quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Filmes: "O Despertar da Força" (sem spoilers)

A FORÇA VOLTOU, COM DENTES!

Apesar dos defeitos, novo “Star Wars” é sim um ótimo filme, digno dos melhores da franquia e fica anos luz à frente dos desastrosos episódios 1, 2 e 3

- por André Lux, crítico-spam

Chegou a hora que a maioria das pessoas ligadas em cinema estava esperando já há alguns anos: a estreia do sétimo capítulo da saga “Star Wars”! Antes de qualquer coisa preciso confessar que é praticamente impossível pra mim ser objetivo em relação a essa franquia, afinal eu estava lá, em 1977, sentado no cinema e assistindo ao primeiro filme quando tinha apenas 8 anos e fiz parte dessa história que abalou as estruturas da cultura popular da sociedade ocidental para sempre.

Dito isso, vamos às boas notícias: o “Despertar da Força” é sim um ótimo filme, digno dos melhores da franquia e fica anos luz à frente dos desastrosos episódios 1, 2 e 3 que George Lucas produziu para contar a queda de Anakin Skywalker e sua ascensão como Darth Vader. Mas isso não chega a ser um mérito muito expressivo, já que os três filmes das chamadas “prequels” são ruins em praticamente todos os aspectos, exceto na música de John Williams e, claro, nos efeitos especiais (que embora sejam bons, mais poluem os filmes do que qualquer outra coisa).

Apesar de estar longe de ser perfeito (falarei disso depois), o novo filme é uma aventura de space-opera palpitante, cheia de ação e emoção, algo que simplesmente não existiu nas “prequels”, por exemplo. O responsável por isso é sem dúvida o diretor J. J. Abrams, que sabe como dar ritmo a um roteiro e consegue extrair o melhor dos atores – que aqui são bons e cheios de carisma. O humor também está de volta em plena forma, o que deixa o filme leve e dinâmico, sem se levar a sério exceto nos momentos em que isso se faz necessário.

Gostei muito do novo vilão, Kylo Ren, que sinceramente parecia bem tolo nos trailers, ainda mais quando aparecia sem máscara, até porque o ator é um magrelo narigudo com cara de pernilongo. Mas, surpresa, é um excelente ator e realmente rouba as cenas em que aparece. O personagem é muito bem delineado e cheio de angústia e conflitos que realmente transbordam da tela para fora e dão outra dimensão a ele, mesmo nos momentos mais fracos, como quando fala com seu mestre, que é um boneco digital tosco e inconvincente (feito pelo mesmo Andy Serkis, que foi o Gollum e agora está em tudo quanto é filme), no que é certamente o ponto mais baixo do filme.

Já o ponto alto é sem dúvida a jovem Daisy Ridley, que faz a Rey, uma catadora de sucata que se vê no meio da confusão toda e tem momentos muitos fortes. A moça é boa atriz e também esbanja carisma. Sem dizer que é muito bom ver uma mulher ter um papel tão forte e vital nesse tipo de filme.

"Chewie, nós voltamos para casa!"
Sobre os pontos fracos de “O Despertar da Força”, falar deles é meio que chover no molhado, pois a saga Star Wars nunca primou por roteiros profundos e muito inventivos. E todo mundo sabe que George Lucas (que aqui não fez nada, pois vendeu a franquia para a Disney) pegou elementos de tudo quanto é mitologia e sagas do passado para criar o seu universo.

Embora o roteiro tenha sido escrito pelo próprio Abrams com a ajuda do consagrado Lawrence Kasdan, é um pouco episódico e confuso, deixando muito coisa no ar no que acaba sendo quase uma refilmagem de “Uma Nova Esperança”. Também não faz muito sentido ver gente que nunca lutou na vida virar mestre no uso do sabre de luz de uma hora pra outra! A única coisa que incomoda mesmo e impede o filme de atingir cinco estrelas na cotação é a parte final, onde repetem o que já vimos em “Uma Nova Esperança” e “O Retorno de Jedi” – outra Estrela da Morte, sério? Não tinham nada melhor para inventar?

Mas, tirando isso, o resto do filme é uma delícia, trazendo algumas cenas realmente fortes e até chocantes para os fãs, embaladas pela sempre excelente trilha musical de John Williams, que continua em plena forma aos 83 anos e mescla de forma magistral os temas antigos da saga com os novos, compostos para os personagens criados para “O Despertar da Força”. A partitura abunda de vigorosos scherzos, que são a marca registrada de Williams.

