terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Filmes: "TROPA DE ELITE 2"

CONSCIÊNCIA PESADA

De certa forma o diretor José Padilha acaba confirmando que quem acusou o primeiro "Tropa de Elite" de ser fascista estava certo

- por André Lux, crítico-spam

A impressão nítida que fica depois do final de "Tropa de Elite 2" é que o diretor José Padilha ficou com a consciência pesada por causa da mensagem fascista (involuntária) embutida no primeiro filme (que agradou a extrema direita brasileira a ponto de ganhar uma capa positiva do maior panfleto nazi-fascista do país, a revista Veja) e tentou se redimir na continuação.

De certa forma ele acaba confirmando que quem acusou "Tropa de Elite" de ser fascista estava certo (eu entre eles, clique aqui para ler minha crítica ao filme e aqui para uma análise mais profunda).

Por isso, o segundo filme é bem diferente do original. O Bope, a chamada tropa de elite, e o personagem André Matias (que era o narrador original da história e verdadeiro protagonista do primeiro filme) aparecem bem pouco e o foco fica em cima do capitão Nascimento (Wagner Moura) que, depois de uma ação violenta no presídio Bangu I que cai no gosto da população de classe média para a qual "bandido bom é bandido morto", é promovido a subsecretário de Segurança do Rio de Janeiro.

Nesse sentido, "Tropa de Elite 2" não tem qualquer sutileza devido à ânsia do cineasta em provar que não é de direita. Assim, o herói do filme é um professor de História e defensor dos direitos humanos (dizem que esse personagem foi inspirado em um político do PSOL), que acaba ganhando os holofotes da mídia e é por isso eleito deputado estadual, gerando à princípio profundo ódio no Nascimento (no início do filme ele xinga o sujeito de "intelectualzinho de esquerda que ganha a vida defendendo vagabundo").

Mas, devido a uma série de circunstâncias descritas no roteiro, o defensor dos direitos humanos e o capitão Nascimento acabam tendo que unir forças para lutar contra os bandidos (no caso, policiais e políticos corruptos que comandam as milícias nas favelas cariocas).

"Tropa de Elite 2", entretanto, segue muito mais a linha dos filmes de ação estadunidenses do que os de denúncia no estilo de Costa-Gravas e, por isso, acaba não tendo o impacto necessário para mudar consciências (o estrondoso sucesso de bilheterias confirma isso, já que filmes que fazem as pessoas pensarem não fazem muito sucesso).

O exagero no didatismo ideológico, a falta de nuances e a unidimensionalidade dos personagens "maus", o primarismo psicológico dos protagonistas (Nascimento é de uma ingenuidade incompatível com sua experiência como comandante do Bope e o ativista de esquerda parece um super-homem!) e a maneira idealizada com que encara o trabalho da mídia (jamais uma denúncia daquelas contra políticos da direita seria publicada na imprensa corporativa) tira a chance do filme atingir patamares mais elevados.

Herói é esquerdista defensor dos direitos humanos!
Todavia, no aspecto técnico o segundo filme perde feio para o primeiro. O que o "Tropa de Elite" original tinha de dinâmico, ágil e forte este tem de lento e sem graça. A fotografia, um dos pontos altos do primeiro, não tem a mesma vibração e naturalidade na continuação.

Um dos pontos mais baixos do segundo é o seu elenco de apoio, principalmente o defensor dos direitos humanos que é feito por um ator pavoroso que às vezes mal consegue pronunciar seus diálogos. Nem mesmo Wagner Moura tem muito a fazer e fica quase o filme todo com cara de coitado, embora sua narração insista em retratá-lo como se fosse alguém descolado e esperto.

Entre mortos e feridos, "Tropa de Elite 2" é bem menos nojento que o primeiro filme, porém, paradoxalmente, tem bem menos impacto e por isso mesmo gera muito menos polêmica. Mas o importante é que o diretor Padilha teve a chance de se redimir e deve agora estar dormindo mais tranquilamente.

É o primeiro caso que eu conheça de uso do cinema para expiar uma crise de consciência! A revista Veja não deve ter gostada nem um pouco.

