ANARQUISTA EM FORMA
É uma obra típica de Terry Gilliam, do Monty Phyton, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas.
- por André Lux, crítico-spam
Depois de uma maré baixa, onde fez dois filmes fracos (“Os Irmãos Grimm” e “Contraponto”) e quase foi à loucura com as filmagens inacabadas de “Dom Quixote”, o anarquista Terry Gilliam volta à forma com “O Mundo Imaginário do Dourtor Parnassos”, filme que acabou ficando famoso por se tratar da última interpretação de Heat Ledger (o Coringa do último “Batman”) que morreu durante as filmagens e quase inviabilizou a finalização da obra.
Mas como a trama é bizarra e cheia de passagens delirantes, Gilliam conseguiu substituir Ledger com sucesso por Johnny Depp, Jude Law e Collin Farrel em momentos chaves do filme que se passam numa espécie de realidade paralela existente dentro de um espelho que é fruto dos poderes paranormais do tal Dr. Parnassus do título (Christopher Plummer em ótimo desempenho), um sujeito que tem uma trupe de circo que se apresenta em becos de Londres e vive há centenas de anos por causa de diversas apostas que fez com o diabo (interpretado pelo cantor Tom Waits). O personagem de Heat Ledger entra na trama depois de ser salvo de um aparente suicídio pela trupe circense e, como perdeu a memória, insere-se ao grupo e tenta injetar sangue novo às apresentações do Dr. Parnassus.
Embora o filme tenha um início truncado e mal alinhavado, tudo melhora quando Ledger entra em cena e as propostas do diretor começam a tomar forma, assim como a crítica à sociedade do consumo e à estupidez de quem faz parte dela acriticamente (que dá o tom à sua obra-prima “Brazil”).
Ou seja, é uma obra típica de Gilliam, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas. O filme lembra em alguns momentos “As Aventuras do Barão Munchausen” (uma de suas melhores obras) tanto na forma quanto no conteúdo e tem relação com “O Pescador de Ilusões”, que também mostrava personagens derrotados vivendo em busca de redenção por meio da imaginação. Há inclusive uma cena completamente maluca dentro do espelho, onde policiais dançam numa espécie de musical, que faz referência direta aos quadros do genial grupo Monty Phyton (do qual Gilliam era o criador das animações).
Enfim, para quem gosta e estava com saudades do bom e velho Gilliam, este filme é um prato cheio.
Cotação: * * * 1/2
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Filme: "O Segredo de Seus Olhos"
IMPERDÍVEL
Obra mostra o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.
- por André Lux, crítico-spam
Depois de passar uma temporada dirigindo episódios de séries famosas nos EUA (como “House” e “Lei e Ordem”), o diretor Juan José Campanella, de “O Filho da Noiva” (leia minha análise neste link), voltou à Argentina para produzir mais um excelente filme chamado “O Segredo de Seus Olhos”.
Novamente trabalhando com seu ator preferido, Ricardo Darin, Campanella adapta um romance de Eduardo Sacheri com sua habitual maestria, juntando no mesmo filme diversos tipos de gêneros do cinema, tais como suspense, drama, romance, policial, comédia, denúncia política (uma parte do filme se passa durante a ditadura militar argentina) e até uma pitada de film noir.
Darin interpreta com sua naturalidade e competência de sempre Benjamín Espósito, um oficial de justiça aposentado que resolve escrever um livro tendo como premissa um caso escabroso que investigou no passado e que trouxe conseqüências trágicas para todos os envolvidos.
Mas não é só isso. Em seu livro Espósito quer também expiar seu remorso por não ter tido coragem de lutar pelo amor de sua vida, interpretada por Soledad Villamil (que esteve em “O Mesmo Amor, A Mesma Chuva” também com Darin e dirigido por Campanella), que era sua supervisora no Fórum. Outro personagem importante é o parceiro de Espósito, Pablo Sandoval, na pele de Guillermo Francella, que serve como alívio cômico à trama (preste atenção às formas como ele atende ao telefone da repartição).
