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A CORPORATOCRACIA EM AÇÃO
Quem já possui uma visão crítica acerca da atuação das transnacionais e do auto-destrutivo modelo neoliberal certamente vai se deleitar com a abordagem ácida e demolidora dessa obra.
- por André Lux, jornalista e crítico-spam
CartaCapital, a única revista semanal imprensa que ainda pratica jornalismo sério no Brasil, publicou na edição 452 uma reportagem sobre os absurdos que as empresas cometem contra candidatos a uma nova vaga de trabalho, muitas vezes submetendo-os a situações, no mínimo, humilhantes.
Depois de ler essa reportagem e tomar consciência desse fato, o filme “O Que Você Faria?” não parece assim tão absurdo. Embora algumas situações retratadas na obra sejam realmente exageradas (como o sexo no banheiro e as agressões físicas) e os personagens beirem o estereótipo, não existe ali compromisso com a realidade, mas sim com a construção de uma metáfora à loucura que tomou conta hoje do meio empresarial, especialmente das grandes corporações, onde a busca pelo lucro a qualquer preço e a exploração da mão de obra virou obsessão, com raríssimas e nobres exceções.
A verdade é que vivemos hoje numa ditadura do mercado, que alguns chamam ironicamente de “corporatocracia”, na qual a ordem mundial é dominada por meia dúzia de mega-empresas transnacionais que pairam acima de governos e estados democráticos, restando à grande maioria dos cidadãos alugarem suas forças de trabalho a elas em troca da sobrevivência diária. Acima de tudo isso, grupos de acionistas sem rosto e dirigentes absolutamente subservientes a eles dominam com mão de ferro esse sistema que, nas palavras do lingüista e ativista político Noam Chomsky, é o mais totalitário que existe – já que as ordens vêm de cima sem qualquer discussão, sobrando aos que estão abaixo a única opção de segui-las à risca sem questionamento.
“O Que Você Faria?”, uma co-produção entre Espanha, Argentina e Itália, mostra exatamente o processo de seleção para um alto cargo de direção de uma dessas multinacionais. Sete candidatos à vaga são reunidos em uma mesma sala para participarem da última etapa do processo, do qual apenas um restará. Neste ambiente inóspito, serão submetidos a um certo “método Grönholm”, que basicamente incitará os piores instintos de cada candidato na tentativa de eliminar os concorrentes.
O clima de paranóia é dobrado com a possibilidade de um deles ser um impostor, ou seja, alguém da empresa infiltrado na sala para observar mais de perto e manipular a ação dos outros. E tudo ainda pode estar sendo gravado com câmeras e microfones ocultos, numa assertiva alusão à sociedade “Big Brother” para a qual caminhamos cada dia mais, onde tudo e todos são constantemente monitorados e vigiados.
A intenção do roteiro de Mateo Gil e Marcelo Piñeyro, que é baseado em peça teatral de Jordi Galcerán, vai se tornando óbvia a partir que a trama avança e as primeiras vítimas do processo absurdo e degradante vão sendo feitas. Não por acaso, o candidato mais qualificado para o cargo e, também, o mais ético é o primeiro a ser praticamente linchado pelos outros competidores, que agem sempre sob a manipulação da corporação na forma de tarefas transmitidas a eles de modo impessoal e frio por meio de telas de computador. E, claro, o vencedor é justamente aquele que menos tem escrúpulos em destruir os adversários para atingir suas ambições.
Quem já possui uma visão crítica acerca da atuação desumana das transnacionais e do auto-destrutivo modelo neoliberal certamente vai se deleitar com a abordagem extremamente ácida e demolidora da obra, que melhora ainda mais com uma segunda leitura, quando já conhecemos melhor os personagens e o que cada um deles representa dentro do contexto em que estão inseridos.
Ironicamente e em paralelo à ação principal do filme, acontece uma grande manifestação nas ruas de Barcelona contra a atuação nefasta do FMI e do Banco Mundial sobre a economia global, sob o jargão de que "um outro mundo é possível". Por enquanto ainda é. Não se sabe até quando...
Cotação: * * * *
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Muito boa a reportagem da CartaCapital. As dinâmicas de grupo lá expostas são ridículas e patéticas. Algumas totalmente inúteis. De acordo com a reportagem: "Em vez da empresa procurar alguém que se encaixe no perfil dela, busca quem se encaixa no perfil dos testes. Não entendo qual é a coerência". Muito bem dito! Além disso, não há nenhuma regulagem do setor de RH de empresa alguma. Teoricamente, um "psicólogo" pode submeter o candidato a qualquer coisa, desde uma entrevista, até coisas que simplesmente não se encaixam no próprio emprego, como acender um fósforo e falar da sua vida antes da chama apagar ou "vender" um objeto pessoal qualquer. Não dá pra se sujeitar a isto - mas é claro que tem uma explicação: as empresas estão se lixando para o desemprego. Põe o "teste" que quiserem pois a oferta é grande: "Se você não quiser, rua! Tem quem queira!" Lamentável! É uma inversão: ao invés de ampliarem o leque de empregados, AFUNILAM cada vez mais a busca, contribuindo assim para aumentar as taxas de desemprego - pois agora a procura por um serviço não depende mais da sua capacidade profissional; mas sim de PARECER mais apto, de passar no teste, na dinâmica, de produzir sem saber para quê ou para quem. Nada devendo à uma corrida de ratos. Grande mercado!...
ResponderExcluirVi o artigo la no novaE. Tá supimpa, amigo. Acima da cotação verificada.
ResponderExcluirAbraços.
Alguém sabe dizer onde tem para vender? Não encontrei no bondfaro nem na livraria cultura.
ResponderExcluirPatrick, o filme ainda não foi lançado para venda apenas para locação...
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