Cotação: * * 1/2

domingo, 13 de fevereiro de 2011

DVD: "JORNADA NAS ESTRELAS - O FILME" (Versão do Diretor)

PRESENTE PARA OS FÃS

Sai em DVD a versão definitiva da primeira e mais problemática viagem da Enterprise nos cinemas

- por André Lux, crítico-spam

"Jornada Nas Estrelas - O Filme" marcou em 1979 a volta da tripulação da nave Enterprise para as telas (no caso a do cinema) após ficar quase uma década afastada com a extinção da série televisiva. Mas esse retorno decepcionou muitos fãs, que acusaram o filme de trair o espírito original da série, cujo mérito era driblar habilmente a falta de recursos técnicos e financeiros com idéias engenhosas, roteiros enxutos e muito bom humor.

Mas, ao que parece, esqueceram de tudo isso ao transpor a série para os cinemas. O maior defeito deste filme é basicamente a falta de humor. Os personagens estão secos e arredios, quase não interagindo entre si, o que impede o surgimento da boa e velha química que mantinha a série original sempre atraente. Isso deve-se, em grande parte, à direção fria e distante de Robert Wise que, embora fosse um veterano da ficção-científica ("O Dia em que a Terra Parou" e "O Enigma de Andrômeda") não era a pessoa mais indicada para dirigir ""Jornada nas Estrelas".

A história sobre uma nuvem de energia desconhecida que vai destruindo tudo em seu caminho até a Terra é bastante interessante, mas o filme acabou sendo derrubado pelas infinitas discordâncias entre o criador da série, Gene Rodenberry, e sua equipe de roteiristas. São famosas as histórias das mudanças de última hora no roteiro, realizadas às vezes antes das cenas serem gravadas. Só para se ter uma idéia da confusão, na primeira versão do roteiro Spock fora deixado de fora - isso porque o ator Leonard Nimoy recusava-se a voltar a interpretar o vulcano de orelhas pontudas.

E para piorar tudo, a empresa de efeitos especiais contratada não conseguia dar conta do recado e teve que ser substituída na última hora pela de John Dykstra (de "Star Wars") e de Douglas Trumbull (de "Contatos Imediatos de Terceiro Grau").

O filme terminou de ser montado e mixado apenas dois dias antes da sua estréia, o que resultou numa série de problemas. Várias cenas incompletas tiveram que ser eliminadas e muitas sequências com os efeitos especiais foram adicionadas do jeito que vieram, pois não havia tempo para editá-las - o que resultou nas infames seqüências onde somos obrigados a observar a Enterprise deslizando interminavelmente pelo vazio, enquanto os atores fazem cara de impressionados.

Nova cena em Vulcano, com efeito melhorado
Muitas dessas falhas foram finalmente resolvidas nessa "Versão do Diretor" lançada em DVD. O diretor Wise, com a ajuda da atual tecnologia em computação gráfica, pode melhorar algumas cenas (como as do planeta Vulcano) e acrescentar detalhes que antes não foram possíveis de serem realizados. Isso ajuda muito o filme, deixando-o mais dinâmico e humano, principalmente no último ato que ganhou em dramaticidade, com a inclusão de cenas que haviam sido cortadas na época (como Spock chorando por V'Ger) simplesmente por não haver efeitos visuais suficientes para intercalá-las.

Essas melhorias ainda não resolvem todos os problemas, mas mesmo assim "Jornada Nas Estrelas - O Filme" ainda continua sendo um belo exemplar de ficção científica da melhor qualidade (embora mantenha-se um pouco distante do universo criado pela série original). E a trilha sonora do maestro Jerry Goldsmith (de "Alien: O Oitavo Passageiro" e "Instinto Selvagem") continua sendo uma das mais impressionantes da história do cinema.

O DVD duplo traz ainda vários extras bacanas que certamente vão fazer a cabeça dos fãs da série, tais como uma faixa de comentário em áudio com o diretor Wise, os supervisores de efeitos Trumbull e Dykstra, o compositor Goldsmith e o ator Stephen Collins. Há também, no segundo disco, um ótimo documentário retrospectivo divido em três partes que analisa todos os aspectos da produção, além de 16 cenas deletadas e adicionais (oriundas das várias versões do filme), storbyboards e diversos trailers e teasers de TV. Imperdível para os fãs.

Cotação: * * * 1/2

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"O Discurso do Rei" é acusado de ignorar antissemitismo

"
Eu avisei que o filme era superficial
O longa O Discurso do Rei, que estreou nesta sexta-feira (11/2) e lidera o número de indicações ao Oscar 2011- 12 ao todo - pode não reinar na noite do dia 27 de fevereiro devido a uma recente polêmica de bastidores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas ligando seu protagonista, o rei George VI, ao nazismo.

