HORROR EXPLÍCITO
Filme tem qualidades suficientes que o fizeram virar cult no mundo todo depois de fracassar nos cinemas
- por André Lux, crítico-spam
"O Enigma de Outro Mundo" (tradução ridícula para "The Thing" - A Coisa) foi a grande chance que John Carpenter (de "Fuga de Nova York") teve, em 1982, de entrar para o time dos cineastas que têm portas abertas nos grandes estúdios de Hollywood.
O filme, uma releitura da obra "Who Goes There?" que já dera origem ao clássico "O Monstro do Ártico", de Howard Hawks, foi bancado pela Universal que colocou à disposição de Carpenter um generoso orçamento - algo inédito na carreira do diretor, acostumado até então a trabalhar com produções classe B e recursos limitados.
Só que o filme acabou sendo um grande fracasso tanto de crítica quanto de bilheteria na época, prejudicando a carreira de Carpenter pelo menos até a Fox o chamar, anos mais tarde, para fazer "Os Aventureiros do Bairro Proibido". Um dos motivos apontados para isso foi o azar que teve de ser lançado junto com "E.T." (também produzido pela Universal).
Ao que parece o público se encantou com o alienígena benevolente de Spielberg a ponto de rejeitar completamente o outro filme, que trazia uma criatura que era justamente o oposto disso.
A verdade é que John Carpenter tende a se perder quando tem um orçamento muito generoso em suas mãos, concentrando sua atenção em exageros e redundâncias e deixando de lado justamente aquilo que é o esteio de sua obra: a capacidade de usar sua criatividade para driblar de modo engenhoso as limitações de produções pobres.
Isso é um fato que já pudemos facilmente constatar analisando outros filmes dele bancados por um grande estúdio como "Os Aventureiros do Bairro Proibido" e "Fuga de Los Angeles".
E "O Enigma de Outro Mundo" não é exceção. Enquanto a produção é caprichada (com direito a uma réplica real das instalações de pesquisa científica numa locação de difícil acesso no Ártico, design da criatura e produção dos efeitos de maquiagem do consagrado Rob Bottin e trilha do maestro Ennio Morricone), acabaram deixando de lado o que o filme deveria ter de melhor: justamente o seu roteiro!
Escrito por Bill Lancaster, ele não tem muita consistência narrativa e deixa várias pontas soltas e personagens perdidos ou sem profundidade. Por causa disso, todos ficam parecendo mau humorados o tempo todo e torna-se difícil identificar quem é quem na trama - fator que não permite empatia e, por conseqüência, impede que nos importemos com seus destinos. Nem mesmo Kurt Russel chega a se destacar como o piloto de helicóptero que acaba tendo que liderar a contragosto a luta contra a criatura.
Entretanto, o filme tem qualidades suficientes que o fizeram virar cult no mundo todo depois de seu lançamento em vídeo. A mais evidente delas é o excelente trabalho de Bottin. Ele realmente caprichou na bizarrice e no grotesco, dando a "O Enigma de Outro Mundo" o charme de se tornar um dos filmes de horror mais explícitos e chocantes de todos os tempos.
Algumas cenas são realmente inacreditáveis até hoje, de tão fortes, especialmente a do peito de um sujeito que se transforma numa enorme boca, enquanto a sua cabeça se desgarra do corpo e sai correndo com pernas de inseto!
A música de Morricone, feita nos moldes do que o próprio diretor estava acostumado a compor para seus filmes (isto é, minimalista ao extremo), é quase que totalmente calcada em sintetizadores e no uso das cordas da orquestra, dando ao filme uma textura extra de frieza e desolação cortantes que até fazem sentido tendo em vista a falta de calor dos protagonistas. Todavia, muito do material que Morricone compôs para o filme acabou não sendo usado na montagem final (mas pode ser ouvido no CD com a trilha sonora).
O clima opressivo da neve e do frio congelante (cortesia da fotografia azulada de Dean Cundey) também ajuda a manter um clima de constante tensão.
Principalmente quando os protagonistas se dão conta do que está acontecendo à volta deles e passam a viver em total paranóia sem saber quem está ou não infectado pela criatura alienígena (que aqui não é um mero monstro à espreita como em "Alien", mas algo que clona tudo que encontra pela frente tornando-se uma imitação exata).
A verdade é que o fracasso do filme durante seu lançamento é até justificável e compreensível por causa de todos os fatores negativos apontados acima. Mas, por isso mesmo, "O Enigma de Outro Mundo"acaba melhorando muito numa revisão, principalmente quando passamos a diferenciar melhor os personagens uns dos outros e, claro, devido aos efeitos visuais que continuam impressionando até hoje.
A prova disso está no lançamento agora em outubro de 2012 do novo "The Thing", que será uma espécie de prólogo do filme de John Carpenter e deverá mostrar os fatos que se sucederam com a equipe de cientistas noruegueses que descobriram a criatura antes dela atacar a base estadunidense.
Cotação: * * * 1/2
Trailer do novo "The Thing"
Puxa, não concordo com o que vc disse sobre Fuga de Los Angeles... O Presidente estadunidense do filme é igualzinho ao Mitt Romney - Fascista + fanático religioso! (será que o filme previu o futuro corretamente?). O fim do filme é absolutamente fantástico na minha opinião - mesmo que Kurt Russel seja canastrão demais como Snake Plissken.
ResponderExcluircariocas-farao-faxina-na-tv-gl oboabaixo uma rede de comunicação manipuladora e mentirosaque detem uma concessao publica para existir e deve ser debatida em que grau atende aos interesses dos brasileiroshttp://altamiroborg es.blogspot.com/2011/10/carioc as-farao-faxina-na-tv-globo.ht ml
ResponderExcluirÉ um dos filmes mais assustadores que já vi. Lembro quando o assisti pela primeira vez num antigo programa de férias da Globo, o "Festival de Verão". Naquela noite eu custei a pegar no sono.
ResponderExcluirPS: O Festival de Verão foi uma das melhores atrações da Globo. Só passava clássicos absolutos. Foi ele que me alfabetizou em cinema. Pois é, a Globo também tinha coisas boas.....
Grande filme, um dos melhores de ficção científica misturado ao terror, a trilha sonora do Enio Morricone da o clima da parte inicial, na hora que descobrem o primeiro mutante que é queimado e se transformando soltando um gemido que parece que vem do fundo da galáxia e da parte final do filme, quando os dois personagens ficam um olhando para o outro, sem saberem se estavam contaminados. Os efeitos especiais estão fantásticos e quando assisti o filme pela primeira vez, na televisão imaginei que poderia haver outra história apenas com a descoberta do disco e sua invasão, o que no filme original apenas nos excita a imaginação quando vemos os personagens ao redor da cratera, observando aquele disco com sua escotilha aberta. Que desejo de penetrar ali!
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