segunda-feira, 26 de outubro de 2020

“Borat 2” é a obra-prima do comediante Sacha Baron Cohen

Filme provoca menos risadas, porém é mais pertinente ao mostrar o estado de loucura no mundo depois que nova onda conservadora se instalou na mente de grande parte da população

- por André Lux, crítico-spam

Nunca achei muita graça no ator Sacha Baron Cohen. Primeiro porque seu estilo de humor histérico e caricato não me atrai muito. E segundo porque sempre me pareceu um sujeito extremamente narcisista e egocêntrico.

Vi o primeiro “Borat” no cinema e, apesar de dar boas risadas, não achei nada genial ou revolucionário como muitos disseram na época. Apenas um filme bobo repleto de “pegadinhas” onde o protagonista agia de forma tosca e ofensiva para provocar reações de choque de seus interlocutores (leia aqui minha análise do filme).

Chega agora “Borat 2” e, rapaz, finalmente o comediante acertou o alvo! Ao que parece Sacha amadureceu e aprendeu a deixar o ego de lado e se concentrar em criar quadros realmente surpreendentes sem que Borat seja o centro das atenções ou apele para provocações baratas ou escatologia (que sobraram no primeiro filme).

Desta vez o autor tem uma missão: desmascarar a hipocrisia, o falso moralismo e a falta de noção da extrema-direita estadunidense, representada de forma máxima hoje na figura do grotesco Donald Trump e seus asseclas mais próximos. Assim, Borat sai do Cazaquistão para tentar agradar o atual mandatário dos EUA a fim de que o ditador de seu país também possa entrar para o “Clube dos Homens Fortes”, cuja lista passa por Putin, Kim Jong-Un e, claro, Jair Bolsonaro. Para isso ele tem que dar de presente sua filha de 15 anos, pois os homens poderosos adoram meninas, segundo explica um dos personagens do filme.

A estrutura de “Borat 2” é bem menos caótica do que a do primeiro longa e acompanhamos as peripécias do protagonista e sua filha inseridos em situações que seriam inacreditáveis caso não fossem reais. Assim, Borat veste a famigerada túnica da Klu-Klux-Klan para entrar despercebido na convenção do partido Republicano. Logo em seguida se disfarça de Trump e sai gritando no meio do discurso do vice-presidente enquanto leva a filha pendurada no ombro.

É de fazer cair o queixo algumas cenas que presenciamos. Como as conversas negacionistas e sobre teorias da conspiração entre Borat e dois “rednecks” do sul dos EUA, quando dizem, por exemplo, que o casal Clinton bebe o sangue de crianças. Ou quando o protagonista canta durante um protesto contra a quarentena lotado de gente segurando metralhadoras e rifles. A canção que diz que “Obama é um traidor que deveria estar preso” e “Jornalistas e cientistas deveriam ser injetados com o vírus de Whan ou esquartejados” recebe aplausos entusiasmados da plateia, que conta inclusive com algumas saudações nazistas.

A cena mais constrangedora e grotesca se dá quando o grande amigo conservador de Trump, Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado pessoal do presidente, quase chega às vias de fato com a filha de 15 anos do Borat, disfarçada de repórter, num quarto de hotel.

“Borat 2” provoca bem menos risadas do que o primeiro e tem algumas cenas arrastadas (como as que ele troca faxes com o governo do Cazaquistão), porém é muito mais pertinente e provocador ao mostrar de forma explícita o estado de loucura que se encontra o mundo hoje depois que a nova onda conservadora se instalou na mente de grande parte da população, onda essa cujo epicentro obviamente é os EUA e seus políticos que apostam no que existe de pior no ser humano para conquistar o poder e permanecer nele.

Será que um filme como esse será capaz de mudar os corações e as mentes de quem se deixou infectar por esse vírus terrível? Quem viver, verá...

Cotação: * * * *

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