Acho que seria pretensão da minha parte fazer uma lista as melhores trilhas de todos os tempos, portanto a lista abaixo é das minhas trilhas preferidas. Com certeza deixei muita coisa boa de fora, mas fazer listas é assim mesmo... E as de vocês, quais são?
1) O IMPÉRIO CONTRA-ATACA (John Williams) – O segundo capítulo da saga original de "Guerra nas Estrelas" tem uma trilha simplesmente primorosa.
Além de possuir dezenas de temas e pequenos “motifs” para cada personagem (até para os robôs R2-D2 e C3PO!), que são as marcas registradas de Williams, conta com uma complexidade orquestral incrível, principalmente nas músicas para as cenas de ação.
Destaque para toda a música que acompanha a sequência da batalha na neve no planeta Hoth, de altíssima complexidade, e para a perseguição nos asteróides acompanhada por um scherzo de tirar o fôlego.
Foi nesta partitura que John Williams criou o insuperável tema do Darth Vader (que não existia no primeiro capítulo da série original). E também o inspiradíssimo tema de Yoda, um dos mais graciosos do cinema.
2) JORNADA NAS ESTRELAS – O FILME (Jerry Goldsmith) – Continua imbatível a trilha para o primeiro filme de Kirk e Spock para os cinemas. O tema principal é sensacional e a faixa “The Enterprise”, um balé maravilhoso que dura mais de cinco minutos e termina de forma arrepiante.
Destaque para o uso do blaster beam, um recurso sonoro impressionante que serve de assinatura para o invasor alienígena V'Ger (Goldsmith era famoso pelos instrumentos inusitados e invetivos que usava em suas partituras).
Recentemente consegui a trilha completa, em 3 CDs, que contém inclusive as faixas originais que o mestre Goldsmith compôs antes de criar o tema principal e foram rejeitas. Simplesmente supimpa!
E pensar que passei anos da minha vida tendo que me contentar em ouvir essa magnífica trilha numa fita K-7 que depois de uns 10 anos simplesmente se desintegrou de tanto ser tocada...
3) ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO (Jerry Goldsmith) – Sem dúvida, em se tratando de música de medo, “Alien” é o que há de melhor. A partitura é basicamente atonal, embora Goldsmith tenha composto um tema romântico para os astronautas que foi pouco usado na montagem final.
O compositor tira sons de arrepiar da orquestra e usa instrumentos inusitados para marcar as aparições do monstro que são de gelar o sangue.
O mais incrível é que quase todas as faixas compostas por Goldsmith para o filme acabaram sendo usadas em cenas diferentes das quais foram criadas e mesmo assim a trilha continua funcionando perfeitamente.
Nem mesmo a inclusão de duas faixas da trilha que Goldsmith escreveu para “Freud” e uma composição de Howard Hanson para o final atrapalham.
Há pouco tempo o selo Intrada lançou um álbum duplo como a trilha completa de “Alien”, com todos os temas originais e as novas composições criadas por Goldsmith para o filme. Imperdível.
4) KRULL (James Horner) – Em minha modesta opinião, essa é a melhor trilha sonora composta por Horner.
Usando um tema vibrante e muito bonito que permeia toda a trilha, o compositor dá vida a um filme que sem a sua música viraria piada.
Mas Horner rege a Orquestra Sinfônica de Londres e segura as pontas, sem ter vergonha de ser grandiloquente ou romântico, no melhor estilo "capa e espada".
Destaque para o Main Title e para a corrida com as éguas de fogo que saem voando pelos céus de Krull (sim, é isso mesmo, você leu direito!).
O bacana dessa trilha é que ela não tem quase nada de material reciclado do próprio Horner, uma de suas características mais irritantes. Também é a mais original do compositor, uma verdadeira obra prima!
E o mais legal é que um selo de colecionadores lançou a trilha completa num CD duplo excelente com 21 faixas, pois a versão oficial original tinha só meia dúzia delas.
5) Trilogia O SENHOR DOS ANÉIS (Howard Shore) – Eu fui um dos poucos que ficaram felizes com a escolha de Howard Shore para compor a música da trilogia de "O Senhor dos Anéis".
É que eu já era fã dele há mais tempo e conhecia seu trabalho mais a fundo.
E ele não decepcionou, pelo contrário. Compôs uma das partituras mais incríveis da história do cinema numa empreitada heróica – os três filmes usam música em quase todas as cenas e esse tipo de opção quase nunca dá certo.
Dos três filmes, minha preferida é a do primeiro, principalmente toda a sequência dentro das minas dos anões, mas as outras duas também são excelentes. Impressiona a riqueza dos temas e da textura sonora que Shore criou para as cenas de batalha.
Para se ter ideia da riqueza e complexidade do seu trabalho, ele teve que compor o tema de Gondor já para o primeiro filme, sendo que ele só iria ser usado em toda sua grandeza no último filme, "O Retorno do Rei", quase quatro anos depois!
Procure as edições completas das trilhas, cujas edições são simplesmente primorosas.
6) CINEMA PARADISO (Ennio Morricone) – Lembro até hoje quando comprei o CD com a trilha desse filme numa lojinha no centro de São Paulo. Foi a primeira vez na minha vida que chorei ouvindo música!
Morricone é um mestre e compôs mais de 400 trilhas, por isso é muito difícil escolher uma trilha preferida dele, mas a tendência é preferir aquelas que mais me emocionam quando lembro do filme.
E "Cinema Paradiso" é a principal delas. A trilha tem um tema central simples, porém muito sensível que passa com perfeição a sensação de nostalgia e amargura que pontua o filme todo. Outro destaque é o pequeno tema cômico que acompanha as aventuras de Totó e Alfredo.
O tema de amor foi composto pelo filho do Compositor, Andrea Morricone, e é belíssimo.
Vale a pena procurar a versão completa da trilha, lançada na europa.
7) EM ALGUM LUGAR DO PASSADO (John Barry) – Essa deve ser a trilha sonora mais romântica do cinema.
E nisso John Barry é mestre, embora no começo de sua carreira fosse mais lembrado como compositor das músicas de ação para os filmes do James Bond.
A trilha de "Em Algum Lugar no Passado" carrega o filme nas costas e é outra que tem lugar garantido entre as preferidas pelos apreciadores do gênero.
Basicamente a partitura gira em torno do tema principal, que é apresentado em diversas versões e leituras através do filme, mas mesmo assim nunca cansa e continua emocionando até hoje.
