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SURRA INACREDITÁVEL
Mesmo deturpando fatos históricos e pregando a favor da intervenção militar, filme mostra o exército dos EUA levando um espetacular "chute no traseiro"!
- por André Lux, crítico-spam
A expressão "lets kick some ass" é hoje uma das mais populares entre os estadunidenses. Não é a toa que a frase é dita logo de cara em “Falcão Negro Em Perigo” por um soldado recém-chegado ao front, louco que está para entrar em ação.
Essa obsessão dos estadunidenses por "chutar traseiros" alheios é a base da cultura deles e chegou atualmente às raias do absurdo. Não é de se estranhar, portanto, que os executivos de Hollywood, alinhados com as políticas e estratégias do Pentágono, coloquem cada vez mais seus investimentos em filmes panfletários que pregam a favor da intervenção estadunidense em território estrangeiro.
Tudo em nome de uma suposta "paz" e "ordem", como somos informados logo no início deste filme por um longo letreiro que tenta deturpar fatos históricos para justificar a presença do exército do Tio Sam na Somália.
Segundo os realizadores, os EUA estavam lá somente para garantir que os pobres somalis pudessem receber os alimentos cedidos gentilmente pela ONU e que estavam sendo roubados pelos guerrilheiros locais, liderados por Mohamed Farrah Adid, pintado como um monstro sanguinário e responsável pela morte por inanição de mais de 300 mil civis.
Tem que ser muito ingênuo ou mal intencionado para querer nos fazer acreditar que os EUA invadem outros países (sempre do terceiro mundo) com boas intenções, já que situações de genocídio como essa que ocorreu na Somália são patrocinadas em larga escala pelo próprio governo estadunidense. Seja por meio de sanções econômicas ou pelo financiamento das milícias de direita que, geralmente, são as responsáveis pela tortura e assassinato dos civis.
A justificativa para essa política intervencionista está presente em diálogos pavorosos como o proferido por um dos soldados "idealistas" do Tio Sam (Josh Hartnett, tão expressivo quanto uma escultura de pedra): "Eles não tem educação, não tem esperança, não tem futuro", - só faltou dizer que não têm DVD nem internet! Ou seja: "Cidadãos do terceiro mundo não são como nós, a raça superior, por isso necessitam da nossa proteção e da nossa doutrina". Adolf Hitler ficaria orgulhoso!
“Falcão Negro Em Perigo” foi dirigido por Ridley Scott, cineasta que um dia foi capaz de nos brindar com gemas como “Blade Runner” e “Alien”, mas que hoje optou por colocar seu talento técnico ao serviço de produções execráveis como “Gladiador”. Dessa vez uniu forças com o produtor de filmes-clipes Jerry Bruckenheimer, responsável por pérolas fascistas como “Top Gun” e “Pearl Harbor”.
Isso quer dizer que temos aqui mais um exemplar de técnica espetacular usada para contar uma historinha torpe e reacionária da pior espécie. Tudo isso embalado por altas doses de tiros, explosões, sangue e efeitos especiais que pipocam na tela a cada cinco segundos como que para não dar tempo para o espectador pensar nos horrores que está vendo. Vira tudo um mero "entretenimento" no final.
Como parte do pacote ideológico vendido pelo filme, os somalis são mostrados somente como um bando de pessoas sujas e maltrapilhas sem face (em algumas tomadas chegam até a parecer extraterrestres!), cuja única função na trama é servirem de alvo para os desesperados Rangers.
Não ficamos sabendo em nenhum momento o que levou aquele povo a atacar os "golden boys" do exército dos EUA com tamanha ferocidade. O roteiro até faz de conta que vai dar uma dica durante a cena em que um dos pilotos capturado pelos guerrilheiros é informado que não são bem-vindos e que matar seu líder de nada iria adiantar, pois na Somália as coisas são diferentes.
Pena que esse discurso sai da boca de mais um personagem "imundo e maltrapilho", obviamente vilão, o que impede a platéia de, sequer, levar em consideração o que ele está dizendo.
O que causa mais estranhamento nesse “Falcão Negro Em Perigo”, entretanto, é perceber que, mesmo fazendo a panfletagem a favor do imperialismo dos EUA, os executivos gastaram rios de dinheiro para mostrar, basicamente, o supostamente invencível exército do Tio Sam levando uma surra inacreditável dos próprios "magrelos" (termo pejorativo pelo qual eles chamavam os somalis) que deveriam salvar. A exemplo que ocorreu no Vietnam e agora no Iraque, esse é mais um caso de "chute no traseiro" que saiu pela culatra para os estadunidenses!
No final, somos informados por um pequeno letreiro que morreram mais de mil somalis durante a ofensiva para apenas 19 estadunidenses - cujos nomes são estampados gloriosamente na tela, um por um. Pelos cálculos dos produtores, a vida de um "americano" equivale à 52,6 vidas africanas!
