sexta-feira, 19 de março de 2021
Snyder's Cut de "Liga da Justiça" é melhor, porém peca pelo excesso
sexta-feira, 12 de março de 2021
“WandaVision” mistura sitcom com o universo Marvel e tem resultado capenga
- por André Lux
Não deu para entender o que a Marvel quis exatamente com
essa série “WandaVision”. A impressão que fica é que alguém falou: “Ei, que tal
colocar os personagens numa espécie de sitcom antiga?”, acharam genial e, a
partir dessa premissa mínima, começaram a construir o roteiro de forma capenga.
A série começa com Wanda e Visão num daqueles programas cômicos
em preto e branco dos anos 1960, tipo “Dick Van Dyke” e “A Feiticeira”, com direito
a trejeitos exagerados e faixa de risadas. Algumas pequenas pistas de que a
realidade não é bem aquela aparecem, mas é só mesmo a partir do terceiro
episódio que as explicações começam a ser apresentadas e as pontas com o universo
Marvel vão sendo atadas.
O problema é que essas duas realidades não casam e
levantam um monte de perguntas que acabam não sendo respondidas (tipo, por que
e como Wanda gravava e transmitia a vida deles para fora do escudo de força?).
E nos últimos episódios qualquer traço de originalidade dá lugar às velhas
lutas com raios e pancadarias genéricas de sempre.
Os realizadores enfiam vários fan-services durante os
episódios, porém acabam tendo pouco impacto na trama, sendo o pior colocarem o
ator que fez o Mercúrio nos “X-Men” da Fox como o irmão da Wanda, o que gerou
uma avalanche de teorias, mas que no fim era só uma besteira sem nexo que culminou
com uma piada sexual rasteira.
O fato de Wanda estar sofrendo com o luto pela morte do
Visão em “Vingadores: Guerra Infinita” não é justificativa para os atos dela e
o fato de encerrarem a série sem maiores consequências deixa tudo com um gosto mais
amargo.
É uma pena que não souberam aproveitar a interessante premissa
melhor, desperdiçando o talento dos atores Elizabeth Olsen e Paul Bettany em
episódios que possuem sequências muito boas desconectadas do todo, mas que
deixam a desejar no âmbito geral do que tentaram construir.
Cotação: * * *
terça-feira, 9 de março de 2021
"Nomadland" retrata o fim do "sonho americano"
PESADELO AMERICANO
“Nomadland” é um filme duro, árido, triste, feito quase todo
com atores amadores que trazem verdade em seus relatos do fim do “sonho
americano”
- por André Lux
“Nomaldland” é mais um filme que descreve de maneira quase
documental o fim do chamado “sonho americano” focando na personagem Fern feita
pela sempre excelente Frances McDormand. Ela é apenas mais uma vítima da
ideologia do capitalismo selvagem neoliberal que tomou conta do mundo depois da
queda do muro de Berlim, quando os donos do poder econômico decidiram que não
era mais necessário manter o “Estado de Bem Estar Social” que garantia uma vida
decente aos proletários a fim de manter afastado o fantasma da revolução
comunista.
Fern vivia na cidade Empire que simplesmente desapareceu do
mapa depois que a maior fábrica faliu e fechou as portas com a crise de 2008.
Já com mais de 50 anos e sem perspectiva de conseguir um emprego fixo, resta a ela
viver num pequeno trailer e trabalhar em subempregos esporádicos.
O filme dirigido pela chinesa Chloé Zhao mostra a rotina da
protagonista em seus trabalhos e interações com outras pessoas, entre elas muitas
vivendo em situação precária como ela sem qualquer expectativa de sair daquela
condição. São seres humanos catatônicos que vivem um dia depois do outro
desprovidos de brilho e de qualquer ajuda governamental, basicamente esperando
a morte chegar.
Em um de seus encontros, Fern conversa com uma idosa que
conta a ela que desistiu de se suicidar porque ficou com pena de seus cães e
que foi atrás de seus direitos só para descobrir que após uma vida de trabalho
duro tinha apenas 500 dólares de direitos trabalhistas para resgatar.
“Nomadland” é um filme duro, árido, triste, desesperançoso, feito
quase todo com atores amadores que trazem grande verdade em seus relatos do que
é hoje o “pesadelo americano”.
Cotação: * * * *
quinta-feira, 4 de março de 2021
Filmes: "A Múmia" (1999)
- por André Lux
Depois conseguir inesperado sucesso com o divertido e assumidamente "trash" "TENTÁCULOS" (Deep Rising), o diretor Stephen Sommers recebeu carta branca para realizar essa pseudo-refilmagem do clássico estrelado por Boris Karloff nos anos 30. Entretanto, A MÚMIA nova está mais para Indiana Jones e comédia do que qualquer outra coisa.