Existe uma regravação, conduzida por John Debney, que traz a partitura completa do filme e não fica nada a dever da original.
8) BLADE RUNNER (Vangelis) – Ridely Scott só chamou o compositor grego no final do segundo tempo para compor a trilha dessa clássico da ficção científica.
E Vangelis humilhou, criando uma trilha atemporal que vai contra toda a tradição do gênero.
Existencialista, suave e angustiante, a música de “Blade Runner” continua impressionando pela sua inventividade e beleza até hoje.
Infelizmente, devido a problemas contratuais, a trilha nunca foi lançada oficialmente na versão completa e demorou anos para sair numa versão oficial (a primeira era apenas uma releitura feita pela The New American Orchestra!).
Recentemente, saiu um CD triplo supostamente com a partitura completa, porém muitas músicas continuaram de fora e o terceiro CD é só com músicas novas do Vangelis inspiradas no filme, o que irritou muito os apreciadores. Existem várias versões piratas que tentam preencher esse lamentável vácuo.
9) UM CORPO QUE CAI (Bernard Herrmann) – A parceria entre o genial Bernard Herrmann e o diretor Alfred Hitchcock produziu trilhas magníficas e inesquecíveis para o cinema, sendo "Psicose" talvez a mais lembrada e admirada.
Mas para mim a que mais marcou foi a de “Um Corpo Que Cai”.
A partitura de Herrmann é um caleidoscópio de temas e sonoridades complexas que vai se desenvolvendo gradualmente, ajudando o desenrolar do suspense da trama do filme até o final surpreendente.
Um verdadeiro clássico do gênero!
Existem várias versões da trilha, inclusive uma regravação da partitura completa conduzida por Joel McNeely que é muito boa e não fica nada a dever para o original.
10) A MISSÃO (Ennio Morricone) – Essa é a trilha que me fez virar fã de carteirinha do mestre Ennio Morricone quando eu era apenas adolescente e ainda causa impacto até hoje, mesmo tendo gerado um sem número de imitações.
"A Missão" também foi o primeiro filme sério que eu assisti nos cinemas e gostei de verdade, abrindo meus olhos para outros tipo de gênero além de terror, aventura e ficção científica.
O uso de coral na trilha é maravilhoso e emociona até quem não é chegado em religião ou mesmo ateu como eu (o filme é sobre padres jesuítas que lutam para salvar os índios na América do Sul da época da invasão européia, com resultados trágicos).
Não ter ganho o Oscar de melhor trilha sonora em 1987 foi uma vergonha, mas abriu as portas para o compositor italiano que depois escreveu a partitura para dezenas de filmes em Hollywood.
11) CONAN, O BÁRBARO (Basil Poledouris) – Outra trilha que faz extensivo uso de corais em diversas faixas.
É uma verdadeira sinfonia, já que o filme tem pouquíssimos diálogos e é conduzido pela música magistral de Basil Poledouris em quase todas as cenas.
O filme tem seus detratores, por causa da violência excessiva, mas a trilha é sempre lembrada com carinho pelos colecionadores.
Destaque para o tema principal (“Anvil of Crom”) e para a música da batalha final, entre as mais poderosas do cinema, ideal para ouvir quando se está malhando na academia de ginástica!
O selo Varese Sarabande, especializado em música de cinema, lançou a trilha numa versão quase completa e existem versões piratas por aí que clamam trazer a versão completa da obra.
Mas só recentemente o selo Intrada lançou um CD triplo com a trilha completa do filme, mais versões alternativas e a edição do album original com os destaques e diferenças na mixagem.
12) OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA (John Williams) – Depois de “Guerra nas Estrelas” e "Superman", Williams comprova novamente sua maestria em criar temas nesse primeiro filme da série do Indiana Jones, também a trilha mais complexa e memorável dos quatro.
Quem não conhece o tema do protagonista, um dos mais "assobiáveis" do cinema?
O grande destaque da trilha fica sem dúvida com “The Desert Chase”, música para a perseguição do caminhão no deserto que tem quase oito minutos de poder puro, daqueles de deixar a gente sem fôlego!
A trilha do segundo filme é quase tão boa quanto a do primeiro, inclusive usando muito coral de vozes e percussão pesada nas cenas mais arrepiantes.
Foi lançado há alguns tempo um box com a trilha dos quatro filmes da série que traz a partitura (quase) completa dos três primeiros.
13) A LENDA (Jerry Goldsmith) – Essa é considerada uma das mais belas e complexas trilhas do mestre Goldsmith.
Mas, por incrível que pareça, foi rejeitada pelo presidente do estúdio (o mesmo idiota que tentou fazer Terry Gilliam deixar "Brazil" com final feliz!) que exigiu do diretor Ridley Scott uma música mais “pop” para seu conta de fadas!
E o mais triste é que ele aceitou, usando música nova (e fraquinha) do grupo de rock progressivo Tangerine Dream, para irritação máxima de Goldsmith, que nunca mais quis nem saber do diretor Scott.
Felizmente, nas cópias européias do filme (que chegaram a ser exibidas no Brasil na época) a trilha de Goldsmith permaneceu intacta e é o principal motivo do filme continuar a ser lembrado até hoje.
Repleta de temas primorosos, a partitura faz uso extensivo de corais e de orquestrações complexas, além de sons eletrônicos criativos, típicos do mestre.
Para alegria dos apreciadores, a trilha quase completa, conforme havia sido gravada para o filme, foi lançada em CD.
Anos depois o próprio Ridley Scott reconheceu seu erro e relançou o filme em DVD na versão completa, com a música maravilhosa e emocionante de Goldsmith intocada.
14) YOUNG SHERLOCK HOLMES (Bruce Broughton) – Chamado no Brasil de “O Enigma da Pirâmide”, esse filme sobre uma suposta juventude do detetive Sherlock Holmes contou com uma trilha sonora primorosa composta por Bruce Broughton, um dos compositores mais prolíficos dos anos 80.
Perfeitamente adequada para o clima leve do filme, impressiona também quando precisa ser mais dramática ou pesada.
A faixa com coral (“Waxing Elizabeth”) é lembrada com carinho pelos fãs e o tema principal é uma delícia!
Lamentavelmente, a versão completa da trilha foi lançada pela Intrada em versão promocional às custas do próprio compositor e hoje é quase impossível de ser achada, embora existam outras versões piratas, inclusive com as sessões de gravação completas da trilha!
