SIMPLES E TOCANTE
Filme fracês mostra que a falta de capacidade de diálogo com os filhos não é "privilégio" apenas da direita!
- por André Lux, crítico-spam
É incrível a capacidade que os cineastas franceses tem de contar histórias humanas de forma sempre simples, porém tocante. É o caso desse “A Culpa é do Fidel!”, dirigido por Julie Gravas, filha do famoso Costa Gravas, cineasta de esquerda que realizou vários filmes políticos engajados em denunciar os males causados pela direita mundo afora.
E essa relação entre pai e filha torna o filme ainda mais interessante, pois, apesar de ser baseado numa obra da italiana Domitilla Cammile , o “A Culpa é do Fidel!” tem óbvias referências autobiográficas à vida da diretora. Afinal, trata-se da história de uma menina de nove anos que é criada por país esquerdistas que vivem engajados em causas em favor da democracia e da luta contra o fascismo, seja na Espanha de Franco ou no Chile (o filme começa em 1970 e termina na época do golpe militar contra Allende).
A história é sempre contada pelo ponto de vista da menina Anna (a ótima Nina Kervel-Bey), que não entende a luta dos pais e acaba se portando como uma verdadeira “fascistinha” (ou “múmia”, que é como os chilenos chamavam os reacionários em seu país). Esse é um dos aspectos mais interessantes do filme: a falta de diálogo entre país e filhos. O casal de esquerda, super engajado em causas humanitárias e democráticas, esquece de aplicar suas crenças dentro de casa e alienam a filha mais velha, que acaba sendo influenciada negativamente por uma empregada cubana que odeia Fidel Castro e todos os “barbudos vermelhos”, pelos avós ricos e reaças e pela educação rígida que recebe numa escola católica de freiras! Pior que eu mesmo já conheci pessoas assim: ultra-libertárias de esquerda na rua, mas que agem como verdadeiras tiranas dentro de casa. Ou seja: a falta de capacidade de diálogo com os filhos não é "privilégio" apenas da direita!
O filme mostra de maneira exemplar a confusão mental da criança (ela acredita, por exemplo, que o objetivo dos “barbudos vermelhos” é realmente provocar uma guerra nuclear e roubar as casas e os bens das pessoas boas!), e a falta de capacidade de seus pais em passarem para ela seus valores e crenças ideológicas. Há um cena muito engraçada, que mostra o medo estampado no rosto da menina quando seu pai chega de viagem barbudo!
Com o passar do tempo e do contato constante com os vários “barbudos” que vivem em sua casa e com suas babás (refugiadas ajudadas pelos pais), a pequena Anna vai aos poucos começando a questionar suas próprias crenças e certezas o que, obviamente, começa a fazê-la confrontar os reacionários que a influenciavam, principalmente as freiras católicas.
Tudo isso é tratado como bom humor, sem melodramas, mas com muita propriedade e delicadeza, até chegar ao final extremamente singelo e tocante. Não deixem de ver, principalmente se você também for de esquerda e estiver pensando em ter filhos...
Cotação: * * * *
sexta-feira, 19 de junho de 2009
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Filmes: "O Exterminador do Futuro: A Salvação"
TIRO NA ÁGUA
Como filme de ação e aventura dá para o gasto. Mas tem muito pouco a ver com os “Exterminadores” originais.
- por André Lux, crítico-spam
Não havia necessidade alguma de fazer mais uma continuação de “O Exterminador do Futuro”, filme de ficção científica que hoje é considerado um clássico do gênero e que foi praticamente refilmado com muito mais dinheiro anos depois pelo próprio criador do personagem, James Cameron.
Mas os executivos de Roliudi não têm jeito. Mesmo depois de uma terceira continuação bem fraca e de uma série de televisão (“As Crônicas de Sarah Connor"), eles insistem em inventar um filme que agora se passa no futuro, mostrando o início da luta de John Connor contra as máquinas.
Pior que nem achei esse “Exterminador do Futuro: A Salvação” tão ruim quanto estão dizendo. O filme é bem divertido e cheio de sequências de ação bem produzidas, efeitos especiais decentes e barulhos ensurdecedores (minha esposa saiu do cinema xingando e com dor de cabeça!). Porém, é um tiro na água, pois por mais que inventem, nós já sabemos que o protagonista não vai morrer já que ficou estabelecido nos filmes anteriores que ele vai virar o líder máximo da resistência humana.
