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segunda-feira, 26 de junho de 2006

Filmes: "POSEIDON"

SEM SAL NEM AÇUCAR

Roteiro simplista, personagens vazios e excesso de efeitos deixam refilmagem de “Poseidon” sem qualquer dramaticidade

Para quem assistiu o “Destino do Poseidon” original, de 1972, fica impossível não compara-lo com essa refilmagem dirigida pelo alemão pau-para-toda-obra Wolfgang Petersen (de “Tróia” e “Força Aérea Um”). E o segundo perde feio no quesito dramaticidade. Culpa do excesso de efeitos especiais e do orçamento generoso (140 milhões de dólares) que transformam o filme em mais uma viagem de montanha russa, cheia de aventura e correrias, mas sem qualquer substância. Isso quer dizer que, tirando a adrenalina e a ansiedade gerada pelas intermináveis seqüências onde os personagens liderados por Kurt Russel e Josh Lucas escapam do perigo por um triz (com as ocasionais vítimas entre os coadjuvantes), não sobra mais nada no quesito emoção.

Mas o problema maior é da falta de sutilezas do roteiro, que falha em proporcionar qualquer tipo de aprofundamento nos personagens ou mesmo criar situações dramaticamente interessantes. A ausência de conflitos ou mesmo de personagens de caráter duvidoso também contribui para deixar o filme sem qualquer sal ou açúcar. No “Poseidon” de 2006 todo mundo é bonzinho, prestativo, disposto a se sacrificar pelo próximo e profundo como uma poça de água. Vejamos o personagem interpretado por Richard Dreyfuss, por exemplo. No início, descobrimos que ele é gay e quer se matar, pois acabou de ser abandonado pelo namorado. Qual a relevância disso no transcorrer do filme? Absolutamente nenhuma! O mesmo pode ser dizer de todos os outros, inclusive da latina que viaja clandestinamente (Mia Maestro, de "Diários de Motocicleta"), o ex-prefeito e ex-bombeiro (Russel), o ex-militar e atual jogador de cartas profissional (Lucas).

Esse tipo de abordagem simplista e superficial não gera qualquer empatia entre o público, que pode roer as unhas durante as cenas de perigo, mas não dá a mínima quando alguém morre ou se fere. E filme-catástrofe que não é capaz de gerar emoções jamais será memorável. O original podia ter menos recursos e situações de perigo, porém, mesmo longe de ser um clássico da sétima arte, tinha personagens mais humanos e interessantes, cujas personalidades, conflitos e deficiências eram explorados com calma e paciência, levando o filme numa crescente, onde o suspense girava em torno deles e não das pirotecnias visuais.

Já nesse típico subproduto da “era MTV”, onde mais (dinheiro, recursos, efeitos) geralmente quer dizer menos (drama, interesse, verdade), o que importa mesmo é COMO as pessoas vão morrer nas (ou escapar das) labaredas, inundações e destruições espetaculares, geradas por toneladas de efeitos visuais moderníssimos, porém geralmente vazios e redundantes, embalados por uma trilha musical “genérica” e barulhenta escrita por mais um desses compositores picaretas que abundam em Hollywood ultimamente (e pensar que a música do original era do mestre John Williams, ainda em início de carreira...).

Ou seja, dá para assistir se você não esperar muito, mesmo porque algumas tomadas de efeitos especiais são realmente muito bem feitas (especialmente quando a Tsunami vira o navio de ponta cabeça). É só forma sem qualquer conteúdo, daqueles que você esquece cinco minutos depois de sair da sala de projeção.

Cotação: * *

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Opinião: Filmes em DVD

Aproveitei o feriado prolongado para tirar o atraso e ver em DVD alguns novos filmes que havia perdido no cinema e novos lançamentos obscuros. Confira abaixo, por sua conta e risco, minha opinião sobre eles...


CRASH – NO LIMITE

A Academia de cinema estadunidense acertou ao dar o Oscar de melhor filme de 2005 para “Crash”. Apesar de tratar de tema parecido – a intolerância –, o filme de Paul Haggis é ainda mais atual e pertinente do que "Brokeback Mountain”. O racismo é algo inaceitável, mas faz parte da nossa vida, gostemos ou não. E essa é a proposta do filme, colocar o dedo naquela ferida que ninguém gosta de ver.

O roteiro é brilhante e coloca vários personagens em tramas paralelas que, em algum ponto da história, acabam se cruzando. O racismo é tratado de forma realista, sem panfletagem ou moralismo, e não se limita ao ódio entre brancos e negros, abrangendo todo o tipo de preconceito racial, inclusive contra árabes, hispânicos e dos próprios negros contra outras etnias.