Por meio de flashbacks muito bem elaborados, vamos sendo apresentados ao crime e aos desdobramentos que ele provoca na vida dos envolvidos.
É digna de nota a firmeza com que Campanella conduz a trama, sempre de forma inusitada e buscando o aprofundamento psicológico dos protagonistas à medida que eles vão sendo afetados pelos desenlaces do caso investigado.
O filme busca também fazer um estudo do que leva uma pessoa a ficar obcecada, em contraste com o vazio existencial enfrentado por Espósito e o que ambos sentimentos geram de consquências.
Se você já conhece o trabalho do diretor Campanella então não pode perder mais esse excelente filme dele. E se não conhece, está aí uma ótima oportunidade para tomar contato com o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.
De qualquer forma, “O Segredo de Seus Olhos” é um filme simplesmente imperdível.
Cotação: * * * *
Obra mostra o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.
- por André Lux, crítico-spam
Depois de passar uma temporada dirigindo episódios de séries famosas nos EUA (como “House” e “Lei e Ordem”), o diretor Juan José Campanella, de “O Filho da Noiva” (leia minha análise neste link), voltou à Argentina para produzir mais um excelente filme chamado “O Segredo de Seus Olhos”.
Novamente trabalhando com seu ator preferido, Ricardo Darin, Campanella adapta um romance de Eduardo Sacheri com sua habitual maestria, juntando no mesmo filme diversos tipos de gêneros do cinema, tais como suspense, drama, romance, policial, comédia, denúncia política (uma parte do filme se passa durante a ditadura militar argentina) e até uma pitada de film noir.
Darin interpreta com sua naturalidade e competência de sempre Benjamín Espósito, um oficial de justiça aposentado que resolve escrever um livro tendo como premissa um caso escabroso que investigou no passado e que trouxe conseqüências trágicas para todos os envolvidos.
Mas não é só isso. Em seu livro Espósito quer também expiar seu remorso por não ter tido coragem de lutar pelo amor de sua vida, interpretada por Soledad Villamil (que esteve em “O Mesmo Amor, A Mesma Chuva” também com Darin e dirigido por Campanella), que era sua supervisora no Fórum. Outro personagem importante é o parceiro de Espósito, Pablo Sandoval, na pele de Guillermo Francella, que serve como alívio cômico à trama (preste atenção às formas como ele atende ao telefone da repartição).
Por meio de flashbacks muito bem elaborados, vamos sendo apresentados ao crime e aos desdobramentos que ele provoca na vida dos envolvidos.
É digna de nota a firmeza com que Campanella conduz a trama, sempre de forma inusitada e buscando o aprofundamento psicológico dos protagonistas à medida que eles vão sendo afetados pelos desenlaces do caso investigado.
O filme busca também fazer um estudo do que leva uma pessoa a ficar obcecada, em contraste com o vazio existencial enfrentado por Espósito e o que ambos sentimentos geram de consquências.
Se você já conhece o trabalho do diretor Campanella então não pode perder mais esse excelente filme dele. E se não conhece, está aí uma ótima oportunidade para tomar contato com o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.
De qualquer forma, “O Segredo de Seus Olhos” é um filme simplesmente imperdível.
Cotação: * * * *
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Filmes: "Guerra ao Terror"
CHATO E PRECÁRIO
O filme nem mesmo tem uma mensagem firme contra a guerra. No máximo ensina que “a guerra não é bolinho”, algo que certamente vai impressionar um alienígena pacífico que chegou à Terra hoje.
- por André Lux, crítico-spam
Esse “Guerra ao Terror” (uma tradução ridícula para “The Hurt Locker”) é mais um caso de delírio coletivo dos profissionais da opinião que colocam no pedestal um filme fraco que não chega nem aos pés de outros filmes de guerra como “Platoon”, “Três Reis” ou mesmo “O Resgate do Soldado Ryan” (que era tecnicamente impressionante).
