Boa premissa é estragada pelo excesso de pretensão, autoindulgência e falta de sutiliza do cineasta mexicano
- por André Lux, crítico-spam
"Birdman" é mais um daqueles blefes que cai nas graças da maioria dos críticos e acaba sendo indicado para uma penca de prêmios da indústria do cinema estadunidense.
Mas aqui fica fácil identificar a origem dessa devoção toda, já que se trata de mais um "filme dentro do filme" (ou, no caso, dentro do teatro), que utiliza a metalinguagem e o auto-elogio como molas propulsoras. E todo mundo sabe que críticos e artistas em geral adoram esse tipo de obra, cheia de referências e citações que só eles vão entender e "rasgação" de seda para quem vive da arte e os parasitas que gravitam em torno deles.
Não bastasse isso, o filme praticamente coage os críticos a gostarem dele, já que em um cena o protagonista enfrenta a poderosa crítica do The New York Times e a humilha violentamente porque ela diz que vai malhar a obra dele, mesmo sem ter a assistido. Ou seja: "críticos, estejam avisados, se não gostarem do meu filme já sabem qual será minha resposta, certo?"
O filme é escrito e dirigido pelo mexicano Alejandro Iñárritu (de "Amores Brutos" e "Babel"), um cineasta inegavelmente talentoso, porém que costuma estragar suas obras com altas doses de pretensão e uma mão pesadíssima que usa como uma marreta para enfiar na tela as mensagens que gostaria de ensinar.
"Birdman" tem até uma premissa interessante. Mostra ator que ficou famoso interpretando o super-herói "Homem Pássaro" nos cinemas, mas que caiu no esquecimento depois de recusar participar da quarta continuação do sucesso de bilheteria. Ele então tenta desesperdamente provar que é um "artista de verdade" montando uma peça na Broadway. Esse personagem é feito pelo Michael Keaton que, como todo crítico ou cinéfilo que se preze sabe, esteve na pele dos dois primeiros "Batman" do Tim Burton e também desistiu de interpretá-lo nas outras continuações.
Entenderam a sacada? O personagem de "Birdman" e o ator que o interpreta passaram por situações quase idênticas! Genial, certo? Pra meia dúzias de pessoas pode até ser, mas para o resto dos mortais esse tipo de coisa não quer dizer absolutamente nada.
Eu sinceramente acho muito pedante um cineasta fazer um filme só para ficar marretando na cabeça do espectador com a sutileza de um terremoto o quanto o chamado "cinema comercial" estadunidense e sua obsessão por filmes de super-heróis e efeitos especiais estariam acabando com a arte e com a civilização ocidental. E sobra porrada também para as novas tecnologias e as redes sociais, como se a tecnologia em si fosse maléfica e não a maneira com muitas pessoas a usam. Reacionarismo pouco é bobagem!
Enfim, o resto do filme mostra os problemas enfrentados por Keaton durante a montagem da peça que escreveu, a partir de um conto de autor cultuado, dirige e atua. Não vou negar que a primeira parte é interessante e realmente prende a atenção, principalmente graças às atuações de Keaton e Edward Norton, que interpreta um ator metido a besta e difícil de lidar (igual dizem ser o próprio Norton na vida real, sacaram? Hein, hein?).
Keaton e seu alter-ego, o "Homem Pássaro" |
A melhor sequência do filme se dá quando Keaton fica preso pra fora do teatro e tem que entrar pela porta da frente vestindo apenas uma cueca! Pena que o diretor nem mesmo tire mais proveito das consequências disso.
O problema começa no segundo ato do filme, quando a narrativa esquece dos outros e foca-se exclusivamente no protagonista, que é dado a ter delírios de grandeza graças à voz do "Homem Pássaro" que fala diretamente à sua cabeça. Ele também exibe poderes sobrenaturais, como fazer mover objetos e até voar, porém nunca fica claro se isso é real ou mais um delírio dele.
E é na conclusão que o filme derrapa feio, quando Iñárritu tinha toda a oportunidade de fechar tudo com um crítica mordaz à hipocrisia de muitos autores em provarem que são "artistas de verdade" até receberem uma proposta milionária para estrelar o próximo blockbuster roliudiano, mas opta por fazer o contrário, que é justamente louvar esse tipo de busca autoindulgente e pretensiosa, inclusive negando a dubiedade com que mostrava os "poderes" do protagonista.
O mais estranho é que o subtítulo do filme é "A Inesperada Virtude da Ignorância". Só que no caso do diretor Iñárritu não foi virtude. Pelo contrário...
Cotação: * * 1/2
O que me faz repensar e admitir: eu estava errado, há algo sim de Iñárritu em como o roteiro instiga a esses questionamentos sociais/culturais/existencialistas... Interessante, muito interessante. Edward Norton foi excelente no filme, este ator nos deixa outro projeto de qualidade, de todas as suas filmografias essa é Beleza Oculta que eu mais gostei, acho que deve ser a grande variedade de talentos. A chave do sucesso é o bem que esta contada a historia e a trilha sonora, enfim, um dos meus preferidos.
ResponderExcluir