segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Filmes: "Amor Sem Escalas"

PREGAÇÃO FUNDAMENTALISTA

O que poderia se transformar num ácido retrato da frieza e desumanidade do capitalismo é destruído por mensagem moralista e piegas.

- André Lux, crítico-spam

De vez em quando os profissionais da opinião mundo afora parecem sofrer de uma alucinação coletiva e elegem um filminho bobo e sem graça como sendo algo próximo de uma obra prima da sétima arte.

Fizeram isso novamente com esse “Amor Sem Escalas” (um título nacional idiota que tenta vender o filme como se fosse uma comédia romântica).

Dirigido pelo medíocre Jason Reitman (filho do diretor de “Caça-Fantasmas”) e realizador de outra besteira chamada “Juno” (também louvado inexplicavelmente pela crítica), a única coisa que presta no filme é a presença do carismático George Clooney, à vontade no papel de um executivo especializado em demitir funcionários de empresas que não tem coragem de executar essa ingrata tarefa.

O personagem passa a maior parte de sua vida em aviões viajando de uma cidade para outra e se orgulha de ser tratado como VIP em todos os aeroportos e hotéis que vai e de passar no máximo algumas semanas por ano em sua residência fixa.

O que poderia se transformar num ácido retrato da frieza e desumanidade do sistema capitalista (que inova na crueldade terceirizando até o serviço de demissões!) é destruído por uma necessidade de impor uma mensagem moralista e piegas sobre o “valor da família” e de uma suposta incapacidade do ser humano de ser feliz sozinho.

Assim, o protagonista que, durante o primeiro ato, foi pintado como sendo uma pessoa irônica, bem resolvida, feliz e realizada com sua vida, de repente vira um pobre coitado que passa a invejar até sua irmã medíocre só porque ela vai se casar para levar uma daquelas vidinhas típicas de “Amélia”! Essa é a mensagem que os realizadores querem nos fazer acreditar: só existe felicidade dentro da tradicional estrutura familiar “papai-mamãe-titia” que é a realidade de uma parcela reacionária da sociedade.

Vejam bem, não tenho nada contra nem a favor da família tradicional. O que questiono aqui é essa necessidade de “pregar” um tipo de valor como se ele fosse a única forma de se atingir o nirvana. A partir dessa visão obtusa de mundo, alguém que, por exemplo, decide ser solteiro ou um casal que não quer ter filhos são, necessariamente, infelizes e vazios.

Nada mais ridículo do que ver gente julgando e condenando os outros a partir de seus preconceitos tidos como “verdades absolutas”. Ainda mais no cinema!

Mas o mais ridículo é ver gente idolatrando um filme idiota como esse, que não passa de pregação fundamentalista sutil como um elefante com dor de dentes. Sem comentários.

Cotação: *

12 comentários:

  1. "Juno" já era um tremendo abacaxi, sobretudo por aquele clima teenager meloso e a mensagem anti-aborto. Esse aí deve ficar no mesmo patamar, pelo visto. Se até vender o peixe da estrutura tradicional da família ele vende...

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  2. Cara, não venha nunca para Boa Vista. Aqui é ninho PSDB e DEMO, engraçado, para quem acredita em destino, poderia dizer que ter vindo parar na terra dos reacionários, seria meu destino me tornar um, já uma outra pessoa que tambem acredita em destino, poderia dizer que era meu destino vir trabalhar aqui para aprender a viver longe da familia e ser um imigrante, aprender a viver, e bobagens do tipo. Experiencias pelas quais pessoas da classe media alta nunca irão passar, pois podem muito bem conseguir um emprego com relacoes politicas ou viver sustentado pelos pais.
    eu já vou embora esse ano, não aguento mais. Às vezes me sinto muito irritado com o preconceito que sofro aqui, é muito ruim. A vida aqui é uma merda.
    Abraço.

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  3. Mais um comentário fraco que é guiado pela ideologia.
    André, se todas suas avaliações de filmes forem feitas baseadas na sua ideologia, vc dificilmente vai gostar de um filme. Por isso que vc elogiou aquela bomba que foi o filme sobre a "vida" do Lula.

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  4. André, simplesmente teu entendimento de cinema é muito limitado, o filme trata de coisas bem distintas das que tu escreveu, mais uma "crítica" bastante fraca.
    Mas para quem idolatra Star Wars como uma maravilha cinematográfica, não me surpreende que você escreva esse tipo de coisas.

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  5. Vou ter que discordar dos dois comentários acima. A graça das leituras que o Lux faz sobre filmes é justamente que ele embasa suas resenhas na ideologia. A assinatura do crítico-spam é essa, oras! Mesmo quando eu discordo relativamente dele, como foi no divertido "Avatar", aprendo alguma coisa nova (acabei concordando sobre o final feliz escapista ser um ponto negativo na obra).