Um e-mail anônimo circula entre os membros da Academia alertando para indícios de que o rei era antissemita e simpatizante das ideias de Adolf Hitler. O e-mail cita trechos de documentos oficiais e alerta para o fato de que a suposta inclinação do rei George VI ter sido ignorada no filme O Discurso do Rei.

Por tocar o antissemitismo, assunto sabidamente sensível à Academia, que tem um grande número de judeus como membros, o longa-metragem pode ser rejeitado por muitos votantes e acabar prejudicado na cerimônia do Oscar.

Em defesa do filme, os produtores alegam que o roteiro foi escrito por David Seidler, judeu que teve familiares mortos no Holocausto.

Fonte: Cineclick

Comentário: Eu já havia avisado que o filme em questão é bem superficial e mais parece ter sido feito por encomenda dos relações públicas da família real inglesa... Agora está comprovado.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Filmes: "SKYLINE - A INVASÃO"

VALE QUANTO PESA

Se gosta do gênero, não dê bola para os profissionais da opinião e mergulhe de cabeça que não vai se arrepender

- por André Lux, crítico-spam

Depois de perder meu tempo vendo vários filmes péssimos altamente recomendados pelos profissionais da opinião mundial, resolvi partir para a direção oposta. 

Assim, assisti a um filme que foi literalmente massacrado pela crítica, no caso "Skyline - A Invasão". 

E olha que acertei: o filme é bem divertido e desfrutável, nada a ver com as análises furiosas dos que vivem de tecer opiniões sobre o trabalho alheio.

Trata-se de um filme de ficção científica e terror que mostra uma invasão alienígena nas ruas de Los Angeles. No gênero, é um dos melhores que eu já vi, deixa no chinelo porcarias como "Guerra dos Mundos" que o Spielberg fez com o Tom Cruise ou "Sinais", com Mel Gibson! 

A obra também tem certa semelhança com "Cloverfield - Montro", já que mostra a invasão pelo ponto de vista de um grupo que está fechado dentro de um apartamento de luxo.

O importante é que "Skyline - A Invasão" vale o quanto pesa. Ou seja, entrega o que promete: muita ação e suspense, efeitos especiais excelentes (os monstros e as naves são bem convincentes), uma trilha musical adequada, surpresas e alguns sustos reais. Tudo na medida certa, sem mensagens pretensiosas, explicações didáticas ou exageros, nem mesmo de cenas nojentas.

Ajuda também os atores serem todos desconhecidos (e meio canastrões também), pois assim nunca sabemos qual será a próxima vítima dos ataques extremamente selvagens dos aliens. 

É muito interessante a maneira que as criaturas atraem os humanos, por meio de uma luz azul que lembra aquela que usamos para atrair as moscas para armadilhas letais.

Se você gosta do gênero, não dê bola para os profissionais da opinião e mergulhe de cabeça que não vai se arrepender (rola até uma explosão nuclear!). É diversão garantida.

Cotação: * * *

Cine-Trash: "REQUIEM PARA UM SONHO"

MAS QUE DROGA!

Boa premissa é destruída pela mão pesadíssima do diretor, que apela a todo momento para moralismos totalmente descabidos e maneirismos estéticos excessivos

- por André Lux, crítico-spam

O diretor Darren Aronofsky virou queridinho de pseudo-intelectuais depois de realizar o obscuro e pretensioso ''Pi '' (daqueles que ninguém entende e, por causa disso, ficam achando que viram algo genial). Seu próximo filme, ''Réquiem para um Sonho'', foi também louvado por muitos mesmo sendo uma grande e inegável porcaria.

Explico. O filme pretende mostrar a dura realidade de vários tipos de drogados, não se limitando somente ao universo dos usuários de entorpecentes ilegais, mas abordando também aquelas pessoas que são viciadas em outros tipo de drogas, as legais (TV, remédios, alcool, etc). Num mundo onde somente os usuários de drogas proibidas são alvo de campanhas e ataques da sociedade hipócrita, a intenção é até louvável, embora obviamente pretensiosa (a começar pelo título). Pena que ela seja destruída pela mão pesadíssima do diretor, que apela a todo momento para moralismos totalmente descabidos e maneirismos estéticos excessivos. No final, não da nem para entender direito o que Aronofsky quis dizer com seu filme, já que muda a todo momento os rumos e as características de seus personagens viciados em drogas.

