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A LIÇÃO DA HISTÓRIA
São em momentos como esse que percebemos o quanto é triste ser “apolítico” ou se alinhar com o que existe de mais reacionário e desumano no mundo, seja por convicção de fazer parte da “raça superior” ou por mera alienação
- por André Lux, o crítico-spam
Vale a pena conhecer esse drama histórico dirigido com segurança por Michael Apted, que já fez outros filmes politicamente engajados como “Na Montanha dos Gorilas” e “Coração de Trovão”. Em “Jornada pela Liberdade” ele aponta sua câmera para o difícil processo de aprovação da lei que finalmente acabou com a escravidão na Inglaterra, no século 18, graças ao empenho que durou mais de 20 anos de William Wilberforce e seus apoiadores no parlamento inglês.
A boa notícia é que o roteiro de Steven Knight faz o possível para não resvalar no maniqueísmo típico desse tipo de produção, procurando ao máximo mostrar sempre os dois lados da moeda (afinal, até mesmo os conservadores tinham lá suas convicções na defesa da escravatura), bem como as fraquezas e os defeitos dos personagens. Além disso, tem o cuidado de destacar também a participação das várias castas da sociedade na luta pela abolição, inclusive as mulheres e, claro, os próprios negros (representados aqui na figura do ex-escravo Olaudah Equiano), contrariando assim a lógica róliudiana de sempre tentar reduzir conquistas sociais como essa à luta individualista de um único sujeito.
O filme ganha credibilidade graças à boa atuação de Ioan Gruffudd (de, acredite se quiser, “Quarteto Fantástico”!) no papel central, sempre cercado por ótimos coadjuvantes, com destaque para Michael Gambom, como o político que muda de lado na última hora, e o lendário Albert Finney, encarnando John Newton, o ex-comandante de navio negreiro que, arrependido, passa o resto dos dias lutando contra a escravidão – é dele a emocionante canção “Amazing Grace” que dá o título original do filme e já foi usada em várias outras produções do cinema, como “Jornada nas Estrelas 2” (na cena do funeral de Spock) e “Invasores de Corpos”.
Apesar do ritmo lento e do caráter didático da narrativa, “Jornada pela Liberdade” é um ótimo exemplo de como a política é vital e pode ser usada para efetivamente melhorar a vida das pessoas, mesmo que seja por linhas tortas. Assusta também pensar que a indefensável escravidão de seres humanos começou a ser abolida há tão pouco tempo - no Brasil, há míseros 120 anos! Não é de se estranhar que muitos desejam a sua volta até hoje...
São em momentos como o retratado pelo filme que percebemos o quanto é triste ser “apolítico” ou se alinhar com o que existe de mais reacionário e desumano no mundo, seja por convicção de fazer parte da “raça superior” ou por mera alienação. A história, por mais que tentem deturpá-la, é (e sempre será) cruel com essas pessoas.
Cotação: * * * 1/2
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Olá André,
ResponderExcluirMuito bom texto, já estava sentindo falta de seu ponto de vista sobre os filme.
Abraço.
É falacioso usar a palavra "apolítico" como sinônimo de "amoral".
ResponderExcluirÉ perfeitamente possível não se comprometer 100% com uma corrente política e ainda assim ter uma posição humanista e transformadora.
O q não pode é impor suas preferências políticas a terceiros, como se fosse um pacote do qual ou se compra os podres e as virtudes ou não se compra nada. E nisso vc sempre falhou, Lux: em desqualificar quem não concorda 100% com a esquerda como militante de direita.
É o emburrecimento do debate político, onde sempre se precisa rotular o outro como companheiro ou inimigo pra justificar sua posição.
Seu erro, Rodrigo, é confundir "apolítico" com "apartidário".
ResponderExcluirApolítica é aquela pessoa que não se interessa por política (odeia, até) e não acompanha o que fazem os eleitos pelo voto. O apolítico, via de regra, vota na direita por ser doutrinado e manipulado pela mídia corporativa que, entre uma novela, um jogo de futebol e um BBB (coisas pelas quais ele ou ela se interessa muito), enfia a ideologia dos patrões goela abaixo dos incautos. Essas pessoas, infelizmente, não são apenas minhas inimigias, mas inimigas de si mesmas e, por tabela, da própria humanidade.
O único apolítico que eu respeito, embora não concorde com sua postura, é aquele que efetivamente não vota em ninguém (anula o voto sempre ou nem comparece no dia das eleições). Mas esses são raros.
Já o apartidário pode sim lutar pelos ideais humanitários sem precisar se filiar a esse ou aquele partido político.
Acho que desta vez você vestiu a carapuça sem necessidade, amigo...