segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Filmes: "Argo"


INTERESSANTE E PERTINENTE

Um ótimo filme que conta uma história completamente inusitada e incrível. Vale a pena assistir

- por André Lux, crítico-spam

Quem diria que o canastrão Ben Affleck iria se transformar num competente cineasta? Pois é isso mesmo que a gente conclui ao assistir a seu último trabalho, “Argo”, que conta uma história real acontecida no Irã no final dos anos 1970, quando o regime ditatorial pró-EUA do xá Reza Pahlavi foi derrubado pela população do pais, depois de décadas de opressão, torturas e assassinatos.

O que torna "Argo" ainda mais interessante e pertinente é o fato de que, no início do filme, é dito em todas as letras que Pahlavi chegou ao poder graças a um golpe de Estado patrocinado pelos EUA e Inglaterra que tirou do poder um governante nacionalista democraticamente eleito só porque ele ousou nacionalizar as reservas de petróleo do país que antes estavam nas mãos de (adivinhem quem?) empresas privadas dos EUA.

Revoltado, o povo do Irã invade a embaixada dos EUA em Teerã e faz seus funcionários reféns enquanto exigem o retorno imediato de Pahlavi, que fugiu para os EUA. Na confusão, seis estadunidenses conseguem fugir e se esconder na casa do embaixador canadense. O problema do governo dos EUA é como agir para tirar seus cidadãos de lá. No meio da pasmaceira geral de um monte de propostas absurdas, entra em cena um agente da CIA feito pelo próprio Ben Affleck com um plano mirabolante: encenar a produção de um filme de ficção científica chamado "Argo" em solo iraniano, da qual os fugitivos fariam parte da equipe.

Posto em execução o plano, o filme segue em ritmo acelerado de suspense a trajetória da trupe comandada pelo agente da CIA em sequências muito bem feitas e convincentes. Lembra muito, inclusive, aqueles ótimos thrillers políticos dos anos 1970. Felizmente, não há qualquer papagaiada pró-EUA e sua política externa intervencionista, fator que poderia arruinar o filme, ainda mais quando o protagonista é um agente da CIA. 

"Argo" também conta com uma ótima trilha musical de Alexandre Desplat e uma edição muito bem feita. No final há até uma singela homenagem a "Star Wars" (eu também tinha todos aqueles bonequinhos!), já que os eventos narrados ocorreram durante o lançamento da saga original. Sem dúvida, um ótimo filme que conta uma história completamente inusitada e incrível. Vale a pena assistir.

Cotação: * * * *

Filmes: "O Lado Bom da Vida"


DESFRUTÁVEL

Não que o filme seja ruim, porém não justifica tamanho prestígio junto à crítica e à Academia de Cinema que o indicou para um monte de prêmios

- por André Lux, crítico-spam

Estranhamente esse filme, que não passa de uma comédia romântica disfarçada de algo mais sério, está concorrendo a diversos prêmios Oscar, inclusive Melhor Filme e Diretor! Mas não é para tudo isso. 

“O Lado Bom da Vida” até que começa bem, mostrando a realidade de um rapaz que é Bipolar e está internado em um hospital psiquiátrico depois que espancou o amante da esposa até quase matá-lo. Esse personagem é feito pelo bonitão e carismático Bradley Cooper (também indicado ao Oscar de melhor ator) que tem aqui seu melhor momento no cinema.

Na primeira parte do filme acompanhamos seu retorno ao lar e sua luta para tentar “voltar ao normal” e reconquistar o amor da ex-esposa. Temos aqui várias cenas de humor negro, quando Pat tem surtos e acorda seus pais (feitos por Robert De Niro e Jackie Weaver, ambos indicados ao Oscar de coadjuvante) de madrugada para reclamar de um livro de Hemingway ou exigir que o ajudem a encontrar o vídeo de seu casamento.

