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A POLÍTICA COMO ELA É
Os fins justificam os meios? Filme levanta importante questão, mas deixa o espectador chegar às suas próprias conclusões. Não surpreende, portanto, ter sido massacrado pela crítica e fracassado nas bilheterias...
- por André Lux, crítico-spam
Massacrado pelos profissionais da opinião e fracasso nos cinemas, esse “A Grande Ilusão” (título nacional preconceituoso para “All the King’s Men”) é um excelente drama político que traz novamente à luz uma velha questão que sempre provoca discussões acaloradas: afinal, os fins justificam os meios?
O filme é baseado num livro famoso escrito pelo aclamado Robert Penn Warren, que se inspirou em um político real da Luisiana dos anos 1930, Huey Long, ex-governador do estado lembrado até hoje por ter usado a corrompida máquina política para tentar levar conforto e bem estar à população pobre. Assim, construiu estradas, casas, escolas, hospitais e distribuiu livros e material escolar gratuito. Por tudo isso e não por acaso, foi violentamente perseguido pelos representantes da elite, do empresariado e da mídia conservadora local, os quais tentaram, durante todo seu mandato, provocar seu impeachment ou simplesmente derrubá-lo por meio de incessantes acusações de corrupção e fraude. Qualquer semelhança com o que acontece atualmente com qualquer político que não se curve ao status-quo não é mera coincidência...
No livro, Long virou Willie Stark e no filme é representado por Sean Penn. Só que o protagonista da história é, na verdade, um jornalista (Jude Law, discreto) que inicia a história cobrindo a campanha do político e acaba se transformando no seu braço direito depois de eleito. Cabe a ele o papel de “consciência” frente aos acontecimentos que são apresentados sempre de maneira ambígua e polêmica, sem maniqueísmos, “mocinhos” e “bandidos” ou aquelas irritantes explicações didáticas. Tudo e todos no filme são cinzas, nebulosos e passíveis de diversas interpretações - exatamente como acontece no mundo real.
Repleto de frases lapidares e diálogos afiados, “A Grande Ilusão” tem, além do invejável elenco que traz ainda Anthony Hopkins e Kate Winslet, o grande mérito de mostrar que, em política, ninguém faz nada sem sujar as mãos e o que vale mesmo são as intenções. “O bom feito a partir do mal ainda é bom, não é?”, diz Stark para tentar justificar suas ações moralmente duvidosas.
O filme, todavia, não é perfeito. A atuação de Penn é sofrível, exagerada e beira a caricatura já que ele se preocupou mais em imitar (mal) os trejeitos do político no qual o filme se inspira do que em passar as nuances do caráter complexo dele. Além disso, tem uma trilha musical pesada e sufocante composta por James Horner (que ao menos dessa vez não copiou suas partituras antigas) e o roteiro deixa de aprofundar detalhes e personagens que teriam enriquecido mais a trama.
Mas, afinal de contas, os fins justificam os meios? Felizmente, o diretor e roteirista Steven Zaillian não procura responder essa questão, muito menos julgar os personagens. Ao mesmo tempo em que mostra as reais boas intenções do político, não esconde as falhas de caráter nem o comportamento dúbio dele e de todos à sua volta. Isso significa que cada espectador deverá refletir sobre o que viu e tirar suas próprias conclusões, a partir da visão de mundo e ideologia que tem.
Deve ser por isso que recebeu tantas críticas negativas e fracassou. A julgar pelo ridículo nome que inventaram para o filme aqui no Brasil, dá para perceber que concluíram algo como: "político bonzinho é eleito e fica malvado, portanto tudo foi uma grande ilusão". Depois tem gente que acha estranho algo grotesco como Big Brother Brasil fazer tanto sucesso...
Cotação: * * * 1/2
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