A boa notícia é que todos os personagens se comportam de maneira suficientemente humana para não existir “mocinhos” e “bandidos” no filme. Mesmo aqueles que, a princípio, parecem ser os melhores acabam cometendo atos deploráveis, da mesma forma que os pintados como pessoas desprezíveis tomam atitudes louváveis inesperadamente.

“Crash” reserva alguns momentos muito fortes e até chocantes, não por apelarem para violência gratuita ou clichês, mas justamente por serem encenados de forma tão natural que os deixam ainda mais próximos da realidade. O elenco impecável também ajuda, diga-se de passagem.

Ou seja, um filme que se vale a pena assistir, ainda mais quando é produto de uma cultura onde o racismo é algo explícito e declarado, embora isso faça a gente questionar: existe racismo “bom”? Será que o preconceito racial que existe no Brasil, velado e implícito, não é ainda pior do que o que existe nos EUA? Esse é só um exemplo do tipo de reflexão e polêmica que “Crash” certamente vai provocar nos espectadores. E isso, convenhamos, não é pouco.

Cotação: * * * *


PONTO FINAL

Esse filme do Woody Allen é uma decepção total. Fraco, bobo, arrastado e ilógico. E, se não bastasse isso, é um drama sem qualquer pitada de comédia que não passa de (mais uma!) reciclagem do conto “Crime e Castigo”, de Dostoievski, que o protagonista folheia no início e o próprio Allen já havia aproveitado antes, com mais sucesso, em “Crime e Pecados”.

Mas o elenco, encabeçado pelo andrógino Jonathan Rhys-Meyers (quase um sósia do Joaquim Phoenix), é particularmente fraco e os diálogos são banais e frouxos. A trama consiste na ascensão social de um tenista fracassado que se casa com a filha de uma família rica de Londres (mas poderia ser em qualquer lugar). Só que ele se engraça justamente com a noiva do cunhado (Scarlett Johansson, menos apática que de costume) e os dois acabam virando amantes.

A partir daí o filme fica extremamente previsível e, quando tudo termina absurdamente em tragédia, ameaça virar mais uma história policial – o que, felizmente, não acontece, pois a metragem já beirava às duas horas e não havia mais tempo para nada. Allen tenta disfarçar a sua total falta de inspiração acrescentando um recurso narrativo pseudo-esperto que sugere que está, na verdade, fazendo um estudo sobre o quanto a sorte ou o azar podem influenciar a vida das pessoas. O que seria interessante, caso o diretor não perdesse todo o tempo de projeção mostrando uma história absolutamente banal só para enfiar duas cenas que dão razão à tal pretensão sugerida, sem maior impacto ou conseqüência (mas parece que o truque funcionou, pois vários profissionais da opinião andaram louvando o filme!).

Poderia, ao menos, ter inserido comentários mais agudos sobre a realidade e a política social que move as altas castas gerando assim algum tipo de conflito ou reflexão, mas nem isso o filme tem – tanto é que os personagens secundários não têm nada a fazer ou dizer, virando mera decoração, e o protagonista não tem qualquer profundidade ou carisma, parecendo até meio catatônico.

Sinceramente, o filme é muito fraco e, a exemplo do também decepcionante “Melinda e Melinda”, dá claros sinais que Allen está precisando de umas boas férias ao invés de ficar insistindo em fazer um filme por ano. Às vezes, um bom descanso faz bem para que novas idéias surjam na cabeça de um artista...

Cotação: * *


PLANO DE VÔO

“Plano de Vôo” é mais um daqueles filmes que foram criados para serem uma coisa, mas, no meio do processo, acabaram virando outra. Concebido para ser uma espécie de “Duro de Matar” num avião, no qual um policial durão teria que enfrentar terríveis terroristas para salvar a vida do seu filho em pleno vôo, “Plano de Vôo” acabou virando um veículo para Jodie Foster exibir seus talentos, no que os produtores certamente consideraram uma espertíssima jogada: “Que tal ao invés do machão dando porrada, tivermos uma mulher indefesa e perturbada psicologicamente lutando para reaver a filha que desapareceu no avião”?

Pois bem. Sumiram então os terroristas e o filme se esforça para ser o que não é. Para isso, usa recursos que buscam “enganar” o espectador (sempre uma má idéia, segundo o mestre Hitchcock) na tentativa de se vender como um suspense psicológico, no qual uma mãe (Foster), que acaba de perder o marido num trágico acidente (seria suicídio?), tenta recomeçar a vida voltando para os Estados Unidos junto com sua filha. No avião (na verdade um super-avião moderníssimo que ela ajudou a projetar) vai o caixão com o corpo do marido. Só que, ao acordar de um cochilo, percebe que sua filha sumiu. E começa a corrida dela para tentar convencer a todos que a menina foi seqüestrada.

