sábado, 26 de março de 2011

Filmes: "INVASÃO MUNDO: A BATALHA DE LOS ANGELES"

VIVA OS SOLDADINHOS DO TIO SAM!

Propaganda descarada em favor do exército dos EUA estraga o que poderia ter sido um divertido filme de invasão alienígena

- por André Lux, crítico-spam

O que aconteceria se o ET de Varginha e seus colegas resolvessem invadir a Terra para usurpar seus recursos naturais e dizimar os humanos? A resposta é óbvia: teriam que enfrentar os destemidos fuzileiros navais do poderoso exército dos Estados Unidos!

Esse é o mote de "Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles", filme que eu não ficaria nem um pouco surpreso se fosse anunciado ter sido escrito e financiado pela área de Relações Públicas do Pentágono, com direito a comitê de recrutamento na saída dos cinemas. Afinal, o exército do Tio Sam estava mesmo precisando de uma boa publicidade depois das malfadadas invasões do Iraque e do Afeganistão.

Pior é que essa propaganda descarada e ridícula em favor dos soldadinhos estadunidenses estraga o que poderia ter sido um divertido filme de invasão alienígena, cheio de som e fúria. Mas perto dessa estupidez toda, até "Independence Day" vira um clássico de sutileza!

O mais estranho é que o filme parece muito com o recente "Skyline - A Invasão", só que agora tudo é mostrado pelo ponto de vista de um pelotão dos fuzileiros (marines) no meio da guerra num bairro de Los Angeles. Mas, mesmo comparada com o anterior, esse novo perde feio. As irritantes explosões de patriotada pró exército dos EUA, que acontecem a cada cinco minutos, aniquilam qualquer vontade que você poderia ter de torcer pelos protagonistas - e isso é fatal em qualquer filme de monstro.

É um barbudo? É um comunista? Não, é um ET
O galã Aaron Eckhart, como o sargento durão mas de bom coração, até que tenta levar o filme nas costas, mas é derrubado também por um elenco de apoio muito fraco, uma fotografia estourada e trêmula (que tenta imitar "O Resgate do Soldado Ryan" e suas centenas de imitações) e por uma música bombástica e opressiva escrita por Brian Tyler, um bom compositor que deve ter sido forçado pelos realizadores a compor uma trilha no "estilo" do abominável Hans Zimmer.

O desenho dos ETs e suas naves também é bem sem graça e o fato de você nunca conseguir vê-los direito também atrapalha muito - embora os soldadinhos do Tio Sam arrumem tempo para torturar um deles, igual faziam com os prisioneiros no Iraque!

Mas, tudo bem. Contra ETs malvados vale tudo. Pena que na vida real os marines não enfrentem inimigos tão definitivamente maus e nem de perto sejam tão bravos e moralmente superiores como as suas caricaturas mostradas em filmes idiotas como esse.

Cotação: *

sexta-feira, 25 de março de 2011

Filmes: "O MÁGICO"

AO MESTRE, COM CARINHO

Desenho animado é uma bonita homenagem ao genial comediante Jacques Tati

- por André Lux, crítico-spam

Que delícia poder assistir a um desenho animado à moda antiga (sem computação gráfica) baseado num roteiro inédito do mestre Jacques Tati, o genial realizador que nos brindou com obras maravilhosas como "Meu Tio" e "As Férias de Ms. Hulot".

Tati era um comediante do tipo que não existe mais, dono de um humor fino, delicado e discreto, onde as gags geralmente aconteciam em volta de seu personagem Hulot, que praticamente não tinha falas em seus filmes.

O longa de animação "O Mágico" é uma belíssima homenagem ao legado deixado por Tati, dirigido por Sylvain Chomet, o mesmo que fez o delicioso "As Bicicletas de Belleville", onde já apareciam discretas citações aos filmes de Tati.

O filme conta a história de uma mágico (ou ilusionista, conforme o título original) que vai aos poucos vendo sua arte e a de seus outros colegas de origem circense sendo ignorada em favor de novos tipos de entretenimento - aqui representados por um grupo de rock no estilo dos Beatles, chamado no filme de The Britoons.

É apenas durante uma turnê no interior Escócia que seu talento é devidamente valorizado - e aqui entra um dos temas favoritos de Tati: o conflito entre a frieza da gente cidade grande versus a delicadeza e sensibilidade das pessoas mais simples.

Tati era um crítico feroz da perda da humanidade gerada pela vida agitada e cheia de traquitanas eletrônicas da modernidade. Essa crítica pode ser encontrada em sua forma mais bem acabada em sua obra prima "Meu Tio", filme que, por sinal, aparece de forma hilariante em "O Mágico".

O desenho é muito bem feito, com traços elegantes e finos, editado de forma primorosa para construir as pequenas e discretas gags e conta com uma trilha musical delicada. Mas nem tudo é comédia, principalmente no final, que é extremamente melancólico e pode até fazer chorar.

Enfim, "O Mágico" é uma pequena jóia da sétima arte que certamente vai agradar quem procura no cinema o tipo de entretenimento que somente um gênio como Jacques Tati sabia produzir.

Cotação: * * * * *

sexta-feira, 11 de março de 2011

Filmes: "BRAVURA INDÔMITA"

OS IRMÃOS CARA DE PAU

Comédia traz as marcas registradas dos irmãos Joel e Ethan Coen, o humor seco e muito negro

- por André Lux, crítico-spam

Li várias críticas a esse "Bravura Indômita" mas nenhuma disse o óbvio sobre o filme: que se trata de uma comédia que traz as marcas registradas dos irmãos Joel e Ethan Coen, o humor seco e muito negro. Assim, essa nova obra deles lembra muito seu melhor filme, "Fargo", e também o anterior "Onde os Fracos Não Tem Vez".

