segunda-feira, 23 de abril de 2012

Filmes: "Shame"

ALERTA AOS COMPULSIVOS


Além de ser excelente cinema, “Shame” serve de alerta a quem encontra no sexo uma forma de mascarar seus problemas

- por André Lux, crítico-spam

“Shame” (vergonha, em português) é um poderoso retrato de uma pessoa que busca o sexo de maneira compulsiva, seja via prostitutas, encontros casuais ou virtualmente. 

O protagonista vai se transformando em uma “máquina de fazer sexo” à medida que se torna cada vez mais incapaz de desenvolver contatos humanos que envolvam sentimentos ou intimidade real. 

O excelente Michael Fassbender se joga no personagem de maneira total, sem medo de aparecer em nudez frontal (algo que sempre vai chocar os reprimidos) ou buscando o prazer sem limites.

O protagonista é um obsessivo-compulsivo sexual que tem a vida aparentemente tranquila abalada com a chegada da irmã (Carey Mulligan, numa atuação corajosa), que é outra com sérios problemas psicológicos, que tenta em vão estabelecer algum laço afetivo com seu irmão. O carater autodestrutivo de ambos é mostrado de forma honesta no filme, sem lugar para moralismos ou julgamentos preconceituosos.

Brandon (Fassbender) atira-se cada vez mais à sua compulsão, ao ponto de falhar sexualmente justamente com uma mulher com a qual tenta se envolver mais a fundo. E o desespero, a vergonha e o desapego do protagonista aumentam à medida que sua busca por sexo aumenta. A cena da transa gay em uma boate é o ápice da dominação de Brandon pelas suas obsessões e compulsões.

A direção de Steve McQueen (nada a ver com o ator já falecido) é excepcional e dá um caráter ultra-realista ao filme, criando inclusive várias sequências sem corte muito bem elaboradas. 

Outro trunfo do filme é a trilha musical, que em vários casos atual totalmente ao contrário do que se vê na tela – como na brilhante cena em que Brandon transa com duas prostitutas ao mesmo tempo e, à medida que o orgasmo vai chegando, maior é a dor expressada pelo personagem.

Acima de tudo, “Shame” mostra um problema que é hoje cada vez mais comum: pessoas viciadas em sexo sem compromisso ou virtual que se descolam da humanidade e se enredam num espiral autodestrutivo que só pode ser barrado com ajuda psquiátrica. 

Não se trata de uma bravata moralista contra o sexo virtual, casual ou com prostitutas, pelo contrário, mas sim um estudo da mente de alguém que só consegue se relacionar sexualmente dessa forma e sofre muito por causa disso.

Além de ser excelente cinema, “Shame” é importante pelo fato de servir de alerta a todos os obsessivos-compulsivos que encontram no sexo sem compromissos uma forma de mascararem seus problemas não resolvidos, na tentativa inútil de diminuir a tensão.

Cotação: * * * *

4 comentários:

  1. Achei o longa mais ou menos.

    Não fosse a performance corajosa e esforçada de Fassbender, bem como a direção estilo anos 70 sem aquelas edições "corta-picota" super frenéticas, seria só uma bravata moralista vazia, daquelas que partem do princípio que viver de sexo sem compromisso é algum tormento ou coisa do tipo.

    Há mais entre "Shame" (título super moralista, por sinal) e o fundamentalista "Amor Sem Escalas" do que sonha nossa vã filosofia...

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  2. Em tempo: o começo do terceiro parágrafo é spoiler...

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  3. O filme aborda um tema muito comum nos dias de hoje e pouco mostrado no cinema. É provocador, frio, silencioso. O filme é interessante.

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