REINVENTANDO A RODA
Ao invés de baterem na mesma tecla, idealizadores da MATRIX escolhem apostar na inteligência do público e percorrem caminhos ainda não trilhados
- por André Lux, crítico-spam
Os irmãos Larry e Andy Wachowsky conseguiram, em 1999, revolucionar novamente o cinema de entretenimento com seu MATRIX, injetando sangue novo a esse tipo de produção conhecido como ficção científica, gênero que havia sido catapultado às alturas por George Lucas e seus STAR WARS no final dos anos 70. Com um mistura inteligente e esperta da mitologia dos quadrinhos, computadores e lutas de kung-fu, o filme tornou-se um imenso sucesso de crítica e público, a ponto de lançar moda e gerar um sem número de imitadores (AS PANTERAS, O TIGRE E O DRAGÃO, etc), derrotando, inclusive, o próprio STAR WARS: EPISÓDIO 1 do mesmo Lucas que já ficou obsoleto.
Depois que se tornou um fenômeno e virou cult, os diretores/roteiristas passaram a proclamar que MATRIX deveria ser, na verdade, uma trilogia tendo sido concebido dessa forma desde sua origem. Será mesmo? Ou estariam dizendo isso apenas para poderem criar novas seqüências do original, repetindo a fórmula em busca do sucesso fácil e rápido? Chega então MATRIX RELOADED, a primeira e inevitável continuação do primeiro filme, dividindo de cara tanto a crítica quanto os espectadores. Bom sinal. Afinal, como dizia Nelson Rodrigues, a unanimidade é burra.
Quebrando todas as expectativas e pré-conceitos, os Wachowsky conseguiram, por mais incrível que pareça, reinventar a roda e conceberam uma continuação ainda mais alucinante e complexa do que o original, ao invés de bater na mesma tecla e percorrer caminhos fáceis e conhecidos. Só a seqüência final do confronto entre Neo (Keanu Reeves, discreto e eficiente) e o chamado Arquiteto (Helmut Bakaitis) já vale o filme. O diálogo travado entre os personagens é daqueles capazes de provocar dores de cabeça de tão bizarro e, quanto mais refletimos sobre ele, mais as dúvidas aumentam. Visto sob a luz das revelações propositalmente obscuras até o filme original ganha novos contornos e interpretações (obviamente só conheceremos toda a verdade no próximo capítulo, MATRIX REVOLUTIONS). Em época de divertimento cada vez mais descerebrado e facilmente digerível, é digno de nota alguém ter coragem de colocar tamanha ousadia conceitual nas telas.
A idéia da luta entre homens e máquinas não é nova e foi aproveitada no cinema diversas vezes (2001, O EXTERMINADOR DO FUTURO, entre tantos outros). O mérito dos cineastas em questão, todavia, não foi somente absorver e inserir em MATRIX essas premissas já apresentadas anteriormente, mas sim serem capazes de digeri-los e criar algo que parecesse totalmente contemporâneo e inovador, mesmo usando técnicas e conceitos que não são novidades. Tanto é verdade que o filme tornou-se realmente famoso não tanto por suas seqüências que traziam efeitos visuais revolucionários (como o bullet time) e lutas espetaculares, mas muito mais pela maneira lógica e coerente com que foram inseridos no roteiro, sempre a serviço da trama e de seus personagens.
E esse acaba sendo justamente um dos pontos fracos de RELOADED: as lutas que incluem Neo (que já sabemos tornou-se uma espécie de Super-homem dentro da Matrix), acabam se tornando óbvias e desnecessárias. É particularmente tola e gratuita a cena na qual luta com centenas de agentes Smith (Hugo Weaving, excelente), pois é quase que totalmente baseada em efeitos visuais a ponto de deixá-la com cara de videogame (há também uma falha gritante e imperdoável nela: vê-se claramente um painel branco usado para refletir a luz dos holofotes no reflexo dos óculos dos atores). As coisas só voltam mesmo aos eixos de suspense e apreensão quando Neo é deixado de fora e as cenas de ação são concentradas em torno de Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-AnneMoss), já que ambos não têm os mesmos superpoderes e correm real perigo, ou então quando Neo enfrenta alguém digno de seus poderes. A tão falada perseguição na rodovia (construída especialmente para o filme), que dura cerca de 15 minutos, é realmente sensacional, de tirar o fôlego, muito ajudada pela presença sinistra dos gêmeos fantasmas.
O filme só cai quando centra a ação na cidade de Zion (Sião), último refúgio dos humanos que não estão presos à Matrix. Ali RELOADED resvala na banalidade, perdendo tempo com tramas e sub-tramas que envolvem tolos conflitos entre comandantes, ciúmes, traições e reuniões de conselho que deixam o filme com aquele ar brega que está ajudando a detonar os novos STAR WARS e o impendem de atingir o nível de perfeição do primeiro. Mas, por sorte, esses momentos são poucos e os realizadores voltam suas tintas rapidamente para o mundo virtual. O maior mérito do roteiro, todavia, é conseguir manter um caráter intimista centrado nos conflitos internos dos personagens. E isso sem deixar de lado as seqüências de ação e lutas regadas a efeitos visuais mirabolantes.
Quanto às fontes de inspiração dos autores de MATRIX, algumas são mais do que evidentes e já foram apontadas inúmeras vezes ("Alice no País das Maravilhas", "Ronin" de Frank Miller, etc). Entretanto, à medida que o novo roteiro ia se desdobrando ficou claro que muitas idéias contidas nele são oriundas (conscientemente ou não) de DUNA, de Frank Herbert, especialmente a orgia em Zion (similar às realizadas nos sietches Fremem) e o conceito de profecias e messias pré-fabricados (ou não?) para manterem o controle de quem detém o poder. Como sou fã de Herbert e sua obra, não poderia ter ficado mais surpreso com a ousadia dos Wachowsky, que foram capazes de traduzir esses conceitos complexos para a tela com muito mais precisão do que os próprios cineastas que literalmente filmaram DUNA!
Mas o importante mesmo é que MATRIX RELOADED tem qualidades suficientes para manter o interesse até seu final totalmente aberto (já anunciando que "será concluído") e é o tipo de filme que vai levar legiões de apreciadores ao cinema, fazendo-os retornar inúmeras vezes a fim de tentar decifrar tudo que existe por trás de seus conceitos e filosofias difíceis de assimilar e traduzir. Exigir mais de um filme dito de "entretenimento" seria até incoerente, embora fique óbvio que muitos terão dificuldades para entrar no filme e, por isso, vão desprezar o resultado final. Mas difícil mesmo vai ser, daqui para frente, tentar bater MATRIX e seus subprodutos. Com certeza vai levar um bom tempo até que apareça alguém capaz de reinventar essa roda novamente. E isso, convenhamos, não é pouca coisa.
Cotação: * * * *
Também gosto das sequências de Matrix, embora nenhuma chegue ao nível do primeiro.
ResponderExcluirMas tenho que confessar: acho "Ronin", do Frank Miller, um porre! Aliás, não quase nada que ele fez me marcou de verdade. Fica muito atrás, por exemplo, do Alan Moore, que fez um punhado de quadrinhos memoráveis.
Eu realmente gosto de filmes de ficção científica , um dos meus favoritos é Matrix, desfrutar de alguns dias atrás películas en HBO e eu era capaz de ver Matrix Reloaded . Vou olhar para a frente para a estréia em 2016 , será incrível.
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