Só que as cenas de ação são fracas e inconvincentes e as piadas não funcionam como se esparava. O filme, no final das contas, é basicamente uma longa propaganda da ILM, empresa de George Lucas especializada em efeitos visuais, que mostra aqui tudo que havia de novo em termos de computação gráfica na época - hoje já datados.
O roteiro não segue nenhuma lógica aparente, limitando-se a criar situações que vão inevitavelmente acabar em um efeito especial, quase sempre exagerado ou grotesco (o pior mesmo são os ataques dos besouros devoradores de gente...).
Portanto, não espere sutilezas nos ataques da Múmia - ela lança chuva de meteoros sobre a cidade ou é capaz de criar uma gigantesca tempestade de areia, mas no momento decisivo sai apenas "no braço" para tentar vencer o herói (Brendan Fraser).
O filme só não é uma lástima total graças ao elenco razoável, à fotografia colorida e pulsante de Adrian Biddle e à trilha musical grandiosa de Jerry Goldsmith.
E olhe lá...
Cotação: **1/2
Filmes: "007 Um Novo Dia Para Morrer"
JAMES BOND EM RÍTIMO DE "BABA BABY"
Canção repulsiva de Maddona dá o tom desse que é o pior (mas mais lucrativo) filme da série com o agente inglês
Não sou nehum purista (daqueles que só gostam do que é velho), portanto posso afirmar com tranqüilidade que esse novo filme do James Bond, UM NOVO DIA PARA MORRER, é, de longe, o pior de toda a série. Ainda mais lamentável que o já péssimo O AMANHÃ NUNCA MORRE.
O que dizer então de James Bond, o maior espião do mundo, deixar-se ser preso por um bando de coreanos malvados e passar 14 meses sendo torturado? E ainda por cima colocaram o Pierce Brosnan (cuja atuação é tão burocrática que beira o catatônico) sem camisa, com cara de mendigo, fazendo o maior esforço para encolher a barriga. Tenha santa paciência... A cena dele surfando de pára-quedas foi digna das maiores vaias! Parecia desenho animado ou video-game de tão mal feita. Os efeitos visuais do filme, diga-se de passagem, são péssimos - nem em DR. NO, o primeiro da série, eram tão primários e toscos assim.
Pior é o final, onde aparece transando com a agente Jinx (Halle Berry, visivelmente constrangida) dentro de um templo budista! Dá pra entender a revolta dos Coreanos com a fita (se parece bobagem, imaginem então o contrário: um filme coreano onde no final o herói fizesse sexo dentro de uma igreja cristã, em cima do altar e embaixo da cruz... Ia ter gente declarando guerra contra o país na mesma hora!).
A canção da Maddona é repulsiva e parece mesmo uma cópia piorada (se é que isso seja possível) de "Baba Baby" da Kelly Key, assim como toda a sequência de abertura (que é uma longa e estilizada sessão de tortura!). A trilha orquestral de David Arnold é absurdamente bombástica para conseguir ser ouvida sobre o infinito número de explosões irritantes.
Resumindo: um desastre total, ofensivo até, que não serve nem para fazer rir (como, por exemplo, fazia aquele em que Roger Moore lutava contra o rei do Voodoo). Mas, em contrapartida, é o filme da série que está mais lucrando nas bilheterias. Sinal de que tem gente que gosta. Eu, francamente, não sou um deles.
Cotação: *
Filmes: "007 O Amanhã Nunca Morre"
Pierce Brosnan retoma o personagem James Bond neste que é sem dúvida um dos piores filmes da série com o famoso agente secreto britânico.
Erraram em praticamente tudo: as cenas de ação são forçadas e exageradas, a trama é inverossímil e os vilões totalmente caricatos - onde nem o competente Jonathan Price se salva, perdendo-se em um atuação constrangedora que o transforma num tipo de sósia do Moacir Franco.
Brosnam está menos convincente do que em sua estreia em GOLDENEY, limitando-se aqui a fazer caras e bocas em uma caracterização extremamente superficial. Parece estar debochando do papel.
O filme tem uma trama pretensamente moderna - dono de rede de comunicação manipula e cria eventos e tragédias para poder noticiá-los em primeira mão - mas é tudo mostrado de forma tão canhestra e primitiva que fica difícil levar a sério seus planos mirabolantes e o interesse vai por água abaixo.