Assim, o personagem vivido por Christian Bale (o novo “Batman”) é um peso morto, que se arrasta pelo filme até o final sem graça. Ciente disso, o esforçado ator não tem o que fazer a não ser lutar e fugir dos diversos tipos de máquinas assassinas que o perseguem filme adentro. Nem mesmo a aparição rápida de um Schwarzenneger criado digitalmente chega a empolgar, até porque o diretor McG (dos horríveis “As Panteras”) não consegue fugir daqueles velhos clichês irritantes, do tipo “monstro pega o herói pelo pescoço e, ao invés de mata-lo ali mesmo, joga-o do sobre uma barra de ferro do outro lado da sala”...
No fim, o personagem mais interessante acaba sendo Marcus Wright, feito pelo ator Sam Worthington, que pelo menos carrega um mistério com ele. Mesmo assim, a solução que inventaram para explicar suas ações não foge daquele velho clichê “tudo ocorreu de acordo com o que nós, os vilões, planejamos” que o George Lucas esgotou completamente ao filmar as prequels de Star Wars.
Enfim, como filme de ação e aventura dá para o gasto. Mas tem muito pouco a ver com os “Exterminadores” originais.
Cotação: * * 1/2
Como filme de ação e aventura dá para o gasto. Mas tem muito pouco a ver com os “Exterminadores” originais.
- por André Lux, crítico-spam
Não havia necessidade alguma de fazer mais uma continuação de “O Exterminador do Futuro”, filme de ficção científica que hoje é considerado um clássico do gênero e que foi praticamente refilmado com muito mais dinheiro anos depois pelo próprio criador do personagem, James Cameron.
Mas os executivos de Roliudi não têm jeito. Mesmo depois de uma terceira continuação bem fraca e de uma série de televisão (“As Crônicas de Sarah Connor"), eles insistem em inventar um filme que agora se passa no futuro, mostrando o início da luta de John Connor contra as máquinas.
Pior que nem achei esse “Exterminador do Futuro: A Salvação” tão ruim quanto estão dizendo. O filme é bem divertido e cheio de sequências de ação bem produzidas, efeitos especiais decentes e barulhos ensurdecedores (minha esposa saiu do cinema xingando e com dor de cabeça!). Porém, é um tiro na água, pois por mais que inventem, nós já sabemos que o protagonista não vai morrer já que ficou estabelecido nos filmes anteriores que ele vai virar o líder máximo da resistência humana.
Assim, o personagem vivido por Christian Bale (o novo “Batman”) é um peso morto, que se arrasta pelo filme até o final sem graça. Ciente disso, o esforçado ator não tem o que fazer a não ser lutar e fugir dos diversos tipos de máquinas assassinas que o perseguem filme adentro. Nem mesmo a aparição rápida de um Schwarzenneger criado digitalmente chega a empolgar, até porque o diretor McG (dos horríveis “As Panteras”) não consegue fugir daqueles velhos clichês irritantes, do tipo “monstro pega o herói pelo pescoço e, ao invés de mata-lo ali mesmo, joga-o do sobre uma barra de ferro do outro lado da sala”...
No fim, o personagem mais interessante acaba sendo Marcus Wright, feito pelo ator Sam Worthington, que pelo menos carrega um mistério com ele. Mesmo assim, a solução que inventaram para explicar suas ações não foge daquele velho clichê “tudo ocorreu de acordo com o que nós, os vilões, planejamos” que o George Lucas esgotou completamente ao filmar as prequels de Star Wars.
Enfim, como filme de ação e aventura dá para o gasto. Mas tem muito pouco a ver com os “Exterminadores” originais.
Cotação: * * 1/2
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Trilhas Sonoras: "Batman: O Cavaleiro das Trevas"
ESCOLHA INFELIZ
As partituras de Zimmer são rasas, limitam-se a pontuar a ação e ele é incapaz de compor música complexa para orquestra.
- por André Lux, crítico-spam
O diretor Christopher Nolan acertou em praticamente todos os ingredientes ao fazer os novos filmes do “Batman”, mas foi muito infeliz em um dos mais importantes: a escolha do compositor de suas trilhas sonoras.