No segundo ato, entra em cena a maluquinha Tiffany, feita com brilhantismo surpreendente por Jennifer Lawrence (que parecia uma mosca morta no péssimo "Jogos Vorazes"), que começa a perseguir o rapaz que, obcecado com a ex-esposa, aceita a aproximação com a promessa da moça de entregar uma carta a ela. Essa é a melhor parte de "O Lado Bom da Vida". Os diálogos entre os dois são muito divertidos, mas também em certa medida tristes, pois deixam claro o quanto ambos tem problemas psiquiátricos para tratar.

Infelizmente, o filme cai muito na terceira parte, quando o novo casal tem que se apresentar num concurso de dança. Daí pra frente, "O Lado Bom da Vida" apela para os mais manjados clichês do gênero "comédia romântica", com um final idêntico ao de "Harry e Sally" (o melhor do gênero até hoje). Todos os problemas psiquiátricos enfrentados pelo rapaz e pela moça são descartados, como que se num passe de mágica fosse possível solucioná-los. Assim, tudo que foi mostrado antes se torna uma grande inutilidade, já que nada do que foi desenvolvido nas duas primeiras partes em relação às patologias do casal chega a algum lugar.

Não que o filme seja ruim, é bem desfrutável, porém não justifica tamanho prestígio junto à crítica e à Academia de Cinema que o indicou para um monte de prêmios.

Cotação: * * *

domingo, 27 de janeiro de 2013

Filmes: "Django Livre" (crítica atualizada)


TARANTINO NÃO É LEONE

Toda criatividade feroz mostrada em “Pulp Fiction” pelo cineasta parece mesmo ter chegado ao fim e ele agora limita-se a tentar imitar a si mesmo sem sucesso

- André Lux, crítico-spam

“Django Livre” é mais uma tremenda bobagem do diretor Quentin Tarantino, ainda pior que “Bastardos Inglórios” que ao menos tinha um certo estilo virtuoso de direção. Aqui, nem isso. 

Tarantino pretendia fazer uma homenagem/paródia dos “spaghetti westerns” (produções italianas baratas que parodiavam os faroestes estadunidenses) e dos filmes de “blaxploitation” que eram protagonizados e realizados por atores e diretores negros nos anos 1970 e tinham como publico alvo, principalmente, os negros, quase sempre colocando como astro vingador um negro que passava o filme todo matando brancos vilões (houve outro filme chamado "Django", estrelado por Franco Nero, que faz ponta aqui na luta dos "mandingos", mas não tem qualquer relação com o de Tarantino). 

É o que faz Jamie Foxx, o Django do título, que após ser libertado da escravidão por um caçador de recompensas, vira seu parceiro e tem passe livre para matar brancos procurados. Mas sua verdadeira missão é resgatar sua esposa que foi vendida para uma fazenda no sul, cujo dono é Leonardo DiCaprio.

A trama é extremamente simples e o filme se arrasta em sequências de muito papo-furado que não chegam a lugar algum. Há coisas simplesmente ridículas, como a parte em que DiCaprio tira um crânio de uma caixa, o serra (!) e fica discursando sobre a inferioridade dos negros. Além disso, a violência é excessiva e gratuita e algumas cenas descambam para a comédia rasgada (como os encapuzados reclamando dos furos para os olhos mal feitos) que parecem ter sido tiradas diretamente de “Banzé no Oeste”, de Mel Brooks, onde o herói também era um negro que virava xerife. 

Isso tira qualquer impacto que Tarantino tenta imprimir em sua denúncia dos absurdos da escravidão e deixa o filme sem foco, capenga, tolo mesmo. Fica até um gosto ruim na boca, como se o cineasta estivesse debochando da escravidão já que usa o tema seríssimo como mero pretexto para brincar de fazer um filme trash, com rios de sangue jorrando a cada tiro.

Há outra coisa que incomoda muito no filme. É a tese defendida por Tarantino de que qualquer pessoa que apoiou ou usufruiu da escravidão pode e deve ser sumariamente executada pelo seu "anjo vingador". É a mesma tese que ele apoiou em "Bastardos Inglórios" em relação aos nazistas e qualquer um que fizesse parte do exército alemão. 