Não dá pra falar mais do que isso sem apelar para os famigerados spoilers, então vou parando por aqui. Mas uma coisa é certa: a Força está de volta! E com dentes!

Cotação: * * * *

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Filmes: "No Coração do Mar"

MOBY DICK DOS POBRES

Versão do que seria o encontro real com a baleia branca gigante é sem graça e, claro, perde de mil a zero para o romance


- por André Lux, crítico-spam

Esse 
“No Coração do Mar” é um daqueles filmes que estão na moda atualmente que pretendem contar a “história por trás da estória” ou coisa do tipo. Aqui tentam mostrar os acontecimentos supostamente reais que levaram o escritor Herman Melville a criar “Moby Dick”, considerada a obra-prima da literatura estadunidense e que já deu origem a várias adaptações para o cinema e televisão.

Mas, sinceramente, a tal versão do que seria o encontro real com a baleia branca gigante é bem sem graça e, claro, perde de mil a zero para o romance. E ainda tem muita coisa que foi obviamente inventada para tentar deixar o filme mais “dramático”, muitas delas sem sentido ou simplesmente irrelevantes.

Como por exemplo, o conflito entre o primeiro imediato e o capitão do navio, que foi claramente inspirado no também caso real do motim no Bounty, que também já foi adaptado para o cinema várias vezes (a melhor é a versão com Marlon Brando). O problema é que esse conflito é forçado e não leva a lugar nenhum. A cena em que o capitão do navio os obriga a entrarem de peito aberto numa tempestade em alto mar é tola, pois nem mesmo um idiota completo faria tal coisa, independente de ser novato na função.

O ator que faz o comandante, Benjamin Walker (que foi o protagonista no esquisito “Abraham Lincoln, Caçador de Vampiros”) também é fraco e não tem peso para o papel. Chris Hemsworth, o atual “Thor”, é bonitão, mas não tem carisma e acaba sendo neutro como o imediato.

O filme também sofre com falta de foco narrativo. O roteiro não sabe se está contando a história dentro da história (o narrador fala de coisas que não tinha como saber, por sinal), as desventuras do imediato ou os perigos do mar. Assim, quando a grande baleia branca chega, tudo acontece muito rápido e de forma abrupta, num anticlímax que chega a assustar de tão mal conduzido.

Depois do ataque e destruição do navio, o filme vira quase terror, com os náufragos tendo que praticar atos horrendos para garantir a sobrevivência (vira quase um “Sobreviventes dos Andes”, só que no mar). Também é ridículo insistirem na baleia perseguindo os pobres coitados, algo que certamente não aconteceu na realidade. E ainda tentam enfiar uma mensagem sobre como é feio matar os animais a fórceps, que deixa tudo ainda mais sem sentido.

Outro ponto baixo de “No Coração do Mar” é a trilha musical composta pelo espanhol Roque Baños, que apesar de ter mostrado talento em outros filmes, foi obviamente obrigado a compor no modo “Hans Zimmer” de fazer trilhas, que dá o tom atualmente com raras exceções. Apesar de ter algumas faixas interessantes, as músicas que acompanham as cenas mais tensas e de ação são totalmente genéricas, repletas dos irritantes ostinatos simplórios e até das insuportáveis “cornetas da perdição” que Zimmer inventou para “A Origem”.

Eu ia dizer que é triste ver um cineasta como Ron Howard, que trabalhou com gente como John Williams (em “Um Sonho Distante”) e James Horner (em “Coccon”, “Willow” e “Apollo 13”), pedindo música desse tipo, mas aí lembrei que ele é um dos culpados pela ascensão de Zimmer desde “Backdraft”, passando por “O Código Da Vinci” e “Rush”. Basta ouvir a trilha de “Tubarão” para perceber como uma música do mesmo nível da gloriosa composição de John Williams para o filme de Spielberg elevaria o filme a outros patamares.

Por sinal, quando a gente lembra-se de “Tubarão” é que percebe o quanto esse filme e quase todos os outros feitos atualmente pela indústria de cinema estadunidense são fracos e sem graça. Enfim, dá pra assistir, mas não chega aos pés de “Moby Dick”, seja o livro ou mesmo as suas adaptações para as telas...

Cotação: * *