Até entendo que cause certo impacto nos Estados Unidos, afinal são eles que estão metidos até o pescoço naquele atoleiro servindo de bucha de canhão enquanto algumas corporações ligadas aos neocons do partido Republicano faturam em cima da guerra. Agora, indicar esse blefe para nove Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, só pode ser piada (e quando eu digo que esse prêmio não pode ser levado a sério tem gente que acha ruim)!
Não há história a ser contada e o filme resume-se a uma série de episódios envolvendo uma equipe de especialistas em desarmar bombas, comandada por um sujeito estúpido e irresponsável que coloca seus colegas em risco todo o tempo. Há uma tentativa forçada de afirmar que o rapaz é “viciado em guerra”, como sugere uma frase no início do filme, mas tudo não passa de desculpa para gerar situações de suspense onde somos obrigados a torcer para os patéticos soldadinhos do Tio Sam, sempre atônitos e perdidos no meio daquele deserto cheio de barbudos usando turbante.
Tecnicamente o filme é precário, todo filmado naquele estilo “docudrama” que já deu o que tinha que dar, com câmera de High Definition trepidando na mão e um excesso de zooms que só servem para torrar o saco do espectador. Não dá nem para falar em direção de fotografia num filme desses, já que tudo é filmado com luzes naturais, o que deixa as cenas noturnas num breu total. Não se trata nem de opção estética, como já fizeram por exemplo Clint Eastwood em “Os Imperdoáveis” ou Stanley Kubrick em “Barry Lyndon”. É falta de recursos mesmo.
A direção de Kathryn Bigelow é medíocre e o fato mais marcante de sua presença atrás das câmeras, que tem gerado faniquitos em alguns profissionais da opinião, é ela ser ex-mulher do James Cameron, que também concorre ao Oscar como Melhor Diretor pelo ridículo “Avatar”. Vejam só que coisa importante!
Os diálogos são frouxos e soam forçados saindo das bocas de um grupo de atores inexpressivos (não se deixe enganar pelo nome de alguns famosos no elenco, como Ralph Fiennes e Guy Pierce, pois eles aparecem em pontinhas minúsculas). O filme nem mesmo tem uma mensagem firme contra a guerra. No máximo ensina que “a guerra não é bolinho”, algo que certamente vai impressionar um alienígena pacífico que chegou à Terra hoje. Se não bastasse tudo isso, “Guerra ao Terror” é chato pra burro, do tipo que você não vê a hora que acabe – e suas duas horas de duração parecem o dobro!
Veja por sua conta e risco, mas não diga que eu não avisei.
Cotação: *
O filme nem mesmo tem uma mensagem firme contra a guerra. No máximo ensina que “a guerra não é bolinho”, algo que certamente vai impressionar um alienígena pacífico que chegou à Terra hoje.
- por André Lux, crítico-spam
Esse “Guerra ao Terror” (uma tradução ridícula para “The Hurt Locker”) é mais um caso de delírio coletivo dos profissionais da opinião que colocam no pedestal um filme fraco que não chega nem aos pés de outros filmes de guerra como “Platoon”, “Três Reis” ou mesmo “O Resgate do Soldado Ryan” (que era tecnicamente impressionante).
Até entendo que cause certo impacto nos Estados Unidos, afinal são eles que estão metidos até o pescoço naquele atoleiro servindo de bucha de canhão enquanto algumas corporações ligadas aos neocons do partido Republicano faturam em cima da guerra. Agora, indicar esse blefe para nove Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, só pode ser piada (e quando eu digo que esse prêmio não pode ser levado a sério tem gente que acha ruim)!