Somente em 2014, a trilha completa foi lançada oficialmente em um album duplo, novamente pela Intrada. Sensacional!
15) FORÇA SINISTRA (Henry Mancini) – O famoso compositor dos filmes da "Pantera Cor de Rosa" e mais lembrado por suas músicas para comédias e romances, compôs uma trilha espetacular para esse filme de terror quase trash sobre vampiros espaciais que são trazidos para a Terra do cometa Halley.
A trilha já começa em alta, com um vigoroso tema principal e não para nunca, principalmente no final apocalíptico do filme, onde Mancini pega você pela garganta e faz maravilhas mesmo tendo como inspiração algumas cenas bem ridículas (mas cheias de efeitos especiais espetaculares).
A música dele é tão boa que, no final das contas, os realizadores imbecis acharam melhor chamar outro músico, no caso Michael Kamen, para compor umas faixas eletrônicas horríveis para usar no lugar da poderosa música orquestral de Mancini!
Ainda bem que na versão lançada em DVD a trilha original está restaurada. O duro é ver o filme sem rir.
Melhor mesmo é comprar o CD duplo lançado há pouco tempo, que inclusive traz a horrível música composta por Kamen.
16) A GUERRA DO FOGO (Philippe Sarde) - Essa é uma trilha sonora realmente "cavernosa"!
Composta por Philippe Sarde para o filme sem diálogos (ao menos inteligíveis) de Jean Jacques Annaud (de "O Nome da Rosa") sobre a luta de um grupo de homens das cavernas para descobrir os mistérios do fogo.
A partitura estritamente orquestral alterna momentos atonais de pancadaria e poder puros, com direito a muitos solos de percussão, com outros mais intimistas relacionados à descoberta do amor pelos protagonistas.
A melhor faixa é justamente o "Love Theme", uma belíssima suíte de cinco minutos que foi usada para encerrar o filme.
Existe uma versão em CD com 14 faixas e outra editada na Europa mais nova com 17.
17) ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (Ennio Morricone) - Para a obra prima do diretor Sergio Leone, Ennio Morricone compôs uma de suas trilhas mais inspiradas, com momentos que fazem arrepiar até o último fio de cabelo, principalmente quando entram os solos vocais de Edda Dell'Orso.
O tema de Deborah é simplesmente sublime, assim como o "Cockey's Song", que conta com solos da flauta Pan de Gheorge Zamfir (que no CD estão com mixagem e performance diferentes do que foi usado no filme).
Morricone também incorpora trechos da canção Amapola em vários momentos da partitura de maneira tocante.
É triste saber que a trilha de "Era Uma Vez Na América" não foi indicada ao Oscar simplesmente porque o estúdio responsável esqueceu de inclui-la na lista de inscrições!
Existem duas versões em CD, uma com 15 e outra com 19 faixas.
18) ADEUS AO REI (Basil Poledouris) - É incrível a capacidade que alguns compositores tem de compor trilhas sensacionais para filmes ruins.
É o caso de "Adeus ao Rei" que Poledouris compôs para esse filme do mesmo diretor de "Conan, o Bárbaro", John Millius, e estrelado pelo Nick Nolte (que passa o filme todo com um penteado lamentável, no estilo "juba de leão").
A partitura alterna momentos de rara beleza e sensibilidade musical com outros mais vigorosos e tem um tema principal majestoso.
A impressão que dá é que o compositor conseguiu entender o espírito do filme melhor do que o diretor, pois muitas vezes a música acaba passando bem mais emoção do que a cena para a qual foi escrita.
Os destaques ficam por conta do "Main Title" e das faixas "Battle Montage", "Nigel's Trip" e "This Day Forth". O selo Prometheus lançou o score completo, com 31 faixas, inclusive algumas alternativas e com mixagem diferente.
19) SUPERMAN - O FILME (John Williams) - O tema criado por Williams para o personagem é tão perfeito que parece que já existia mesmo antes de ser composto.
A música chega literalmente a "cantar" SU-PER-MAN nos créditos iniciais, que estão entre os mais bacanas da história do cinema!
Mas a trilha de "Superman" não é só o tema principal, pois Williams criou toda uma gama de outros temas memoráveis que estão no mesmo nível do que fez de melhor em sua carreira: o tema do planeta Kripton, com seus corais de vozes fantasmagóricas, o tema de amor para Superman e a Lois Lane, que atinge seu auge na faixa "Can You Read My Mind?", e o tema dos vilões, que consegue ser cômico e passar uma sensação de perigo ao mesmo tempo.
Existem duas versões em CD que valem a pena ser adquiridas: um album duplo que traz 35 faixas e outra saiu num box com 8 CDS que trazem todas as trilhas para os quatro filmes do homen de aço, com um total de 37 faixas para o primeiro filme.
20) GREYSTOKE - A LENDA DE TARZAN (John Scott) - John Scott é um dos melhores compositores de música para o cinema. Infelizmente é um dos mais subestimados também.
A maioria das trilhas que escreveu foi para filmes B ou mesmo irremediáveis trashs, como "Yor, o Caçador do Futuro" ou "King Kong 2".
Mas, independente da qualidade do filme, sua música sempre manteve a qualidade. E quando foi chamado para musicar obras classe A, não decepcionou.
É o caso de "Greystoke - A Lenda de Tarzan", do diretor Hugh Hudson, uma releitura hiper realista da famosa história do homem macaco. O tema principal composto por Scott é simplesmente um dos mais sublimes que já escutei em minha vida.
A partitura também é recheada de passagens pesadas e atonais para ilustrar a vida selvagem na selva.
Inacreditavelmente, essa trilha demorou décadas para ser lançada oficialmente em CD e existia apenas em versões piratas!
21) FUGA DE NOVA YORK (John Carpenter & Alan Howarth) - John Carpenter é um dos meus diretores preferidos e seu "Fuga de Nova York" está entre os filmes que mais me marcaram na juventude.
Além de dirigir e escrever roteiros, Carpenter também compôs a trilha musical de quase todos os seus filmes, mesmo não sendo músico! E por incrível que pareça, muitas de suas partituras são realmente boas, perfeitamente adequadas aos filmes.
Embora não tenha o mesmo nível de complexidade das trilhas citadas anteriormente, "Fuga de Nova York" figura entre as minhas favoritas porque traz o filme à cabeça instantaneamente e tem um tema principal super cool!
