sexta-feira, 29 de julho de 2016

Vivendo "As Pontes de Madison"

Antigamente eu considerava a atitude da personagem da Meryl Streep absurda. A vida me ensinou da maneira mais cruel possível que pessoas como ela são as mais humanas e sensíveis que existem.


Vale a pena destruir famílias e vidas só para satisfazer uma paixão de adolescente?
- por Eloy Ferrari, psicólogo

Um dos filmes que mais me desconcertam e fazem chorar é AS PONTES DE MADISON, com Clint e Meryl.  Não apenas por ser belíssimo, mas principalmente porque eu vivi por duas vezes situação praticamente idêntica à retratada. E as duas foram com a mesma mulher.

A primeira vez, na época da faculdade, quando nos apaixonamos perdidamente e vivemos um forte caso de amor. Mas, ela namorava e, quando chegaram as férias de julho, perdemos contato (nada de internet e celular naquela época) e, pressionada pelo namorado e pela família, acabou noivando e, claro, me abandonou. Sofri muito. Nunca a esqueci.

Muitos anos depois, reencontrei essa mulher. Triste, rejeitada pelo marido e, assim como eu, sem saber há anos o que era se sentir desejada, amada e admirada. Tivemos um novo caso de amor, mas traição não combinava com o nosso caráter e, depois de uns poucos encontros recheados de muito carinho e ternura, resolvemos nos afastar porque não queríamos destruir nossas famílias e causar sofrimento insuportável em nossos parceiros que, para o bem ou para o mal, estavam ao nosso lado há tanto tempo.

A última vez que a vi foi no estacionamento de um shopping, eu parado próximo ao carro dela, no qual entrava com sua família. Ambos tomados pela tristeza e pelo desespero de saber que certamente seria nosso derradeiro vislumbre um do outro. Só não estava chovendo, para ser igual à cena final de AS PONTES DE MADISON...

Antigamente eu considerava a atitude da personagem da Meryl Streep errada, absurda. Como assim ela vai abrir mão daquela atração irresistível, verdadeira paixão de adolescentes, por causa do marido que não deseja há anos e pelos filhos? A vida me ensinou da maneira mais cruel possível que pessoas como ela são as mais humanas e sensíveis que existem.

E também as mais raras.



Um comentário:

  1. Sempre leio seu blog, mas não costumo comentar (apesar de concordar com praticamente tudo que você escreve). Apenas deixo registrado aqui que sua leitura de "As Pontes de Madison" é precisa. Já conversei com várias pessoas sobre o filme (inclusive minha esposa) e ninguém concordou comigo, motivo pelo qual até parei de falar no assunto. Pior, alguns ainda me ridicularizavam por entender (e concordar com) a posição da personagem da Meryl Streep. O preço a pagar por pensar diferente da maioria e ter coragem de manter suas convicções mesmo com as pressões alheias (principalmente das pessoas que amamos) é grande, mas só quem o paga sabe o sabor das suas recompensas. Grande abraço!

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