A GRANDIOSIDADE CONTINUA
Segundo capítulo de “O Senhor dos Anéis” continua sendo um verdadeiro triunfo, tanto ao nível artístico quanto comercial. Algo cada vez mais raro de acontecer nos dias de hoje, convenhamos.
- por André Lux, crítico-spam
A saga do anel do poder continua com o lançamento de AS DUAS TORRES, capítulo central da trilogia e, por isso mesmo, o mais sombrio e difícil de adaptar de toda a obra (afinal, tem que começar em plena ação e novamente acaba bruscamente sem conclusão). Para piorar, com o rompimento da Sociedade do Anel a trama dividi-se em três, tornando-se, portanto, cada vez mais complexa e repleta de detalhes importantes.
O diretor Peter Jackson sabia da dificuldade que tinha pela frente e optou pela saída mais lógica: contar as três histórias em ordem mais ou menos cronológica e na seqüência, diferente do livro que é cheio de idas e vindas, já que cada "missão" tem basicamente seu próprio capítulo. Essa opção traz vantagens do ponto de vista cinematográfico, mas em contrapartida deixa o filme mais truncado, já que a ação é várias vezes interrompida para que outra parte da história seja contada - efeito que chega a atrapalhar algumas seqüências mais emocionantes.
Outro ponto polêmico diz respeito às várias alterações que os roteiristas aplicaram à trama, que obviamente vão enfurecer os fãs mais puristas da obra de Tolkien. Mas é sempre bom lembrar que mudanças são necessárias, afinal literatura é uma coisa e cinema é outra, bem diferente. O problema é que algumas delas acabaram mais prejudicando do que ajudando, sendo as mais graves a participação dos elfos na batalha do Abismo de Helm e a decisão dos Ents de não irem para a guerra, voltando atrás logo em seguida e rápido demais. Essas são os tipos de "licenças" que nada acrescentam e realmente poderiam ter sido ignoradas, afinal o que estava no livro acabaria funcionando melhor.
O filme começa muito bem, com um longo plano aberto das montanhas geladas que vai fechando-se até entrarmos literalmente nas Minas de Moira, exatamente no momento da luta entre o mago Gandalf (Ian Mckellen) e o Balrog, cujo desfecho não será tão trágico quanto o primeiro filme fazia supor. Seguimos então a busca de Aragorn (Viggo Mortensen), o elfo Legolas (Orlando Bloom) e o anão Gimli (John Rhys-Davies) pelos orcs que capturaram os hobits Merry e Pippin. Toda essa seqüência, apesar de ser praticamente fiel ao livro, não é das mais felizes, prejudicada por uma edição apressada e ineficaz.
O filme só vai melhorar mesmo (e alcançar o mesmo nível de excelência de A SOCIEDADE DO ANEL) quando voltamos à jornada de Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin) rumo a Mordor, cuja segurança passa a ser ameaçada pela criatura Gollum. Mas eles conseguem capturá-lo e somos então apresentados ao personagem mais rico e interessante do filme, brilhantemente manipulado por computação gráfica, a partir da performance do ator Andy Serkis. Sua caracterização é tão perfeita e a sua presença tão marcante que esquecemos completamente que não passa de um boneco digital e torcemos para que volte à cena logo.
Outro ponto alto do filme é a atuação de Benard Hill (que foi o capitão do TITANIC), que convence totalmente como o angustiado e indeciso Theodén, rei de Rohan. Sua presença na tela, ao lado do arredio e soturno Aragorn (Mortensen), garantem a integridade e a nobreza do filme. É muito bem vinda também a escolha do anão Gimli e do elfo Legolas como os alívios cômicos, cujos melhores momentos vêm das disputas para ver qual dos dois matou mais orcs! As mensagens ecológica e em favor da amizade e da lealdade também não poderiam deixar ser mais atuais e pertinentes.
Como não poderíamos deixar de notar, a música de Howard Shore é de uma grandeza e retumbância impressionantes, sem nunca cair para a pieguice ou para o clichê desse tipo de filme. Arrisco a afirmar que é ainda melhor que a anterior (sem dizer que não temos mais que aturar as canções soporíferas da Enya, que foram incluídas no primeiro por pressões comerciais). Aproveito para fazer um parêntese e ressaltar que a grande maioria dos críticos ditos "especializados" continua absurdamente ignorando o trabalho dos músicos de cinema, fato que é ainda mais gritante em casos como o de O SENHOR DOS ANÉIS, no qual a trilha musical é parte fundamental do sucesso do projeto!
Se AS DUAS TORRES é pior ou fica no mesmo nível de A SOCIEDADE DO ANEL, ainda tenho minhas dúvidas. Melhor não é, isso é fato. O primeiro beirou a perfeição em todos os aspectos e tinha uma trama muito mais simples e linear para contar. Nesse segundo capítulo me parece que houve um certo descuido na edição (que apresenta muitas falhas, principalmente no início, fato que só é sanado na versão estendida do filme, que realmente é muito melhor) e uma preocupação exacerbada em criar exércitos gigantescos de orcs movidos por softwares novíssimos, ao invés de focar a atenção em detalhes mais ricos e interessantes (que foram justamente o que tornaram o primeiro tão saboroso). Somando-se a isso, temos a trama mais complicada, dividida e tortuosa que, na somatória final, acaba obrigando o filme a ficar muito intenso e corrido. Boromir (Sean Bean), que morreu no capítulo anterior, também faz falta.
Mas, mesmo com todos esses problemas e limitações, não há como negar que AS DUAS TORRES é um sucesso em praticamente todos os níveis. Ponto para todos os envolvidos no projeto, cuja dedicação e paixão estão impressas em cada fotograma visto na tela (a riqueza de detalhes e beleza dos vestuários e armaduras, por exemplo, é algo impressionante). Um verdadeiro triunfo, tanto ao nível artístico quanto comercial. Algo cada vez mais raro de acontecer nos dias de hoje, convenhamos.
Cotação: * * * *
Melhor trilha musical dos três longas. Tem uma faixa chamada "Isengard Unleashed" que é de arrepiar.
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