segunda-feira, 30 de junho de 2008

Filme: "WALL-E"

INGENUIDADE E HIPOCRISIA

Disney e Pixar transformam a luta pelo meio-ambiente em mais um produto que gere lucro aos seus acionistas e investidores

- por André Lux, crítico-spam

“Wall-E” é um filme-mensagem, daqueles em o que deve prevalecer na cabeça do espectador é o conteúdo que os realizadores acreditam ser importante para conscientizá-lo.

Raros são os filmes desse tipo que têm sucesso com intenções tão pretensiosas. “Wall-E”, infelizmente, não é um deles.

Navegando na atual onda politicamente correta de “salvem o meio-ambiente”, a nova animação digital da Pixar começa de forma exemplar. Mostra a Terra já arrasada pela poluição e pelo lixo, onde os únicos habitantes são um robô de reciclagem e uma barata.

Depois de mais de 700 anos trabalhando, o robô já produziu pilhas de material reciclado da altura de prédios. O visual hiper-realista dessas seqüências é realmente impressionante e estarrecedor.

E, como acontece com todas as máquinas em filmes de ficção científica, Wall-E começa a desenvolver emoções humanas vendo filmes antigos e coletando tranqueiras. Ao ponto dele querer “namorar” uma robô-fêmea que aterrissa no planeta em missão secreta. Quando ela volta para o espaço, Wall-E consegue segui-la agarrando-se à nave e viaja pela imensidão do cosmos em seqüências cuja beleza é de levar lágrimas aos olhos.

Se terminasse por aí, a animação seria memorável pela coragem e competência dos realizadores em mostrar um futuro terrível (e plausível) para a Terra num filme infantil e por conseguirem manter o interesse e o ritmo sem qualquer diálogo. Pena que o filme tem que prosseguir e, a partir daí, exponha um roteiro sem saída e as intragáveis lições de moral made in róliudi, que balançam entre o ingênuo e o simplesmente hipócrita.

Tudo descamba quando os robôs chegam ao destino, que nada mais é do que a gigantesca nave em que se refugiou a população da Terra (leia-se: os estadunidenses), reduzida agora a milhares de pessoas obesas e idiotizadas que passam o dia deslizando em cadeiras flutuantes enquanto assistem anúncios em uma TV virtual que fica grudada em suas caras, sem ter qualquer contato humano (o que faz a gente se perguntar de onde vêem os bebês que aparecem no filme). Além de ser ofensiva aos mais gordinhos, a “lição” contida no filme também expõe a esquizofrenia desses produtos típicos do sistema da indústria cultural estadunidense.

Ao mesmo tempo em que deixa claro que a Terra foi destruída pela ganância sem freios do sistema capitalista e mostra o quanto é horrível a situação na qual se encontra a população da Terra (que nada mais é do que o sonho neoliberal da sociedade dos “idiotas consumidores” elevado à décima potência), “Wall-E” não passa de um produto destinado a gerar imenso lucro com a venda infinita de camisetas, copos, joguinhos e sabe-se quantas outras tranqueiras que, usando a mesma lógica do filme, só vão ajudar a deixar o planeta ainda mais poluído e as pessoas mais imbecilizadas.

Lembre-se que “Wall-E” é um produto da Disney, mega-corporação que construiu seu patrimônio fabricando e vendendo ilusões aos jovens. E o que é a nave dos gordinhos senão uma Disneylândia levada aos extremos?

Essa esquizofrenia conceitual simplesmente implode “Wall-E”. E mostra de maneira clara o quanto a indústria cultural dos EUA é mestre em utilizar a velha máxima do “se não pode com ele, junte-se a ele”, por meio da qual conseguem até vender biquínis de grife estampados com a foto do Che Guevara.

No caso do filme em questão, simplesmente pegaram a luta justa e necessária em favor da salvação do meio-ambiente e a transformaram em mais um produto que gere lucro aos seus acionistas e investidores, sempre ávidos para ampliar suas já bilionárias contas bancárias.

Mas não sejamos injustos. Temos que entender o motivo de precisarem acumular tanta riqueza: eles precisam garantir desde já seus lugares na nave que vai fugir da Terra quando o planeta estiver à beira da destruição. Azar de quem ficar para trás...

Cotação: * *

9 comentários:

  1. Ahhh, que beleza André, sempre espero ansiosamente por suas resenhas, gostaria de ver mais delas... Tenho assistido muitos filmes ultimamente (inclusive alguns resenhados no nosso "tudo em cima")e sempre me pergunto: "o que será que ele diria sobre esse filme?". Um exemplo, assiste ao elogiado filme Juno; mais um: ao tb elogiado Old Boy. São dos filmes que mereciam uma análise sua, penso eu. Bom, fico por aqui, até mais.
    Piort.

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  2. Preciso conferir antes, até porque gostei do último Superman e pelo que li você detestou o filme. A crítica também malhou o novo Hulk, mas achei bem melhor que o primeiro.

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  3. "Não se deixe levar por profissionais da opinião pretensiosos ou mal-humorados" (frase inicial do post do novo Indiana Jones)

    Eu quero dizer que todos que quiserem ver esse filme devem sim, vê-lo sem serem intimidados pela resenha. Eu confesso que não esperava um filme tão bom, já que enxergo os filmes da Pixar como belas animações vazias.

    Se há merchandising do filme, é porque qualquer coisa feita por esse estúdio e distribuída pela Disney não poderia ser de outra forma. E esse é um filme que denuncia sim, o excesso de consumo e as conseqüências para nosso planeta; além de uma alusão óbvia ao que a sociedade estadunidense pode-se tornar, com o consumo e o sedentarismo crescentes.

    Se há uma certa incoerência em um filme da Disney denunciando conseqüências do consumo, ela também existe no caso do Al Gore, que faz palestras sobre o meio ambiente e aquecimento global, lucrando e valorizando sua imagem.

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  4. Não concordo com absolutamente nada do que vc escreveu em sua resenha. Wall-E é maravilhoso e transmite muito bem a mensagem pretendida. Ele conscientiza adultos e crianças dos perigos de nossa sociedade consumista e devastadora do meio ambiente. Acho mesmo que vc não entendeu nadinha do filme, e infelizmente não está aberto para os benefícios que um filme como esse pode nos trazer.

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  5. Finalmente vi e não gostei. O roteiro é realmente muito superficial. Afinal, por que as máquinas queriam manter os humanos na nave?

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  6. André,

    O Sakamoto passou por uma experiência com esse filme que sustenta suas impressões com o mesmo:

    http://blogdosakamoto.blig.ig.com.br/2008/08/o-robo-walle-a-ignorancia-consumista-e-o-futuro-do-planeta.html

    PS: até que enfim mais críticas de filmes em seu blog!

    :)

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  7. André, o filme não "esquizofrênico" como você imaginou. O consumismo é exagerado no filme EXATAMENTE para mostrar o que pode acontecer, algo no estilo "olhe o que você será amanhã se continuar assim". Mostra que os tripulantes ficaram obesos e também a razão disso, mostrando sem precisar falar uma palavra direta o que aconteceu. Achei um filme excelente, mas que precisa ser visto com atenção para se ver todas as mensagens que foram passadas

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  8. Esquerdista. Alienado. Idiota útil! A sociedade não engole mais esse mi-mi-mi esquerdista.

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