No caso, foram os compositores, já que contratou uma dupla inusitada: o péssimo Hans Zimmer (“Gladiador”, “Falcão Negro em Perigo”, “A Rocha”) e o irregular James Newton Howard (“Sexto Sentido”, “O Príncipe das Marés”, “Neve Sob os Cedros).
De cara já há um problema nessa escolha: o “estilo” dos dois compositores não tem nada a ver um com o outro (coloco entre aspas, pois dizer que Zimmer possui estilo é uma ofensa aos músicos decentes).
Pelo que li em entrevistas e análises de entendidos no assunto, Zimmer ficou responsável pelos temas principais e pelas cenas de ação e suspense, enquanto Newton Howard musicou as partes mais melancólicas dos filmes (como o tema de Harvey Dent e do triângulo amoroso entre os protagonistas).
Mas, a grosso modo, quase 80% da trilha tem a assinatura inconfundível de Hans Zimmer e só de vez em quando aparecem alguns sinais do toque do outro compositor. Azar nosso.
Em “O Cavaleiro das Trevas”, Zimmer não procurou desenvolver seu tema para o Batman, deixando-o rolar praticamente da mesma forma que no filme anterior. Pesado e sombrio o tema é registrado nos níveis mais baixos e graves da orquestra, sem muita variação ou qualquer nuance.
É quase um tema minimalista que parece dizer o tempo todo “esse cara é nervoso e carrancudo”. Assim, perde-se a chance de explorar musicalmente os conflitos internos do personagem, seus medos, dúvidas e desvios psicológicos.
Só para comparar, o mestre Jerry Goldsmith criou três momentos diferentes dentro do mesmo tema para o protagonista de “Patton”: uma introdução com trompetes no ecoplex remetendo às crenças espirituais do general, outra passagem mais sóbria para definir o código de honra incorporado por ele e outra puramente militarista.
Assim, com um só tema, Goldsmith trouxe à tona três elementos distintos do personagem principal, dando voz a características mencionadas apenas de relance no roteiro.
Mas, Zimmer não é Goldsmith. Assim, sua aproximação ao material é o reflexo de suas limitações. Suas partituras para os filmes do “Batman” são rasas e se limitam a pontuar a ação nas telas. Soma-se a isso a total incapacidade do sujeito em compor música complexa para orquestra.
Suas orquestrações são ridículas, sem contraponto, harmonia, fuga ou qualquer outra técnica que poderia elevar a música a patamares minimamente interessantes. Tudo é pasteurizado e, via de regra, temos a sensação de que todos os membros da orquestra, mais os solistas e o sintetizador estão tocando a mesma nota, ao mesmo tempo. Sensação que aumenta ainda mais por culpa da mixagem pesada que deixa o som “achatado” e não dá qualquer chance para nuances no desempenho dos músicos.
Em “O Cavaleiro das Trevas”, Zimmer criou um tema para o Coringa que é de um simplismo de dar dó: nada mais do que um zumbido de uma nota só tocada pelo cello, sampleado e acompanhado por guinchos de guitarra e sons que se assemelham a alguém jogando um gato em cima do sintetizador.
No filme até que funciona, pois contribui para aumentar o clima enervante que emerge do personagem, porém da mesma forma que o tema do Batman, não ajuda em nada para expandi-lo além do que se vê na tela.
Justiça seja feita: a trilha musical de Zimmer para os dois “Batman” funciona razoavelmente bem junto como as imagens, o que no caso dele é algo surpreendente, já que estou acostumado a vê-lo (ou seria ouvi-lo?) destruindo filmes de ação e aventura com sua mesmice barulhenta ou passando em brancas nuvens quando o assunto são comédias ou dramas.
E não adianta querer me convencer que a trilha é ótima, pois ela funciona junto com as imagens. Para mim, uma boa trilha sonora é aquela que, além de funcionar dentro do filme, traz à tona elementos “escondidos” na trama ou nos personagens. Cito como exemplo disso, o tema que Bernard Herrman criou para o misterioso “Rosebud” em “Cidadão Kane”.
