ALERTA AOS COMPULSIVOS
Além de ser excelente cinema, “Shame” serve de alerta a quem encontra no sexo uma forma de mascarar seus problemas
- por André Lux, crítico-spam
“Shame” (vergonha, em português) é um poderoso retrato de uma pessoa que busca o sexo de maneira compulsiva, seja via prostitutas, encontros casuais ou virtualmente.
O protagonista vai se transformando em uma “máquina de fazer sexo” à medida que se torna cada vez mais incapaz de desenvolver contatos humanos que envolvam sentimentos ou intimidade real.
O excelente Michael Fassbender se joga no personagem de maneira total, sem medo de aparecer em nudez frontal (algo que sempre vai chocar os reprimidos) ou buscando o prazer sem limites.
O protagonista é um obsessivo-compulsivo sexual que tem a vida aparentemente tranquila abalada com a chegada da irmã (Carey Mulligan, numa atuação corajosa), que é outra com sérios problemas psicológicos, que tenta em vão estabelecer algum laço afetivo com seu irmão. O carater autodestrutivo de ambos é mostrado de forma honesta no filme, sem lugar para moralismos ou julgamentos preconceituosos.
Brandon (Fassbender) atira-se cada vez mais à sua compulsão, ao ponto de falhar sexualmente justamente com uma mulher com a qual tenta se envolver mais a fundo. E o desespero, a vergonha e o desapego do protagonista aumentam à medida que sua busca por sexo aumenta. A cena da transa gay em uma boate é o ápice da dominação de Brandon pelas suas obsessões e compulsões.
A direção de Steve McQueen (nada a ver com o ator já falecido) é excepcional e dá um caráter ultra-realista ao filme, criando inclusive várias sequências sem corte muito bem elaboradas.
Outro trunfo do filme é a trilha musical, que em vários casos atual totalmente ao contrário do que se vê na tela – como na brilhante cena em que Brandon transa com duas prostitutas ao mesmo tempo e, à medida que o orgasmo vai chegando, maior é a dor expressada pelo personagem.
Acima de tudo, “Shame” mostra um problema que é hoje cada vez mais comum: pessoas viciadas em sexo sem compromisso ou virtual que se descolam da humanidade e se enredam num espiral autodestrutivo que só pode ser barrado com ajuda psquiátrica.
Não se trata de uma bravata moralista contra o sexo virtual, casual ou com prostitutas, pelo contrário, mas sim um estudo da mente de alguém que só consegue se relacionar sexualmente dessa forma e sofre muito por causa disso.
Além de ser excelente cinema, “Shame” é importante pelo fato de servir de alerta a todos os obsessivos-compulsivos que encontram no sexo sem compromissos uma forma de mascararem seus problemas não resolvidos, na tentativa inútil de diminuir a tensão.
Cotação: * * * *
Achei o longa mais ou menos.
ResponderExcluirNão fosse a performance corajosa e esforçada de Fassbender, bem como a direção estilo anos 70 sem aquelas edições "corta-picota" super frenéticas, seria só uma bravata moralista vazia, daquelas que partem do princípio que viver de sexo sem compromisso é algum tormento ou coisa do tipo.
Há mais entre "Shame" (título super moralista, por sinal) e o fundamentalista "Amor Sem Escalas" do que sonha nossa vã filosofia...
Em tempo: o começo do terceiro parágrafo é spoiler...
ResponderExcluirO filme aborda um tema muito comum nos dias de hoje e pouco mostrado no cinema. É provocador, frio, silencioso. O filme é interessante.
ResponderExcluirOk
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