quarta-feira, 17 de junho de 2020

Filmes: A LIGA EXTRAORDINÁRIA



LIXO EXTRAORDINÁRIO

Mais um filme de fantasia pavoroso que tentam salvar enfiando um monte de efeitos visuais exagerados

- por André Lux


Houve um tempo em que filmes de aventura e fantasia tinham que ser fortemente baseados em bons roteiros, direções inventivas e interpretações vigorosas caso contrário virariam motivo de chacota, já que naquela época não havia tecnologia disponível para grandes tomadas com efeitos visuais. Isso antes do advento da computação gráfica, recurso que (como toda inovação) pode tanto ser usado para o ‘bem’, quanto para o ‘mal’. Infelizmente, diferente de obras como O SENHOR DOS ANÉIS de Peter Jackson, essa A LIGA EXTRAORDINÁRIA é só mais um exemplo de um filme mal feito que tentam salvar inserindo centenas de tomadas geradas em computador.

O que não deixa de ser uma pena, já que a premissa é até interessante: pretende reunir vários personagens famosos da era Vitoriana inglesa - o Homem Invisível, Allan Quartermain (de ‘As Minas do Rei Salomão’), Capitão Nemo (de ‘Vinte Mil Léguas Submarinas’ que aqui virou um tipo de sultão árabe embora o personagem seja indiano!), Dr. Jekyl (que vira Mr. Hyde), Mina (de ‘Drácula’), Dorian Gray (do livro de Oscar Wilde) e Tom Sawyer (criado por Mark Twain) - numa Liga que precisa combater um vilão terrível.

Apesar de ter sido baseado numa obra de Alan Moore (o gênio por trás de grandes quadrinhos como WATCHMEN e V DE VINGANÇA) o roteiro de James Robinson é muito ruim, truncado e não explica nada direito. Pior, tem um monte de furos, como um vampiro que anda à luz do dia e usa um espelho para retocar a maquiagem, além de uma cena ridícula perto do final quando o Homem-Invisível aparece depois de andar pelado numa nevasca para não ser visto!

Mas o que mais incomoda é realmente a ruindade da produção. A começar pela fotografia escura e sem colorido. O desenho de produção também é pavoroso, tendo como ponto mais baixo o submarino Nautilus, uma total aberração tanto em termos de design como concepção (é ridiculamente gigantesco sem necessidade e super avançado, chegando até a lançar mísseis – isso em 1890!).

O astro Sean Connery (aqui no papel de Allan Quartermain, que assina também como produtor executivo) brigou feio com o diretor Stephen Norrington (do também ruim BLADE – O CAÇA VAMPIROS) durante as filmagens. E, a julgar pelo que se vê na tela, o ator tinha razão. A direção de Norrington é péssima, sem rumo, deixa os atores perdidos ou descontrolados (a má vontade de Connery com o projeto fica evidente em sua atuação burocrática e infelizmente esta foi sua última aparição nas telas), cheia de enquadramentos ruins e falhas gritantes. Há, por exemplo, uma cena no mar enquanto o Nautilus deslancha a uma velocidade absurdamente alta, enquanto os atores aparecem na torre de comando conversando ao ar livre sem que haja qualquer vento ou mesmo movimento no oceano atrás deles!

São erros toscos como essa que deixam o filme quase insuportável, ainda mais quando tentam consertar isso (ou será disfarçar?) enfiando um monte de efeitos visuais exagerados e apelando para uma edição rápida cheia de cortes bruscos que deixa as lutas e cenas de ação ininteligíveis. Se não bastasse tudo isso, ainda existem tentativas de se fazer humor com aquelas infames piadinhas fora de hora e um monstro ridículo (o Mr. Hyde), que conseguiu ser ainda pior que o lamentável HULK, do Ang Lee. A única coisa boa do filme é a música composta por Trevor Jones, mas é praticamente inaudível durante a projeção já que foi a mixagem a enterrada em baixo dos efeitos sonoros.

Sinceramente, não dá pra ver esse LIGA EXTRAORDINÁRIA nem como comédia involuntária (daquelas que como o acima citado HULK fazem rir nas horas erradas), de tão aborrecido e irritante que é. Quando vemos um filme horroroso como esse é que percebemos o quão bons são X-MEN, de Bryan Singer, ou SUPERMAN, de Richard Donner. Melhor revê-los do que perder tempo como esse ‘Lixo Extraordinário’!

Cotação: *

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