Composta em parceria com o compositor Alan Howarth, é uma trilha inteiramente eletrônica e minimalista, que lembra algumas composições de Ennio Morricone (Carpenter é fã confesso do compositor, tanto é que trabalhou junto com ele em "O Enigma do Outro Mundo"), porém bastante criativa e interessante mesmo longe do filme.
O CD original da Varese Sarabande tinha apenas 13 faixas, mas foi depois lançada na versão completa com 28 faixas pela Silva Screen.
22) BEN HUR (Miklós Rózsa) - Para muitos, Miklós Rózsa é o maior compositor de trilhas da história do cinema. Jerry Goldsmith resolveu que seria compositor de músicas para filmes depois de assistir "Spellbound" de tão impressionado que ficou com a música composta por Rózsa.
Entre suas obras mais famosas estão "Quo Vadis", "El Cid" e "Rei dos Reis". E, claro, "Ben Hur".
Chamar essa trilha de épica é brincadeira. Trata-se de uma obra simplesmente colossal que pontua o filme com Charleton Heston de maneira primorosa, do começo ao fim. Lembro até hoje da primeira vez que vi o filme.
Foi, obviamente, numa reprise em um cinema de Campinas (que nem existe mais). Eu devia ter uns 12 anos, mas lembro perfeitamente do impacto que "Ben Hur" me causou. Simplesmente não desgrudei os olhos da tela - e olha que estamos falando de um filme com quase quatro horas de duração!
Anos depois consegui comprar a trilha, lançada pela Rhino Discs numa edição super especial com nada menos do que, pasmem, 88 faixas! No quesito épico, essa é mesmo insuperável...
23) FÚRIA DE TITÃS (Laurence Rosenthal) - Laurence Rosenthal é outro excelente compositor que, a exemplo de John Scott, foi criminosamente subaproveitado pelo cinema.
Entre seus melhores trabalhos está, sem dúvida, a trilha que compôs para o último filme do lendário Ray Harryhausen, famoso inventor do sistema stop-motion que utilizava para dar vida a monstros e criaturas delirantes.
Eu assisti a "Fúria de Titãs" no cinema e fiquei noites sem dormir por causa da Medusa! A música de Rosenthal também me marcou muito, principalmente o majestoso tema principal, utilizado em poderoso arranjo, de excelente orquestração, para a cena que Perseus doma o cavalo alado Pegasus.
O filme é uma verdadeira salada de mitos gregos e traz o consagrado Laurence Olivier brincando de Zeus, mas o compositor não dá bola e trata tudo com a maior seriedade. Felizmente, a trilha existe em CD e foi lançanda ainda numa edição espandida, com três faixas a mais do que as 14 originais.
O selo Intrada lançou há alguns ano a versão completa da trilha, em um álbum duplo maravilho.
24) CAÇADOR DO ESPAÇO - AVENTURAS NA ZONA PROIBIDA (Elmer Bernstein) - Elmer Bernstein é um monstro sagrado na arte de compor trilhas para o cinema.
São deles obras inesquecíveis como "Os 10 Mandamentos" e "Sete Homens e Um Destino". Mas minha trilha favorita composta por ele, acredite se quiser, é para um filme quase trash, chamado "Caçador do Espaço - Aventuras na Zona Proibida" que só eu devo lembrar que existe... Coisas de nerd!
Pior é que fiquei anos procurando pela trilha sonora, que só foi lançada recentemente pela Varese Sarabande. Antes ela só podia ser curtida junto com o filme ou num CD pirata de péssima qualidade.
Gosto muito do tema principal, que é uma marcha bem aventuresca, e do tema associado à personagem Niki, que conta com solos de Ondes Martenot, instrumento favorito do compositor, que é uma variante do bizarro Teremin, e que está presente em muitas de suas trilhas.
25) POLTERGEIST (Jerry Goldsmith) - Entre minhas trilhas sonoras favoritas não poderia deixar de citar "Poltergeist". Embora seja música composta para um filme de terror, aqui o mestre Goldsmith vai numa direção contrária à da trilha de "Alien".
Enquanto a segunda era basicamente atonal e repleta de sons sinistros e alienígenas, em "Poltergeist" a partitura baseia-se em primeiro lugar no tema da menina Carol Anne, que pode ser ouvido nos créditos finais com um coral infantil, e que representa a inocência em face do medo.
Goldsmith explora o terror que vem dos espíritos malignos que infestam a casa da família Freeling contrastando suas aparições com o tema da criança. Existem algumas faixas que são de gelar o sangue, como "Twisted Abduction", que pontua a sequência em que Carol Anne é sugada pela porta do armário de seu quarto, ou "Night of the Beast", que é música de terror em estado bruto.
Já outras são mais etéreas e remetem ao sentimento de estupefação e maravilhamento que acontece no primeiro momento do contato com os fantasmas ("The Light").
Mas o melhor da trilha acontece quando Goldsmith une essas duas aproximações com efeitos arrepiantes em "Rebirth", música que pontua a cena do resgate de Carol Anne, repleta de coral de vozes e efeitos orquestrais de grande complexidade.
Nem preciso dizer que quando vi esse filme fiquei também várias noites sem dormir, em grande parte por causa da música espetacular do grande Jerry Goldsmith!
26) CAMPO DOS SONHOS (James Horner) - Gosto de várias trilhas do James Horner, mesmo aquelas que ele plageia algum outro compositor ou a ele mesmo, porém entre as melhores coloque a que criou para o filme "Campo dos Sonhos".
Li em entrevistas com Horner que essa trilha foi sendo composta meio no improviso, junto com as imagens do filme e com os solistas que dela participam - tanto é que na hora de prepará-la para o lançamento em disco, gerou problema o fato de não existir uma partitura escrita para ela!
Essa é uma das trilhas mais inspiradas do compositor, repleta de momentos delicados e reflexivos e temas bonitos que acompanham o filme surpreendente estrelado por Kevin Costner.
Os destaques ficam para a faixa "The Cornfield", que pontua a primeira vez que o protagonista escuta a voz do além afirmando que "se você construir, ele virá", e "The Place Where Dream Come True", que marca o tocante encontro final entre o personagem e o convidado misterioso que aparece em seu campo dos sonhos.
De fazer chorar mesmo o mais barbudo dos marmanjos...
27) QUANDO EXPLODE A VINGANÇA (Ennio Morricone) - Só recentemente eu descobri o genial diretor Sergio Leone em toda sua plenitude. Até então, havia assistido apenas a "Era Uma Vez na América" e alguns pedaços de "Três Homens em Conflito" na TV.