A partir daí o diretor usa uma série de recursos dramáticos para tentar nos convencer que a protagonista pode sim estar sofrendo de ilusões paranóicas, já que ninguém havia visto sua filha entrar no avião ou mesmo ao lado dela (!). Depois, no auge da sua crise de histeria, é informada que a filha havia mesmo morrido junto com o pai - e acredita (!!). Será mesmo que foi tudo um sonho e ela entrou no avião sozinha, imaginando ter a filha morta ao seu lado?

Infelizmente, como todo filme de suspense estadunidense, esse questionamento dura pouco e logo somos informados que tudo não passava de um plano criminoso perfeito, cujos detalhes não vou revelar para não estragar as “surpresas”. Basta dizer que para dar certo, precisava contar com imensos “saltos de lógica” por parte dos vilões, os quais previram, por exemplo, que realmente NINGUÉM ia ver a mãe com a filha no avião (sem esse detalhe o tal plano iria por água abaixo), entre outros absurdos dignos de gargalhadas. Ok, justiça seja feita: o filme é bem feito e usa vários efeitos digitais para “incrementar” o super-avião e até consegue manter algum grau de suspense enquanto a trama não é revelada, contando para isso com o bom desempenho da competente Jodie Foster.

Mas é muito pouco para salvar um projeto que já nasceu errado e, depois, só piorou. Enfim, uma bobagem comercial que tenta, sem sucesso, se vender como algo diferente.

Cotação: * *


POR AMOR OU POR DINHEIRO?

Filme francês francamente bizarro, daqueles que não deixam claro ao que vieram. Uma mistura de comédia de humor negro com sátira social, vale pela presença da sempre bela e voluptuosa Monica Belucci, que aparece semi-nua com freqüência.

Conta a história, sempre de uma maneira meio surreal, de um sujeito que diz a um prostituta (Belucci) ter ganhado na loteria e a convida para morar com ele, com pagamentos mensais. Obviamente, ela aceita e, a partir daí, o filme vai ficando cada vez mais esquisito, com um clima de comédia de absurdos, onde os atores desempenham seus papéis na mais absoluta seriedade enquanto as situações bizarras se acumulam.

E o riso surge justamente desse contraste (inclusive com o uso de uma trilha sonora exagerada que busca acentuar isso), mas não o bastante para tornar o filme memorável ou mesmo recomendável. Gerard Depardieu tem um papel pequeno, mas sempre é uma presença interessante. Além disso, tem uma fotografia bonita e o diretor Bertrand Blier busca sempre enquadramentos inovadores e uma edição fluída.

Verdade seja dita, embora tenha alguns momentos bem divertidos (como a discussão com a vizinha incomodada pelo barulho dos gemidos da prostituta, a intrusão dos colegas de escritório do protagonista e a festa final), parece que o negócio dos realizadores era mesmo deixar Mônica Belucci peladona o maior número de vezes possível no set de filmagem! Pelo menos disso não podemos reclamar.

Cotação: * * *


A MARCHA DOS PINGUINS

O filme é bonito, muito bem fotografado e conta um fato interessante, que é justamente a tal marcha do título, empregada pelos pingüins Imperadores para se acasalarem, enfrentando de forma emocionante todos os tipos de dificuldades, como frio terrível, tempestades, fome e o ataque de predadores.

Mas, por mais que tente disfarçar, não deixa de ser um documentário sobre a vida natural e, nesse quesito, deixa a desejar. Faltam muitas informações a respeito do comportamento dos animais, suas motivações e sobre as técnicas usadas para garantir a sobrevivência dos filhotes. O diretor optou por tentar transformar o documentário numa espécie de drama épico ao dar vozes aos pingüins, mas isso soa quase sempre forçado, piegas e, infelizmente, bem pouco informativo.

Melhor seria se tivesse utilizado uma narração mais neutra ou letreiros explicativos. Do jeito que ficou, inclusive abusando de canções de ninar bem fraquinhas (embora a trilha incidental, da mesma autora, seja muito boa), acaba resultando em algo mais próximo de um filme infantil, onde os bichinhos “falam” como se fossem humanos sobre sua condição e necessidades. Por isso, pode funcionar melhor como um “filme família” (e é sempre bom educar os mais novos sobre a importância de respeitar a natureza), mas como cinema documental não chega a cumprir suas promessas.

Cotação: * * *