E, como sempre, tentam colocar a culpa do fracasso e das mortes em uma única pessoa – no caso, o general que planejou a ofensiva, - numa tentativa torpe de eximir da responsabilidade o sistema como um todo, quando a ingenuidade dos soldados (em sua maioria jovens desmiolados que passaram por "lavagem cerebral") e a canalhice dos governantes são as verdadeiras causas de carnificinas como a mostrada no filme.
Impressiona também a insistência na mensagem que "não vão deixar ninguém para trás", como se fazer parte do exército estadunidense fosse a coisa mais nobre do mundo, pois sempre vai ter alguém disposto a ser herói e sacrificar a vida pelo outro.
É analisando peças de marketing desse tipo que podemos entender como é que tantos jovens alistam-se livremente no exército daquele país, só para serem mandados para lutar em países que não conhecem guerras que não entendem.
A verdade é que não existe nada que justifique a intervenção militar em terra alheia e o quanto mais tentam explicar essas ações, pior fica a situação.
A melhor crítica que um filme como esse poderia receber está em “O Sentido da Vida”, do grupo Monty Python, na cena em que um militar empedernido defende a importância do exército em nossas vidas, já que segundo ele, "sem a habilidade para defender seu próprio ponto de vista contra outras ideologias mais agressivas, a racionalidade e a moderação podem desaparecer. É por isso que sempre vamos precisar de um exército. E que Deus me atinja com um raio se eu não estiver certo!"...
KABUMMMM!!!
Cotação: *
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Bom Dia André,
ResponderExcluirTenho o mesmo nome que você porem discordo de quase tudo que disse, pois a guerra ta incrustada na raça humana e não tem como fugir dela.
Tenho conhecidos no US. Army e posso afirmar a você que parte dos Marines tem a cabeça lavada, mas o Exercito não. E mais a galera gosta do que faz e eu particularmente não sinto pena de desgraçados como aqueles, acho mais que tem que fazer ficarem uns contra os outros e eliminar quantos der, para mim são como baratas assim como os marginais brasileiros devem ser eliminados (Espero todos os dias um em meu estabelecimento, vou fazer dois furos nele no mínimo).
Se todos os países do mundo se sentissem obrigados a levar um pouco da civilização aqueles que estão completamente fora dela, com certeza teríamos um mundo melhor.
Não seja como todo o bom Brasileiro, egoísta só pensa em si mesmo, no futebol ou na bunda da fulana e ciclana, ou fica esperando que o messias da paz venha do alem e dessa na terra fazendo todos sejam bonzinhos. Isso não existe cara eu sou formado em história e percebi através do estudo que não tem como mudar o mundo.
Quanto ao chute no traseiro como você disse, eu não entendo como em média 150 pessoas matam 1000 e perdem 19 e ainda perderam, então não sei o que é ganhar.
O poder é tanto que Durant foi libertado logo após o incidente, por uma simples pressão.
André Pedroso
Historiador e mestre em conflitos históricos.
Um abraço
Nunca li tanta besteira junta. Não dá nem pra comentar...
ResponderExcluirFalcão Negro em Perigo
ResponderExcluirAchei o filme muito ruim.
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O filme é praticamente imoral. Ele amplifica demais o drama americano...O inimigo é só número.
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No fim, descobre-se que morreram 18 americanos e mais de 1000 inimigos
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Lembra uma cena particular do "Apocalypse Now", só que com uma inversão de valores. A cena do ataque na praia, quando tocam as valquírias e os americanos arrasam um vilarejo.
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Enquanto Copolla evidencia a assimetria e a barbaridade americana, Scott vitimiza força agressora.
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O filme de Scott situa-se num gênero bem específico do cinema, o de guerra. Não há nada fora disso e todo o drama deriva das cenas de batalha. Um detalhe relevante é que ali só há voluntários membros de unidades de elite: Rangers e Delta.
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A missão é um equívoco político e operacional. Político porque presume que o rapto de um líder rebelde porá um fim à guerra. Operacional porque o que era para levar duas horas leva mais de doze.
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Em termos técnicos, o filme é bem produzido, mas não sei se é o caso de chamá-lo de realista. Parece que é o que pretende passar, mas o "Resgate do Soldado Ryan" foi mais longe e nem por isso pode ser considerado realista só porque mostra pedaço de gente, câmeras balançando e filtros de lente.
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Mais realista é o "Além da Linha Vermelha", em que decisões são tomadas na adrenalina, em que não há coreografia de movimentos, pelo contrário, os combatentes parecem baratas tontas, vomitando e fazendo nas calças de nervosos, e um sargento experiente explode a bunda quando tenta lançar uma granada e só puxa o pino.
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Enfim, o filme pode ter sido uma experiência técnica para o diretor, mas no geral foi um fiasco. Tratou o povo somali como uma horda irracional desumanizada; é um filme chato pra maioria das pessoas; custou 92 milhões e arrecadou 172 milhões. E ainda vim a descobrir que um capitão da operação, que anos mais tarde veio a ser condenado por estupro e pedofilia, teve seu nome alterado no filme, a pedido do Pentágono, para não prejudicar a mensagem edificante.