Depois de ver (quase) todos os seus filmes em DVD, cheguei à conclusão que se tratava de um cineasta completo, capaz de extrair o máximo de impacto de cada sequência que filmava, tanto em termos de técnica, quando de atuação. E a música do mestre Ennio Morricone tem papel importantíssimo em seus filmes.
De seus faroestes, a que mais me tocou foi a trilha de "Quando Explode a Vingança", que´é o filme mais político de Leone, mostrando a revolução popular mexicana pelo ponto de vista de um andarilho safado que se une a um membro do IRA, especialista em explodir coisas.
Morricone compôs um tema principal parecido com o de "Era Uma Vez no Oeste", também de Leone, e incorporou nele um solo vocal que canta literalmente "Sean-Sean", que é o nome do personagem irlandês de James Coburn!
Em outra faixa, "A Marcha dos Mendigos", o compositor chega a incorporar um vocal que imita o coachar de um sapo, unido por um solo de bandolim que toca pequeno trecho de Mozart, com resultado altamente cômico!
Para minha sorte, um selo europeu havia acabado de lançar um album duplo com a trilha completa, logo depois de eu ter visto o filme pela primeira vez. Nem preciso dizer que tenho, preciso?
28) IMENSIDÃO AZUL (Eric Serra) - Adoro o mar e, obviamente, filmes sobre ele. Por isso, "Imensidão Azul" está entre meus filmes favoritos.
Claro que a versão do diretor e não a picotada e reduzida que foi exibida na época. E como não poderia deixar de ser, adoro a musica composta por Eric Serra.
Diferente do que estou acostumado a gostar, que é música orquestral, a trilha desse filme é toda tocada em instrumentos pop e sintetizadores, mas nem por isso deixa de ser tocante.
É o tipo de música que agrada a todos - especialmente as mulheres - e que dá uma sensação de alegria imediata. Serra inclui sons que imitam o canto dos golfinhos e solos de saxofone lindíssimos em algumas faixas e encerra a trilha cantando em "My Lady Blue".
Existem dois lançamentos diferentes da trilha de "The Big Blue": uma é um CD simples com 19 faixas e a outra é um CD duplo, com 33.
Absurdamente, nos Estados Unidos a trilha de Eric Serra foi substituída por outra composta por Bill Conti, que nada mais era do que uma cópia mal feita da trilha original! Eta maniazinha ridícula que esses caras tem de mexer naquilo que já estava bom. Depois não entendem porque os filmes fracassam...
29) O SEGREDO DO ABISMO (Alan Silvestri) - Alan Silvestri é um compositor muito irregular. Do tipo que alterna trilhas interessantes como "Predador" e "Contato" com outras abaixo do medíocre.
Estranhamente, é o compositor favorito do diretor Robert Zemeckis, desde que trabalharam juntos em "Tudo Por Uma Esmeralda" e "De Volta Para o Futuro".
Uma de suas trilhas mais eficazes é justamente a que compôs para o ótimo "The Abyss", filme aquático dirigido por James Cameron antes de "Titanic", que me marcou muito na época, principalmente por causa da cena em que o protagonista chega à cidade dos aliens submarinos, a qual me deixou arrepiado da cabeça aos pés.
E grande parte do sucesso dessa obra se deve à trilha de Alan Silvestri, que intercala música orquestral pesada com solos de sintetizador, amarrando tudo no final apoteótico com a presença de coral de vozes. Nem preciso dizer que minha faixa preferida do CD é "Bud on the Ledge", justamente a música que acompanha a chegada do personagem de Ed Harris à majestosa cidade submersa.
O filme foi lançado anos depois numa versão do diretor, que incluia um final bem diferente do original, que contava inclusive com a famosa cena da "onda gigante" criada pelos ETs para obrigar os humanos a acabarem com as hostilidades que estavam para culminar em guerra.
Em 2014 a Varese Sarabande lançou a trilha completa do filme. Imperdível.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
DVD: "CLOVERFIELD"
FILME DE MONSTRO
Eu sei que pode parecer brincadeira, mas quase me borrei de medo assistindo a “Cloverfield”!
- por André Lux, crítico-spam
Eu sei que pode parecer brincadeira, mas quase me borrei de medo assistindo a “Cloverfield”! Pior é que eu nem sei direito dizer o que foi que me assustou tanto, pois o estilo de narrativa é o mesmo de “A Bruxa de Blair”, um filme que não me causou nenhum impacto. Acho que eu tenho um fraco por filme de monstro mesmo.
A verdade é que eu entrei de cabeça no clima alucinado da obra e, do começo ao fim, tive que me segurar no sofá de tanta tensão. Não me sentia assim desde que vi o primeiro “Alien” quando tinha uns 10 anos de idade (filme que me causa pesadelos terríveis até hoje). Claro que não estou comparando as duas obras, apenas ilustrando o medo que senti.
O fato de nunca conseguir ver o monstro direito contribui muito para essa sensação de terror constante, pois você nunca sabe direito o que está atacando nem quando vai acontecer o próximo ataque. Aquela cena no metrô, com as “aranhas”, quase me provocou um ataque cardíaco! E o filme tem ainda várias outras sequências de tirar o fôlego, sempre muito bem engendradas pelo diretor Matt Reeves, embora o verdadeiro “gênio” por trás de tudo seja o produtor J.J. Abrams (o mesmo da série “Lost” e do novo “Star Trek”).
Outra coisa enervante é a sensação de inevitabilidade e tragédia crescente que permeia o filme desde a primeira cena. Não espere, portanto, finais felizes ou redentores nesse “Bruxa de Blair Encontra Godzilla”, embora sabiamente existam momentos de humor e leveza. O filme não tem trilha musical, exceto por uma ótima suíte composta para os créditos finais por Michael Giacchino (colaborador habitual de Abrams), inspirada na obra de Akira Ifukube, famoso compositor dos “Godzillas” japoneses.
Causa estranheza saber que “Cloverfield” não fez muito sucesso na época de seu lançamento e conheço muita gente que não gostou do filme de jeito nenhum. Bom, eu gostei muito e recomendo a quem curte esse tipo de obra. Será que alguém aí gostou também ou fui só eu mesmo?
Cotação: * * * *
Eu sei que pode parecer brincadeira, mas quase me borrei de medo assistindo a “Cloverfield”!