Esse é o tipo de tese moralmente intolerável, pois é fácil hoje julgar e condenar quem se apropriou do trabalho escravo, porém é preciso lembrar que naquela época a escravidão era algo permitido por Lei (no Brasil, por exemplo, a escravidão foi abolida há pouco mais de 100 anos!). Assim, o que propõe Tarantino é que se destrua o Estado Democrático de Direito na base da bala e do assassinato puro e simples (é asquerosa a cena em que Django executa com um tiro a queima roupa a irmã de um fazendeiro escravagista).

Esse é o tipo de raciocínio simplista e imbecil que pode (e já foi ) usado contra qualquer um. É de esquerda? Prende e arrebenta! É muçulmano? Mete bala! É gay? Espanca até a morte. É ateu? Joga na fogueira! E assim por diante. Se as Leis são ruins ou absurdas, cabe à sociedade e seus líderes tentarem mudá-las de forma civilizada. É o que fez o presidente Lincoln nos EUA. 

Só mesmo gente vazia e inconsequente como Tarantino pode mesmo defender esse tipo de abominação só porque é uma celebridade rica e paparicada e, por isso, acha que vive acima do bem e do mal e, mais grave, das Leis. Basta assistir à "Faça a Coisa Certa" do Spike Lee para ver como um tema difícil como o racismo e a opressão dos negros pode ser tratado de forma profunda e multifacetada. Mas Spike Lee é um negro e certamente já sentiu na pele o racismo e, por isso, tem algo a dizer sobre o assunto, enquanto Tarantino é apenas um bobo alegre que gosta de brincar de fazer filmes. Nem mesmo depois da revolução em Cuba, que derrubou um governo ditatorial, os criminosos (torturadores, estupradores e assassinos) foram executados sem antes receberem um julgamento civilizado.

Christoph Waltz, que é sem dúvida um grande ator, repete sua atuação excêntrica de “Bastardos Inglórios” no papel do caçador de recompensas alemão que resolve ajudar Django a libertar sua amada cujo nome é Broomhilda e o remete à lenda de Siegfried de sua terra natal. Tarantino ao menos não nega as origens de suas ideias, principalmente os westerns de Sergio Leone, o que é sempre um gesto de humildade. 

Mas, infelizmente, Tarantino não é Leone (quem duvida assista ao excepcional "Quando Explode a Vingança" para ver como se aborda temas como a opressão e o preconceito de maneira genial) e toda sua criatividade feroz mostrada em “Pulp Fiction” parece mesmo ter chegado ao fim e ele agora limita-se a tentar imitar a si mesmo sem sucesso e com excessiva auto-indulgência. Uma pena.

Cotação: * 1/2

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Filmes: "A Hora Mais Escura"


REPUGNANTE

Se a Sra. Bigelow acredita mesmo que tudo que está sendo contado em seu filme condiz com a realidade dos fatos, então ela teria que no, mínimo, questionar o uso da tortura

- por André Lux, crítico-spam

“A Hora Mais Escura” é um filme simplesmente repugnante. Do começo ao fim. A nova obra da cineasta Kathrin Bigelow e seu roteirista Mark Boal, os mesmos do péssimo “Guerra ao Terror”, querem nos convencer que se trata de um retrato hiper realista do que foi a caçada ao líder do Al Qaeda, Osama Bin Laden, desde os atentados de 11 de setembro de 2001 até a sua suposta morte pelas mãos do exército. A CIA, central de Inteligência estadunidense, todavia nega que o que se vê no filme seja real.

A figura central é a agente da CIA feita pela atriz Jessica Chastain, que está em tudo quanto é filme, mas poderia ter sido feito pelo Arnold Schwarzenegger que o resultado seria o mesmo, já que a personagem é completamente vazia e unidimensional, pintada apenas como uma heroína obcecada em encontrar Bin Laden, mesmo que para isso tenha que recorrer a torturas e deixar de lado sua vida pessoal. E é aí que “A Hora Mais Escura” derrapa feio e torna-se intolerável. Se a Sra. Bigelow acredita mesmo que tudo que está sendo contado em seu filme condiz com a realidade dos fatos, então ela teria que no, mínimo, questionar o uso da tortura como forma válida para se obter informações. Mas, que nada, o filme passa longe disso e o máximo que vemos é a agente feita por Chastain fazendo algumas carinhas de “desconforto” enquanto assiste à longas sessões de torturas, para logo depois ela mesmo comandar suas próprias câmaras de horror.

