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terça-feira, 24 de abril de 2007

Filme: “Sunshine – Alerta Solar”

*ATENÇÃO! A crítica abaixo entrega o filme inteiro. Leia por sua conta e risco...

GATO POR LEBRE

Diretor pretensioso tenta disfarçar filminho de terror usando narrativa lenta, citações a filmes clássicos e papo-furado metafísico

- por André Lux, crítico-spam

Não existe nada mais irritante do que comprar gato por lebre. É o caso desse “Sunshine – Alerta Solar”, filme que se vende como uma ficção científica séria e profunda, mas não passa de um suspense banal repleto de furos e clichês. 

E o diretor Danny Boyle (que a cada dia comprova que só acertou em seu primeiro filme “Cova Rasa”), como todo bom pretensioso, tenta enganar os incautos injetando várias citações a filmes clássicos como “2001 – Uma Odisséia no Espaço” e “Solaris”. Mas elas não têm nada a ver com a trama e só servem mesmo para iludir aquele pessoal que acha o máximo ficar identificando referências a outros filmes. Só isso mesmo para justificar as boas críticas que vem recebendo.

Mas não vi ninguém apontando para o mais óbvio: trata-se apenas de um “Armageddon” metido a besta. A história é basicamente a mesma – só que aqui traz um grupo de especialistas que precisa detonar uma bomba atômica gigantesca no Sol para tentar fazê-lo voltar a queimar com a mesma intensidade. E dá-lhe clichês do gênero: o comandante sorumbático, o físico nerd, o piloto nervosinho e machão, o psicólogo doidão, a botânica zen e assim por diante. E os atores que os interpretam são muito jovens e sem carisma. Será mesmo que a humanidade iria depositar suas últimas esperanças de sobrevivência num grupo formado, em sua maioria, por garotões que parecem ter acabado de sair da faculdade?

As reviravoltas e os desastres descritos no roteiro são forçados e parecem existir apenas para mover a trama. Afinal, por que iriam desviar a rota só para tentar pegar a bomba da primeira missão, dada como perdida há sete anos, se sabiam que só seria possível detoná-la se a primeira nave estivesse em perfeito estado operacional? E quer dizer então que a complicada operação de mudança de curso e alinhamento do escudo é responsabilidade de uma única pessoa, ninguém nem dá uma revisada para ver se estava tudo certo?

E os personagens? Em cada situação ganham ou deixam de ter importância: numa hora o físico (feito pelo inexpressivo Cillian Murphy) é mandado para um trabalho quase suicida fora da nave, enquanto em outra tem que ser salvo ao custo da vida de todos os outros. Mas, infernal mesmo é o vilão do filme, que ficou perambulando nada menos do que sete anos na nave abandonada cheio de queimaduras e pingando sangue, provavelmente se alimentando de cenouras, só esperando a chance de pular para outra nave e sair matando de novo!

E o maior furo de todos, que ao que parece ninguém se deu conta, é o fato deles ficarem falando de como vão voltar para a Terra depois de lançar a bomba (tem até um jardim interno que supostamente deve servir para reciclar o ar para a jornada de volta), sendo que a única coisa que impede a nave de ser destruída na hora pelo raios solares é justamente o escudo de espelhos que envolve a bomba! Ou seja, assim que ela fosse lançada e se afastasse, bye-bye nave e todo o resto...

Mas isso não é o pior. Depois de construir uma narrativa lenta e letárgica, enfatizada pela trilha sonora tipo “new age”, e de inserir papo-furado metafísico e flertar com o sobrenatural, o diretor transforma “Sunshine” num daqueles filminhos de terror mais batidos, com direito a psicopatas deformados dando facadas e perseguindo mocinhas indefesas por túneis escuros. 

É nesse último ato que toda pretensão de seriedade e verossimilhança é destruída em favor de sustos fáceis e cenas de ação tediosas, filmadas com lentes de distorção e editadas em ritmo de vídeo-clipe.

Aí, de “2001” e “Solaris”, as referências pulam para “O Enigma do Horizonte” e “Jason X” – o que não é nem de longe um elogio. Mas, justiça seja feita: esses dois últimos filmes ao menos assumiam de cara a condição de “terror no espaço” e não tentavam enganar o espectador fingindo ser o que não eram.

Cotação: * 1/2 (mais meia estrela porque hoje eu estou de bom humor)
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sexta-feira, 20 de abril de 2007

Filmes: "Falcão Negro em Perigo"

a.
SURRA INACREDITÁVEL

Mesmo deturpando fatos históricos e pregando a favor da intervenção militar, filme mostra o exército dos EUA levando um espetacular "chute no traseiro"!

- por André Lux, crítico-spam

A expressão "lets kick some ass" é hoje uma das mais populares entre os estadunidenses. Não é a toa que a frase é dita logo de cara em “Falcão Negro Em Perigo” por um soldado recém-chegado ao front, louco que está para entrar em ação. 

Essa obsessão dos estadunidenses por "chutar traseiros" alheios é a base da cultura deles e chegou atualmente às raias do absurdo. Não é de se estranhar, portanto, que os executivos de Hollywood, alinhados com as políticas e estratégias do Pentágono, coloquem cada vez mais seus investimentos em filmes panfletários que pregam a favor da intervenção estadunidense em território estrangeiro. 

