Filme retrata o que aconteceu na Bolívia na orgia neoliberal que foi enfiada goela abaixo dos povos do mundo, principalmente na América do Sul
- por André Lux, crítico-spam
“Conflito das Águas” é um retrato muito bem feito do que aconteceu na Bolívia no auge da orgia neoliberal que foi enfiada goela abaixo dos povos do mundo, principalmente na América do Sul, no final do século 20.
Como indica o título original desse maravilhoso filme espanhol “Também a Chuva” foi privatizada naquele país que, anos depois, elegeu Evo Morales para Presidente. Parece brincadeira, mas não é: no ano 2000 o governo da Bolívia chegou ao cúmulo de privatizar toda a água do país – inclusive a água da chuva, de modo que qualquer um que a recolhesse enquanto caia do céu estaria cometendo um crime!
O filme é dirigido com grande sensibilidade por Iciar Bollain e conta com um roteiro formidável, que dá vida a três histórias paralelas que se entrecruzam. A principal trata da produção de um filme sobre o descobrimento da América, a ser dirigido pelo personagem interpretado por Gael Garcia Bernal (que foi Che Guevara em “Diários de Motocicleta”).
O produtor, um sujeito que a princípio só pensa em economizar o dinheiro do orçamento, regozija-se do fato de que na Bolívia tudo é mais barato (leia-se, a miséria é tão grande que a população local trabalha na produção muitas vezes em troca de um saco de arroz).
É neste contexto que entra um nativo Aymara que, lutando pelos direitos de seus colegas de serem testados para o filme conforme foi prometido num folheto distribuído pelos produtores, consegue o papel principal de líder dos indígenas. Só que esse sujeito é também o líder, na vida real, da revolta da população pobre contra o governo neoliberal e suas medidas desumanas.
A partir dessa elaborada trama, somos apresentados a diversas alegorias entre a desesperadora situação dos nativos durante o “descobrimento” da América (na verdade, foi uma invasão seguida de um massacre) e a realidade miserável enfrentada pela mesma população cinco séculos depois. Aos poucos, os membros da produção do filme dentro do filme vão sendo afetados de forma profunda pelos eventos que acontecem à sua volta, tanto em nível físico quanto moral.
Esse é o tipo de cinema que leva à reflexão sem precisar ser didático ou panfletário. Todos os personagens são multidimensionais e humanos, com qualidades e defeitos, dúvidas e convicções. Nada é preto no branco, tudo é cinzento, embora não seja possível fugir à realidade de que o neoliberalismo foi (ou é ainda, já que muitos o defendem mesmo depois de ter levado o mundo à beira do abismo) um dos sistemas ideológicos mais cruéis e desumanos da história da humanidade.
Se alguém ainda tem dúvida, basta assistir a esse excelente filme, cujas qualidades técnicas e dramáticas são tão evidentes que o resultado final é nada menos que devastador.
Cotação: * * * * *
Oh Andre, da ai o canal!!
ResponderExcluirTo doida pra ver esse filme!!
Adoro essa historia que doga se de passagem esta bem contada no livro confissoes de um assassino economico!!
sim, "Confissões de Um assassino econômico" é muito bom, pena que a tradução para o protugu6es ficou meio ruim e muita gente que eu indiquei i livro acabou não lendo até o fim... Mas este filme vai entrar na minha lista, com certeza...
ResponderExcluirAbs
Lais - São Paulo
Assisti o filme na Argentina... as histórias são fantásticas da maneira que se entrelaçam... e a atuações são perfeitas. Muito bom, vale a pena.
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