Ouvidos mais atentos vão perceber que Herrman “entrega” o mistério logo de cara juntando o tema ao objeto na cena do menino na neve. Ou Goldsmith “explicando” por meio da música que o unicórnio de “A Lenda” está perdoando os erros do protagonista. Além disso, claro, uma boa partitura deve ser musicalmente interessante fora do filme.
O álbum com a trilha sonora de “O Cavaleiro das Trevas” traz 14 faixas editadas em forma de suíte, com nomes que remetem a diálogos do filme, mas não deixam claro para qual cena foram compostas – pecado que enfurece todos os colecionadores de música de cinema.
A primeira, “Why So Serious?” tem mais de nove minutos e traz, basicamente, o tema do Coringa em diversas variações, o que vai fazer você lamentar ter perdido todo esse tempo da sua vida com algo tão estúpido.
Lançaram depois mais uma versão da trilha, num álbum com dois CD, trazendo ainda mais músicas que ficaram de fora da primeira edição. Enfim, mais do mesmo...
Repleta de momentos bombásticos e barulhentos, a trilha do novo “Batman” funciona como uma injeção de testosterona na veia – não é a toa, portanto, que a maioria dos fãs de Hans Zimmer são adolescentes nervosos.
Como eu disse, até funciona junto com o filme, mas se quiser ouvir em casa... prepare a Neosaldina!
Cotação: * *
As partituras de Zimmer são rasas, limitam-se a pontuar a ação e ele é incapaz de compor música complexa para orquestra.
- por André Lux, crítico-spam
O diretor Christopher Nolan acertou em praticamente todos os ingredientes ao fazer os novos filmes do “Batman”, mas foi muito infeliz em um dos mais importantes: a escolha do compositor de suas trilhas sonoras.
No caso, foram os compositores, já que contratou uma dupla inusitada: o péssimo Hans Zimmer (“Gladiador”, “Falcão Negro em Perigo”, “A Rocha”) e o irregular James Newton Howard (“Sexto Sentido”, “O Príncipe das Marés”, “Neve Sob os Cedros).
De cara já há um problema nessa escolha: o “estilo” dos dois compositores não tem nada a ver um com o outro (coloco entre aspas, pois dizer que Zimmer possui estilo é uma ofensa aos músicos decentes).
Pelo que li em entrevistas e análises de entendidos no assunto, Zimmer ficou responsável pelos temas principais e pelas cenas de ação e suspense, enquanto Newton Howard musicou as partes mais melancólicas dos filmes (como o tema de Harvey Dent e do triângulo amoroso entre os protagonistas).
Mas, a grosso modo, quase 80% da trilha tem a assinatura inconfundível de Hans Zimmer e só de vez em quando aparecem alguns sinais do toque do outro compositor. Azar nosso.
Em “O Cavaleiro das Trevas”, Zimmer não procurou desenvolver seu tema para o Batman, deixando-o rolar praticamente da mesma forma que no filme anterior. Pesado e sombrio o tema é registrado nos níveis mais baixos e graves da orquestra, sem muita variação ou qualquer nuance.
É quase um tema minimalista que parece dizer o tempo todo “esse cara é nervoso e carrancudo”. Assim, perde-se a chance de explorar musicalmente os conflitos internos do personagem, seus medos, dúvidas e desvios psicológicos.
Zimmer, o abominável: prova viva de que não é preciso estudar ou ter talento para fazer sucesso |
Assim, com um só tema, Goldsmith trouxe à tona três elementos distintos do personagem principal, dando voz a características mencionadas apenas de relance no roteiro.
Mas, Zimmer não é Goldsmith. Assim, sua aproximação ao material é o reflexo de suas limitações. Suas partituras para os filmes do “Batman” são rasas e se limitam a pontuar a ação nas telas. Soma-se a isso a total incapacidade do sujeito em compor música complexa para orquestra.
Suas orquestrações são ridículas, sem contraponto, harmonia, fuga ou qualquer outra técnica que poderia elevar a música a patamares minimamente interessantes. Tudo é pasteurizado e, via de regra, temos a sensação de que todos os membros da orquestra, mais os solistas e o sintetizador estão tocando a mesma nota, ao mesmo tempo. Sensação que aumenta ainda mais por culpa da mixagem pesada que deixa o som “achatado” e não dá qualquer chance para nuances no desempenho dos músicos.