Não há história a ser contada e o filme resume-se a uma série de episódios envolvendo uma equipe de especialistas em desarmar bombas, comandada por um sujeito estúpido e irresponsável que coloca seus colegas em risco todo o tempo. Há uma tentativa forçada de afirmar que o rapaz é “viciado em guerra”, como sugere uma frase no início do filme, mas tudo não passa de desculpa para gerar situações de suspense onde somos obrigados a torcer para os patéticos soldadinhos do Tio Sam, sempre atônitos e perdidos no meio daquele deserto cheio de barbudos usando turbante.
Tecnicamente o filme é precário, todo filmado naquele estilo “docudrama” que já deu o que tinha que dar, com câmera de High Definition trepidando na mão e um excesso de zooms que só servem para torrar o saco do espectador. Não dá nem para falar em direção de fotografia num filme desses, já que tudo é filmado com luzes naturais, o que deixa as cenas noturnas num breu total. Não se trata nem de opção estética, como já fizeram por exemplo Clint Eastwood em “Os Imperdoáveis” ou Stanley Kubrick em “Barry Lyndon”. É falta de recursos mesmo.
A direção de Kathryn Bigelow é medíocre e o fato mais marcante de sua presença atrás das câmeras, que tem gerado faniquitos em alguns profissionais da opinião, é ela ser ex-mulher do James Cameron, que também concorre ao Oscar como Melhor Diretor pelo ridículo “Avatar”. Vejam só que coisa importante!
Os diálogos são frouxos e soam forçados saindo das bocas de um grupo de atores inexpressivos (não se deixe enganar pelo nome de alguns famosos no elenco, como Ralph Fiennes e Guy Pierce, pois eles aparecem em pontinhas minúsculas). O filme nem mesmo tem uma mensagem firme contra a guerra. No máximo ensina que “a guerra não é bolinho”, algo que certamente vai impressionar um alienígena pacífico que chegou à Terra hoje. Se não bastasse tudo isso, “Guerra ao Terror” é chato pra burro, do tipo que você não vê a hora que acabe – e suas duas horas de duração parecem o dobro!
Veja por sua conta e risco, mas não diga que eu não avisei.
Cotação: *
Filmes: "Criação"
HUMANIZANDO O MITO
Filme tem como protagonista ninguém menos do que Charles Darwin, o criador da teoria da evolução
- por André Lux, crítico-spam
Cinebiografias de personalidades reais sempre correm o sério risco de limitarem-se a elencar vários episódios importantes sobre a vida do biografado, falhando em aprofundar suas paixões, dores ou inspirações e alienando assim o espectador. Levando-se esses fatos em conta, “Criação” é uma boa surpresa. O filme tem como protagonista ninguém menos do que Charles Darwin, o criador da teoria da evolução, que revolucionou o modo como vemos a natureza e mesmo nosso lugar neste mundo.
Ao invés de tentar reproduzir nas telas toda a jornada de descobertas do cientista, o filme concentra-se na fase mais difícil de sua empreitada: justamente quando tem que completar seu livro “Sobre a Origem das Espécies”. Atormentado pela morte de sua filha mais velha, com a qual tinha grande empatia e continua conversando em momentos de delírio, e pelos conflitos entre sua fé cristã cada vez mais enfraquecida e suas descobertas científicas revolucionárias, Darwin reluta em finalizar sua obra. E quanto mais procrastina, mais estressado fica ao ponto de adoecer fisicamente.
Esses conflitos internos do protagonista são explorados de maneira sutil e madura, sem cair em melodramas ou reduções simplistas. O relacionamento entre Darwin e sua devota, porém muito religiosa esposa (a lindíssima Jeniffer Connely) também é bem enfocado, tornando-se parte importante do desenvolvimento psicológico do personagem. A interpretação de Paul Bettany como Darwin é convincente e o filme tem ainda uma excelente direção de fotografia e uma bonita trilha musical composta por Christopher Young.
