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ERRANDO O ALVO
Pretensioso, arrastado e dramaticamente nulo, “O Passado” é mais um daqueles filmes bonitos e bem feitos que acabam se tornando irremediavelmente intragáveis.
- por André Lux, crítico-spam
É uma decepção esse filme do diretor Hector Babenco. Mesmo trabalhando em sua terra natal, a Argentina, e tendo a disposição um ótimo elenco encabeçado pelo mexicano Gael Garcia Bernal, sua adaptação do romance “O Passado”, de Alan Pauls, resulta num filme frio e irritante.
Parece que Babenco, também autor do roteiro, não soube traduzir para a tela o que havia de interessante na história original. No final, ficamos sem saber se o cineasta quis fazer um dramalhão ou um filme de suspense, sendo que ambas as propostas não combinam e, pior, se anulam.
O protagonista interpretado por Bernal não tem qualquer vida e chega a ser apático, transformando-se num “não personagem”. O roteiro episódico e árido nem tenta apontar suas motivações ou conflitos e não ajuda em nada o ator, que passa o filme todo com a mesma expressão, beirando a catatonia. Mesmo depois de ver uma namorada ser atropelada ou ser abandonado pela segunda mulher que o proíbe inclusive de ter qualquer contato com o filho. E tudo fica ainda mais ridículo quando ele “explode” num momento sem qualquer importância – ao ser desprezado por uma coroa rica que transou na academia que dava aulas. Seu vício em cocaína e uma suposta doença que o faz perder a memória também são deixados de lado de maneira completamente inconseqüente.
Personagens entram e saem da narrativa sem deixar qualquer traço de humanidade ou interesse e o filme caminha aos trancos e barrancos até uma conclusão tola e mal amarrada.
Mas pior mesmo é o personagem da primeira ex-mulher, que é retratada pelo cineasta como uma injustiçada que persegue o sujeito o filme inteiro no pior estilo “Amélia é que era mulher de verdade”. Mas a moça não passa de uma histérica obsessiva que precisava era de uma boa terapia e cujas ações absurdas só perdem mesmo para a maluca de “Atração Fatal”.
Pretensioso, arrastado e dramaticamente nulo, “O Passado” é mais um daqueles filmes bonitos e bem feitos que erram feio o alvo e acabam se tornando irremediavelmente intragáveis.
Cotação: *
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