- por André Lux, crítico-spam
Eu sei que pode parecer brincadeira, mas quase me borrei de medo assistindo a “Cloverfield”! Pior é que eu nem sei direito dizer o que foi que me assustou tanto, pois o estilo de narrativa é o mesmo de “A Bruxa de Blair”, um filme que não me causou nenhum impacto. Acho que eu tenho um fraco por filme de monstro mesmo.
A verdade é que eu entrei de cabeça no clima alucinado da obra e, do começo ao fim, tive que me segurar no sofá de tanta tensão. Não me sentia assim desde que vi o primeiro “Alien” quando tinha uns 10 anos de idade (filme que me causa pesadelos terríveis até hoje). Claro que não estou comparando as duas obras, apenas ilustrando o medo que senti.
O fato de nunca conseguir ver o monstro direito contribui muito para essa sensação de terror constante, pois você nunca sabe direito o que está atacando nem quando vai acontecer o próximo ataque. Aquela cena no metrô, com as “aranhas”, quase me provocou um ataque cardíaco! E o filme tem ainda várias outras sequências de tirar o fôlego, sempre muito bem engendradas pelo diretor Matt Reeves, embora o verdadeiro “gênio” por trás de tudo seja o produtor J.J. Abrams (o mesmo da série “Lost” e do novo “Star Trek”).
Outra coisa enervante é a sensação de inevitabilidade e tragédia crescente que permeia o filme desde a primeira cena. Não espere, portanto, finais felizes ou redentores nesse “Bruxa de Blair Encontra Godzilla”, embora sabiamente existam momentos de humor e leveza. O filme não tem trilha musical, exceto por uma ótima suíte composta para os créditos finais por Michael Giacchino (colaborador habitual de Abrams), inspirada na obra de Akira Ifukube, famoso compositor dos “Godzillas” japoneses.
Causa estranheza saber que “Cloverfield” não fez muito sucesso na época de seu lançamento e conheço muita gente que não gostou do filme de jeito nenhum. Bom, eu gostei muito e recomendo a quem curte esse tipo de obra. Será que alguém aí gostou também ou fui só eu mesmo?
Cotação: * * * *
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Cinema: "DISTRITO 9"
PODREIRA COM CONTEÚDO
Filme de ficção científica inusitado poderia muito bem se chamar “Alien Encontra A Mosca na Cidade de Deus”
- André Lux, crítico-spam
“Distrito 9” é um filme inusitado que se não chega a ser essa obra prima toda que a crítica vem apregoando, pelo menos traz novas idéias a um gênero que ultimamente virou refém de pouco conteúdo e muito barulho e efeitos visuais.
Trata-se de uma ficção científica que mistura efeitos especiais e de maquiagem estilo “podreira” com filme político de conteúdo mais sério. Poderia muito bem se chamar “Alien Encontra A Mosca na Cidade de Deus”! Vejam só a história: passa-se em Johanesburgo, na África do Sul, 20 anos depois da chegada de uma nave espacial avariada cheia de aliens esquisitos à beira da morte. Socorridos pelas autoridades, são então jogados num subúrbio da cidade que vira uma verdadeira favela e passam a ser hostilizados pelos humanos, inclusive pelos próprios que sofreram na pele a política racista do Apartheid.
Quando são ameaçados de despejo do Distrito 9 (que é como chamam a favela onde moram), um dos oficiais encarregados acaba contaminado por uma gosma estranha e começa a adquirir características dos aliens, sendo então perseguido pelas autoridades de seu país. A mensagem política aí é clara e até um pouco óbvia, mas sem dúvida muito oportuna: você só vai perceber o quanto o racismo é ruim quando a água bater na sua bunda.
O maior problema do filme é seu roteiro, mal costurado e com alguns furos na lógica. O pior deles é que os aliens obviamente não se sujeitariam a viver naquela situação degradante quando podiam claramente construir todas aquelas armas e veículos de defesa devastadores que tentavam vender aos humanos. Também não fica clara a relação deles com as pessoas da Terra (todo mundo entendia a língua dos aliens e vice-versa?) e o diretor falha em estabelecer de forma mais evidente o Apartheid contra os extraterrestres (o trailer do filme fazia isso de maneira muito melhor). Às vezes, cenas descambam para o nonsense puro, parecendo quase virar filme do Monty Python, quando eram para serem levadas a sério.
Mas essas falhas são compensadas por um estilo de narrativa ágil e movimentada, com muita câmera na mão (imitando mesmo a fotografia de “Cidade de Deus”) e recursos de documentários (com alguns depoimentos feitos diretamente para a câmera). Os efeitos visuais também são muito bons e perfeitamente integrados na história – embora algumas cenas nojentas desnecessárias possam afugentar os mais sensíveis.
Não causa espanto que o filme tenha sido produzido por Peter Jackson, que fez a trilogia “Senhor dos Anéis”, até porque seu primeiro filme é um terror trash repleto de sangue chamado “Bad Taste” (mau gosto). Para mim, “Distrito 9” seria melhor se fosse mais irônico (a trilha musical pesada e melodramática que por vezes lembra o "Batman" do Hans Zimmer também não ajuda muito) e tivesse uma conclusão mais forte (o final é uma decepção), mas mesmo assim é uma boa pedida para quem gosta do gênero.
Cotação: * * *
Filme de ficção científica inusitado poderia muito bem se chamar “Alien Encontra A Mosca na Cidade de Deus”
- André Lux, crítico-spam
“Distrito 9” é um filme inusitado que se não chega a ser essa obra prima toda que a crítica vem apregoando, pelo menos traz novas idéias a um gênero que ultimamente virou refém de pouco conteúdo e muito barulho e efeitos visuais.
Trata-se de uma ficção científica que mistura efeitos especiais e de maquiagem estilo “podreira” com filme político de conteúdo mais sério. Poderia muito bem se chamar “Alien Encontra A Mosca na Cidade de Deus”! Vejam só a história: passa-se em Johanesburgo, na África do Sul, 20 anos depois da chegada de uma nave espacial avariada cheia de aliens esquisitos à beira da morte. Socorridos pelas autoridades, são então jogados num subúrbio da cidade que vira uma verdadeira favela e passam a ser hostilizados pelos humanos, inclusive pelos próprios que sofreram na pele a política racista do Apartheid.
Quando são ameaçados de despejo do Distrito 9 (que é como chamam a favela onde moram), um dos oficiais encarregados acaba contaminado por uma gosma estranha e começa a adquirir características dos aliens, sendo então perseguido pelas autoridades de seu país. A mensagem política aí é clara e até um pouco óbvia, mas sem dúvida muito oportuna: você só vai perceber o quanto o racismo é ruim quando a água bater na sua bunda.
