domingo, 16 de setembro de 2012

Filmes: "Frida"

RETRATO DESPUDORADO

Cinebiografia de Frida Kahlo é o antídoto contra filmes pretensiosos e modorrentos

- por André Lux, crítico-spam

FRIDA, da diretora Julie Taymor (do brilhante, mas irregular TITUS), é um excelente retrato da vida e obra da pintora mexicana Frida Kahlo. Despudorado, politicamente incorreto, extremamente colorido e quente, mostra sem concessões a trajetória dessa mulher despojada e forte em sua luta constante para superar todo tipo de obstáculos, de um acidente que a deixou praticamente aleijada às constantes traições do marido.

Produzido com baixo orçamento, mas com muito talento e criatividade, o filme é uma conquista da atriz mexicana Salma Hayeck, cuja luta e garra para realizá-lo estão impressos em praticamente cada fotograma, espelhando inclusive a vida da protagonista. Hayeck demonstra também surpreendente talento na pela de Frida, colocando em evidência o caráter turbulento da pintora (impresso em sua obra controversa), mas sem deixar de lado seu lado mais humano e fragilizado. Nada mal para quem começou a carreira enroscando-se seminua em uma cobra gigante no "trash" UM DRINK NO INFERNO, de Tarantino e Rodriguez!

Merece destaque também a atuação de Alfred Molina, como o artista Diego Rivera, marido de Frida e comunista, a trilha musical premiada com o Oscar de Elliot Goldenthal (ALIEN³, FINAL FANTASY), usando e abusando de temas "calientes" e menos atonal do que de costume, bem como as animações que fundem as pinturas de Frida com os atores, em diversas situações importantes na vida da artista.

FRIDA acaba sendo uma espécie de "antídoto" contra filmes pretensiosos e depressivos como AS HORAS, no qual pessoas regredidas e mal resolvidas sexualmente destilam suas frustrações e recalques em discursos superficiais e modorrentos. Já a pintora mexicana, tal qual é retratada no filme em questão, é exatamente o oposto disso. Firme, decidida e madura, Frida busca a superação de suas limitações em todos os momentos de sua realmente sofrida existência, assumindo as responsabilidades e as conseqüências de seus atos. Não é a toa, portanto, que conquistou corações e mentes de tantos homens e mulheres (era bissexual assumida), mesmo sendo relativamente feia e possuindo bigode e sobrancelhas cerradas.

Infelizmente, não fez o sucesso merecido, talvez por ter sido lançado modestamente e por causa da resistência natural que a maioria das pessoas tem contra personagens fortes, bem resolvidos e despudorados como a pintora mexicana. O que é uma pena. Mas o tempo acabará fazendo justiça a esse excelente trabalho, que merece ser descoberto.

Cotação: * * * *

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Filmes: "Clube da Luta"

PERIGOSO E INÚTIL

Apesar da boa intenção dos realizadores filme acaba passando a mensagem errada para os espectadores menos capacitados intelectualmente

- por André Lux, crítico-spam

"Clube da Luta", de David Fincher (diretor do sensacional "Seven - Os Sete Crimes Capitais") é um filme que dividiu a crítica e o público. Alguns acharam o filme excepcional, revolucionário, um soco no estômago do consumismo sem freios da sociedade ocidental (leia-se EUA), enquanto outros viram apenas um exercício repugnante e excessivo de estílo, pretensamente subversívo e meticulosamente planejado para causar o maior impacto (como um antigo comercial do cigarro FREE: "Eu gosto de dar porrada. Mas alguma coisa a gente tem em comum"), e que ao final acaba fazendo a apologia da violência e da intolerância. E o mais engraçado é que ambas as vertentes estão corretas, embora seja a segunda que acabe prevalecendo.

Se por um lado "Clube da Luta" incomoda e mexe na ferida da sociedade de consumo, por outro prega um anarquismo sem sentido e perigoso calcado apenas na violência e na destruição sem limites, tendo como personagens principais pessoas vazias e recalcadas com o "sistema", que encontram a redenção no tal Projeto Caos idealizado por Tyler Durden (Brad Pitt) e que consiste na destruição sistemática do mundo capitalista. Mas para colocar o que no lugar? Essa gente louca e desajustada do filme que encontra o "sentido da vida" no tal Clube da Luta onde enchem uns aos outros de porrada?

Ou seja, ao mesmo tempo que faz uma crítica feroz à violência, ao consumo exacerbado e ao culto às celebridades, o filme usa esses mesmo subterfúgios para "prender" a atenção do espectador. Depois de tanta porrada, sangue e efeitos visuais, tudo isso acaba diluindo e banalizando a violência que diz criticar. E, pior, a glorifica no final. Isso sem dizer que o roteiro é cheio de furos - principalmente a reviravolta final, que mesmo sendo surpreendente, parece ter sido inventada na última hora já que era impossível o protagonista ter feito tudo o que fez sozinho!

Apesar da óbvia boa intenção dos realizadores e do preciosismo técnico, "Clube da Luta" acaba passando a mensagem errada para os espectadores menos capacitados intelectualmente para "captar" o que existe por trás de toda a violência e loucura que se vê na tela. Não é a toa que um estudante de medicina mentalmente perturbado escolheu um cinema que passava justamente este filme (ao qual ele já havia assistido duas vezes) para descarregar sua sub-metralhadora na platéia exatamente durante uma cena na qual isso é sugerido pelo protagonista! E ainda dizem por aí que o cinema não influencia a vida real...

No final das contas, "Clube da Luta" não deixa de ser interessante como retrato de uma sociedade decadente e doentia, mas acima de tudo é um filme perigoso e inútil.

Cotação: * *