Se não é nenhuma obra-prima, “Criação” ao menos tenta humanizar um personagem mítico da nossa história sem se preocupar em ser didático ou detalhista. E é exatamente assim que os bons dramas são feitos. Além disso, esse é o tipo de filme que, mesmo sendo respeitoso em relação à fé alheia, certamente vai provocar a fúria dos fanáticos religiosos - o que por si só já um ponto positivo a mais para ele.
Cotação: * * *
Filme tem como protagonista ninguém menos do que Charles Darwin, o criador da teoria da evolução
- por André Lux, crítico-spam
Cinebiografias de personalidades reais sempre correm o sério risco de limitarem-se a elencar vários episódios importantes sobre a vida do biografado, falhando em aprofundar suas paixões, dores ou inspirações e alienando assim o espectador. Levando-se esses fatos em conta, “Criação” é uma boa surpresa. O filme tem como protagonista ninguém menos do que Charles Darwin, o criador da teoria da evolução, que revolucionou o modo como vemos a natureza e mesmo nosso lugar neste mundo.
Ao invés de tentar reproduzir nas telas toda a jornada de descobertas do cientista, o filme concentra-se na fase mais difícil de sua empreitada: justamente quando tem que completar seu livro “Sobre a Origem das Espécies”. Atormentado pela morte de sua filha mais velha, com a qual tinha grande empatia e continua conversando em momentos de delírio, e pelos conflitos entre sua fé cristã cada vez mais enfraquecida e suas descobertas científicas revolucionárias, Darwin reluta em finalizar sua obra. E quanto mais procrastina, mais estressado fica ao ponto de adoecer fisicamente.
Esses conflitos internos do protagonista são explorados de maneira sutil e madura, sem cair em melodramas ou reduções simplistas. O relacionamento entre Darwin e sua devota, porém muito religiosa esposa (a lindíssima Jeniffer Connely) também é bem enfocado, tornando-se parte importante do desenvolvimento psicológico do personagem. A interpretação de Paul Bettany como Darwin é convincente e o filme tem ainda uma excelente direção de fotografia e uma bonita trilha musical composta por Christopher Young.
Se não é nenhuma obra-prima, “Criação” ao menos tenta humanizar um personagem mítico da nossa história sem se preocupar em ser didático ou detalhista. E é exatamente assim que os bons dramas são feitos. Além disso, esse é o tipo de filme que, mesmo sendo respeitoso em relação à fé alheia, certamente vai provocar a fúria dos fanáticos religiosos - o que por si só já um ponto positivo a mais para ele.
Cotação: * * *
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Filmes: "Baarìa"
DECEPCIONANTE
É o tipo de filme que a gente quer gostar, mas que no final se torna penoso de assistir.
- por André Lux, crítico-spam
É uma grande decepção esse novo filme do diretor de “Cinema Paradiso”, Giuseppe Tornatore, que ele garante ser sua obra mais autobiográfica e íntima. Pode até ser que para ele, seus familiares e amigos mais chegados “Baarìa” passe algum tipo de emoção ou mensagem, mas para o resto dos mortais o filme é de um vazio impressionante. Chega a dar sono, ainda mais por ter uma metragem alongada (2 horas e trinta minutos, mas que parecem ser mais).
O mais triste é que a obra é extremamente bem feita tecnicamente. Tudo está no lugar certo: a fotografia é exuberante, a trilha de Ennio Morricone é excelente como de costume e a reprodução dos cenários e vestimentas de época impressionam. Tornatore chegou a construir uma set inteiro no deserto da Tunísia para reproduzir o que seria uma vila italiana da Scilia por volta de 1940, que é onde a história começa, mostrando a segunda guerra mundial e a ação dos fascistas de Mussolini na região.
Mas nada disso adianta para salvar o filme. O roteiro, de autoria do próprio Tornatore, é um desastre e não tem foco narrativo definido, pulando de um episódio a outro sem ligação ou lógica (a edição é um ponto baixo do filme, principalmente ao abusar de fade outs).