Tudo em nome de uma suposta "paz" e "ordem", como somos informados logo no início deste filme por um longo letreiro que tenta deturpar fatos históricos para justificar a presença do exército do Tio Sam na Somália.

Segundo os realizadores, os EUA estavam lá somente para garantir que os pobres somalis pudessem receber os alimentos cedidos gentilmente pela ONU e que estavam sendo roubados pelos guerrilheiros locais, liderados por Mohamed Farrah Adid, pintado como um monstro sanguinário e responsável pela morte por inanição de mais de 300 mil civis. 

Tem que ser muito ingênuo ou mal intencionado para querer nos fazer acreditar que os EUA invadem outros países (sempre do terceiro mundo) com boas intenções, já que situações de genocídio como essa que ocorreu na Somália são patrocinadas em larga escala pelo próprio governo estadunidense. Seja por meio de sanções econômicas ou pelo financiamento das milícias de direita que, geralmente, são as responsáveis pela tortura e assassinato dos civis.

A justificativa para essa política intervencionista está presente em diálogos pavorosos como o proferido por um dos soldados "idealistas" do Tio Sam (Josh Hartnett, tão expressivo quanto uma escultura de pedra): "Eles não tem educação, não tem esperança, não tem futuro", - só faltou dizer que não têm DVD nem internet! Ou seja: "Cidadãos do terceiro mundo não são como nós, a raça superior, por isso necessitam da nossa proteção e da nossa doutrina". Adolf Hitler ficaria orgulhoso!

“Falcão Negro Em Perigo” foi dirigido por Ridley Scott, cineasta que um dia foi capaz de nos brindar com gemas como “Blade Runner” e “Alien”, mas que hoje optou por colocar seu talento técnico ao serviço de produções execráveis como “Gladiador”. Dessa vez uniu forças com o produtor de filmes-clipes Jerry Bruckenheimer, responsável por pérolas fascistas como “Top Gun” e “Pearl Harbor”.

Isso quer dizer que temos aqui mais um exemplar de técnica espetacular usada para contar uma historinha torpe e reacionária da pior espécie. Tudo isso embalado por altas doses de tiros, explosões, sangue e efeitos especiais que pipocam na tela a cada cinco segundos como que para não dar tempo para o espectador pensar nos horrores que está vendo. Vira tudo um mero "entretenimento" no final.

Como parte do pacote ideológico vendido pelo filme, os somalis são mostrados somente como um bando de pessoas sujas e maltrapilhas sem face (em algumas tomadas chegam até a parecer extraterrestres!), cuja única função na trama é servirem de alvo para os desesperados Rangers. 

Não ficamos sabendo em nenhum momento o que levou aquele povo a atacar os "golden boys" do exército dos EUA com tamanha ferocidade. O roteiro até faz de conta que vai dar uma dica durante a cena em que um dos pilotos capturado pelos guerrilheiros é informado que não são bem-vindos e que matar seu líder de nada iria adiantar, pois na Somália as coisas são diferentes. 

Pena que esse discurso sai da boca de mais um personagem "imundo e maltrapilho", obviamente vilão, o que impede a platéia de, sequer, levar em consideração o que ele está dizendo.

O que causa mais estranhamento nesse “Falcão Negro Em Perigo”, entretanto, é perceber que, mesmo fazendo a panfletagem a favor do imperialismo dos EUA, os executivos gastaram rios de dinheiro para mostrar, basicamente, o supostamente invencível exército do Tio Sam levando uma surra inacreditável dos próprios "magrelos" (termo pejorativo pelo qual eles chamavam os somalis) que deveriam salvar. A exemplo que ocorreu no Vietnam e agora no Iraque, esse é mais um caso de "chute no traseiro" que saiu pela culatra para os estadunidenses!

No final, somos informados por um pequeno letreiro que morreram mais de mil somalis durante a ofensiva para apenas 19 estadunidenses - cujos nomes são estampados gloriosamente na tela, um por um. Pelos cálculos dos produtores, a vida de um "americano" equivale à 52,6 vidas africanas! 

E, como sempre, tentam colocar a culpa do fracasso e das mortes em uma única pessoa – no caso, o general que planejou a ofensiva, - numa tentativa torpe de eximir da responsabilidade o sistema como um todo, quando a ingenuidade dos soldados (em sua maioria jovens desmiolados que passaram por "lavagem cerebral") e a canalhice dos governantes são as verdadeiras causas de carnificinas como a mostrada no filme.

Impressiona também a insistência na mensagem que "não vão deixar ninguém para trás", como se fazer parte do exército estadunidense fosse a coisa mais nobre do mundo, pois sempre vai ter alguém disposto a ser herói e sacrificar a vida pelo outro. 

É analisando peças de marketing desse tipo que podemos entender como é que tantos jovens alistam-se livremente no exército daquele país, só para serem mandados para lutar em países que não conhecem guerras que não entendem. 

A verdade é que não existe nada que justifique a intervenção militar em terra alheia e o quanto mais tentam explicar essas ações, pior fica a situação.