O principal exemplo dessa "esquizofrenia" conceitual já é notada logo de cara no próprio protagonista (o sempre péssimo Jared Leto, de ''O Quarto do Pânico''), pintado como um jovem desajustado e bandido, que inicia o filme roubando a TV da própria mãe (Ellen Burstyn) para trocá-la por drogas. Ele e sua namoradinha (Jennifer Connelly, que tem uma rápida e gratuita cena de nudez frontal a qual a atriz hoje deve repudiar), também mostrada como sendo uma jovem despudorada e sem o menor escrúpulo, passam o filme transando em lugares proibidos e causando pequenas delinqüências, enquanto injetam drogas pesadas nas veias. Não faz o menor sentido, portanto, quando ambos têm arroubos de bom-mocismo (ele tentando mostrar para a mãe que drogas fazem mal e ela ficando toda enojada e com crises existenciais ao fazer sexo oral em um negro - ela é racista? - e participar de uma orgia para descolar drogas). Moralismo dos mais estúpidos e canhestros, diga-se de passagem, sem dizer que essas reações são incompatíveis com a personalidade que o autor imputou a eles no início.

É estranho também o rumo que Aronofsky dá à trama. No início todos vão muito bem, enquanto a dupla de amigos (completada pelo horrível Marlon Wyans, cujo curriculo inclui coisas como ''Todo Mundo em Pânico'' e ''Dungeons and Dragons'') consomem suas drogas sem parar e aproveitam para ganhar dinheiro fácil, diluindo e vendendo o que sobra (é assim que pretendem realizar os tais ''sonhos'' aos quais o título do filme se refere!). A coisa só fica ruim mesmo quando o traficante do bairro é morto e não conseguem mais comprar seus entorpecentes.

Parece que o diretor quer dizer que você só terá problemas com drogas se elas faltarem em sua casa, afinal é só a partir dai que passam a se dar mal - e sempre por causa da falta de droga, nunca pelo seu uso! E tudo fica ainda mais ridículo quando a dupla sai da sua cidade para tentar buscar a razão de seu vício em Miami, uma viagem de mais de 600 km. Só sendo muito ingênuo mesmo para acreditar que numa magalópole como Nova Iorque iam conseguir comprar drogas só de uma pessoa!

"Socorro, minha geladeira quer me pegar!"
Triste mesmo é ver uma grande atriz como Ellen Burstyn interpretar uma senhora obesa (nem isso é convincente, pois percebe-se claramente que ela é uma pessoa magra usando roupas folgadas) que passa o resto de seus dias vendo programas de TV do tipo "auto-ajuda" (encenados de maneira incrivelmente estereotipada) e que fica viciada em remédios para emagrecer (baseados em anfetaminas) depois que é convidada para participar de seu show favorito. Para se ter uma idéia da fria em que a atriz se meteu, o ponto alto de sua participação no filme é quando passa a alucinar e fugir dos ataques da sua geladeira psicopata! Sua indicação ao Oscar, portanto, deve ter sido fruto da simpatia que os membros da academia sentiram por sua coragem de submeter-se a tão humilhante experiência.

Se não bastasse toda essa bobagem, o diretor ainda cisma em prender a câmera nos atores e filmar tudo em velocidada acelerada, talvez para tentar passar a sensação de "viagem" que estão tendo. Mas o efeito é usado à exaustão e cansa. Há também, a cada dez minutos de projeção, a inserção de uma cena rápida de aplicação de droga e regozijo (com direito a efeitos sonoros do tipo "Fzzzz-Shiiiii-Ahhhh!!"), que parece ter sido extraída de algum video-clipe psicodélico, sem falar do excesso de efeitos visuais e do uso de lentes angulares que nada acrescentam à trama, exceto para deixá o filme com aquele aspecto "moderninho" a lá MTV.

E quanto mais perto da conclusão chega, mais ridículo ''Réquiem para um Sonho'' fica, ao ponto de virar fita de terror em seus momentos finais, com direito a longas sessões choques elétricos (sem que haja a menor razão ou lógica para isso), membros esquartejados e bacanais sado-masoquistas doentios. E dizem que a versão que saiu aqui no Brasil é censurada. Isso quer dizer que a sem cortes deve ser ainda mais exagerada e repulsiva. Se quiser ver um filme que trata o problemas das drogas de forma muito mais lúcida e pertinente, prefira ''Traffic'', pois esse aqui é, me perdoem o trocadilho, uma verdadeira droga.