Em “O Cavaleiro das Trevas”, Zimmer criou um tema para o Coringa que é de um simplismo de dar dó: nada mais do que um zumbido de uma nota só tocada pelo cello, sampleado e acompanhado por guinchos de guitarra e sons que se assemelham a alguém jogando um gato em cima do sintetizador.
No filme até que funciona, pois contribui para aumentar o clima enervante que emerge do personagem, porém da mesma forma que o tema do Batman, não ajuda em nada para expandi-lo além do que se vê na tela.
Justiça seja feita: a trilha musical de Zimmer para os dois “Batman” funciona razoavelmente bem junto como as imagens, o que no caso dele é algo surpreendente, já que estou acostumado a vê-lo (ou seria ouvi-lo?) destruindo filmes de ação e aventura com sua mesmice barulhenta ou passando em brancas nuvens quando o assunto são comédias ou dramas.
E não adianta querer me convencer que a trilha é ótima, pois ela funciona junto com as imagens. Para mim, uma boa trilha sonora é aquela que, além de funcionar dentro do filme, traz à tona elementos “escondidos” na trama ou nos personagens. Cito como exemplo disso, o tema que Bernard Herrman criou para o misterioso “Rosebud” em “Cidadão Kane”.
Ouvidos mais atentos vão perceber que Herrman “entrega” o mistério logo de cara juntando o tema ao objeto na cena do menino na neve. Ou Goldsmith “explicando” por meio da música que o unicórnio de “A Lenda” está perdoando os erros do protagonista. Além disso, claro, uma boa partitura deve ser musicalmente interessante fora do filme.
O álbum com a trilha sonora de “O Cavaleiro das Trevas” traz 14 faixas editadas em forma de suíte, com nomes que remetem a diálogos do filme, mas não deixam claro para qual cena foram compostas – pecado que enfurece todos os colecionadores de música de cinema.
A primeira, “Why So Serious?” tem mais de nove minutos e traz, basicamente, o tema do Coringa em diversas variações, o que vai fazer você lamentar ter perdido todo esse tempo da sua vida com algo tão estúpido.
Lançaram depois mais uma versão da trilha, num álbum com dois CD, trazendo ainda mais músicas que ficaram de fora da primeira edição. Enfim, mais do mesmo...
Repleta de momentos bombásticos e barulhentos, a trilha do novo “Batman” funciona como uma injeção de testosterona na veia – não é a toa, portanto, que a maioria dos fãs de Hans Zimmer são adolescentes nervosos.
Como eu disse, até funciona junto com o filme, mas se quiser ouvir em casa... prepare a Neosaldina!
Cotação: * *
terça-feira, 9 de junho de 2009
DVD: "Sangue Negro"
“Sangue Negro” não passa de um interminável exercício de estilo do diretor Paul Thomas Anderson, cineasta especialista em torrar o saco da platéia com altas doses de auto-indulgência e pretensão expostas em filmes a princípio interessantes que se perdem em projeções alongadas e irritantes.
Seus dois filmes mais celebrados, “Boogie Nights” e “Magnólia”, padeciam do mesmo defeito, sendo que o último era encerrado misteriosamente com uma chuva de sapos que só o diretor e seus amigos entenderam o significado.
“Sangue Negro” é supostamente inspirado na vida de Edward Doheny, que serviu de esteio ao livro de Upton Sinclair, no qual o filme é baseado. O enredo deveria contar a trajetória de um brutal magnata do petróleo, Daniel Plainview, desde o tempo que cavava o chão com as próprias mãos até se transformar em dono de muitas jazidas e de uma grande fortuna. Tudo conquistado com muito sangue, suor e lágrimas – geralmente de seus funcionários, obrigados a trabalhar em condições animalescas e sem qualquer segurança. Muitos viram aí uma metáfora para a brutalidade do capitalismo. Pode ser que no livro isso seja verdade, mas no filme o personagem age de forma incoerente e sem motivações claras, mudando de comportamento e atitude a cada seqüência.