A melhor crítica que um filme como esse poderia receber está em “O Sentido da Vida”, do grupo Monty Python, na cena em que um militar empedernido defende a importância do exército em nossas vidas, já que segundo ele, "sem a habilidade para defender seu próprio ponto de vista contra outras ideologias mais agressivas, a racionalidade e a moderação podem desaparecer. É por isso que sempre vamos precisar de um exército. E que Deus me atinja com um raio se eu não estiver certo!"... 

KABUMMMM!!!

Cotação: *
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segunda-feira, 9 de abril de 2007

Filme: "300"

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ESQUERDA OU DIREITA

Filme provoca polêmica e mostra a confusão ideológica em que se encontra o mundo atual

- por André Lux, crítico-spam

Nesses tempos de ditadura do pensamento único neoliberal na mídia, só pode ser bem vinda qualquer obra de arte que provoque algum tipo de polêmica e discussão política. 

Mesmo que seja pelos motivos errados, como é o caso de “300”, filme baseado na graphic novel “Os 300 de Esparta”, do consagrado Frank Miller autor de obras-primas dos quadrinhos como “Ronin”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e “Elektra Assassina”. 

A polêmica começou quando o governo do Irã acusou o filme de ser favorável ao imperialismo estadunidense e ao presidente Bush por mostrar a luta dos espartanos contra a invasão dos persas. 

Embora o protesto dos iranianos, descendentes dos persas, seja justo – afinal são mostrados no filme de forma extremamente caricatural quase como monstros (puro maniqueísmo de Hollywood) – “300” não é nem um pouco favorável à Bush. Muito pelo contrário. Só mesmo o atual estado de confusão ideológica em que se encontram as pessoas pode justificar esse engano.

Em primeiro lugar, quem afirma isso demonstra não conhecer a obra de Frank Miller, sempre recheada de ataques ácidos às políticas reacionárias da extrema-direita estadunidense. Em “O Cavaleiro das Trevas”, por exemplo, testemunhamos um Batman velho e anarquista dando uma surra no babaca do Superman que atuava como um mero fantoche do governo fascista dos EUA.

Já em “Ronin” era um ex-samurai que reencarnava num paranormal aleijado a fim de derrotar uma futurista megacorporação dominada por uma aliança entre neoliberais e um antigo demônio do Japão feudal. 

Isso não quer dizer que Miller seja um comunista ou mesmo esquerdista - até porque nos EUA essa confusão ideológica é ainda mais acentuada -, mas com certeza não pode ser chamado de alinhado ao pensamento expansionista e fundamentalista que domina seu país nas últimas décadas.

Em segundo lugar, porque na História retratada pelo filme, os 300 espartanos estão lutando exatamente contra um invasor imperialista que comanda com mão de ferro um gigantesco exército. 

Assim, Bush está muito mais para o imperador-deus Xérxes do que para o rei Leônidas e a resistência heróica dos espartanos está mais para a revolução cubana do que para a invasão do Iraque ou do Afeganistão pelos soldados do tio Sam (respeitadas, evidentemente, as realidades históricas nas quais esses eventos e personagens estavam inseridos). 

Ou alguém aí já viu Bush Júnior ou algum presidente dos EUA, a exemplo do que fez Fidel Castro em Cuba, de arma em punho liderando seus compatriotas no meio do campo de batalha? Enfim, julgar “300” como sendo de direita ou de esquerda, a favor ou contra o imperialismo, não passa de uma questão de ideologia e visão de mundo.

Deixando de lado a questão política, o filme em si deixa a desejar. Embora possua cenas muito bonitas e impactantes, erra ao tentar reproduzir de maneira literal as imagens desenhadas nos quadrinhos. 

São linguagens absolutamente diferentes e essa abordagem deixa “300” com jeitão de vídeo-clip: bonito, porém vazio e superficial. O fato de ter sido filmado inteiramente em estúdio contra o famigerado fundo azul, que depois é substituído por imagens geradas em computador, não ajuda.

Padece também de uma narração óbvia que, pecado de nove entre dez adaptações de quadrinhos para o cinema, insiste em descrever o que já vemos na tela e de uma trilha musical inadequada e intrusiva que tenta misturar sem sucesso orquestra e coral com “esguichos” de solos de guitarra, percussão tribal e ritmos techno. 

O elenco repleto de rostos sem carisma não merece destaques, exceto negativos – caso do protagonista Gerald Butler, muito jovem e neutro para dar o peso necessário ao lendário Leônidas, e do brasileiro Rodrigo Santoro, que faz o papel de Xérxes com uma maquiagem de drag queen e ainda por cima teve sua voz alterada digitalmente para soar como um clone do Darth Vader.

Como produto cinematográfico “300” comprova que a utilização de recursos tecnológicos de última geração somente como um fim e não como um meio acrescenta quase nada de novo à sétima arte. 

Já analisando-o pela abordagem política e ideológica tem lá seu mérito – nem que seja só o de provocar polêmica e obrigar as pessoas a pensarem um pouco sobre aquilo que assistem na tela.

Cotação: * * *
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