Não dá para entender qual era enfim o objetivo do filme: se queria contar a saga de Peppino Torrenuova (que ao que parece seria o pai do cineasta), pintar um retrato da Scilia durante os mais de 40 anos que o filme aborda ou fazer uma crítica social e política da situação dos pobres que vivem sendo explorados pelos políticos de direita e pela máfia local.
No final, não é nem uma coisa nem outra. Personagens entram e saem de cena sem marcar e fica difícil se identificar com qualquer um deles. Nem mesmo com Peppino, que supostamente seria o protagonista da história, mas que passa em brancas nuvens já que seu personagem nunca é aprofundado.
Nem mesmo dá para entender porque ele resolve se filiar ao Partido Comunista Italiano na juventude, no qual milita até o fim. Também é extremamente superficial seu relacionamento com a esposa ou com os filhos (o que deveria ser a força motriz do filme).
É o tipo de filme que a gente quer gostar, por causa de todos os envolvidos em sua produção e pela própria temática, mas que no final se torna penoso de assistir. Lamentável.
Cotação: * 1/2
No final, não é nem uma coisa nem outra. Personagens entram e saem de cena sem marcar e fica difícil se identificar com qualquer um deles. Nem mesmo com Peppino, que supostamente seria o protagonista da história, mas que passa em brancas nuvens já que seu personagem nunca é aprofundado.
Nem mesmo dá para entender porque ele resolve se filiar ao Partido Comunista Italiano na juventude, no qual milita até o fim. Também é extremamente superficial seu relacionamento com a esposa ou com os filhos (o que deveria ser a força motriz do filme).
É o tipo de filme que a gente quer gostar, por causa de todos os envolvidos em sua produção e pela própria temática, mas que no final se torna penoso de assistir. Lamentável.
Cotação: * 1/2
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Filmes: "Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" (Versão Estendida)
A New Line e a Warner lançaram no exterior uma versão expandida de ''O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel'', primeira parte da trilogia baseada na obra de J. R.R. Tolkien dirigida por Peter Jackson, em luxuosos Boxes com 4 e 5 DVDs.
Apesar destas edições estarem disponíveis na Austrália, que pertence à Região 4 como o Brasil, infelizmente nós ficamos de fora dos planos dos estúdios. Vou analisar aqui a edição com 4 discos - e quem tiver dinheiro sobrando para adquirir este produto importado terá motivos de sobra para comemorar.
Apesar do próprio Peter Jackson avisar que não considera esse corte do filme, que contém mais de 30 minutos de imagens inéditas, como a ''Versão do Diretor'', a verdade é que as novas cenas melhoram muito o filme, que já era praticamente perfeito ao ser exibido nos cinemas. Houve preocupação imensa em transformar essa nova versão em uma experiência totalmente coerente e refinada. Isso fica evidente quando percebemos que a montagem inclui várias tomadas diferentes das que foram usadas nos cinemas, para que a narrativa case melhor com as cenas inéditas, cujo exemplo mais nítido vem durante o ''Conselho de Elrond''.
Além disso, o compositor Howard Shore compôs e gravou músicas adicionais e totalmente novas para as seqüências inéditas, sendo que em alguns momentos elas acabam até predominando sobre a trilha anterior, o que deixa ainda maior a sensação de fluidez da montagem. Normalmente, em casos de ''Versões do Diretor'', muitas cenas ou seqüências novas são simplesmente jogadas no meio da narrativa, o que resulta em ''pulos'' na banda sonora ou na estrutura do filme.
Nada disso acontece aqui. Conforme explica o diretor Jackson, essa versão estendida é, de fato, o primeiro corte do filme já refinado, mas antes de começar a sofrer as pressões para redução da metragem. É claro que um filme com 3 horas e 28 minutos de duração seria grande demais para os cinemas, nos quais foi apresentada a versão reduzida com ''apenas'' 2 horas e 40 minutos (contida no DVD lançado no Brasil oficialmente).