Contribui para o fracasso da caracterização do protagonista a presença de Daniel Day-Lewis no papel principal. Ao contrário da maioria (ele chegou a ganhar um absurdo Oscar de melhor ator!), achei sua atuação o ponto mais baixo do filme, totalmente caricata, sem nenhuma verdade ou humanidade, baseada inteiramente nos mesmos tiques, tom de voz e bigodão que compôs para o igualmente mal delineado e violento protagonista de “Gangues de Nova York”, de Martin Scorsese (outro filme ruim superestimado pelos críticos). No ridículo final de “Sangue Negro” o exagero era tanto que tive a impressão que Day-Lewis atuou sob forte prisão de ventre, tamanho o número de caretas e gritos histéricos que providenciou!
Apesar de contar com interessante direção de fotografia e inusitada trilha musical (de Jonny Greenwood, do Radiohead), “Sangue Negro” falha justamente na caracterização do protagonista. Terminamos o filme sem saber direito quem foi aquele sujeito, nem quais eram as suas motivações, medos ou obsessões, se era mesmo um homem obcecado por poder e dinheiro ou simplesmente um louco varrido. E olha que o diretor teve quase três horas para explorar o personagem! Deveria ter gasto menos tempo admirando o próprio umbigo...
Cotação: * *
Seus dois filmes mais celebrados, “Boogie Nights” e “Magnólia”, padeciam do mesmo defeito, sendo que o último era encerrado misteriosamente com uma chuva de sapos que só o diretor e seus amigos entenderam o significado.
“Sangue Negro” é supostamente inspirado na vida de Edward Doheny, que serviu de esteio ao livro de Upton Sinclair, no qual o filme é baseado. O enredo deveria contar a trajetória de um brutal magnata do petróleo, Daniel Plainview, desde o tempo que cavava o chão com as próprias mãos até se transformar em dono de muitas jazidas e de uma grande fortuna. Tudo conquistado com muito sangue, suor e lágrimas – geralmente de seus funcionários, obrigados a trabalhar em condições animalescas e sem qualquer segurança. Muitos viram aí uma metáfora para a brutalidade do capitalismo. Pode ser que no livro isso seja verdade, mas no filme o personagem age de forma incoerente e sem motivações claras, mudando de comportamento e atitude a cada seqüência.
Contribui para o fracasso da caracterização do protagonista a presença de Daniel Day-Lewis no papel principal. Ao contrário da maioria (ele chegou a ganhar um absurdo Oscar de melhor ator!), achei sua atuação o ponto mais baixo do filme, totalmente caricata, sem nenhuma verdade ou humanidade, baseada inteiramente nos mesmos tiques, tom de voz e bigodão que compôs para o igualmente mal delineado e violento protagonista de “Gangues de Nova York”, de Martin Scorsese (outro filme ruim superestimado pelos críticos). No ridículo final de “Sangue Negro” o exagero era tanto que tive a impressão que Day-Lewis atuou sob forte prisão de ventre, tamanho o número de caretas e gritos histéricos que providenciou!
Apesar de contar com interessante direção de fotografia e inusitada trilha musical (de Jonny Greenwood, do Radiohead), “Sangue Negro” falha justamente na caracterização do protagonista. Terminamos o filme sem saber direito quem foi aquele sujeito, nem quais eram as suas motivações, medos ou obsessões, se era mesmo um homem obcecado por poder e dinheiro ou simplesmente um louco varrido. E olha que o diretor teve quase três horas para explorar o personagem! Deveria ter gasto menos tempo admirando o próprio umbigo...
Cotação: * *
domingo, 7 de junho de 2009
Filmes: "Meu Irmão é Filho Único"
DA DIREITA PARA A ESQUERDA
A mensagem do filme é clara: passar da direita para a esquerda é um processo de difícil amadurecimento. Mas e o contrário? Bom, olhe para gente como Soninha ou Gabeira e você vai saber a resposta...
- por André Lux, crítico-spam
Esse filme me tocou particularmente, afinal conta a história de um sujeito que era fascista na juventude e virou socialista ao amadurecer. Quem leu minhas “Memórias de um alienado” sabe do que estou falando.
“Meu Irmão é Filho Único” é inspirado num livro autobiográfico de Antonio Pennachi chamado "Il Fasciocomunista”. Começa como comédia, passa para o drama e termina de forma emocionante.