Não há aqui nenhuma sombra da profundidade e inteligência de filmes como “Syriana” ou mesmo “Três Reis”. A obra mostra apenas o lado dos agentes dos EUA e trata os árabes como os “barbudos sujos e malvados” de sempre. No fundo, “A Hora Mais Escura” não passa de um filme de ação disfarçado de algo mais pretensioso, o que explica a babação de ovo que o filme vem recebendo da crítica, chegando a uma absurda indicação ao Oscar de melhor filme. Mas qualquer pretensão maior que os realizadores tentaram imprimir à obra se desfaz na falta de profundidade e de questionamentos. Afinal, qualquer pessoa minimamente inteligente e bem informada sabe que o suposto assassinato de Osama Bin Laden pode muito bem ter sido uma fraude, senão por que teriam se livrado do corpo tão rapidamente e de forma tão absurda jogando-o no mar, como foi divulgado pelo governo dos EUA na época?

Com suas quase três horas de duração “A Hora Mais Escura” é tecnicamente competente (muito melhor do que a precariedade de “Guerra ao Terror”) e até funciona como um thriller de suspense político que, no final das contas, quer mesmo apenas lavar a alma dos cidadãos estadunidenses mostrando o que teria sido o assassinato puro e simples do “inimigo número 1 dos EUA” pelas mãos dos heróicos soldados do Tio Sam. Infelizmente, a realidade é muito mais complexa e tortuosa do que quer nos fazer crer esse filme infeliz.

Cotação: *

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Filmes: "Lincoln"


MENSALÃO MADE IN U.S.A.

Filme vai chocar puritanos, ingênuos e hipócritas ao descobrirem que a libertação dos negros nos Estados Unidos se deu através da compra de votos, da mentira e da manipulação dos fatos

- por André Lux, crítico-spam

“Lincoln” de Steven Spielberg é uma verdadeira aula de como se faz política no mundo real e é talvez o melhor filme do cineasta desde “A Lista de Schindler”. O roteiro é excepcional e foca-se no início do segundo mandato do presidente estadunidense, justamente quando, em meio a uma sangrenta guerra civil, dedicou-se de corpo e alma para aprovar a emenda constitucional que acabou com a escravidão nos EUA.

O filme vai com certeza chocar puritanos, ingênuos e hipócritas em geral ao descobrirem que a libertação dos negros nos Estados Unidos se deu através da compra de votos de parlamentares (isso mesmo: um “mensalão made in U.S.A.”!), da mentira descarada e da manipulação dos fatos feitas por Lincoln e seus assessores para que a guerra continuasse mesmo quando emissários do Sul estavam a caminho de Washington para propor a paz. Ao que voltamos à velha pergunta retórica que tira o sono de muita gente: afinal, os fins justificam os meios? Valeu a pena abolir a escravidão nos EUA fazendo uso da pura e simples corrupção, da mentira e da manipulação dos fatos? Bem, pergunte isso a alguém como, digamos, Barack Obama, e você talvez tenha a resposta para sua questão...

Esse é o filme mais maduro de Spielberg, que está extremamente contido e fazendo uso de movimentos de câmera discretos, porém precisos, empregando inclusive o termo “negro” abertamente tal qual era usado naquela época e que hoje é considerado ofensivo aos afro-americanos. Ou seja, não tem medo de ser polêmico e de provocar debates, deixando de lado a sua tendência a ser didático e infantilóide que detona a maioria de suas tentativas de fazer filmes para adultos pensantes.