O maior problema do filme é seu roteiro, mal costurado e com alguns furos na lógica. O pior deles é que os aliens obviamente não se sujeitariam a viver naquela situação degradante quando podiam claramente construir todas aquelas armas e veículos de defesa devastadores que tentavam vender aos humanos. Também não fica clara a relação deles com as pessoas da Terra (todo mundo entendia a língua dos aliens e vice-versa?) e o diretor falha em estabelecer de forma mais evidente o Apartheid contra os extraterrestres (o trailer do filme fazia isso de maneira muito melhor). Às vezes, cenas descambam para o nonsense puro, parecendo quase virar filme do Monty Python, quando eram para serem levadas a sério.
Mas essas falhas são compensadas por um estilo de narrativa ágil e movimentada, com muita câmera na mão (imitando mesmo a fotografia de “Cidade de Deus”) e recursos de documentários (com alguns depoimentos feitos diretamente para a câmera). Os efeitos visuais também são muito bons e perfeitamente integrados na história – embora algumas cenas nojentas desnecessárias possam afugentar os mais sensíveis.
Não causa espanto que o filme tenha sido produzido por Peter Jackson, que fez a trilogia “Senhor dos Anéis”, até porque seu primeiro filme é um terror trash repleto de sangue chamado “Bad Taste” (mau gosto). Para mim, “Distrito 9” seria melhor se fosse mais irônico (a trilha musical pesada e melodramática que por vezes lembra o "Batman" do Hans Zimmer também não ajuda muito) e tivesse uma conclusão mais forte (o final é uma decepção), mas mesmo assim é uma boa pedida para quem gosta do gênero.
Cotação: * * *
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Filmes: "BASTARDOS INGLÓRIOS"
EXERCÍCIO DE ESTILO INTERMINÁVEL
Filme tem duas ou três cenas engraçadas, mas não passa de uma chatice de um diretor que não tem nada a dizer e limita-se a ficar namorando o próprio umbigo.
- André Lux, crítico-spam
Quentin Tarantino enfrenta a mesma sina de todos os ex-garotos prodígios de Róliudi. Depois de ter feito duas obras geniais (“Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”), começou a se repetir na tentativa de reinventar a roda novamente. Mas, assim como “Jackie Brown” e “Kill Bill”, esse seu último longa “Bastardos Inglórios” também não apresenta nada de novo para o seu currículo, tornando-se meramente um interminável exercício de estilo do cineasta.
Novamente citando inúmeras obras cinematográficas do passado e imitando descaradamente o estilo do diretor Sergio Leone, Tarantino perde um tempo incrível construindo longas sequências que terminam quase sempre de forma abrupta e sem graça. Ou seja, muito diferente do vigor inventivo e chocante de “Pulp Fiction”. Não sabe nem mesmo aproveitar os Bastardos Inglórios do título, um comando que caça e trucida nazistas. Até as cenas de violência, marca registrada do diretor, parecem forçadas e gratuitas.
Outro problema que ajuda a implodir o filme é a presença de Brad Pitt, um ator limitado e canastrão que só funciona raramente em papéis que exigem o mínimo dele. Aqui ele faz o comandante dos Bastardos Inglórios, um personagem totalmente caricato que só funcionaria nas mãos de um ator realmente bom. É só comparar Pitt com Christoph Waltz que faz o oficial alemão caçador de Judeus. O segundo dá um banho de interpretação num personagem igualmente caricato, enquanto Pitt só consegue parecer um bobo alegre.
Irrita também a mania de Tarantino de usar músicas de outros filmes, a maioria composta por Ennio Morricone. Por que o diretor simplesmente não contrata o veterano compositor, ainda na ativa, para criar uma trilha inédita para seu filme? Sem dizer que, para os conhecedores da música do cinema, a cena é destruída porque ficamos imediatamente tentando lembrar de qual filme é aquela música!
A trama de “Bastardos Inglórios” é pífia e toda a sequência final dentro do cinema é tola e não convence nem um pouco. O mesmo pode-se dizer da escolha final do vilão nazista, totalmente sem lógica depois de toda a construção feita em cima de seu personagem.
O filme tem duas ou três cenas engraçadas, algumas boas sacadas (como chamar um dos personagens de Antonio Margheriti, que é o nome verdadeiro do diretor do trash "Yor, O Caçador do Futuro"), mas é só. No final, não passa de uma chatice interminável de um diretor que já perdeu a mão, não tem mais nada a dizer e limita-se a ficar namorando o próprio umbigo. Termina inclusive com uma frase reveladora: “Acho que essa é sua obra prima”, diz um dos personagens direto para a câmera. Mas não é mesmo!
Cotação: * *
Filme tem duas ou três cenas engraçadas, mas não passa de uma chatice de um diretor que não tem nada a dizer e limita-se a ficar namorando o próprio umbigo.
- André Lux, crítico-spam
Quentin Tarantino enfrenta a mesma sina de todos os ex-garotos prodígios de Róliudi. Depois de ter feito duas obras geniais (“Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”), começou a se repetir na tentativa de reinventar a roda novamente. Mas, assim como “Jackie Brown” e “Kill Bill”, esse seu último longa “Bastardos Inglórios” também não apresenta nada de novo para o seu currículo, tornando-se meramente um interminável exercício de estilo do cineasta.
Novamente citando inúmeras obras cinematográficas do passado e imitando descaradamente o estilo do diretor Sergio Leone, Tarantino perde um tempo incrível construindo longas sequências que terminam quase sempre de forma abrupta e sem graça. Ou seja, muito diferente do vigor inventivo e chocante de “Pulp Fiction”. Não sabe nem mesmo aproveitar os Bastardos Inglórios do título, um comando que caça e trucida nazistas. Até as cenas de violência, marca registrada do diretor, parecem forçadas e gratuitas.
Outro problema que ajuda a implodir o filme é a presença de Brad Pitt, um ator limitado e canastrão que só funciona raramente em papéis que exigem o mínimo dele. Aqui ele faz o comandante dos Bastardos Inglórios, um personagem totalmente caricato que só funcionaria nas mãos de um ator realmente bom. É só comparar Pitt com Christoph Waltz que faz o oficial alemão caçador de Judeus. O segundo dá um banho de interpretação num personagem igualmente caricato, enquanto Pitt só consegue parecer um bobo alegre.