Cotação: *

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Filmes: "O CISNE NEGRO"

TERROR PARA PIMBAS

Se você tirar fora toda a baboseira pseudo profunda que permeia a obra, vai perceber todos os cacoetes de qualquer filme de horror do mais vagabundo

- por André Lux, crítico-spam odiado por PIMBAs

Vou ser sincero: de todos os cineastas pretensiosos e metidos a besta que existem por aí não existe nenhum mais ridículo do que esse tal de Darren Aroflonsky (sim, escrevi o nome do sujeito errado. De propósito). Todos os filmes do rapaz transbordam uma necessidade sufocante de impressionar aquela turma que adora ser enganada no cinema por filmes que não tendo qualquer sentido ou significado plausível, passam a a ser adorados como obras primas da sétima arte. Assim, os filmes do Arotrontsky variam de incompreensíveis ("PI") a simplesmente grotescos ("Requiem para um Sonho"). Isso quando não são as duas coisas ("A Fonte da Vida").

Não por acaso, o sujeito é adorado por todos os PIMBAs (pseudo intelectuais metidos a besta) de plantão. É que esse pessoal adora ser enganado por charlatões como o em questão pois, incapazes de entender o significado de uma obra propositalmente sem sentido, acham que estão diantes de algo sublime e espetacular. Assim, podem dizer a todos que não gostaram da obra em questão a frase preferida deles: "Humm! Você não entendeu o filme!".

A nova empreitada do Arronofskly, "Cisne Negro", segue na mesma toada, no que é, essencialmente, um filme de terror só que feito para agradar PIMBAs, os quais invariavelmente sentem repulsa por esse gênero que consideram mundano demais para suas nobres capacidades mentais. Mas, se você tirar fora toda a baboseira pseudo profunda que permeia a obra, vai perceber todos os cacoetes de qualquer filme de horror do mais vagabundo: câmera inquieta que fica o tempo todo andando atrás dos personagens para causar tensão, profusão de cenas que lembram pesadelos (muitas delas recheadas de imagens subliminares que vão obrigar o PIMBA a assistir ao filme mais vezes na tentativa de decifrá-las), sustos (a maioria falsos), efeitos visuais e de maquiagem (tem até monstrão!) e, claro, sequências de violência sangrenta explícita com gente enfiando facas ou se auto mutilando.

"Faz três noites que eu não durmo, pois perdi o meu galinho"
Enfim, nada que George Romero ou Dario Argento não tenham feito antes de maneira muito mais honesta e divertida. Para disfarçar seu filmeco de terror psicológico, Aronofoskly obrigou a pobre da Natalie Portman a ficar o filme inteiro com cara de "faz três noites que eu não durmo, pois perdi o meu galinho", o que é um total absurdo se levarmos em conta que, segundo o roteiro, se trata de uma bailarina experiente que acaba de ganhar o papel principal numa nova montagem de "O Lago dos Cisnes", de Tchaykovsky (entenderam como é chique o negócio?). Ela só muda a expressão em uma única cena, quando incorpora o cisne negro!

O que poderia ser ao menos um estudo dos bastidores de montagens artísticas como essa acaba mesmo sendo um desfile de cenas sem sentido, devaneios, delírios, sexo gratuito entre duas mulheres e violência - tudo travestido de uma pretensa profundidade que não resiste a cinco minutos de análise mais apurada.

Se você se impressionar com esse tipo de baboseira, então vá em frente, pois o filme foi feito milimetricamente para agradá-lo. Caso contrário, não dê bola e procure coisa melhor feita por gente menos arrogante e mais honesta.

Cotação: *

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Filmes: "COMER REZAR AMAR"

CASO OU COMPRO UMA BICICLETA - O FILME


Se conseguir sobreviver a duas horas de tortura, terá nas mãos um excelente compêndio dos dilemas que afligem a classe média

- por André Lux, crítico-spam

Olha, não vou dizer que esse "Comer Rezar Amar" é o filme mais ridículo que eu já vi porque seria uma injustiça com tantos outros ridículos que existem aos montes por aí. Mas chega perto.

E não posso nem reclamar de não ter sido avisado, afinal o livro que deu origem ao filme recebeu, de tão pertinente, as capas das famigeradas revistas Veja e Época!

O interessante de tudo, no final das contas, é que se você conseguir sobreviver às duas horas de tortura que é ver este filme, terá nas mãos um excelente compêndio de todos os dilemas e males que afligem a classe média, essa que, na luta de classes estudada por Marx, é a que mais sofre com questões fundamentais e profundas como "não sei se caso ou compro uma bicicleta".