E o que sobra é o 007 correndo de um lado para o outro em perseguições que beiram o ridículo (como a do carro guiado por controle remoto!) ou que não tem razão de ser (para que ficar pulando de moto sobre telhados quando era só ficar parado dentro de uma das casas até o helicóptero ir embora?).
A série James Bond, que sempre primou por enredos inteligentes e soluções engenhosas, parece ter finalmente sucumbido à nova tendência do cinema moderno americano que prima por muita ação e pouco (ou nenhum) cérebro...
Cotação: *
Filmes: "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban"
- por André Lux
Existem duas maneiras de se analisar um filme como “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”. A primeira como um produto industrial muito bem acabado e feito na medida certa para agradar o culto que segue os livros criados pela escritora J.K. Rowling. Já a outra como uma obra cinematográfica e, como tal, sujeita à analise de todos os fatores que a compõe, inclusive a elaboração de seu roteiro e o sentido dos acontecimentos para o desenvolvimento da narrativa.
Se você não é fanático pelo personagem, nem leu os livros que deram origem aos filmes, certamente só vai poder analisá-los pela segunda opção. E é justamente aí que os filmes da franquia derrapam em grande estilo. A produção pode ser caprichada, os atores simpáticos e eficientes, a fotografia bonita, a música excelente, mas em se tratando de roteiro a série é um fracasso retumbante. Não há como negar que a autora soube captar o imaginário infantil com suas histórias repletas de figuras míticas e passagens repletas de maravilhas visuais, mas é no desenvolvimento das tramas que ela revela sua maior fraqueza.
E isso, que estava refletido nas duas outras produções da franquia, fica aqui mais do que comprovado. Afinal, analisadas sob esse prisma, as narrativas dos três filmes são praticamente idênticas, ou seja, começam, desenvolvem-se e terminam sempre do mesmo jeito. As únicas coisas que mudam são os antagonistas de Potter, os professores que dão novas aulas e os motivos que os levam ao confronto final. Mas todo o resto é de uma similaridade que chega a ser constrangedora.
Também não é difícil notar que a autora cria seqüências sem a menor lógica ou razão de ser só para poder concluí-las de maneira grandiosa. O exemplo mais evidente disso é a cena na qual Hagrid, recém promovido a professor, leva as crianças para interagirem com um hipogrifo, espécie de cavalo alado com cabeça de pássaro de temperamento imprevisível e que pode ser até fatal. Mas que tipo de aula é essa na qual um professor leva seus alunos para conhecer uma besta feroz sem qualquer proteção? Obviamente, a única razão de ser dela é mostrar Harry conquistando a amizade do animal só para, em seguida, sair voando com ele numa cena bonita e grandiosa, mas desprovida de qualquer coerência ou sentido.
Esse tipo de abordagem certamente não vai incomodar as crianças que não ligam para esse tipo de coisa - e é por isso que a saga de Harry Potter tornou-se um triunfo. Mas para o resto dos mortais os filmes do aprendiz de bruxo podem ser uma experiência enfadonha até, especialmente por causa de sua excessivamente longa duração e pela insistência em construir sequências que não tem nenhuma razão de existir, a não ser para gerar um clímax bonito. É particularmente irritante a parte final do filme, na qual a trama descamba de vez fazendo as ações dos supostos vilões tornarem-se totalmente incompreensíveis.
Confesso que, embora não tenha gostado dos primeiros dois filmes, estava até com muita vontade de ver esse “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, principalmente por causa da direção de Alfonso Cuarón que, imaginei, seria capaz de injetar sangue novo à franquia. Mas, por mais que ele se esforce em dar um tom mais sombrio e enérgico à narrativa (deixando inclusive o compositor John Williams mais livre para criar uma música mais forte e pesada), fica impossível para o mexicano (autor de “E Sua Mãe Também”) mudar muita coisa quando tem em mãos um roteiro tão inconsistente e sobre a sua cabeça a sombra da escritora impedindo qualquer mudança ou enriquecimento narrativo. O trabalho de Cuarón, no final das contas, é meramente burocrático e não chega a parecer muito diferente do que o realizado pelo anterior, Chris Columbus, que foi acusado de mediocridade injustamente afinal.
Reveladas as falhas e limitações do texto original, resta a “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” agradar em cheio aqueles que obviamente vão analisar o filme pelo prisma do culto e da beleza do projeto. Por isso, o terceiro filme da franquia foi um sucesso estrondoso comprovando de maneira cabal que de boba a escritora J.K. Rowling não tem nada...
Cotação: ***