    Pode até ser que ele exagere algumas vezes metendo política em tudo, mas eu pelo menos procuro suas resenhas desde a fase E-pipoca já sabendo o que esperar. Não vi este "Amor Sem Escalas", mas os comentários dele sobre o louvou a estrutura familiar tradicional desde já soaram bastante pertinentes. O "Juno", por exemplo, que muita gente leu só como filme teenager inofensivo, me pareceu uma baita campanha anti-aborto. Só que dificilmente o filme é discutido nessa ótica.

    Em tempo: a cinebiografia do Lula é legal sim (apesar das falhas), caramba!

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  6. É por aí mesmo, Cyber. O pessoal tá muito acostumado com aqueles profissionais da opinião doutrinadinhos pelo sistema, que repetem em suas críticas o que leram nas peças publicitárias das obras que comentam...

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  7. Cyber, como vc pode dizer que aquela bomba sobre a vida do Lula é boa?

    O filme só idolatra o Lula, não mostra os defeitos, coisa que seria muito louvavel, pois ninguém é santo!

    A ligação com a bebida, as malandragens do Lula, tudo isso foi ignorado, acho que isso foi que prejudicou o desempenho do filme, pois o que é mostrado na tela não é o Lula humano e sim, uma imagem fantasiosa.

    Toda vez que uma critica é feita com base em ideologia, quase sempre fica ruim.

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  8. O filme é bem ruinzinho mesmo.....American Airlines demais....e quase autoajuda!!!
    Abrazos.

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  9. Ricardo, sem querer me meter na discussão de vocês, acho importante frisar que a ideologia é uma espécie de lente pela qual vemos o mundo. Você tem a sua e eu tenho a minha.

    Os comentários maliciosos e preconceituosos que você fez em relação ao Lula, por exemplo, lão puramente ideológicos. Assim como sua implicância com minhas críticas. Obviamente, se elas fossem ideologicamente alinhadas à direita, você iria aplaudir. Mas como são à esquerda, você esperneia.

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  10. Ricardo, os processos que nos levam à ideologia e ao inconsciente acontecem sem que a gente escolha. Somos atravessados por eles querendo ou não, aceitando ou não. Não é à toa que as teorias de Marx e Freud são tão debatidas e causam arrepios em muita gente até hoje. A ideologia e o inconsciente, juntos, nos fazem tomar certas interpretações como evidentes e naturais (a ponto da gente, muitas vezes, nem entende-las como "interpretações!) enquanto outras nos soam estranhas.

    Por isso, acho meio difícil existir uma análise não-ideológica de um filme, tal como de qualquer outra manifestação artística. Portanto, pedir uma análise "imparcial" de qualquer coisa a meu ver é uma baita ingenuidade. A única coisa que o Lux faz é explicitar o cunho ideológico da interpretação dele (ao invés de dissimular, como muitos críticos fazem - conscientemente ou não), procurando rastrear as marcas discursivas no filme que ele entende como de direita ou de esquerda.

    Deste modo, ele marca o lugar ideológico a partir do qual fala, entendendo que há outras interpretações possíveis e não se julgando "dono da verdade". Pelo menos é o que tenho notado e é o que me faz admirar os textos do cara desde 2002. Mesmo quando eu discordo do que ele diz, gosto da leitura. Além do sujeito escrever bem pra caramba, me faz pensar muitas vezes. Vide o caso do "Avatar", que já citei no outro post.

    Ah, quanto ao filme do Lula, tem lá seus defeitos (não são poucos, admito), mas entre eles com certeza não está a falta de humanização do protagonista, ao menos na minha opinião.

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  11. Excelente a sua explicação Cyber! Realmente, todos tem a sua ideologia. Mas enquanto alguns escolheram conscientemente, outros apenas repetem de maneira inconsciente a ideologia que alguém ou a mídia enfiou-lhes goela abaixo.

    Como você bem disse, eu prefiro explicitar sempre qual é a minha ideologia. Acho mais honesto do que fingir ser imparcial ou isento como faz a maioria dos profissionais da opinião e dos jornalistas por aí.

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  12. Caramba, quando vc guia sua critica pela ideologia, claro que a critica fica prejudicada!Quando se avalia um filme para saber se ele é bom ou ruim, vc deve criticar o roteiro, a direção as interpretações e as partes tecnicas, se fixar apenas em dizer que um filme é panfletário é burrice!

    Quanto ao Lula, não fui preconceituoso, apenas li algumas entrevistas antigas do Lula e li sua biografia.
    Faltou muita coisa no filme, que o presidente gosta de uma cervejinha não é segredo para ninguém, e isso de mandeira alguma mancharia a imagem do presidente, ao contrário, mostraria que ele é uma pessoal normal.
    A impressão que fica que o diretor fez de tudo para não desagradar o presidente.

    Se o filme mostrasse o verdadeiro Lula: Um cara mais malandro, no bom sentido, e não criasse uma figura tão politicamente correta, com certeza não teria sido esse fracasso de bilheteria.

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