O filme conta com uma extraordinária atuação do grande Daniel Day-Lewis, que não se deu bem em papéis de cunho histórico em filmes como “Gangues de Nova York” e “Sangue Negro” onde perdeu-se em caracterizações descontroladas e caricatas. Seu Abraham Lincoln é impressionante, muito por ser discreto e elegante sem nunca apelar para tiques ou trejeitos manjados, fazendo com que muitas vezes nos esqueçamos de estar diante de um ator e não da figura histórica propriamente dita (ajuda muito também a maquiagem perfeita).

O elenco de coadjuvantes é memorável, a começar por Sally Field, excelente como a primeira-dama que se encontra no limite da sanidade devido à morte do filho mais novo, e Tommy Lee Jones como um congressista que é radicalmente a favor da libertação dos escravos e que precisa, em nome de um bem maior (o fim da escravidão), mudar de posicionamento em uma seção do Congresso ao ser confrontado pela oposição Democrata que deseja fazer uso de suas opiniões radicais em favor da causa dos escravagistas. A belíssima música do mestre John Williams dá o tom do filme, solene e majestosa, sem nunca ser intrusiva.

Vale destacar também que será uma surpresa para muita gente saber que foi o partido Republicano quem liderou a campanha pelo fim da escravidão, enquanto os Democratas lutavam pela manutenção do regime desumano. Isso mesmo, o partido de George W. Bush e afins é que libertou os escravos de seus grilhões! O que será que os dementes do Tea Party teriam a dizer sobre isso hoje, não? Realmente, uma pergunta que não quer calar...

Cotação: * * * * *

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Filmes: "007 - Operação Skyfall"

NÃO É O MELHOR BOND

Filme está longe de ser essa maravilha que pregaram os críticos

- por André Lux, crítico-spam

Vi muitos críticos dizendo que este “Skyfall” era o melhor James Bond de todos os tempos. Só pode ser delírio porque não chega nem perto de alguns da fase áurea de Sean Connery e é mesmo inferior ao primeiro com Daniel Craig no papel de 007, “Cassino Royale”, e até mesmo ao segundo, "Quantum of Solace", que era um filme de esquerda - afinal, James Bond impedia nada menos do que um golpe de Estado contra o presidente nacionalista da Bolívia (Evo Morales?) engendrado pela CIA em conluio com militares golpistas e o vilão que queria explorar os recursos naturais daquele país!

Deve ter contribuído para esse delírio coletivo o fato do filme ser dirigido pelo queridinho da crítica Sam Mendes, um diretor metido a besta que adora fazer filmes pretensiosos e modorrentos. Aqui pelo menos ele não atrapalha muito, já que sua direção é burocrática e não se distingue do resto dos diretores que já levaram as aventuras do agente britânico para o cinema. Sua maior contribuição ao filme foi ter trazido o compositor Thomas Newman para escrever a trilha musical que, embora seja competente, não chega a marcar e fica muito aquém das melhores compostas por John Barry para a franquia.

Não gostei nem um pouco da trama, que envolve o roubo de uma lista de agentes do serviço secreto inglês (velho clichê do gênero) que será usada por um sujeito que parece ser o maior hacker do mundo que, no final das contas, não quer nada além de vingança (outro dos clichês mais batidos do cinema) contra a chefe do MI-6 (Judi Dench). E para isso o vilão bola um daqueles planos mirabolantes que levará anos para ser realizado e que, para der certo, tem que contar com um monte de coincidências que não tinha como ele prever. E para piorar esse vilão é feito pelo espanhol Javier Barden, que é um grande ator, mas está completamente descontrolado e perdido aqui, usando inclusive um ridícula peruca loira. Por sinal, há uma insinuação homossexual entre Barden e Bond que não é explorada a contento.

Loiro bobo
O confronto final com o vilão e sua gangue é totalmente ilógico (e dá-lhe o clichê do herói solitário contra um monte de bandidos) e demonstra apenas a incompetência do 007 que falha no que seria a missão mais importante do filme - e fica tudo por isso mesmo! Há uma trama paralela que pretende questionar a efetividade dos velhos métodos de espionagem do MI-6 e de seus agentes secretos feita pelo parlamento inglês que não chega a lugar algum e serve só para arrastar o filme. Também não convence nem um pouco o novo Q que arrumaram, um moleque metido a besta que também se julga o melhor hacker do planeta e só faz besteira (como conectar o computador do vilão à rede do serviço secreto, fator essencial para que o plano dele funcionasse).