Contudo, o mais interessante é que muitas das sequências reincorporadas ao filme mudam completamente o seu próprio conceito autoral. No início, por exemplo, após o prólogo explicativo sobre a história do Anel, temos a apresentação dos Hobbits, que é feita por Bilbo Bolseiro (Ian Holm) enquanto inicia os trabalhos de criação de seu livro. Essa seqüência toda é bastante diferente da que foi para os cinemas, tanto em relação ao clima quanto ao ritmo, especialmente nos diálogos travados entre Frodo (Elijah Wood) e Gandalf (Ian McKellen).
Adicionalmente, as novas cenas são muito mais focadas no desenvolvimento dos personagens e suas relações, do que em cenas grandiosas ou com grandes efeitos. Quem mais se beneficia nessa nova versão é sem dúvida Aragorn (Viggo Mortensen), cujo drama interior ganha maior destaque e profundidade. Apenas quem leu os apêndices do livro de Tolkien sabe, por exemplo, que ele foi perseguido a vida toda pelos seguidores de Sauron até acabar sendo levado por sua genitora até Valfenda, para ser criado pelos elfos - daí vem o início de seu romance com Arwen (Liv Tyler). Há a inclusão de uma bela cena na qual ele visita o túmulo da mãe, quando é interpelado por Elrond (Hugo Weaving), que tenta despertá-lo para seu destino. A relutância de Aragorn em aceitar sua herança - e as conseqüências disso para a Sociedade do Anel - são muito mais exploradas e realçadas aqui.
É claro que nem todas as cenas inéditas são relevantes e muitas acabam funcionando apenas a título de curiosidade ou registro de passagens do livro que pouco acrescentam à trama. Um exemplo disso é a discussão entre os membros da Sociedade e os elfos de Lothlorién, que se recusam a deixá-los prosseguir floresta adentro. Todavia, existem algumas preciosidades nessa nova versão que melhoram muito o filme, sendo que algumas até corrigem alguns ''defeitos'' que atrapalharam a versão cinematográfica. Entre eles, temos um pequeno trecho de diálogo entre Gandalf e Frodo, nas Minas de Moira, quando o mago revela que Gollum já foi conhecido como Sméagol (informação crucial que foi deixada de fora e prejudicou o segundo filme, ''O Senhor dos Anéis: As Duas Torres'').
Outra diz respeito à preparação da queda de Boromir (Sean Bean), que ganhou várias cenas adicionais (como ele discutindo com Aragorn, enquanto ambos vêem Gollum no rio seguindo a comitiva) e cuja batalha contra os Uruk-hais ficou mais longa e aumentou em dramaticidade. Há a inclusão de um pequeno monólogo de Aragorn, logo após a morte de Boromir, o qual culmina com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, que corrige o que parecia ser um grave defeito de montagem da versão original. Antes, ela cortava do personagem ajoelhado no chão para o close dele em pé, chorando. Agora podemos entender perfeitamente o desenvolvimento da cena, que havia ficado extremamente truncada.
Outra adição saborosa foi a da distribuição dos presentes aos membros da Sociedade, onde é mostrado um lado mais ameno de Galadriel (nos cinemas ela acabou ficando sombria demais), bem como a conseqüente paixão do anão Gimli pela elfa! Ou seja: se o filme que todos viram nos cinemas (ou em DVD) já possuía qualidades inegáveis, a nova versão deixa tudo ainda melhor, mais dramático, rico e profundo, mesmo tendo um ritmo mais lento e sendo, obviamente, bastante longo.
