MUITO PÃO PARA POUCA MANTEIGA
O primeiro capítulo de “O Hobbit” é indefensavelmente longo
(quase três horas de duração) e a trama é visivelmente esticada além da conta.
- por André Lux, crítico-spam
Sou grande admirador da trilogia “O Senhor dos Anéis” do
diretor Peter Jackson, adaptação primorosa da gigantesca obra de Tolkien que
muitos consideravam infilmável até então. Chega então a nova adaptação de outra
obra do mesmo autor, pelas mãos do mesmo Jackson: “O Hobbit” que numa decisão
polêmica foi dividido em três filmes.
Apesar de ser sempre um prazer poder voltar à Terra Média, a
divisão de “O Hobbit” em três filmes gera sérios problemas. Primeiro porque o
livro não é grande o suficiente para tamanha empreitada. Em segundo lugar, “O
Hobbit” não é uma obra densa e séria como a trilogia “O Senhor dos Anéis”. Está
muito mais para um livro infantil e as tentativas de Jackson em deixar o filme
pesado e profundo como os outros ficam forçadas e não convencem.
O primeiro capítulo, “Uma Jornada Inesperada”, é
indefensavelmente longo (quase três horas de duração) e a trama é visivelmente
esticada além da conta, “como manteiga que foi espalhada num pedaço muito
grande de pão”, como diz o próprio Bilbo em “A Sociedade do Anel”.
O que mais incomoda são as cenas de ação e lutas, esticadas e
redundantes demais, além de ser triste ver Jackson se render à histeria e ao
excesso de monstros e efeitos visuais, mesmo pecado de George Lucas nos “prequels”
de “Star Wars”. O pior momento é quando a tropa de anões e Gandalf caem
centenas de metros numa ponte e saem ilesos. Esse tipo de situação destrói a
credibilidade e enfraquece o suspense, pois pinta os protagonistas como invencíveis.
Por causa dessa confusão toda, nem mesmo a trilha do genial
Howard Shore chega a ser inspirada, apesar de ter vários bons momentos e ao
menos manter o mesmo nível de qualidade musical da trilogia “O Senhor dos Anéis”.
É lamentável que Peter Jackson tenha se deixado contaminar
pela política caça-níqueis dos estúdios e agora seja obrigado a transformar “O
Hobbit” em algo que a obra original não é. Não que o filme seja um desastre, longe
disso, porém com a longa duração e a redundância de cenas de luta acaba se
tornando cansativo em vários momentos. Enfim, vamos aguardar as continuações,
mas já sabendo que a qualidade final do produto foi prejudicada por decisões
meramente mercantis.
Cotação: * * *