Na Itália do início dos anos 1960, o jovem Accio é mandado para um seminário. Mas o irmão mais velho, comunista e ateu, “salva” o moleque dessa fria dando umas revistinhas pornôs para o irmão que, pego em flagrante durante ato onanista, é convidado a se retirar pelos padres.
O problema é que o garoto é feioso pra chuchu, meio tonto e entende as coisas tudo ao contrário. Revoltado com o sucesso do irmão mais velho na liderança sindical e na conquista de belas garotas, o coitado começa a ser influenciado por um velho fascista careca, seguidor fervoroso de Mussolini e o único que leva o Accio a sério.
Não dá outra. O menino alienado e mal influenciado começa a escutar hinos nazi-fascistas e repetir aquelas nojeiras irracionais repletas de preconceito, ódio e rancor que ficariam bem na boca de qualquer senador do DEMo. Para piorar, quando vira adolescente e depois de levar a enésima “coça” do irmão mais velho, Accio se filia ao partido Fascista e sai pelas ruas com seus novos amigos espancando comunistas e botando fogo em seus carros (isso pelo menos eu não fiz... ufa!).
Tudo é mostrado em tons cômicos, principalmente a burrice e a alienação do Accio. Mas as coisas mudam quando seu irmão vira alvo dos odiosos fascistas e aí o filme troca de figura, ganhando contornos mais dramáticos e realistas.
Não vou entregar a história toda, mas basta dizer que “Meu Irmão é Filho Único” termina de forma tocante, com Accio finalmente mudando de lado e entendendo que passou um terço da sua vida do “lado errado”. A mensagem é clara: passar da direita para a esquerda é um processo de difícil amadurecimento. Mas e o contrário? Bom, olhe para gente como Soninha ou Gabeira e você vai saber a resposta...
Cotação: * * * *
A mensagem do filme é clara: passar da direita para a esquerda é um processo de difícil amadurecimento. Mas e o contrário? Bom, olhe para gente como Soninha ou Gabeira e você vai saber a resposta...
- por André Lux, crítico-spam
Esse filme me tocou particularmente, afinal conta a história de um sujeito que era fascista na juventude e virou socialista ao amadurecer. Quem leu minhas “Memórias de um alienado” sabe do que estou falando.
“Meu Irmão é Filho Único” é inspirado num livro autobiográfico de Antonio Pennachi chamado "Il Fasciocomunista”. Começa como comédia, passa para o drama e termina de forma emocionante.
Na Itália do início dos anos 1960, o jovem Accio é mandado para um seminário. Mas o irmão mais velho, comunista e ateu, “salva” o moleque dessa fria dando umas revistinhas pornôs para o irmão que, pego em flagrante durante ato onanista, é convidado a se retirar pelos padres.
O problema é que o garoto é feioso pra chuchu, meio tonto e entende as coisas tudo ao contrário. Revoltado com o sucesso do irmão mais velho na liderança sindical e na conquista de belas garotas, o coitado começa a ser influenciado por um velho fascista careca, seguidor fervoroso de Mussolini e o único que leva o Accio a sério.
Não dá outra. O menino alienado e mal influenciado começa a escutar hinos nazi-fascistas e repetir aquelas nojeiras irracionais repletas de preconceito, ódio e rancor que ficariam bem na boca de qualquer senador do DEMo. Para piorar, quando vira adolescente e depois de levar a enésima “coça” do irmão mais velho, Accio se filia ao partido Fascista e sai pelas ruas com seus novos amigos espancando comunistas e botando fogo em seus carros (isso pelo menos eu não fiz... ufa!).
Tudo é mostrado em tons cômicos, principalmente a burrice e a alienação do Accio. Mas as coisas mudam quando seu irmão vira alvo dos odiosos fascistas e aí o filme troca de figura, ganhando contornos mais dramáticos e realistas.
Não vou entregar a história toda, mas basta dizer que “Meu Irmão é Filho Único” termina de forma tocante, com Accio finalmente mudando de lado e entendendo que passou um terço da sua vida do “lado errado”. A mensagem é clara: passar da direita para a esquerda é um processo de difícil amadurecimento. Mas e o contrário? Bom, olhe para gente como Soninha ou Gabeira e você vai saber a resposta...
Cotação: * * * *