mas, infelizmente, os executivos de Roliudi acreditam que o som amador, simplório e amorfo “inventado” por Zimmer é tudo que a garotada quer ouvir nos cinemas hoje, então...

“O Jogo do Exterminador” guarda uma surpresa em seu epílogo que é até interessante, porém a reação moralista do protagonista ao descobrir a verdade é tola e não faz muito sentido também. Afinal de contas, ele estava sendo treinado para ser um exterminador de aliens, não é mesmo?

Mas o que mais incomoda é realmente o final, quando descobrimos que os aliens estavam entrando em contato com Ender por meio de seu Ipad. Isso certamente é muito ridículo, primeiro porque não tinha como eles saberem que o garoto era “o escolhido” (a não ser que estivessem fazendo isso com todos os garotos, mas o filme não mostra).

Segundo, porque se eles tinham tecnologia suficiente para entrar no computador pessoal do Ender, que estava a trocentos anos luz de distância, então obviamente poderiam ter tentado contatar as autoridades da Terra diretamente para pedir uma trégua. Ou seja, é apenas uma daquelas reviravoltas tiradas do chapéu que não sobrevivem a uma análise minimamente profunda.

Há outros furos imensos na história, como quando Ford recebe a informação de que os aliens já estão a caminho da Terra, mas depois esquecem isso e no final enfrentam eles perto de seu planeta natal.

Enfim, uma besteira monumental que se não bastasse ser incoerente é também tediosa e sem qualquer graça (o filme se leva muito a sério). E para deixar um gosto ainda mais amargo na boca, o autor Orson Scott Card revelou-se um fanático religioso homofóbico da pior espécie, fator que levou os homossexuais a fazerem campanha contra o filme nos EUA, o que ajudou em seu (merecido) fracasso.

Cotação: *