MULHER-ASSASSINA
O melhor é não passar nem perto dessa besteira, principalmente as crianças que deveriam ser o público alvo do gênero
- por André Lux, crítico-spam
A DC bem que tentou, mas ainda não foi desta vez que conseguiu produzir um filme baseado nos seus super-heróis em quadrinhos que consiga limpar a imagem péssima que conquistou com os anteriores, principalmente “Homem de Aço” e “Batman versus Superman”, dois dos filmes mais grotescos já lançados até hoje no gênero.
Obviamente os executivos da Warner leram a enxurrada de críticas dos fãs que, em sua grande maioria, abominaram as adaptações mais recentes e tentaram a todo custo elevar o nível nesse “Mulher-Maravilha”. Para isso, contrataram uma mulher para dirigir o filme, Patty Jenkins (de “Monstro”), e criaram um roteiro que é quase uma cópia carbono do primeiro “Capitão América”, tanto em termos de estrutura, quanto de motivações e até vilões (os alemães). Copiaram também o esquema de "peixe fora da água" e as tentativas de humor do primeiro "Thor". Mas não deu muito certo, embora seja realmente um pouco melhor que os outros da DC, o que não chega a ser um grande elogio dada a ruindade daqueles filmes.
“Mulher-Maravilha” começa mostrando ela ainda criança na ilha das amazonas querendo de qualquer jeito aprender a lutar com a tia Antíope (Robin Wright, desperdiçada), enquanto sua mãe a rainha faz de tudo para impedir. Só que essa atitude da mãe não tem qualquer lógica, afinal ela é uma deusa e seria muito mais razoável treiná-la desde cedo para enfrentar seu destino, já que ela foi criada para ser a última defesa contra o deus-vilão Áres, cuja identidade secreta fica óbvia desde o primeiro momento para qualquer um que já tenha visto esse tipo de filme mais de uma vez na vida. Enfim, essa sub-trama é uma perda de tempo de projeção, já que ela é treinada de qualquer jeito até crescer. Aí começa o segundo grande problema do filme, já que a protagonista passa a ser interpretada por Gal Gadot, uma dessas mulheres-palito que fazem a cabeça dos estilistas de moda atualmente. A moça, que foi "revelada" num desses "Velozes e Furiosos", é uma atriz muito limitada, o que fica evidente quando tenta demonstrar alguma emoção.
A terceira e maior falha é algo que infesta muitos filmes de super-heróis atualmente: a gente nunca fica sabendo quais são os poderes da “Mulher-Maravilha” ou suas limitações. Assim, do nada ela se transforma de uma garota que é facilmente derrubada pela tia a uma guerreira praticamente invencível, capaz até de pular mais que uma pulga superdesenvolvida e resistir a impactos brutais contra rochas e estruturas de ferro - mas aparentemente não a balas, já que é quase morta em várias cenas em que atiram contra ela. Não adianta dizer que é assim porque ela não sabia que tinha poderes, pois nunca é sinalizado que ela precisa desenvolver tais poderes. Ela os tem e pronto, começa a usar do nada, como se já soubesse que os tinha quando assim exige o roteiro. Isso tira qualquer suspense, já que não existem regras definidas, ou seja, vale tudo. Basta assistir ao maravilhoso “Superman – O Filme”, de 1978, para entender como se deve apresentar de forma adequada e muito simples os poderes e limites de um super-herói.
O coitado do Chris Pine (o Kirk dos novos “Star Trek” e que está em tudo quanto é filme) fica com a ingrata tarefa de ser um mero “homem-exposição”, já que seu personagem serve apenas para ficar explicando forçadamente a trama para a protagonista e, claro, para a plateia. Tentam um romance entre os dois, porém eles não demonstram qualquer química e o personagem de Pine é vazio demais até para gerar empatia, o que seria imperioso para que a catarse final funcionasse. O resto do elenco é fraco, com destaque negativo para o péssimo Danny Huston, eterno canastrão especialista em vilões e que foi o Striker no fraco “X-Men Origens: Wolverine”.
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Mulher-Maravilha ou Mulher-Palito? |
A fotografia é escura, esmaecida (embora um pouco mais colorida que os filmes do Superman) e o desenho de produção é carnavalesco, principalmente na ilha das amazonas. A trilha musical é composta por um dos incontáveis discípulos do abominável Hans Zimmer, no caso um tal de Rupert Gregson-Williams (mas podia ser qualquer outro), e é aquela coisa horrorosa de sempre: bombástica, ensurdecedora, opressiva e sem qualquer tipo de nuance ou desenvolvimento temático – e ainda somos obrigados a ouvir o tema que Zimmer inventou para a “Mulher Maravilha” no famigerado “Batman versus Superman” que, como afirmei na minha análise daquele filme, ficaria bem para acompanhar as aventuras do “Chapolin Colorado”, de tão ridículo.
No final chegam ao cúmulo de mostrar a protagonista assassinando a sangue-frio uma pessoa desarmada, igual ao que fez o Superman em “Homem de Aço”, o que é um exemplo tenebroso para qualquer criança em mais um tiro no pé que só pode ser atribuído ao lamentável Zack Snyder, que aqui assina apenas como criador da estória e produtor. E mais uma vez somos atormentados por uma daquelas lutas entre dois seres supostamente imortais que, entre tapas e socos, soltam raios e causam explosões capazes de provocar um ataque epiléptico nos mais sensíveis.
Incrivelmente o filme vem recebendo ótimas críticas mundo afora, o que apenas demonstra delírio coletivo dos profissionais da opinião ou então uma vontade muito grande de acreditar que a DC conseguiu finalmente fazer um filme divertido como os da Marvel, o que não é nem de longe uma verdade. Alguns estão enxergando no filme um tratado feminista, mas sinceramente isso não faz sentido porque o fato dela ser mulher pouca importância tem à trama (até porque não passa de um Capitão América de saias) e nem mesmo a sociedade das amazonas é explorada a contento (deviam ser todas lésbicas já que não existiam homens por lá, não?).
Resumindo, é mais do mesmo e o melhor é simplesmente não passar nem perto de mais essa besteira, principalmente as crianças que deveriam ser o público alvo do gênero.
Cotação: *1/2