Irrita também a mania de Tarantino de usar músicas de outros filmes, a maioria composta por Ennio Morricone. Por que o diretor simplesmente não contrata o veterano compositor, ainda na ativa, para criar uma trilha inédita para seu filme? Sem dizer que, para os conhecedores da música do cinema, a cena é destruída porque ficamos imediatamente tentando lembrar de qual filme é aquela música!
A trama de “Bastardos Inglórios” é pífia e toda a sequência final dentro do cinema é tola e não convence nem um pouco. O mesmo pode-se dizer da escolha final do vilão nazista, totalmente sem lógica depois de toda a construção feita em cima de seu personagem.
O filme tem duas ou três cenas engraçadas, algumas boas sacadas (como chamar um dos personagens de Antonio Margheriti, que é o nome verdadeiro do diretor do trash "Yor, O Caçador do Futuro"), mas é só. No final, não passa de uma chatice interminável de um diretor que já perdeu a mão, não tem mais nada a dizer e limita-se a ficar namorando o próprio umbigo. Termina inclusive com uma frase reveladora: “Acho que essa é sua obra prima”, diz um dos personagens direto para a câmera. Mas não é mesmo!
Cotação: * *
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
domingo, 4 de outubro de 2009
Cine Trash: "Inteligência Artificial (I.A.)"
PINÓQUIO METIDO A BESTA
Se alguém perguntou "Como 'Blade Runner' seria se tivesse sido dirigido pelo Ed Wood, o pior diretor de todos os tempos?", a resposta só pode ser: “Inteligência Artificial”.
- por André Lux, crítico-spam
Não se deixe enganar pela publicidade enganosa em torno de uma união entre o cerebral (e brilhante) Stanley Kubrick e o emotivo (e imaturo) Steven Spielberg. A verdade é que se Kubrick realmente procurou Spielberg para realizar esse projeto deve ter sido apenas para servir como algum tipo de consultor de efeitos especiais, já que o segundo é um expert na nova tecnologia digital que existe hoje à disposição e que Kubrick obviamente não dominava.
Mas Kubrick morreu precocemente e com ele foi também o projeto original, já que esse “Inteligência Artificial” (A.I.) parido por Spielberg não é nada mais do que uma revisão metida a besta da história clássica de "Pinóquio" - ser artificial (no caso, um robô) em busca de uma maneira de tornar-se humano. “A.I.” lembra também o eficiente, mas irregular, “O Homem Bicentenário”, de Chris Columbus, só que produzido com a habitual pretensão e maniqueísmos dos novos projetos de Spielberg, diretor estadunidense que ganhou fama e fortuna realizando no passado filmes de aventura e fantasia extremamente eficientes e empolgantes.
Infelizmente, não estava satisfeito e precisava da aprovação (a busca por ela é tema constante em sua obra) dos membros da academia de cinema de Hollywood e, portanto, passou a tentar fazer filmes "sérios" e "maduros" para finalmente ganhar seu Oscar - o que ele conseguiu com “A Lista De Schindler”, seu único filme que chegou perto de ser realmente adulto. Só que “A.I.” é mais uma dessas aberrações arrastadas e insuportáveis cometidas por ele nos últimos anos, que não funcionam nem como entretenimento e muitos menos para provocar discussões sérias, assim como os também equivocados “Amistad” ou “O Resgate Do Soldado Ryan”.
E o mais grave é que “A.I.” é ruim em todos os aspectos. A começar pelo roteiro (creditado como sendo do Spielberg sozinho) que é cheio de furos, mal estruturado e nem ao menos tenta explicar direito a lógica daquele mundo futurista, limitando-se a mostrar carros e boates decorados com risíveis frisos de luz neon. A verdade é que o visual do filme é fraco e inconvincente como um todo, onde o design visual de cada nova locação parece não ter conexão lógica com o anterior. Personagens vão e voltam sem maiores explicações - repare como o "Gepeto", interpretado pelo sonolento William Hurt, simplesmente desaparece após proferir suas explicações didáticas (com direito a lição de moral sobre a alegria de ser humano!) no final do filme.
Além disso, “A.I.” tem cenas absolutamente ridículas, que o elevam à invejável categoria de filme trash, como toda a sequência da "Feira de Peles", onde somos obrigados a ver andróides bonzinhos sendo despedaçados sadicamente ao som de Rock'n Roll pesado (mais um ensinamento de Spielberg: quem ouve esse tipo de música é vilão e insensível). Isso sem falar na inclusão de um tal de "Dr. Saber" (um bonequinho digital irritante com a voz de Robin Williams), um artifício inventado pelo roteiro que serve apenas para tentar dar continuidade à trama sem pé nem cabeça - mesmo porquê não havia como os cientistas conhecerem, muito menos premeditarem a busca do robozinho (Haley Joel Osment, cuja atuação limita-se a alternar "cara de bobo" e "cara de coitado").
Robobo és |
Isso sem falar no final, que é de uma inverossimilhança e pieguice impressionantes, no qual robôs futuristas com visual brega-chique copiado dos marcianos de “Missão Marte”, aparecem para garantir que o filme tenha um "final feliz" açucarado e manipulativo ao extremo. Dá pena do compositor John Williams, que é obrigado a repetir suas trilhas para “E.T.” e “Contatos Imediatos” na tentativa de arrancar lágrimas da platéia entorpecida.
Não dá nem para dizer que vale a pena assistir por causa dos efeitos especiais, já que hoje em dia com o advento da computação gráfica qualquer um pode fazer efeitos como o do filme. É só ter alguns milhões de dólares para torrar. Nada a ver com aqueles efeitos que o pessoal fazia na raça, à mão, em filmes como “Superman” ou mesmo “2001”, que impressionam até hoje pela sua originalidade e genialidade.
A.I acabou fazendo algum sucesso, é claro, pois é impossível resistir ao marketing em torno de um projeto como esse. Entretanto, vai agradar apenas a quem ainda sente obrigação de idolatrar o Spielberg (por causa dos filmes legais que fez no passado) ou acredita nas matérias pagas publicadas em revistas como Veja ou Set.
Se alguém um dia perguntou "Como “Blade Runner” seria se tivesse sido dirigido pelo Ed Wood, o pior diretor de todos os tempos?", a resposta só pode ser: “Inteligência Artificial”. Stanley Kubrick deve ter revirado-se em sua tumba com tanta canastrice...
Cotação: *