quarta-feira, 22 de julho de 2020

“Indústria Americana” evidencia a precarização do trabalho no capitalismo neoliberal



Documentário serve para promover debates acadêmicos, mas acaba sendo pouco para um tema tão quente e explosivo como esse

- por André Lux

Vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2019, “Indústria Americana” tem entre seus financiadores a Netflix e o casal Barack e Michele Obama, via sua produtora Higher Ground. Por mais que os cineastas Steven Bognar e Julia Reichert façam o máximo para deixar o filme com um ar neutro, é óbvio desde o início que eles tem lado – algo louvável, afinal nada mais desonesto do que fingir imparcialidade.

O documentário começa em 2008 mostrando fechamento de uma grande fábrica da GM na cidade de Dayton, nos EUA, tema de outro filme da dupla “The Last Truck: Closing of a GM Plant” que aborda justamente o fechamento dessa fábrica. Pulamos então para 2015, quando uma empresa chinesa que produz vidros automotivos monta uma nova indústria no mesmo local.

Se no início o clima é de otimismo e cooperação entre a mão de obra estadunidense e a chinesa, logo as coisas começam a desandar e os conflitos explodem. A mentalidade oposta com que as duas culturas encaram o trabalho é a mola propulsora para o desequilíbrio. Se na China o trabalho é visto como um fim em si a serviço da comunidade, no EUA (e no resto da cultura ocidental) ele é apenas um meio para que a pessoa possa ganhar dinheiro a fim de pagar suas contas e aproveitar os momentos de folga. Esse choque cultural fica ainda mais evidente quando um grupo de funcionários estadunidenses viaja até a China para acompanhar os festejos do ano novo daquele país dentro da tradição da empresa.

Dupla de cineastas com o casal Obama
Apesar de jamais interferir nas filmagens, a dupla de cineastas constrói a narrativa de “Indústria Americana” a partir de um tom obviamente crítico ao capitalismo neoliberal que tem como seus pilares a precarização do trabalho e a destruição dos sindicatos. Eles fazem questão de enfatizar a queda do rendimento dos trabalhadores (que recebem a metade do salário que ganhavam da GM), a falta de segurança no trabalho e a pressão dos empregadores chineses para que rejeitem a sindicalização.

Neste sentido os chineses são pintados como hipócritas, uma vez que na China os sindicatos são celebrados como intrínsecos e necessários à vida dos trabalhadores, enquanto nos EUA eles fazem de tudo para impedir que seus funcionários se sindicalizem. Chega, portanto, a ser contraditório o esforço que os cineastas fazem para “humanizar” os chineses, dando enfoque ao relacionamento familiar deles e aos parcos laços que constroem com os estadunidenses.

No final, o que “Indústria Americana” confirma é que tanto o capitalismo neoliberal dos EUA quanto o capitalismo totalitário chinês são duas faces da mesma moeda que tem como objetivo, em última instância, espremer os trabalhadores até não sobrar nada. Um em nome do “sonho americano” e outro da “grandeza coletiva” o que, no final das contas, enche de dinheiro os bolsos apenas de meia dúzia de pessoas. Nesse sentido, “Indústria Americana” serve para promover debates acadêmicos, mas acaba sendo pouco para um tema tão quente e explosivo como esse.

Cotação: ***

domingo, 19 de julho de 2020

Fascismo Explicado (por quem entende)


O professor de Filosofia em Yale e autor do livro Como Funciona o Fascismo conversa com Átila Imarino sobre o que é o fascismo, o que tem em comum e diferente em relação à outras ideologias e como os capitalistas liberais estão sempre associados a esse tipo de regime autoritário e anti-povo. Também falamos sobre moralidade, o combate ao politicamente correto e como acontece a interação de ideais fascistas com redes sociais e com a COVID.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Ennio Morricone: adeus ao mestre


Morreu hoje o grande Ennio Morricone, um dos maiores compositores de todos os tempos, especialista em música para filmes. Mais um gigante que vai embora... tristeza.

Morto aos 91 anos idade, em decorrência de uma queda, o maestro e compositor italiano Ennio Morricone deixou um obituário escrito de próprio punho e no qual explica a razão de ter determinado que seu funeral seja privado. "Não quero dar trabalho", escreveu o músico vencedor de dois prêmios no Oscar, um pelo conjunto de sua obra, em 2007, e outro pela trilha sonora original de "Os Oito Odiados", de Quentin Tarantino, em 2016

A mensagem foi divulgada pelo amigo e advogado de Morricone, Giorgio Assumma, e será publicada nos principais jornais italianos amanhã. Confira abaixo o obituário deixado pelo maestro:

Ennio Morricone está morto. Anuncio assim a todos os amigos que estiveram próximos e àqueles um pouco distantes, a quem saúdo com grande afeto. É impossível nomear todos, mas uma recordação particular vai para Peppuccio e Roberta, amigos fraternos muito presentes nos últimos anos de nossa vida. Há apenas uma razão que me faz cumprimentar todos dessa maneira e ter um funeral de forma privada: não quero dar trabalho. Saúdo com tanto afeto Ines, Laura, Sara, Enzo, Norbert, por terem compartilhado comigo e minha família grande parte da minha vida. Quero recordar com amor minhas irmãs Adriana, Maria, Franca e seus parentes e dizer o quanto as quis bem. Uma saudação plena, intensa e profunda a meus filhos Marco, Alessandra, Andrea, Giovanni, a minha nora Monica e a meus netos Francesca, Valentina, Francesco e Luca. Espero que saibam o quanto os amei. Por último, Maria (mas não a última). A ela, renovo o amor extraordinário que nos manteve juntos e o qual lamento abandonar. A ela, o mais doloroso adeus...