Impressiona o nível de incompetência do pessoal do MI-6 neste filme – um deles chega inclusive a balear o 007 no começo do filme, acham que ele está morto e tudo bem (não vão nem atrás do corpo)! Mas é claro que ele não morreu e, depois de passar um tempo curtindo sua aposentadoria forçada à beira da praia, resolve voltar à ativa depois que a M sofre um atentado.

Enfim, está longe de ser essa maravilha que pregaram os críticos. Eu confesso que esperava muito mais e fiquei bastante decepcionado no final. Nem muitas cenas de ação palpitantes e mulheres bonitas, marcas registradas da franquia, o filme tem.

Cotação: * * 1/2

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Filmes: "A Viagem"


PARA ASSISTIR BÊBADO OU CHAPADO

Eu, que o vi o filme de cara limpa, fiquei apenas com sono durante as quase três horas intermináveis de projeção.

- por André Lux, crítico-spam

Olha, fazia tempo que eu não via um filme tão ridículo quanto este “Cloud Atlas”, chamado aqui no Brasil de “A Viagem”. A verdade é que o titulo em português já é a melhor crítica que a obra poderia receber, já que o roteiro deste abacaxi só pode ter sido escrito sob o efeito de alguma droga alucinógena. O fato de ter sido gerado pelos criadores da trilogia “Matrix”, em parceria com diretor de "Corra, Lola, Corra", só aumenta ainda mais a decepção.

A estória, baseado num livro de David Mitchell, é uma colcha de retalhos que mistura espiritismo (reencarnação) com mensagens dignas dos piores clichês de livros de auto-ajuda. São seis tramas paralelas, que alternam passados, presente e futuros distópicos que no final das contas não tem qualquer conexão entre elas, exceto o fato dos atores centrais fazerem múltiplos papeis geralmente escondidos sob grotesca maquiagem (os piores são o Hugo Weaving, o Sr. Smith de “Matrix”, travestido de enfermeira nazista e a oriental tentando se passar por dondoca do sul dos Estados Unidos).

Algumas das estórias não chegam a lugar algum (afinal, o que queriam os Precientes?), outras mal fazem sentido (como a da jornalista feita por Halle Berry que pretende denunciar algo que nunca ficamos sabendo direito o que é), enquanto outras são simplesmente absurdas (o editor que fica preso num asilo, como se aquilo fosse mesmo acontecer na vida real) e o filme vai se arrastando entre diálogos tolos recheados de filosofadas pseudo-profundas e tentativas patéticas de fazer humor (como a briga no bar).

Sr. Smith pagando mico
Não dá para entender como tantos atores de renome, como Tom Hanks, Hugh Grant ou Susan Sarandon, aceitaram participar dessa bomba. Talvez o fato de poderem interpretar múltiplos personagens seja algo que os atraia, vai saber... Há algumas citações a filmes cultuados de ficção científica, como “Fuga do Século 23” ("Logan's Run"), “No Mundo de 2020” ("Soylent Green", com Charlton Heston) e até mesmo “Matrix”, mas tudo se perde na canastrice geral das interpretações e no roteiro capenga. 

Por sinal, o roteiro é tão ruim que algumas ideias interessantes, tipo aquela marca de nascença que alguns personagens tem em comum, são simplesmente deixadas de lado sem maiores consequências. O que dizer então da tão falada sinfonia que dá nome ao filme da qual não ouvimos nada além de um dedilhar no piano? Não se salvam nem o desenho de produção ou algum outro aspecto técnico (aquele bar futurista, por exemplo, parece coisa de desfile de escola de samba). 

Talvez o filme melhore se você o assistir bêbado ou chapado. Mas eu, que o vi de cara limpa, fiquei apenas com sono durante as quase três horas intermináveis de projeção.

Cotação: *