Os Extras Além do filme com 30 minutos a mais e com a opção do som DTS, os dois primeiros DVDs trazem ainda nada menos do que 4 faixas de áudio com comentários da produção, divididos em ''O Diretor e os Roteiristas'', ''O Time de Design'', ''O Time de Produção e Pós-Produção'' e ''O Elenco'' (com participação de Elijah Wood, Ian McKellen, Liv Tyler, Sean Astin, John Rhys-Davies, Billy Boyd, Dominic Monaghan, Orlando Bloom, Christopher Lee e Sean Bean!). Mas é nos próximos dois discos que somos apresentados a uma quantidade inacreditável de extras e bônus.
Só de documentários estilo making of são mais de 12 horas de material, divididos em ''Do Livro à Visão'' (disco 3) e ''Da Visão para a Realidade'' (disco 4), ambos subdivididos em uma série de capítulos nos quais cada aspecto da realização do filme é dissecado de maneira excepcional. De particular interesse é o documentário sobre a criação dos efeitos sonoros (especialmente os ruídos do Balrog feitos a partir do deslocamento de um imenso bloco de concreto!) e as diferentes técnicas usadas para deixar os Hobbits do tamanho correto (fundo azul, perspectiva forçada, uso de bonecos gigantes e dublês anões).
E, se não bastasse tudo isso, os discos ainda trazem mais de duas mil fotos de produção, mapas interativos da Terra-Média, storyboards, testes iniciais de filmagem, animatics comparativos, etc... Certamente quem gostou do filme poderá ver ''A Sociedade do Anel'' de uma forma que nunca sonhou ver antes.
Cotação: *****
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Só para constar: Minha opinião sobre o Oscar
Muita gente me pergunta o que eu acho do Oscar, o prêmio máximo do cinema estadunidense. Bom, apesar de sempre assistir até as altas horas da madrugada, não levo esse negócio a sério. Trata-se de uma premiação da indústria cultural daquele pais, apenas uma espécie de "concurso de popularidade", onde os premiados são via de regra aqueles que mais faturaram nas bilheterias ou os atores que mais grana deram aos estúdios.
Dá pra contar nos dedos das mãos as vezes que premiaram filmes realmente importantes. Por isso, não é surpresa nenhuma ver "Avatar" concorrendo a nove estatuetas! Mas desta vez exageraram: colocar esse filme ridículo indicado a melhor filme e melhor diretor só pode ser piada!
O engraçado é que não tiveram coragem de indicá-lo como "melhor roteiro original", já que é uma reciclagem de "Pocahontas" e "Dança Com Lobos" com pitadas de "Matrix" (talvez poderia entrar como "melhor roteiro adaptado"). Aí vem a pergunta: como um filme pode ser considerado "melhor filme" se seu roteiro não está entre os finalistas? Não faz o menor sentido.
Outra piada pronta do Oscar: indicar "Sherlock Holmes", do abominável Hans Zimmer, como melhor trilha sonora. Será que esses caras não entendem nada do assunto?
Por essas e outras, morro de rir quando vejo profissionais da opinião fazendo mil análises e previsões sobre essa premiação, como se fosse algo para ser levado a sério...
Dá pra contar nos dedos das mãos as vezes que premiaram filmes realmente importantes. Por isso, não é surpresa nenhuma ver "Avatar" concorrendo a nove estatuetas! Mas desta vez exageraram: colocar esse filme ridículo indicado a melhor filme e melhor diretor só pode ser piada!
O engraçado é que não tiveram coragem de indicá-lo como "melhor roteiro original", já que é uma reciclagem de "Pocahontas" e "Dança Com Lobos" com pitadas de "Matrix" (talvez poderia entrar como "melhor roteiro adaptado"). Aí vem a pergunta: como um filme pode ser considerado "melhor filme" se seu roteiro não está entre os finalistas? Não faz o menor sentido.
Outra piada pronta do Oscar: indicar "Sherlock Holmes", do abominável Hans Zimmer, como melhor trilha sonora. Será que esses caras não entendem nada do assunto?
Por essas e outras, morro de rir quando vejo profissionais da opinião fazendo mil análises e previsões sobre essa premiação, como se fosse algo para ser levado a sério...