Não assisti ao original com John Wayne, considerado um clássico, por isso não dá para comparar. Mas os Coen estão muito mais interessados em montar suas gags visuais e verbais do que necessariamente contar a história da menina que contrata um veterano delegado federal (feito de forma impagável por Jeff Bridges) para caçar e prender o assassino de seu pai.

Os pontos altos do filme são as disputas verbais entre o delegado e o Texas Ranger (muito bem interpretado por Matt Damon), que ficam o tempo todo discutindo quem é o mais macho e tem a melhor pontaria. "Bravura Indômita" tem duas cenas antológicas: a da chegada do homem barbudo vestindo (literalmente) uma pele de urso (com cabeça e tudo) e o concurso de tiro usando como alvo pães, depois que os dois protagonistas brigam para saber quem foi que acertou o ombro do Texas Ranger durante um tiroteio! Há também uma cena impagável dentro de uma cabana onde dois bandidos (um deles na pele de John Goodman, que esteve em "Barton Fink" dos Cohen) discutem com o delegado e termina com um deles arrancando os dedos do outro (humor mais negro, impossível).

Os irmãos Coen sabem como ninguém criar um timing perfeito para suas gags, deixando os atores livres para usarem sotaques totalmente esdrúxulos enquanto disparam suas frases absurdas e depois param estupefatos para ouvir os absurdos disparados pelos seus interlocutores. A montagem também é excelente na construção dessas piadas e deixa o tempo entre os duelos verbais correr de forma perfeita para gerar a comédia.

Eu gosto muito desse tipo de humor e, confesso, me diverti bastante durante o filme. Prefiro muito mais esse estilo de comédia do que o mais rasgado e histérico que os Coen imprimiram a filmes como "Os Matadores de Velinhas" e "O Amor Custa Caro". Estranhamente, "Bravura Indômita" fez grande sucesso nos Estados Unidos, o que não é nada comum acontecer aos filmes dos irmãos Coen, que são mesmo dois grandes caras de pau (no bom sentido)!

Cotação: * * * 1/2

terça-feira, 1 de março de 2011

Filmes: "BRUNA SURFISTINHA"

SEM HIPOCRISIA

É um bom filme, interessante, bem humorado, bem interpretado e isento de lições de moral hipócritas ou psicologismos baratos

- por André Lux, crítico-spam

É bem melhor do que eu esperava esse filme baseado no livro "O Doce Veneno do Escorpião", escrito pela garota de programa Bruna Surfistinha, codinome de Raquel Pacheco, que hoje virou celebridade e vive com ex-cliente.

O diretor estreante Marcos Baldini consegue disfarçar bem a escassez de recursos técnicos com uma boa direção de atores e ausência de moralismos baratos que seriam fatais para quem almeja contar as história de uma prostituta - tema que ainda é tratado com grande hipocrisia e falso moralismo pela maioria das pessoas, infelizmente.

A boa sacada do roteiro é não tentar "desvendar" os motivos que levaram Raquel a se prostituir, embora ele mostre sua vida anterior, com a família e na escola, mas sem didatismo ou excesso de clichês. Pelo contrário, apesar de um pouco secos e distantes, seus pais (adotivos) parecem gostar genuinamente dela, o que de cara já neutraliza aquele irritante clichê de filmes sobre prostitutas: de que são todas crianças mal amadas ou abusadas em casa. Bruna/Raquel passa pela sua cota de abusos e humilhações, mas nada que justifique tamanha guinada na vida tranquila e boa que levava com sua família.

A verdade é que muitas meninas viram mulheres de programa porque querem (por inúmeros motivos que não cabe aqui citar) e muitas delas se dão bem nessa vida - o que o filme mostra de maneira bem realista. O que torna "Bruna Surfistinha" interessante é que ela, mesmo depois que casou e ficou famosa, não renega sua origem e faz questão de mostrar que fazia tudo aquilo por que queria e que também gozava em vários de seus programas.

Deborah Secco, por incrível que pareça, surpreende numa atuação despojada e corajosa, inclusive em cenas ousadas que certamente vão chocar os puritanos (como na que faz "chuva dourada" em um de seus clientes) e muita nudez. A atriz mergulha de cabeça naquele universo e não deixa a peteca cair em nenhum momento - nem quando Bruna/Raquel fica viciada em cocaína e aí faz de sua vida um inferno.

Interessante também é que o filme serve como um ótimo estudo dos motivos que levam os homens a procurarem as profissionais do sexo e, felizmente, mostra-os como pessoas normais e não como degenerados nojentos como gostam de pintar os falsos moralistas (mostre-me um homem que nunca transou ou ao menos teve fantasias ardentes com uma prostituta e eu te mostrarei um mentiroso).

Nisso o filme é bem fiel ao livro, pois em momento algum faz julgamentos morais dos clientes de Bruna/Raquel e mostra inclusive casais liberais que procuram a garota para satisfazerem juntos as suas fantasias sexuais.

"Bruna Surfistinha" é um bom filme, interessante, bem humorado, bem interpretado, com uma boa trilha musical e, felizmente, isento de lições de moral hipócritas ou psicologismos baratos. O que, convenhamos, não é pouco nos dias de hoje!

Cotação: * * * 1/2