sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Filmes: "Rogue One - Uma História Star Wars"

FAN-SERVICE DE MENOS

Problemas na pós-produção e falta de desenvolvimento dos protagonistas impedem que filme se torne uma entrada realmente memorável no cânone de “Star Wars”

- por André Lux, crítico-spam

“Rogue One” é a primeira derivação (ou spin-off como chamam nos EUA) oficial de “Star Wars” lançada nos cinemas e faz parte da onda de produtos relacionados à saga criada por George Lucas em 1977 desde que ele vendeu tudo para a Disney.

Ou seja, é um filme que se passa no mesmo universo, porém sem se concentrar na linha de tempo da família Skywalker, que é a mola propulsora dos 7 episódios originais. Tanto é que “Rogue One” já começa direito na ação, sem os famosos letreiros e música tema de “Star Wars” e situa-se exatamente antes do episódio 4 “Uma Nova Esperança”, mostrando como é que os rebeldes conseguiram colocar as mãos nos planos da Estrela da Morte.

A direção é do mesmo sujeito que fez o novo e excelente “Godzilla”, Gareth Edwards, porém a pós-produção foi conturbada, ao ponto de demitirem o compositor Alexandre Desplat e refilmarem certas sequências, o que é sempre um mau sinal, pois indica geralmente que os executivos do estúdio acharam que o filme não tinha apelo comercial suficiente para as massas. Isso acarretou em uma nova montagem e muitas cenas importantes de desenvolvimento dos personagens certamente foram parar no lixo, já que tudo parece acelerado e raso, impedindo uma maior conexão e empatia com eles.

Os primeiros dois terços do filme são truncados, com os protagonistas viajando de um lugar para o outro enquanto encontram outros personagens que acabam se juntando a eles de maneira pouco convincente. O problema, como já disse acima, é que as cenas onde tais eventos seriam aprofundadas devem ter sido cortadas para deixar o filme mais curto e dinâmico, mas acaba acontecendo o contrário, pois o excesso de idas e vindas e a falta de cenas de interação entre os protagonistas deixa-o um pouco tedioso.

É só na terceira parte mesmo que a coisa esquenta e temos uma batalha suicida muito boa que acontece na superfície de uma base imperial e no espaço. Embora falte o apelo emocional que sobra nos três primeiros filmes da saga (IV, V e VI), é mil vezes melhor do que as batalhas tolas dos prelúdios (I, II e III) que mostravam bonecos digitais irritantes destruindo robôs sem graça. Ao menos conseguimos ver Darth Vader detonando na tela de uma maneira totalmente inédita e que muitas fãs sempre sentiram falta. Nesse sentido, “Rogue One” acaba pecando justamente por fazer pouco “fan service”, que é aquele recurso de enfiar no meio da narrativa situações ou personagens da série original. Sem dizer que falta humor, todo mundo é sério e carrancudo e o único alívio cômico é o robô imperial que foi reprogramado, mas mesmo suas tiradas soam forçadas e baratas.

Os atores principais também são fracos, principalmente o mexicano Diego Luna que é muito franzino e com cara de pernilongo para convencer como guerreiro rebelde e galã romântico, tanto é que ele e a mocinha (Felicity Jones, bem sem graça também) nem chegam a trocar um beijo. O vilão central, diretor Krennic, também é feito por um ator fraco e caricato, a mesma coisa acontecendo com o piloto imperial desertor. O personagem do cego com habilidades ninja não funciona, pois nunca ficam claras as extensões dos poderes dele (ele repete um mantra sobre a Força, mas não é Jedi, embora lute como um, mas sem sabre de luz).


O filme também se dá o luxo de desperdiçar o excelente Mads Mikkelsen em um papel que poderia ter sido bem melhor desenvolvido, igual fizeram com ele em “Doutor Estranho”. Todo mundo está reclamando de terem recriado digitalmente o personagem de Peter Cushing, como o governador Tarkin em “Uma Nova Esperança”, mas eu achei muito bem feito e sinceramente não me incomodou, além de ser uma bonita homenagem ao grande ator da Hammer. A princesa Leia nem tanto, mas confesso que chorei quando ela apareceu... Coisa de nerd, não tem jeito.

