segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Filmes: "Blue Jasmine"

TRISTE DECADÊNCIA

Infelizmente, aos 78 anos de idade, Woody Allen insiste em fazer um filme por ano, mesmo sem ter qualquer inspiração

- por André Lux, crítico-spam

Vou ser bem sincero: alguns filmes do Woody Allen foram muito importantes na época em que eu comecei a descobrir a importância do auto-conhecimento e da análise psicológica, principalmente “Hanna e Suas Irmãs”, "Manhattan" e “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”. Até alguns daquela fase pesada dele, em que tentava emular Bergman, me estimularam.

Claro que, depois que a gente passa essa fase do descobrimento e se aprofunda mais nos assuntos, percebe-se que Allen emprega uma psicologia superficial em seus filmes, mas que mesmo assim ainda sobrevivem a uma revisão, principalmente pelo bom humor auto-depreciativo e pelos diálogos rápidos e afiados.

Mas, verdade seja dita, de uns anos para cá, nosso querido Woody não tem mais nada a dizer e fica se repetindo ad nauseun ou então tentando fazer críticas sociais que são de dar pena, de tão canhestras. Dos últimos 10 filmes dele que assisti, o único minimamente memorável foi “Vicky Cristina Barcelona”, muito mais devido às quentes cenas de lesbianismo e ménage a trois entre os protagonistas do que por outra qualidade.

Esse novo dele, “Blue Jasmine”, chega a ser doloroso de assistir. Gira em torno de um ex-dondoca (Cate Blanchett) que perdeu tudo, depois que o marido foi preso por fraudar a Receita, e é obrigada a ir morar com a irmã de classe média baixa. É realmente duro de engolir a pobreza das caracterizações criadas por Allen, todas rasas como uma poça de água e baseadas nos piores estereótipos (ricos são elegantes, finos e cultos, enquanto os pobres são feios, toscos e imbecis).

Com a exceção de Blanchett, que se esforça em dar alguma vida a uma personagem tola, vazia e já à beira da loucura (passa boa parte da projeção falando sozinha no meio da rua), o resto do elenco é pavoroso, principalmente a irmã da protagonista. Alguns críticos chegaram a ver no filme uma "homenagem" ao clássico "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee William, que foi adaptado para o cinema como "Uma Rua Chamada Pecado" e estrelado pelo genial Marlon Brando. 

Esse é o novo Brando? Sério?
Mas só pode ser brincadeira. Primeiro porque, tirando uma ou outra semelhança, "Blue Jasmine" nada tem a ver com a peça. Não chega nem a insinuar a formação de um triângulo amoroso! E, segundo, porque comparar Brando com o ridículo ator que interpreta o "machão tosco" no filme de Allen é uma piada de mau gosto. Está muito mais para o Joey Tribiani, de "Friends", e olhe lá!

O que dizer do roteiro, escrito pelo próprio Allen? Além de ser chato e repleto de flashbacks inúteis, é ainda cheio de furos e incoerências. Como é que alguém pode fazer uma denúncia ao FBI capaz de levar uma pessoa à cadeia se o filme fez até então um grande esforço para mostrar que ela nada sabia das operações ilegais em questão? E desde quando um machão do tipo "mecânico mulherengo com gumex no cabelo" tem crises de choro e dá piti em público por causa de um simples pé na bunda? E o namorado novo da Jasmine, que acha que ela é uma rica decoradora de interiores e até a pede em casamento sem nem saber onde ela mora? E até parece que uma mulher daquelas, que nem é tão velha e até antes de casar estudava em uma grande universidade, não saberia sequer ligar um computador!

Se o filme ao menos fosse engraçado ou dramático tudo estaria perdoado. Mas que nada. É um porre só, mal feito, repleto de papo furado e pobre em conteúdo. Parece que Allen tentou fazer algum tipo de crítica ou leitura do momento de crise atual que vivem os EUA, onde os pobres e a classe média (como sempre) estão pagando o pato pela orgia neoliberal que tomou conta do país e levou o sistema à ruína. Mas, sinceramente, nem isso fica registrado. É tudo tão canhestro e tolo que não dá nem para analisar o filme por esse prisma.

Enfim, é triste observar a decadência de alguém que foi um dia um grande cineasta, cheio de ideias e com muito a dizer. Infelizmente, aos 78 anos de idade, Allen insiste em fazer um filme por ano, mesmo sem ter qualquer inspiração. Melhor seria dar um tempo e esperar pelas ideias refrescarem um pouco...

Cotação: *

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