segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Filmes: "O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus"

ANARQUISTA EM FORMA

É uma obra típica de Terry Gilliam, do Monty Phyton, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas.

- por André Lux, crítico-spam

Depois de uma maré baixa, onde fez dois filmes fracos (“Os Irmãos Grimm” e “Contraponto”) e quase foi à loucura com as filmagens inacabadas de “Dom Quixote”, o anarquista Terry Gilliam volta à forma com “O Mundo Imaginário do Dourtor Parnassos”, filme que acabou ficando famoso por se tratar da última interpretação de Heat Ledger (o Coringa do último “Batman”) que morreu durante as filmagens e quase inviabilizou a finalização da obra.

Mas como a trama é bizarra e cheia de passagens delirantes, Gilliam conseguiu substituir Ledger com sucesso por Johnny Depp, Jude Law e Collin Farrel em momentos chaves do filme que se passam numa espécie de realidade paralela existente dentro de um espelho que é fruto dos poderes paranormais do tal Dr. Parnassus do título (Christopher Plummer em ótimo desempenho), um sujeito que tem uma trupe de circo que se apresenta em becos de Londres e vive há centenas de anos por causa de diversas apostas que fez com o diabo (interpretado pelo cantor Tom Waits). O personagem de Heat Ledger entra na trama depois de ser salvo de um aparente suicídio pela trupe circense e, como perdeu a memória, insere-se ao grupo e tenta injetar sangue novo às apresentações do Dr. Parnassus.

Embora o filme tenha um início truncado e mal alinhavado, tudo melhora quando Ledger entra em cena e as propostas do diretor começam a tomar forma, assim como a crítica à sociedade do consumo e à estupidez de quem faz parte dela acriticamente (que dá o tom à sua obra-prima “Brazil”).

Ou seja, é uma obra típica de Gilliam, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas. O filme lembra em alguns momentos “As Aventuras do Barão Munchausen” (uma de suas melhores obras) tanto na forma quanto no conteúdo e tem relação com “O Pescador de Ilusões”, que também mostrava personagens derrotados vivendo em busca de redenção por meio da imaginação. Há inclusive uma cena completamente maluca dentro do espelho, onde policiais dançam numa espécie de musical, que faz referência direta aos quadros do genial grupo Monty Phyton (do qual Gilliam era o criador das animações).

Enfim, para quem gosta e estava com saudades do bom e velho Gilliam, este filme é um prato cheio.

Cotação: * * * 1/2

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