O compositor Michael Giacchino foi chamado às pressas para criar uma nova trilha musical após a partitura de Desplat ter sido rejeitada e fez um bom trabalho tendo apenas 4 semanas para finalizar, incorporando de maneira inteligente os temas clássicos de John Williams, embora algum material temático novo não funcione como deveria, principalmente o tema principal e o associado ao vilão imperial. Mas não é nada que atrapalhe.

Gostei também que o personagem feito por Forest Whitaker chama-se Saw Gerrera, uma óbvia referência ao guerrilheiro Che Guevara, que também lutava contra o fascismo e era considerado extremista até pelos seus companheiros, mas mesmo assim um herói. Pena que seja tão mal usado e suma de maneira muito besta. Tiveram o cuidado também de recriar com perfeição a armadura original de Darth Vader que era um pouco diferente do que vimos em “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”, já que em “Uma Nova Esperança” ela era meio pobre e sem brilho, certamente devido às limitações financeiras na época.

Enfim, o filme é perfeitamente desfrutável e vai agradar aos fãs, porém os problemas na pós-produção certamente acabaram impedindo que “Rogue One” realmente se tornasse uma entrada memorável no cânone da saga “Star Wars”. O que é uma pena. Tomara que lancem uma versão estendida do filme.

Cotação: * * *


2 comentários:

  1. Eu gostei do R1. Veja bem, para quem não é um "conoisseur" de cinema, esses problemas de pós-produção passam perfeitamente batidos. Ok, há toneladas de cenas deletadas, há trailers discrepantes, há mudanças no roteiro. Mas não há reflexos graves como erros de continuidade, por exemplo, ou personagens importantes esquecidos ao longo da história.

    *Atenção, seguem spoilers*.

    O erro mais sério do filme é quando os Rogues roubam o Shuttle da base Rebelde e ninguém faz o menor esforço para detê-los. Se houve uma aprovação velada dos oficiais sêniores, deveria ter sido mostrado em algum momento. Da mesma forma, quando o pau começa a quebrar em Scarif (planeta imperial onde estão guardados os planos da Estrela da Morte), a mesma base Rebelde intercepta (como?) um pedido de socorro imperial vindo de lá. E aí descobre que os Rogues estão lá. Mas peraí, não era óbvio que eles estavam indo pra lá? Rebeldes burros...

    A maneira como Vader detona sozinho a guarnição Rebelde no final do filme contradiz o início do Episódio 4, onde os Stormtroopers fazem o serviço e só então o Vader entra. Mas vejo duas explicações: uma, o fan-service óbvio, Vader tem que ser o fodão; e outra, no Episódio 4 Vader ainda estava cansado da batalha de minutos antes, precisando de um refrescante banho de Bacta para lavar o suor e restaurar sua Força. Isso ajuda a explicar o péssimo humor dele nesse momento, que parece ir além da preocupação em recuperar os planos da Estrela da Morte.

    Achei emocionante rever figuras clássicas do Episódio 4 como Tarkin, os líderes Vermelho (X-Wing) e Ouro (Y-Wing) e a Leia com seu super-penteado fone-de-ouvido. E ainda mais pois vi o filme depois do falecimento da Carrie Fisher... Foi tragicômico ver o piloto do X-Wing Vermelho 5 morrer, porque a batalha seguinte acontece no Episódio 4, e lá o Vermelho 5 é o Luke...

    A ideia de mostrar a trama envolvendo a falha intencional até a facilitação do roubo dos planos da Estrela da Morte foi muito boa, complementou bem a série.

    De resto, temos um bom filme de aventura, nada genial, mas bem-feito. E principalmente, de forma fiel ao universo da Trilogia original, sem aqueles visuais coloridos dos "prequels" que parecem tirados de uma escola de samba.

    R1 certamente é só primeiro de vários "spinoffs" da saga Star Wars (logo terá o do Han Solo, situado antes de ele conhecer Ben e Luke em Tatooine), e imagino que outros mais. São filmes de apoio que gravitam em torno da saga principal. Com a boa notícia: aparentemente a Disney não pretende explorar o universo dos "prequels", ao menos não este pedaço colorido e psicodélico da Galáxia.

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