Talvez seja porque o capitalismo permita que a classe média tenha, de vez em quando, acesso a tudo que só os ricos e famosos tem - como por exemplo, passar uma semana num hotel cinco estrelas e depois pagar as prestações da viagem o ano inteiro. Estudantes de sociologia, fiquem atentos!

O fato é que o personagem principal de "Comer Rezar Amar", interpretado pela ridícula Julia Roberts, é uma dessas representantes típicas da classe média: vazia, perdida, alienada, infeliz e angustiada que, no caso, não sabe se pede o divórcio ou compra uma bicicleta. O marido dela, por sinal, é apresentado com um verdadeiro chato porque se propôs, vejam vocês que absurdo, a conversar com ela sobre a falência do sistema de ensino público estadunidense!

Depois de muito pensar (cerca de cinco minutos na cama), ela decide que a parada é mesmo comprar uma bicicleta e sair pelo mundo em busca de "deus" (eufemismo para "um guru que me guie pela vida e me dê respostas fáceis para perguntas difíceis") depois de mais um fracassado romance com um atorzinho bobo.


Ela, coitadinha, passa então 4 meses em Roma, onde conhece um monte de italianos caricatos, depois muda-se para a Índia, onde medita num templo e conhece um monte de indianos caricatos.

Por fim vai para Bali, que é o local onde, além de um monte de balineses caricatos, encontra-se o seu guru espiritual, uma espécie de mestre Yoda dos pobres que toma decisões por ela com frases feitas do tipo: "Enxergue com o coração, não com a cabeça" (e eu aqui achando que a gente tinha que enxergar com os olhos!) ou "Para manter o equilíbrio é preciso se desequilibrar por amor".

Graças a essas frases de efeito profundas como uma poça de água ela resolve então se entregar ao novo amor de sua vida (eufemismo para "paixão de adolescente"), um galante brasileiro e dublê de príncipe encantado interpretado pelo espanhol Javier Barden (o que garante ao menos várias canções de bossa nova na trilha e algumas frases em português carregado de castelhano).

O mais impressionante de tudo é que o filme é sério pra caramba, não pense que toda essa baboseira digna dos piores livros de auto ajuda é tratada com leveza ou ironia. Nada disso, o lance é denso mesmo, pra, tipo, fazer você pensar, sabe? Uma verdadeira lição de vida, sacou? 

Tudo digno mesmo de merecer a capa da revista Veja! É ou não é?

Cotação
Como filme: Zero
Como material de pesquisa sociológico: * * * * *

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Filmes: "MINHAS MÃES E MEU PAI"

SEM SAL NEM AÇÚCAR

No final, fica a impressão de que os realizadores se perderam no meio do caminho e não souberam bem que rumo dar para a história

- por André Lux, crítico-spam

"Minhas mães e Meus Pais" é mais um delírio coletivo da crítica em geral que eleva ao status de obra prima um filme mediano. Não que seja ruim, mas é apenas assistível, não trazendo nada de muito interessante ou relevante em seu enredo.

Trata-se da história de um casal de lésbicas (tema que poderia chocar alguém nos anos 1950) cujos filhos resolvem descobrir quem foi o doador de esperma para as suas inseminações artificiais. Em suma, querem conhecer o pai biológico (Mark Ruffalo, sempre um ator fraco). Desse encontro nasce uma pequena amizade e alguns conflitos entre as duas mães lésbicas - a dominadora e fechada, interpretada por Annete Benning, e a meio hyppie e submissa feita por Juliane Moore.

Fora a boa interpretação da dupla de atrizes, pouco sobra nessa obra escrita e dirigida por Lisa Cholodenko, que fez o bem mais interessante "Laurel Canyon - A Rua das Tentações". Não espere muito da relação entre os jovens e seu pai. Também não acontecem grandes conflitos, nem mesmo quando a personagem de Juliane Moore tem uma "recaída" e começa um tórrido caso amoroso com o pai biológico de suas filhas. Apesar de algumas rusgas, tudo é resolvido numa boa, sem grandes traumas ou confrontos.

No final, fica a impressão de que os realizadores de "Minhas mães e Meus Pais" se perderam no meio do caminho e não souberam bem que rumo dar para a história, ficando assim tudo num meio termo, um pouco sem sal nem açúcar, nem drama, nem comédia e nem "filme cabeça". Você espera sempre um algo mais que nunca chega, nem mesmo na conclusão que também é bem fraca.

Cotação: * * *